Nossas Histórias
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

- Vermont -

4 participantes

Página 2 de 10 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10  Seguinte

Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Liberty Bloomfield Sex Mar 08, 2024 9:00 pm

O primeiro impulso de Liberty foi responder ao convite de Dexter com uma negativa. Independente se era um encontro ou um programa entre amigos, aquela atividade não se encaixava no cronograma restrito da novata. Bloomfield não podia atrasar o “projeto Princeton”, não podia comprometer todo o seu futuro por causa de algumas horas de lazer.

A boca de Libby chegou a se abrir para dizer a Thompson que ela já tinha outros planos, mas foi naquele momento que o raciocínio afiado de Liberty trouxe à tona uma outra linha de pensamento. Chad Clifford já sabia sobre a discussão que acontecera entre Libby e Dex no dia anterior e era difícil prever quem mais sabia ou o quanto aquela fofoca já tinha se espalhado pelos corredores da MMU. Liberty não fazia a menor questão de se transformar em uma menina popular e rodeada por vários amigos em Colchester, mas ela também não queria aquela fama de grosseira e antipática.

A opinião que as outras pessoas tinham sobre ela não abalava Bloomfield, mas a novata enxergava um motivo muito mais importante para não se isolar e nem declarar uma guerra contra um dos caras mais populares do seu novo colégio: Liberty não dependia só de si mesma para construir um currículo impecável naquele último ano. E se todos os alunos da MMU a odiassem, Libby teria uma grande dificuldade para se sair bem nos trabalhos em grupo e acabaria perdendo valiosos pontos em sua avaliação final.

Se Bloomfield queria mesmo um currículo perfeito naquele último ano, ela precisava desfazer a impressão negativa e as fofoquinhas que circulavam pelos corredores sobre o comportamento arredio dela.

- Quarenta minutos.

Como só aquelas palavras soltas não pareceram fazer muito sentido para Dexter, Liberty se explicou um pouco melhor.

- É o tempo que eu reservei para as minhas refeições de hoje. Então eu só posso ficar quarenta minutos lá, senão vai comprometer o meu cronograma inteiro!

A sirene anunciando o início das aulas ecoou pelos corredores do colégio e obrigou Libby a literalmente correr para conseguir entrar no laboratório de química antes que a professora fechasse a porta, então Dexter não teve muito tempo para avaliar se aquilo era uma piadinha ou se Liberty estava mesmo falando sério sobre cronometrar todos os minutos do seu dia. Mas por tudo o que Thompson vinha conhecendo da novata, a hipótese mais provável é que ela realmente fosse meticulosa (ou maluca) a tal ponto.

***

Não foi muito difícil encontrar a lanchonete mais popular entre os alunos da MMU. Além de ficar na mesma quadra do colégio, o estabelecimento tinha um enorme letreiro colorido que chamava a atenção há metros de distância. E a movimentação dos estudantes nas proximidades também deu a Liberty a certeza de que ela havia chegado ao lugar certo.

Exceto por ser um espaço um pouco menor, a lanchonete de Colchester não era muito diferente dos locais que Libby frequentava com os amigos em Seattle. Além de banquinhos mais altos ao redor do balcão, havia mesinhas comuns e assentos acolchoados espalhados pelo restante do salão. As cores vivas da decoração e o design mais moderno mostravam claramente que era um estabelecimento voltado para o público jovem, e de fato a maior parte dos clientes eram rostos que Bloomfield já tinha visto pelos corredores do colégio. Aquele parecia ser o ponto de encontro preferido dos estudantes no fim de um dia de aulas.

- Vermont - - Página 2 Interior-design-arredi

Também não foi difícil para Liberty localizar a mesinha ocupada por Dexter Thompson. Dex e seus amigos tinham se sentado numa das mesinhas mais centrais da lanchonete e, como só as poltroninhas acolchoadas não tinham sido suficientes para acomodar todos os integrantes daquele grupinho popular, algumas cadeiras extras foram puxadas para perto da mesa.

- Oi. – Libby forçou um sorriso ao se aproximar da mesa e ver vários olhares se voltando para a direção dela – Estou atrasada?

Aquela pergunta deixava bem claro que Liberty tinha sido convidada para estar ali, mas ainda assim algumas garotas não pareceram muitos satisfeitas com a companhia dela. Além de ter uma língua afiada, Bloomfield não se encaixava no perfil dos alunos populares e já tinha protagonizado uma pequena desavença com uma das líderes de torcida. Mas antes que Pamela ou qualquer outra menina pudesse questionar a presença da novata, Dexter pediu que os amigos abrissem espaço para Libby se sentar ao lado de Emily, mostrando que provavelmente o convite para Bloomfield tinha partido dele.

- Nós já pedimos, mas eu vou até o balcão pegar o cardápio pra você escolher...

A oferta gentil de Chad fez uma ruguinha de confusão brotar entre os olhos de Liberty porque a menina nem se lembrava da última vez que estivera em um estabelecimento que oferecia cardápios físicos aos seus clientes. Sem QR code, sem tablets ou cardápios digitais. A cada dia Libby ficava mais convencida de que estar em Colchester era como voltar alguns anos no tempo.

- Obrigada, Chad, mas não preciso do cardápio. Eu sempre peço a mesma coisa. Vou querer um cheeseburger e um chá de cranberry gelado.

Liberty percebeu que tinha falado algo errado quando várias cabeças se viraram na direção dela com idênticos semblantes de estranhamento. E quando a menina deslizou os olhos sobre a mesinha e só encontrou latinhas de suco e refrigerante, Libby já teve uma pista sobre qual era o problema.

- Chá de cranberry? – a voz de Hunter quebrou o silêncio com uma entonação debochada – Qual é, garota? Quem toma chá com hambúrguer???

- É chá gelado! – Liberty se defendeu com um arzinho indignado – Combina com todas as refeições e é muito saudável, sabia? Tem propriedades antibacterianas e antioxidantes! E é uma delícia também. Todas as lanchonetes de Seattle tem chá de cranberry no cardápio! Eu não acredito que não vou encontrar chá de cranberry aqui!

- Má notícia pra você, novata. – Timmons manteve aquela postura relaxada e implicante – Acho que NINGUÉM em Colchester nunca nem experimentou essa coisa bizarra. Por que você não faz como todo mundo e pede uma Coca? Ou uma Coca Zero, a preferida das garotas taradas por contagem de calorias...

- Porque a Coca é uma bomba de açúcar. Mas ela ainda consegue ser melhor que a Coca Zero, com seus adoçantes artificiais cancerígenos!

Pamela havia acabado de levar o copo de refrigerante à boca, mas a declaração de Liberty fez a menina cuspir a bebida de volta com uma expressão horrorizada, como se um tumor fosse brotar na ponta da língua dela no segundo seguinte. Ao contrário da colega, Hunter não pareceu nem um pouco assustado quando soltou uma gargalhada debochada antes de cutucar Dexter com o cotovelo.

- Agora eu entendi por que você convidou a novata, Dex! Ela é hilária!
Liberty Bloomfield
Liberty Bloomfield
Admin

Mensagens : 58
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Emily Sinclair Sex Mar 08, 2024 11:33 pm

Era mais forte do que Emily. Bastava que Pamela estivesse no mesmo ambiente para que seus olhos rolassem de irritação. Mas assim como a colega, Sinclair também tinha uma grande habilidade de abrir um sorrisinho e agir com falsidade quando lhe era conveniente. E o que Emy costumava dizer a si mesma para vencer aquele sentimento era que ela era muito melhor. O cabelo melhor, a pele melhor, a dança melhor, até mesmo a voz ou o corpo. Poderia ser uma atitude prepotente, mas desde que continuasse com esse mantra, era mais fácil suportar aquela rivalidade muda que existia entre ela e Pamela.

Só que Emily não conseguia entender aquela discreta, quase imperceptível pontinha de incômodo extra que tinha surgido no final daquela tarde ao assistir Pamela entrando na companhia de Hunter. Depois daquela última noite, de todas as confidências trocadas entre ela e Timmons, Emy sentia que ocupava um lugarzinho diferente, talvez até um pouco especial na vida do amigo. E não era nada tão absurdo assim se sentir um pouco enciumada dos seus amigos mais próximos. Mas Sinclair foi incapaz até mesmo de nomear esse sentimento, contabilizando aquela irritação com a habitual que já existia entre ela e Pamela.

Foi sem nenhum tipo de falsa modéstia que Emily recebeu as congratulações das pessoas ao seu redor. Com um sorrisinho convencido, ela jogou os cabelos ruivos para trás, adorando aqueles instantes de atenção. Mas quando a tela do seu celular se iluminou com a mensagem de Hunter, uma ruguinha surgiu entre as sobrancelhas dela e a menina se apressou em puxar o aparelho para fora da mesa antes que alguém notasse que a notificação era dele.

Embora os dois se conhecessem desde sempre, que fossem amigos e estivessem sempre no mesmo ciclo de amizades, não seria tão fácil explicar os motivos para que Timmons estivesse lhe mandando mensagens estando bem na sua frente. Era óbvio que se tratava de um assunto particular, o problema era que Emily e Hunter nunca tiveram assuntos privados antes.

Em uma escala de amizades, Emily sempre tinha ficado bem distante da posição que Chad e Dexter ocupavam na vida de Hunter. Os dois se conheciam, se divertiam juntos, frequentavam as mesmas festas, os mesmos passeios e conviviam com bastante frequência. Mas até a noite anterior, nunca tinha existido uma intimidade maior, para conversas profundas. Algo estava mudando e não havia nada de errado nisso, mas era óbvio que Timmons não queria explanar aquilo e Emy respeitaria o que ele precisasse. Se era daquela maneira que Hunter seria capaz de se abrir com alguém, Sinclair não seria louca de atrapalhar a evolução que ele estava tendo. E ela precisava admitir que gostava de ocupar aquele novo espaço na vida dele.

Com o celular por baixo da mesa, os dedinhos de Emily digitaram rapidamente a resposta. E ela podia sentir o peso do olhar de Hunter. Se Sinclair estivesse mentindo ou tentando esconder alguma coisa, Timmons seria capaz de notar, mas a garota estava tranquila e até exibia um certo olhar de desafio quando enviou o pequeno texto. Mesmo estando bêbado na noite anterior, Hunter notaria que era o mesmo semblante firme de quando ela tinha lhe enfrentado no estacionamento.


"Eu devo ter esquecido até da minha alma quando você me assustou naquele estacionamento, lembra?"

Emily foi obrigada a deixar o celular de lado quando Liberty se juntou a eles. O mais esperado era que tivesse sido Sinclair quem tivesse convidado a prima, mas até a ruiva parecia confusa com aquela surpresa. Com um olhar atento, Emy observou a interação entre Bloomfield e Thompson e não conseguiu evitar um arquear de sobrancelhas. Aos poucos, um sorrisinho malicioso surgiu nos seus lábios e ela se sentiu ainda mais vitoriosa ao assistir Pamela precisando trocar de lugar para ceder o seu para Libby.

- O que foi que eu perdi??? - Ela sussurrou baixinho apenas para os ouvidos da prima. - Eu estou te chamando para vir no Pat's desde que você chegou em Colchester! Tá legal, eu não tenho o poder de convencimento do tanquinho do Dex, mas podia ter me avisado!

Enquanto a conversa seguiu pela mesa sobre os pedidos e as bebidas, Emily voltou a desbloquear o celular, procurando pela aba de conversas com o nome de Hunter. Como o rapaz parecia concentrado no assunto sobre o chá de cranberry, Emy digitou rapidamente para não chamar a atenção de ninguém ao redor.


"Você não bebeu hoje, não é? Porque eu tenho planos e você vai arruinar tudo se tiver bebido."

O celular de Emily foi bloqueado e colocado novamente sobre a mesa quase que no mesmo instante que o de Hunter vibrava. E como se aquela interação paralela simplesmente não existisse, a menina jogou os cabelos ruivos por cima de um dos ombros e partiu em defesa da prima, mostrando que estava atenta a conversa.

- Eu tomei chá de cranberry em Paris, é simplesmente divino! Você tem muito bom gosto, Libby. Sabe o que acho que deveríamos fazer? Um abaixo-assinado para incluírem chá de cranberry no cardápio do Pat's. Ninguém aqui quer ter câncer, né? OU PIOR! Gorda!

Em um gesto que Liberty notaria já ser característico de Dexter, o rapaz tombou a cabeça para o lado, com uma ruguinha entre os olhos, como um cãozinho filhote que não entendia o que estava acontecendo. E com um indicador erguido, ele apontou para Emily enquanto falava com a novata.

- Ela acabou de dizer mesmo isso? Nessa ordem de prioridade?

A garçonete não demorou para surgir com as bandejas de bebidas, e foi em um gesto atencioso que Dexter pediu para que a comida fosse entregue toda ao mesmo tempo, para que Liberty não precisasse esperar apenas olhando enquanto os outros comiam. Algumas garotas trocaram olhares de reprovação, mas foi uma loirinha sentada mais ao meio que teve a coragem de verbalizar o que a maioria pensava.

- Por que todo mundo tem que esperar a estrelinha querida? Eu estou faminta e não quero ficar passando fome por causa de ninguém.

- Então você deveria fazer isso por você mesma, Debby. - Foi com uma vozinha suave e imensamente falsa que Emily mais uma vez interviu pela prima. - Ninguém aqui quis falar nada, mas dá para notar os cinco quilos que você ganhou nessas férias.

Liberty já tinha dado provas de que sabia se defender sozinha, que não abaixava a cabeça para ninguém e que tinha uma personalidade forte. Mas aqueles eram os amigos de Emily, e a garota também não queria que sua prima começasse a se indispor com todo mundo. Porque parecia ser muito óbvio que Libby não hesitava em mostrar as garras quando precisava.

- E ninguém vai passar fome. - Dexter tentou soar mais sensato, embora claramente também estivesse defendendo sua decisão (e consequentemente Liberty). - São cinco minutos a mais. Você pode trazer as entradinhas para a gente, Tina? Obrigado!

Com o seu sorriso capaz de derreter qualquer geleira, Dexter parecia mesmo ter a habilidade de conseguir tudo o que queria, porque a garçonete prontamente atendeu com bastante satisfação. Primeiro foram as bebidas, mas logo chegaram algumas cestinhas de batatas-fritas.

- Bomba de açúcar para você, alguns produtos químicos cancerígenos para você... - Chad se esticou para distribuir algumas bebidas para os colegas que estavam sentados mais afastados, e foi com um sorriso mais doce que ele pegou o grande copo de milk-shake, o empurrando com as pontas dos dedos na direção de Emily. - E é claro, o milk-shake de morango com um toque de cereja. 

Além da bebida preferida de Emily, Chad também mostrou o quanto conhecia a ex-namorada quando colocou estrategicamente a sua generosa porção de batatas-fritas ao alcance das mãos dela. Quando os dois saíam juntos, Sinclair repetia enfaticamente que não comeria aquelas coisas gordurosas, mas inevitavelmente acabava furtando metade das batatinhas dele.

- Vocês dois voltaram outra vez? 

Pamela não freou a língua ao assistir aquela ceninha. Do outro lado da mesa, Chad prendeu o ar nos pulmões e fixou seu olhar em Emily, cheio de esperanças. Mas Emily não parecia nada constrangida ao sacudir a cabeça em negação. As batatinhas de Clifford foram ignoradas e ela se concentrou apenas no seu milk-shake.

- Que pena. Vocês formavam um casal tão bonitinhos... - Pamela estreitou os olhos e não parecia muito sincera com aquelas palavras, mas não foi proposital quando ela emendou com um detalhe que nem mesmo Emy sabia. - A capitã das líderes de torcida e o capitão do time de basquete. Quase que dá para fazer um filme, não é?

Diferente de Emily, havia um motivo muito importante para Chad não ter compartilhado aquela novidade com o restante do grupo. Claro que aquilo não era um segredo e que logo toda a MMU saberia que ele tinha sido escolhido como capitão do mesmo time que Hunter Timmons já tinha jogado no passado, mas Chad tinha esperanças de que conseguisse conversar com o amigo antes.

- Como é??? Você o que??? - Dexter não sabia se deveria parabenizar o amigo ou socá-lo por aquele "erro".

- Ahn, é. Eu ia contar... - Chad não sabia onde enfiar as mãos e nem como olhar para Hunter quando finalmente ergueu o queixo, se sentindo torturado. - Eu ia te contar, Tim, mas foi tudo muito rápido e você sumiu o dia todinho... 

Como estava sentada de frente para os rapazes, Emily assistiu de perto toda a transformação de Hunter. Momentos como aquele não eram raros entre os amigos, quando todos pareciam sempre pisar em ovos quando o assunto era Timmons e o basquete. Mas Emy sabia que aqueles olhares de piedade e todo aquele desconforto só serviam para piorar a situação, então ela sabia que precisava fazer alguma coisa, e rápido. Já sem as mesmas risadas ou alfinetadas, Emy estava mais séria enquanto encarava Hunter. E foi só no último minuto que ela desviou o olhar, mordendo o cantinho da boca.

- Vermont - - Página 2 5b0df275f82865cd33799273f2b5e30456115b90


- Parabéns, Chad! O treinador fez uma ótima escolha!

O sorriso que Emily recolocou nos lábios estava diferente. Não era tão leve e largo, mas trazia um peso a mais de maturidade que não era comum em Sinclair. E nignuém naquela mesa pareceu perceber que o elogio não era apenas para afofar o ego de Clifford, mas principalmente para tirar o foco de Hunter.

Daquela vez, o celular de Emily não vibrou com nenhuma mensagem ou ligação, mas a menina foi uma excelente atriz quando forçou uma ruguinha entre as sobrancelhas e levou o aparelho até o rosto, fingindo estar falando com alguém.

- Oi, mãe. No Pat's. Sim, a Libby está aqui. - Emily chegava a fazer pequenas pausas como se Hilary estivesse do outro lado da ligação fazendo perguntas, mas não havia chamada alguma. - O queeee? Não, mãe, qual é! Eu estou com os meus amigos! Uuuurg, tudo tem que ser eu! Tááá, eu já estou indo!

Parecendo bastante irritada, Emily tirou o celular do rosto e compartilhou com uma frustração genuína para que o restante do grupo entendesse o que tinha acabado de acontecer.

- Minha mãe precisa de ajuda na boutique, e eu meio que prometi que ajudaria mais esse ano. - Emily esticou o pescoço e aumentou um pouco a voz para a garçonete que atendia a mesa do lado. - Tina, pode colocar o meu pedido para viagem, por favor? - Para encerrar aquela atuação, a ruiva se inclinou na direção da prima, dando dois beijinhos para se despedir. E foi se aproveitando daquela proximidade que ela sussurrou apenas para Liberty. - A mamãe nem sabe onde eu estou, me cobre dessa vez, Libby? Obrigada, você é a melhor!

Já de pé, diante dos olhos arregalados de Bloomfield, Emily continuou no seu teatrinho enquanto abanava as mãos, recusando qualquer ajuda que a prima pudesse oferecer.

- Nããão, não se preocupe! Pode comer sossegada, prima! Deixa que eu cuido da chata da minha mãe. A gente se vê mais tarde. Tchau, pessoal!

Depois de um aceno generalizado para se despedir dos amigos, Emily foi até o balcão receber o seu pedido devidamente embrulhado. E a garçonete ficou confusa quando a ruiva pediu para incluir ali também o pedido de Hunter Timmons. Como se Tina quisesse se certificar, ainda procurou a mesinha dos populares, encontrando o rapaz ainda no meio dos amigos, mas Emy insistiu enquanto enviava mais uma mensagem para o amigo.

"Líder de torcida, presidente do comitê de festividades e ainda atriz. Eu sou ou não sou incrível? Sua vez, Timmons. Você tem dez minutos. Vou te esperar na sua picape."
Emily Sinclair
Emily Sinclair
Admin

Mensagens : 60
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Dexter Thompson Sáb Mar 09, 2024 12:31 am

Dexter tinha mesmo feito aquele convite e Liberty tinha aceitado. Do seu jeitinho esquisito e um tanto atravessado, mas ela tinha aceitado. Mesmo assim, Thompson não conseguiu evitar uma grande onda de surpresa (e satisfação) ao ver que a novata não tinha se esquivado daquela pequena saída entre amigos e tinha mesmo enfrentado um grupo de pessoas ainda desconhecidas só porque ele tinha lhe chamado. Por desconhecer todos os (exageradamente) racionais motivos que Libby tinha para estar ali, era mais fácil para Dex acreditar que mais uma vez tinha sido o poder do seu sorriso e da sua simpatia que tinha conquistado algo.

Era difícil saber se Bloomfield tinha sido sincera ao dizer que só tinha quarenta minutos para fazer as refeições ou se estava apenas usando um pretexto para ir embora mais cedo. Porque ninguém que Dexter conhecia (e ele conhecia muita gente) cronometrava o tempo para se sentar e comer, não se pudesse evitar. Mas pelo pouco que Thompson já tinha visto da novata, aquela parecia ser só mais uma das suas esquisitices. Uma esquisitice que, curiosamente, ele tinha achado engraçada e até um tanto adorável.

- Eu já saquei que você não gosta de sair da sua zona de conforto, mas você precisa experimentar o molho do Pat's com o seu cheeseburger. Eu não sei se tem toneladas de açúcar, sódio ou pedaços de lâmina que vão me cortar todinho por dentro, apenas acredite no que eu estou te dizendo: isso é divino, não importa se a vigilância sanitária diga o contrário.

Com um sorrisinho relaxado de quem estava bastante acostumado com aquele ciclo de amigos, Dexter deu uma generosa mordida no seu hambúrguer, depois de ter deixado quase meio litro de molho por cima da carne. Um tantinho do condimento deslizou para os cantos até sujar os lábios dele, mas Thompson parecia uma criança deliciada com um brinquedo e nem parecia ter notado. Mesmo quando Liberty começou a gesticular com as mãos, apontando para a própria boca, Dex parecia um pouco confuso e tombou a cabeça com aquele olharzinho inocente e perdido. Irritada com aquela "batalha", Libby precisou tomar a iniciativa de pegar um guardanapo e esfregou sem muita delicadeza onde o rapaz tinha se sujado.

- Aaaah, saquei. - Ele ainda estava com a bochecha estufada e se obrigou a fazer uma pausa para engolir antes de continuar. - Valeu!

Depois de pegar um segundo guardanapo e passar sobre os lábios, o olhar de Dexter deslizou sobre a mesa, se prendendo nos dois melhores amigos. Thompson costumava ser muito transparente em seu semblante e tudo o que ele sentia era refletido no seu olhar, então mesmo que aquele fosse um momento de lazer e diversão, Liberty seria capaz de notar uma sincera preocupação estampada nele. Thompson, Timmons e Clifford tinham a mesma idade, tinham níveis de maturidade semelhantes e estilos de vida parecidos, mas quando se tratava dos melhores amigos, era como se Dexter ganhasse pelo menos trinta anos a mais e se visse sempre preocupado como um pai responsável pelos dois filhos.

Emily já tinha conseguido mudar o foco da conversa e ninguém mais falava sobre basquete ou o novo título de Chad, um título que todos ali sabiam que certamente pertenceria a Hunter se o rapaz ainda estivesse no time. Mas Dexter sabia que aquele problema não desapareceria por completo, e era isso que o fazia ficar tão tenso.

Preso em meio aos seus pensamentos, ele levou um tempinho para notar que estava sendo observado, e quando virou para o lado encontrando o olhar de Liberty, o rapaz rapidamente se obrigou a abrir um sorriso despreocupado, que só servia para tentar despistar suas preocupações.
 - Quarenta minutos, han? O que quer dizer que... - Ele puxou o celular e desbloqueou a tela para consultar as horas. - Ainda temos vinte e cinco minutos.

Aquilo poderia até soar como uma implicanciazinha boba pelas regras que Liberty colocava para si mesma, mas a garota certamente estava ali contando cada minuto, então ela sabia que aquele era mesmo o exato tempo que ainda lhe restava. O que significava que Dexter tinha se atentado a hora que ela tinha chegado e ainda acompanhava o tempo restante. E com aquele gesto, Libby também teria notado a fotografia que Hunter usava na sua tela de bloqueio.

Para um rapaz popular, um tantinho presunçoso e rodeado de amigos e garotas, não seria nenhuma surpresa encontrar uma selfie, ou um registro de Dexter em campo, ou até mesmo com uma bela moça pendurada em seu pescoço. Ao invés disso, a foto preferida de Dex trazia ele e o irmão caçula espremidos em um barco de pesca com um lindo pôr do sol ao fundo. Além dos irmãos Thompson, era possível notar a bela paisagem que os cercava, de um dos principais lagos de Colchester. Era um detalhe muito bobo, mas aquilo também refletia a paixão que Dex tinha naquela cidade.

- Tá legal, aqui no Pat's não tem o chá famoso de Seatlle... 

Dexter se endireitou na cadeira, ignorando as conversas paralelas e se focou apenas em Liberty. Como ele tinha convidado a novata para aquela reuniãozinha, Thompson poderia estar apenas agindo com educação para mantê-la entretida, mas era verdade que ele estava muito mais interessado em conversar e conhecer um pouco mais Bloomfield do que mergulhar nas conversas previsíveis com as mesmas pessoas de sempre.

- Mas não julgue o lugar antes de provar o "Especial do Dexter".

Para alguém que julgava Thompson de maneira tão superficial, havia formas bem negativas de interpretar aquelas palavras. Mais uma vez, Dex poderia soar arrogante e convencido ao dizer que havia um produto sendo vendido naquela lanchonete e que levasse o seu nome. Mas ele não estava exagerando e nem brincando quando fez um sinal para a garçonete.

- Tina, consegue me trazer dois especiais do Dexter, por favor?

- É pra já, Dex!

Com o lugar vago de Emily, algumas pessoas tentaram se acomodar melhor, e foi apenas seguindo o fluxo que Dexter se endireitou até que seus joelhos estivessem tocando os de Liberty. Também foi sem nenhuma malícia ou segunda intenção que, enquanto conversava com Chad, ele deslizou um dos braços para trás do banco, passando exatamente atrás da cabeça de Libby. E a conversa entre os dois rapazes só foi interrompida quando Tina voltou trazendo os dois "especiais do Dexter".

- O Dex trata essa coisa como se fosse o bebê dele. - Chad cruzou os braços e abriu um sorrisinho implicante para o amigo, que não se abalou.

- Xiiiu, assim você vai ofender ele, Cliff! E não é como se ele FOSSE meu bebê. Eu que criei essa belezinha, então eu sou mesmo um pai muito orgulhoso.

Duas tacinhas de sobremesa tinham sido colocadas diante de Dexter e Liberty. Um creme branco como chantily preenchia boa parte do seu inetrior, mas havia também alguns floquinhos brancos salpicados por cima, misturados com minúsculos pontinhos verdes e uma cereja no topo. E como Libby ainda não parecia ter entendido exatamente o motivo de orgulho de Thompson, o rapaz explicou com um sorriso satisfeito nos lábios.

- Creme de chocolate branco, um toque de calda de laranja, raspas de baunilha e uma cereja para dar uma corzinha. É uma invenção minha e eu te garanto que você nunca provou nada igual.

- O Dex achou que ganharia as chaves de Colchester quando o Patty concordou em colocar no cardápio da lanchonete. - Chad rolou os olhos e parecia contrariado ao ter que fazer uma confissão. - Mas o negócio é mesmo ridiculamente bom, vale toda a bomba de açúcar do mundo.

- Prova, mas prova com calma! Você precisa saborear cada colherada! 

Contrariando a própria recomendação, Dexter puxou uma das taças para si, e ao invés de afundar uma colher e provar com calma, ele ergueu a sobremesa aos olhos de todos antes de puxar até conseguir dar uma generosa lambida.

- Vermont - - Página 2 14eafc7d02f16b305f54d77b772681e61af5d47c


- Hmmmmm... - Dexter fechou os olhos para aproveitar aquela onda de prazer, ignorando as risadinhas a sua volta.

- Essa é a mesma cara que você faz quando estamos transando. - Debby arqueou uma das sobrancelhas, sem se preocupar em compartilhar aquele assunto íntimo diante de todos. - Devo me preocupar?

A caretinha divertida da loira mostrava que era apenas uma provocação divertida, que arrancou risada de todos. E aquilo parecia ser algo comum na rodinha de amigos, porque Dexter também não pareceu ofendido, e respondeu com o mesmo bom humor.

- Você deveria se sentir lisonjeada, isso sim. 

Mesmo em meio a brincadeiras, Dexter puxou o celular para consultar novamente as horas. E aquele gesto que poderia ser interpretado com algum tipo de desejo que Liberty fosse embora logo, na verdade significava o oposto. E Dex estava mais sério quando voltou a se inclinar apenas para que Bloomfield escutasse.

- É sério, pode comer com calma. Eu te levo em casa depois, assim você não precisa perder nenhum minuto da sua agenda. E eu também tenho uma coisinha para você no carro, então podemos unir o útil ao... útil? - Dexter chegou a ver a boquinha de Liberty se abrindo, mas antes que a menina recusasse aquela oferta, ele se apressou. - Eu te chamei até aqui, eu faço questão de te levar depois. Além do mais, você já andou no meu carro e viu que não tem nada enferrujado, está tudo no lugar e eu sou um excelente motorista. E você vai economizar alguns minutos e pode até aproveitar para estudar, olha como eu sou legal!
Dexter Thompson
Dexter Thompson
Admin

Mensagens : 57
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Hunter Timmons Sáb Mar 09, 2024 1:37 pm

“Que ótimo! Você merece! O treinador não poderia ter feito uma escolha melhor! Espero que você se dê bem e que o time vença tudo este ano!”

Seriam aquelas palavras que um bom amigo diria depois de ouvir a grande novidade de Chad. E mesmo que Hunter não fosse capaz de se sentir sinceramente feliz pela conquista do melhor amigo, era esperado que o rapaz se esforçasse um pouco mais para disfarçar o seu descontentamento. Até Pamela tinha acabado de entoar palavras semelhantes para Emily, mesmo que por dentro quisesse estrangular a nova capitã da torcida. Era uma questão de educação e de buscar por uma boa convivência no núcleo social que eles dividiam. Mas, naquela tarde, Timmons não teve a reação nobre e educada que a sociedade esperava dele.

Clifford chegou a encolher um pouco os ombros quando recebeu um olhar gelado do melhor amigo. A maior prova do quanto Chad estava tenso veio quando o rapaz não reagiu e nem tentou impedir que Emily fosse embora da lanchonete. Outros assuntos já tinham brotado na rodinha de conversa dos estudantes, mas era evidente que o clima pesado entre os dois rapazes não tinha se dissipado. Por isso, Clifford se aproveitou de um momento de distração dos amigos para inclinar seu corpo sobre a mesa, dirigindo aquelas palavras sussurradas a Hunter.

- Podemos conversar um pouco, Tim? Em particular?

Na teoria, Chad não precisava dar qualquer tipo de explicação para o amigo. Hunter não estava mais no time de basquete e sequer havia disputado a vaga de capitão. Não fazia o menor sentido que Clifford perdesse uma oportunidade tão valiosa para o currículo escolar dele por causa de Timmons. E nem era justo que Hunter ficasse irritado com Chad. Diferente da situação entre Pamela e Emily, não existia uma rivalidade declarada entre os dois e Chad não havia tirado nenhuma oportunidade do melhor amigo porque Hunter já não tinha a menor chance de ocupar o lugar de liderança que agora pertencia a Clifford.

Mas foi em nome daquela velha amizade (e também com um pouquinho de medo de uma explosão do amigo), que Chad insistiu naquela conversa particular. O restante do grupo ainda ria e tagarelava quando Timmons se ergueu silenciosamente do seu assento e foi até os fundos da lanchonete. Os colegas provavelmente pensaram que Hunter só precisava usar o banheiro, mas Chad entendeu que era a sua oportunidade e só demorou alguns segundos para seguir os passos do outro rapaz.

- Eu ia te contar... – Clifford até tentou iniciar as suas explicações, mas recebeu logo um corte seco do melhor amigo.

- Vermont - - Página 2 D908bb92c94d94d6d3b3c31096a3a8e2

- Mas não contou.

- Você não apareceu nas aulas hoje, Tim! – mais uma vez a tentativa de defesa de Chad foi interrompida por Hunter.

- Você me viu no estacionamento esta manhã. E você sabe onde eu moro, tem o número do telefone da minha casa e do meu celular. Então vamos parar com essa porra de hipocrisia, Clifford. Se você quisesse mesmo me contar a novidade, você já teria contado! Você não teve coragem de me contar porque sabe que fez merda! Eu não esperava receber essa punhalada nas costas justamente de você!

Timmons não tinha o direito de fazer cobranças ou condenar o amigo, mas aquela sensação amarga de traição era mais forte do que qualquer pensamento racional dentro da cabeça de Hunter. Era simplesmente impossível para o rapaz se sentir feliz em ver Chad ocupando o lugar que deveria ser dele, realizando o sonho que Hunter tinha idealizado desde a infância e agora não estava mais ao alcance dos seus dedos.

É claro que, na ausência de Timmons, o treinador teria que escolher outro jogador para ocupar o cargo de capitão. Mas Hunter realmente pensou que o seu melhor amigo recusaria aquela vaga por saber o quanto aquilo era importante para ele.

- Foi o treinador Whitney que sugeriu que eu fizesse o teste! Eu nem achei que ele me escolheria, todo mundo pensou que a vaga já era do Kendall! Mas o Ken acabou mandando muito mal nos arremessos, o treinador me escolheu e... – Chad fez uma pausa naqueles argumentos, soltou um suspiro mais pesado e tentou completar com uma voz mais firme – Eu sinto muito se isso te magoa, mas eu não podia recusar, Tim. Não faria sentido recusar. Vai ser ótimo pro meu currículo, eu vou ter mais destaque nos jogos e consequentemente vão ser maiores as chances de algum olheiro me notar e de eu conseguir uma vaga pra jogar numa boa universidade! Essa é a porta de entrada mais fácil pra uma carreira profissional no basquete!

- É sério? – uma risada seca, debochada e sem emoção saiu pela garganta de Hunter antes que o semblante dele ficasse ainda mais carregado – Você está explicando PRA MIM as vantagens de ser o capitão do time??? Eu sei de tudo isso, Clifford! Essa merda toda era o MEU sonho, o MEU plano para o MEU futuro! Você não precisa me explicar tudo o que você quer conseguir roubando O MEU LUGAR!

- Não é o seu lugar. Você nem está mais no time, Hunter. E tentar me fazer sentir culpa por causa disso é uma atitude infantil, injusta e egoísta! Eu mereço esse lugar na equipe! Eu não posso perder essa chance! Foi o seu joelho que estourou, não o meu!

Bastou que Chad ouvisse suas próprias palavras para que o rapaz se arrependesse. Os olhos claros se arregalaram, Clifford interrompeu a respiração acelerada e contraiu o rosto num semblante arrependido. Mas antes que ele tivesse a chance de abrir a boca para se desculpar, as mãos de Timmons o agarraram pela gola da jaqueta e Chad soltou um gemido com o impacto de suas costas batendo com força contra a parede dos fundos da lanchonete.

- O meu “joelho estourado” não vai ser um obstáculo se eu quiser acabar com a sua raça, Clifford. E você não vai ser mais o capitão do time se eu quebrar as suas duas pernas ou socar a sua cara até que seus miolos comecem a escorrer pelas suas narinas!

Apesar da fúria refletida pelas íris de avelã, Hunter não ergueu a voz ao fazer aquelas ameaças. Mas a entonação mansa de Timmons ironicamente só fazia com que o rapaz soasse ainda mais insano e perigoso. E depois de já ter visto o quanto Hunter perdia o controle e conseguia ser violento em brigas, Chad tinha motivos de sobra para não querer entrar numa luta contra o melhor amigo.

Contudo, o embate dos dois rapazes não durou muito tempo e nem se tornou mais dramático porque Hunter logo soltou a jaqueta do outro rapaz e se afastou um passo. Por mais que estivesse chateado com Chad, Timmons não teria coragem de se atracar com um velho amigo. Mas as palavras ácidas escolhidas por Hunter eram tão duras e machucavam quase tanto quanto um soco.

- Eu não vou fazer isso. Não vou te ajudar a encontrar uma desculpa pro seu fiasco. Você vai se ferrar sozinho, Clifford. A sua “grande chance” vai ser o seu pior fracasso. O time é ruim, o treinador é um bosta e você é fraco, não tem habilidade, garra e muito menos espírito de liderança! Nenhum olheiro vai te notar simplesmente porque vocês não vão passar nem da primeira fase, seu merdinha!

***

Em meio à discussão acalorada com o melhor amigo, Hunter nem sentiu a vibração do celular dentro do bolso da calça. Então a mensagem de Emily só foi visualizada depois que Timmons já tinha saído pelos fundos da lanchonete, sem se preocupar em se despedir de nenhum dos colegas. Ainda agitado e magoado com os últimos acontecimentos, Hunter franziu a testa e não entendeu de imediato que a mensagem de Sinclair era um convite para que os dois saíssem juntos da lanchonete.

Até alguns minutos atrás, Hunter se sentiria culpado por esconder de Chad aquela recente aproximação entre ele e a ex-namorada do amigo. Era óbvio que Clifford ainda gostava de Emily e queria reatar o relacionamento. Mesmo que não estivesse rolando nada além de amizade entre ele e a garota, Hunter se sentiria incomodado por estar estreitando aqueles laços com Emily pelas costas de Chad.

Mas agora que Timmons estava se sentindo traído por Clifford, surgia até uma certa satisfação em devolver aquela punhalada nas costas. Da mesma forma como Chad estava ocupando um lugar que deveria ser dele no time, Hunter também receberia toda a atenção que Clifford tanto desejava receber da ex-namorada. Podia até ser um sentimento infantil, mas Timmons se sentiu um pouco vingado quando alcançou a sua picape e encontrou Sinclair esperando por ele.

- O que exatamente você quis dizer com isso? – o rapaz sacudiu o celular em sua mão, se referindo à mensagem que ele acabara de ler – Qual é o seu plano, Sinclair?
Hunter Timmons
Hunter Timmons
Admin

Mensagens : 61
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Liberty Bloomfield Sáb Mar 09, 2024 1:37 pm

Ser prima da capitã das líderes de torcida era como um escudo que protegia Liberty dentro da MMU, mas nem mesmo a influência de Emily seria suficiente para fazer a novata ser tão rapidamente aceita no grupinho dos populares. O detalhe que realmente fazia toda a diferença era a postura e a popularidade de Dexter Thompson. Os rapazes acatavam cegamente todas as decisões de Dex e as meninas obviamente não fariam nada para contrariá-lo, então ninguém teve coragem de questionar Thompson quando partiu dele a iniciativa de arrastar Liberty Bloomfield para dentro daquele grupinho no qual ela claramente não se encaixava.

Dexter e seus amigos não se pareciam em nada com as pessoas com quem Libby costumava andar em Seattle. Os assuntos, as prioridades, os gostos, as preferências e os estilos de vida eram completamente diferentes. Em Seattle, Liberty e os amigos costumavam zombar e criticar os atletas desmiolados e as meninas fúteis e exageradamente vaidosas. Por isso, Bloomfield se sentiu sinceramente surpresa em ver que o grupinho de Dexter não merecia um julgamento tão severo e preconceituoso. E foi uma surpresa ainda maior para a novata ver que ela estava se divertindo com aquelas pessoas.

As piadinhas, as implicâncias e as brincadeiras funcionavam bem e eles tinham uma excelente dinâmica. E, apesar de algumas faíscas e rivalidades, não era difícil perceber que alguns daqueles jovens tinham construído laços de amizade que provavelmente durariam a vida toda. Liberty ainda se sentia bastante deslocada e não sabia se algum dia ela se encaixaria num grupinho tão diferente dela, mas aquela experiência estava servindo ao menos para que Bloomfield deixasse de ter uma visão tão crítica e preconceituosa contra os “populares”.

E Dexter Thompson era certamente a maior de todas as surpresas. Vinte e quatro horas atrás, Libby estava convencida de que o capitão do time de futebol era só mais um atleta burro, arrogante, egocêntrico e que se sentia superior a todos ao seu redor. Mas era bizarro como a opinião da novata sobre Dex tinha se transformado nas últimas horas. Era como se Liberty finalmente tivesse enxergado que havia muito mais por baixo daquele estereótipo. Thompson era uma pessoa muito mais complexa e admirável do que Libby jamais imaginaria.

O relógio digital no punho de Bloomfield mostrava que o tempo que ela havia reservado para a lanchonete estava quase chegando ao fim, mas a menina não conseguiu cumprir fielmente aquele prazo depois de provar o tal “especial do Dexter”. Contrariando todas as expectativas, o sabor da sobremesa inventada pelo rapaz era assombrosamente bom, o tipo de coisa que merecia ser apreciada sem tanta pressa. E Liberty estava usando a colher para raspar até a última gotinha de creme da taça quando foi incluída em mais uma conversa naquela rodinha de amigos.

- E a tal festa na casa da Emily no fim de semana? – a pergunta partiu de Pamela e, como Sinclair já não estava mais na lanchonete, a garota se voltou para Liberty – Vai rolar mesmo?

- Acho que sim.

- E você vai? – desta vez foi Debby quem fez a pergunta, lançando um olharzinho mais arrogante para a novata.

- Bom, eu acho que não tenho muita escolha, né? – Libby completou com uma entonação óbvia, como se estivesse explicando algo para uma criança tola – Eu moro lá, sabia? E, pelo o que eu entendi, é uma festa de boas-vindas pra mim. Então eu é que deveria perguntar se vocês duas vão...

O fato de Liberty não abaixar a cabeça e não reagir como um filhotinho assustado diante de um grande predador era o que mais irritava as garotas daquele grupinho. Meninas como Pamela e Debby estavam acostumadas a serem temidas e veneradas dentro do colégio, então elas tinham uma certa dificuldade para lidar com uma nerd que tinha coragem para enfrentá-las e para devolver as provocações.

- Oras! É claro que nós vamos! Somos as melhores amigas da Emy!

A declaração de Pamela fez com que uma das sobrancelhas de Libby se arqueasse e a novata não conseguiu esconder o seu estranhamento diante daquela declaração. O climinha de rivalidade e falsidade que existia entre as garotas da torcida definitivamente não combinava em nada com laços de uma amizade sincera. Desta vez Bloomfield conseguiu guardar as alfinetadas apenas para si mesma, mas o sorrisinho contido dela denunciou que ela não acreditava nem um pouco na sinceridade da amizade entre as meninas.

Emily já tinha saído da lanchonete e Liberty pretendia ter uma conversa mais particular com a prima para entender por que ela havia mentido para os amigos. E depois que Hunter e Chad também se retiraram para os fundos do estabelecimento, a mesinha ficou um pouco mais vazia e silenciosa. Era a oportunidade perfeita para que Libby também inventasse uma desculpa para ir embora, mas foi nesse momento que ela foi surpreendida por mais um convite de Thompson.

Se a situação fosse outra (ou se Dex fosse outro tipo de cara), Liberty desconfiaria das intenções do rapaz. Dexter estava claramente tentando uma aproximação ao convidá-la para sair e ao oferecer uma carona. Só que, mais uma vez, Libby enxergou aquela situação sob uma ótica deturpada e limitada. Na visão dela, um cara como Dexter Thompson JAMAIS teria qualquer interesse mais íntimo por uma garota nerd que não se encaixava no perfil e nem tinha a aparência de uma líder de torcida. A piadinha indiscreta de Debby sobre a intimidade dos dois parecia reforçar ainda mais qual era o estilo de garota com quem Thompson estava habituado a sair.

Ao que tudo indicava, Dex só estava sendo tão gentil e atencioso porque aquela era a natureza dele e a forma como as pessoas levavam a vida numa cidadezinha pequena e pacata como Colchester. E foi esse o pensamento que fez com que Liberty concordasse em aceitar a oferta do rapaz. Sem a carona de Emily, Libby perderia vários minutos na caminhada de volta para casa, então também parecia ser uma decisão sensata e inteligente aceitar a proposta de Dexter.

Agora que o grupo estava um pouco menor, não demorou muito para que todos terminassem de comer. Embora Bloomfield estivesse naquela lanchonete a convite de Dexter, a menina fez questão de pagar a sua parte quando a conta chegou à mesa. Enquanto a maioria dos colegas carregava consigo um cartão de crédito ilimitado (obviamente em nome dos pais), Libby abriu a carteira e contou algumas notas até somar o valor consumido por ela.

E um bom observador também notaria que, apesar de não ter tanto dinheiro sobrando, Liberty fez questão de deixar uma boa gorjeta para a garçonete. Praticamente todos os alunos da MMU eram filhos de grandes empresários, empreendedores, advogados, políticos, médicos, publicitários ou engenheiros. Mas, sendo filha de uma garçonete, Libby valorizava mais do que todos eles o trabalho da mocinha que havia servido a mesa deles naquela tarde.

Depois de se despedir dos colegas, Libby se afastou alguns passos e parou na calçada para esperar por Thompson. E como Dexter ainda perdeu alguns minutos tagarelando com os amigos e acertando alguns detalhes do treino que aconteceria na manhã seguinte, Liberty puxou o celular de dentro da bolsa. Diferente de qualquer outra garota, Libby não tentou se distrair com um aplicativo de mensagens ou com as publicações das redes sociais. Ao invés disso, a menina abriu um arquivo que o professor de robótica enviara para o e-mail dos alunos e começou a adiantar a leitura do artigo científico que ela pretendia finalizar ainda naquela noite.

O “vamos?” de Dexter foi o som que arrastou Liberty de volta para a realidade. A tela do celular foi bloqueada, Libby ergueu a cabeça e pareceu um pouco confusa quando olhou ao redor e viu que os outros jovens já tinham se dispersado e restava apenas ela e Thompson na calçada em frente à lanchonete. E o rapaz deixou ainda mais claro que aquela carona não incluiria mais ninguém quando abriu a porta do carona e fez um sinal para que Libby entrasse no carro.

- Ué... a sua namorada não vai também?

A mesma confusão presente no rostinho de Liberty se refletiu também no semblante de Thompson. E como o rapaz não parecia ter ideia de quem era a tal namorada a quem Libby se referia, a novata bufou com uma certa impaciência antes de explicar a sua linha de raciocínio.

- A garota que contou pra mesa toda sobre a cara que você faz quando tem um orgasmo não é a sua namorada?

Aquilo podia soar apenas uma alfinetada implicante, mas a grande verdade é que Liberty tinha ficado um pouco incomodada com o comentário indiscreto de Debby. Nem a própria Libby enxergava que ela estava com ciúmes de Thompson, então a novata acabou convencendo a si mesma de que apenas tinha ficado constrangida com aquele comentário vulgar e desnecessariamente íntimo da outra menina.
Liberty Bloomfield
Liberty Bloomfield
Admin

Mensagens : 58
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Emily Sinclair Dom Mar 10, 2024 12:33 pm

Alheia a briga que tinha acabado de acontecer nos fundos da lanchonete, Emily trazia um sorrisinho tranquilo nos lábios e os ombros relaxados enquanto esperava por Hunter, encostada na picape nova do rapaz. Era muito óbvio concluir que havia ficado um clima péssimo entre Clifford e Timmons, mas Emy acreditava de verdade que tudo tinha se encerrado ali, logo depois que os colegas parabenizaram Chad pela sua nova posição no time. E o seu objetivo era exatamente tentar distrair Hunter.

Alguns dias atrás, Emy não se atreveria a se envolver naquele drama. Por mais que todos fossem amigos, o trio de rapazes tinha um elo muito mais forte e resolviam a maioria dos problemas entre si. Mas assim como Sinclair tinha tomado a iniciativa para tentar evitar que Timmons levasse uma advertência (ou até uma expulsão) por beber dentro da escola, ela não era capaz de ignorar o que acontecia diante dos seus olhos. E depois das conversas profundas e do novo nível de proximidade entre ela e Hunter, Emy agora se sentia tão responsável quanto Dexter para lidar com aquelas crises.

Era impossível culpar Chad. Não era como se Clifford tivesse feito aquilo de propósito, para ferir o melhor amigo. Qualquer pessoa racional seria capaz de compreender que o novo capitão do time tinha conquistado aquele título por merecimento e ninguém tinha o direito de tirar o seu momento de felicidade. Mas todo mundo também sabia que Chad só tinha conseguido ser capitão porque Hunter não estava mais no time. E era óbvio que Timmons não aceitaria aquela situação com um sorriso contente e sinceros parabéns.

- Você me deu um desafio, lembra? E toooodo mundo sabe que eu levo os meus desafios MUITO a sério.

Emily sabia ser uma pessoa gentil quando queria, acolher as pessoas que ela amava e se virar no avesso para proteger aqueles ao seu redor. Mas isso não significava que ela era um anjinho de candura sempre simpática e sorridente com qualquer um. Principalmente com o seu espírito competitivo, Emy sabia pisar no calo de quem precisasse para alcançar seus objetivos. Ela ficava quase obcecada quando tinha um foco definido. Aos treze anos de idade, Sinclair tinha movimentado a cidade inteira por uma causa nobre quando o canil de Colchester quase fechou por falta de verbas. E embora fosse um objetivo admirável, foi um tanto assustador ver uma garotinha ruiva e de sardas quase ameaçando adultos e infernizando comerciantes para que eles fizessem doações ou assinassem contribuições mensais.

A "missão" dada por Hunter também era algo bonito. Ajudar um amigo que se sentia perdido a encontrar uma nova paixão não era algo simples, que qualquer um aceitaria. Mas Emily não só vinha se empenhando naquele seu novo objetivo, como respeitava a privacidade de Timmons em manter aquele segredo apenas entre os dois. Era apenas por respeito a ele que Emy se esquivou da lanchonete, contando mentiras aos seus amigos, para colocar seu plano em prática.

- E se eu me lembro bem, as suas palavras foram que eu tenho permissão de te revirar de cima a baixo, então vamos logo com isso.

Carregando a embalagem com os lanches, Emily se acomodou no banco do carona e enquanto Hunter ligava o motor, ela se ocupou em colocar um endereço no GPS. Sob o olhar desconfiado de Timmons, Emy manteve um semblante de paisagem, propositalmente para que ele não desconfiasse de nada. Mas antes que os dois deixassem o estacionamento, ela acabou deixando um arzinho convencido escapar.

- Não, eu não vou te falar onde vamos, você vai descobrir quando chegar lá. Mas eu fiz uma lista com algumas coisas que vamos tentar. E como eu tenho carta branca para te revirar todinho, isso significa que você não pode reclamar. Aaah, e você precisa ter a mente aberta, Tim! É sério, algumas coisas podem parecer esdrúxulas, mas nós só vamos descartar depois que você tentar!

Da mochila lilás que Emily trazia consigo, ela abriu o zíper e tirou de dentro um caderninho dourado e brilhoso. Uma caneta que soltava perfume de cereja enquanto escrevia também foi puxada para seus dedinhos e havia um pompom cor de rosa na ponta. Apesar dos acessórios chamativos, Sinclair estava séria quando folheou algumas páginas até encontrar a listinha que tinha feito. E se Hunter se arriscasse a olhar rapidamente naquela direção, notaria que a menina tinha perdido algum tempo naquela "tarefa", caprichando com cores, desenhos, uma tabelinha com quadradinhos ao lado de cada tarefa e até uma coluna de observação e um espaço para uma nota de avaliação que Hunter poderia dar depois de casa experiência.

- Bom, eu selecionei algumas opções, mas nós podemos acrescentar algumas coisas com o tempo. E algumas dessas atividades eu já deixei previamente agendada, mas você não vai saber o que é até chegar lá, porque eu quero ter certeza que você não vai fugir!

Emily deu um gritinho quando, em uma rua pouco movimentada, Hunter diminuiu a velocidade do carro e puxou o caderno para o volante para poder ler o que a amiga tinha listado. Os olhos castanhos quase saltaram para fora e Sinclair rapidamente olhou ao redor, se certificando de que não havia nenhum carro ou pessoa por perto que pudesse sofrer um acidente.

- HUNTER!!! Está maluco??? OLHOS NA PISTA, OLHOS NA PISTA! Eu sou jovem e linda demais para morrer!

Bufando, Emy arrancou o caderninho de volta para si, mas tinha sido tempo suficiente para que Timmons pudesse ler alguns dos itens listados por ela. E como já sabia que a reação dele seria exagerada e reativa, a menina apenas rolou os olhos e não se abalou.

- Sim, você vai prestar serviço comunitário no canil da cidade por um dia. E se a sua nova paixão for ser veterinário? Uma manhã na igreja não vai te matar, Tim, pelo contrário, pode até mudar a sua vida e tentar salvar essa sua alma condenada, tá? Também olhei o calendário da universidade de Burlington e vai ter uma palestra de filosofia muito interessante. Um festival de cinema a céu aberto, uma aula de música, dança e pintura. Os pais do Dex ainda tem aquele motorhome? Você pode usar para o dia de camping e sobrevivência. 

Enquanto passava o olho pela lista, Emily ia tagarelando sobre quais caminhos Hunter poderia seguir e que ele poderia estar torcendo o nariz agora, mas havia chance de se identificar com alguma coisa que revelasse um novo talento ou uma nova paixão. Colchester era uma cidade pequena, mas o trajeto acabou sendo mais longo do que o normal, e foi surpreendente o fôlego de Sinclair para tagarelar durante cada minuto.

Depois de saírem dos limites da cidade, mas ainda antes de chegar em Burlington, Emily desligou o GPS e apontou o dedo avisando que estavam chegando. Eles estavam no meio da estrada e não havia muita coisa por perto. Sem residências, prédios comerciais ou restaurantes. Não era o mesmo clima simpático do centro histórico de Colchester e a única construção que chamava atenção era um galpão enorme, todo pintado de preto e com um outdoor em letras chamativas com o desenho de um carro de corrida.

- É aqui! Chegamos!

Emily tinha um sorrisinho empolgado como de uma criança na manhã de natal quando soltou o cinto e pulou para fora da picape. Logo que os dois entraram na recepção, o cheiro de pneu e o barulho alto que vinha das pistas de kart já tomavam conta do lugar. Com sua sainha curta, as unhas bem feitas e os cabelos esvoaçantes, Sinclair não se encaixava naquele lugar mais rústico que claramente tinha como principal público os homens, mas ela estava contente quando parou diante do atendente.

- Oi! Eu liguei mais cedo. Reserva para Emily Sinclair.

Enquanto esperava, Emy colocou alguns fios vermelhos atrás da orelha e observou através da parede de vidro que separava a recepção do restante do kart. A pista era longa, até perder de vista. No fundo do galpão, as portas se abriam para que a corrida pudesse continuar do lado de fora. Pneus estavam empilhados nas laterais e havia uma área reservada onde as pessoas se preparavam para entrar nos carrinhos ou aguardar pelos colegas em alguns sofás.

- Aqui está. - O rapaz entregou um cartão com uma chave diferente, quadrada, para as mãos da garota. - É só entrar e avisar o Andy que é o kart número sete.

- Uhh, meu número da sorte! Obrigada!

Os karts eram rápidos, faziam barulho demais e os pneus raspavam a pista deixando marcas e um cheiro forte para trás. Definitivamente não era o tipo de lugar que Emily Sinclair gostaria de frequentar. Mas eles também eram pequenos e só cabiam uma pessoa dentro, então parecia estranho que a menina tivesse recebido apenas uma chave. E diante do olhar estreito de Timmons, ela sacudiu a cabeça com tranquilidade.

- Ah, não. Eu não vou. A experiência é para você, eu não sou obrigada a colocar esses capacetes xexelentos, pegar piolhos e nem quebrar as minhas unhas. Mas divirta-se, eu vou ficar escutando spotify enquanto te espero!
Emily Sinclair
Emily Sinclair
Admin

Mensagens : 60
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Dexter Thompson Dom Mar 10, 2024 1:25 pm

Antes mesmo que Dexter e Liberty se conhecessem, o nome da novata tinha entrado na "lista" do jogador de futebol. Em nenhum momento Dex tinha feito aquele "pedido" aos amigos, mas a divisão tinha acontecido de forma espontânea. Era muito machista que Dex, Hunter e Chad combinassem entre si e listassem as garotas com quem pudessem ficar, mas nenhum dos três parecia enxergar maldade nisso. Era apenas uma estratégia para que um não se envolvesse com a mesma garota do outro, colocando a amizade entre eles sempre em primeiro lugar.

Uma garota na sua lista não significava obrigatoriamente que Dexter precisasse ficar com ela. Acontece que, em uma cidade pequena como Colchester, era natural que em algum momento aquilo acabasse acontecendo de maneira natural. Ao menos o natural que Thompson conhecia, quando uma garota começava a demonstrar interesse e ele não precisava mover um único dedo.

A vida tinha sido muito benéfica com Dexter. Mesmo que existissem seus problemas, a família Thompson era unida, tinha um status social e financeiro bastante elevado para os padrões de Vermont, Dex recebia o melhor ensino da região, era talentoso com os esportes e dono de um físico invejável. Dexter poderia não se encaixar no estereótipo que Liberty esperava, do atleta burro, arrogante e que praticava bullying, mas ele era um tanto incapaz de enxergar todos os seus privilégios. Era como se tudo sempre caísse no seu colo, sem qualquer esforço.

O mesmo acontecia com as meninas. Dex não precisava ter nenhum talento na arte da conquista. Seu sorriso muitas vezes fazia todo o trabalho e ele não costumava recusar quando uma garota bonita cruzava seu caminho. Então Thompson não estava fazendo nenhum esforço para ficar com Liberty naquele dia. O convite para a lanchonete era uma forma de Dex fazer suas próprias boas-vindas. Quase como um rei que dizia aos seus súditos que deveriam tratar bem uma visitante do palácio.

- Quem? - Ele franziu as sobrancelhas, ainda segurando a porta aberta para que Liberty entrasse no carro. - A Debby?

O "pffff" exagerado que Dexter soltou ao tentar contar uma risada parecia muito com um deboche. Ele não estava desmerecendo Debby, mas era hilário que alguém cogitasse aquela ideia absurda. Com uma postura relaxada, Thompson negou com a cabeça, usando um dos braços para se apoiar na porta aberta.

- Você sabe que as pessoas podem transar sem estarem namorando, não sabe, señorita? A Debby não é minha namorada, ela só é gostosa para cacete e muito boa de cama.

Se Dexter estivesse tentando se aproximar de Liberty com segundas intenções, ele jamais faria aquele tipo de comentário. E embora soasse ofensivo falar sobre uma garota daquela maneira, Dex sabia que Debby tinha um pensamento muito parecido em relação a ele. Os dois tinham química, gostavam de se divertir juntos, mas nunca houve nenhum tipo de cobrança para um relacionamento de verdade.

- É meu último ano, Libby. Eu sou capitão do time de futebol, tenho treino todos os dias além dos que envolvem a escola. Meu pai não deixa muito espaço na minha agenda para namoradas e ele com certeza surtaria se eu tirasse o meu foco do que realmente importa logo agora.

O sonho de Hunter Timmons era seguir a carreira profissional de basquete e ele sempre tinha se esforçado muito para que isso se concretizasse até o acidente. Chad Clifford sabia que, como capitão do time de basquete, teria mais chances de ingressar em uma boa faculdade e jogar em um time universitário. Não era nada absurdo que um jovem atleta de ensino médio quisesse focar nos jogos, no campeonato e na sua melhor performance logo naquele último ano. Mas a gritante diferença entre Hunter, Chad e Dexter estava em um pequeno detalhe do seu discurso: era a agenda do pai, era o pai quem queria garantir o seu foco, quem acreditava que uma namoradinha poderia atrapalhar tudo. Era muito sutil, mas um bom observador notaria que, apesar de todo o seu esforço, aquele não era o sonho de Dexter, mas que ele estava seguindo as regras do pai e sequer parecia se dar conta disso.

Depois que os dois se acomodaram no carro, Dexter ligou o motor e deixou uma música pop tocando enquanto manobrava o veículo. Ele olhou atentamente a rua antes de sair do estacionamento e só então fez um gesto para o porta-luvas diante de Liberty.

- Abre, tem uma coisa aí para você.

Mais uma vez, ao invés de um presentinho ou uma surpresinha que Dexter poderia usar para agradar Liberty, a menina encontraria apenas a sua blusinha esquecida, devidamente lavada e dobrada, com o perfume gostoso de amaciante, do mesmo que impregnava os lençóis ou as roupas de Thompson.

- E aí, o que achou da galera? Eu sei que eles podem ser um pouco intimidante às vezes, mas eu garanto que logo você vai estar se sentindo em casa. Todo mundo é legal, é só que a gente se conhece desde criança, então acho que deve ser meio difícil para alguém que chega depois.

Algumas meninas tinham trocado farpas com Liberty, mas de modo geral, Dexter esperava que a menina tivesse se sentido bem acolhida no seu grupo, porque era com muito carinho que ele olhava para todas aquelas pessoas. E foi nessa linha de raciocínio que uma ruguinha surgiu entre as suas sobrancelhas, ao se lembrar da novidade de Chad e do clima pesado que tinha ficado entre os dois amigos.

Bem no meio daquele drama, Dexter não sabia como resolver a situação. Por um lado, ele ficava feliz e sabia que não podia culpar Chad ou fazer o amigo se sentir culpado por uma grande conquista que faria tanta diferença na sua vida (e diferença nenhuma para Hunter). Por outro lado, sabendo bem como Timmons era, Dex acreditava que aquela notícia poderia ter sido dada de uma forma mais amena e menos dramática. E foi preocupado com os amigos que Thompson se distraiu por alguns segundos. Foi só quando a voz de Liberty chamou por ele que o rapaz olhou ao redor.

- Relaxa... - Ele abriu um sorriso ao ver que, diferente da preocupação de Bloomfield, ele não tinha perdido um retorno por acidente. Mesmo distraído, Thompson estava seguindo exatamente pelo caminho que ele tinha planejado ao entrar no carro. - Nós só temos mais uma parada para fazer antes de te deixar em casa.

Ao concordar com aquela saída, Liberty tinha sido clara ao dizer que ficaria apenas alguns minutos cronometrados e, até então, Thompson tinha mostrado que estava de acordo com aquela regra. Mas antes que Libby surtasse, ele tentou se justificar.

- Eu prometo que vai valer a pena! Confie em mim! Não é longe, são só mais alguns minutos!

Era óbvio que Liberty não ficaria nada satisfeita com mais aquela mexida nos seus horários e a garota parecia prestes a saltar para fora do carro, mas Dexter não mentiu ao dizer que seriam poucos minutos. Menos de dez minutos depois de ter perdido o retorno que o levaria até a casa das Sinclair, o rapaz pegou uma saída com uma plaquinha quase escondida por uma árvore. A rua pavimentada se transformou em uma estradinha de terra e a paisagem ao redor deles mudou.

O centro de Colchester não era como as grandes cidades, com prédios altos, vias movimentadas, luzes e comércios de todo o tipo. Mas a paisagem mais histórica de fachadas antigas e simpáticas também foram substituídas por muitas árvores, que pareciam pintar ao redor com suas folhas esverdeadas e alaranjadas. Quando Dex diminuiu o carro, eles estavam quase chegando a uma ponte de madeira inativada. Alguns obstáculos de cimento proibiam a passagem de veículos maiores, mas uma pessoa não teria nenhuma dificuldade para atravessar andando.

- Se você odiar ou começar a reclamar dos mosquitos, nós podemos ir, eu prometo! Só vem ver isso!

Ele soltou o cinto e desceu do carro. A velha ponte passava por cima de um rio de águas calmas, e eles tinham chegado bem na hora do pôr do sol, então a cor alaranjada das folhas e do céu também se refletia abaixo deles. Como a ponte era toda rodeada de madeira, Dexter só precisou ir apalpando algumas delas até encontrar a que ele já sabia que estaria solta. A madeira foi puxada para o lado, criando um vão na estrutura lateral. Depois de se sentar, com as pernas penduradas para fora, acima da água, ele apenas tombou a cabeça em um convite para que Liberty fizesse o mesmo.

- Vermont - - Página 2 Vermont-covered-bridges-tour-6


- Aposto que não tem muitos lugares como esse em Seatlle, não é?

Apesar da ponte velha, Dexter tinha muitos motivos para ser apaixonado por aquele cantinho escondido e abandonado de Colchester. Dali, eles não escutavam nada além do barulho da água correndo abaixo deles ou do farfalhar das folhas. Algum pássaro às vezes batia suas asas e balançava galhos ao levantar algum voo, e mesmo com o entardecer, a temperatura ainda estava suportável. Mesmo assim, Dex não hesitou em tirar a jaqueta que tinha recebido de Liberty naquela mesma manhã, a oferecendo novamente para a garota.


- Posso perguntar uma coisa, señorita? - Dex fez uma pausa enquanto Liberty observava ao redor, e só quando a garota se virou para ele, um sorrisinho sacana brotou nos seus lábios, denunciando a piadinha que estava por vir. - Esse seu lance de horários, você estava falando sério mesmo? É tipo o Sheldon Copper, com minutos certos até para o número dois?

Ao mesmo tempo que toda aquela paisagem era romântica e magnífica, Dexter tinha uma postura relaxada de um cara que não tinha qualquer intenção de cruzar os limites. Mas mesmo acostumado a não precisar dar o primeiro passo, Thompson precisaria ser muito burro para não enxergar como Libby ficava adorável sob aquela luz alaranjada. Ela não tinha os cabelos loiros que costumavam chamar sua atenção e despertar seu interesse com tanta rapidez, mas Liberty ainda era uma garota linda.

- Você não precisa levar a vida tão a sério, sabia? - Dex estava mais sério depois de alguns segundos contemplando os traços bonitos de Bloomfield. - Quando conseguiria encaixar no seu cronograma apertado um tempo para ver um espetáculo desses?
Dexter Thompson
Dexter Thompson
Admin

Mensagens : 57
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Hunter Timmons Dom Mar 10, 2024 6:12 pm

Nada daquilo fazia o menor sentido para Hunter. O rapaz não negava que ele e Emily tinham tido uma conversa mais pessoal e emotiva na noite anterior, mas para Timmons havia sido apenas isso: uma simples conversa entre amigos, um momento de fraqueza, um desabafo que ele precisava fazer para se sentir mais leve. Quando fez o “desafio” para que Emily o ajudasse a reencontrar algum propósito na vida, Hunter encarou aquilo como uma brincadeira. Então agora o rapaz estava sinceramente surpreso em ver como Sinclair estava levando a sério aquele projeto.

Em menos de vinte e quatro horas, Emily já havia feito uma lista, organizado uma tabela e colocado aquele plano em ação. Qualquer pessoa se sentiria bastante lisonjeada em notar o esforço e a dedicação de Sinclair, mas Timmons ainda não sabia muito bem como se sentir naquela história. A ideia de se tornar um ratinho de laboratório cumprindo as tarefas preparadas por outra pessoa não era muito agradável e Hunter chegou muito perto de recuar e desistir daquela ideia quando roubou o caderninho de Emily e leu alguns dos itens listados pela garota.

Trabalho voluntário, cuidar de animais, palestras de filosofia, aulas de música e de pintura. Mesmo antes de se aventurar nas atividades escolhidas por Emily, Hunter já tinha certeza de que detestaria tudo aquilo. Tudo parecia uma grande perda de tempo e, depois da discussão com Chad, definitivamente o humor de Timmons não estava em seus melhores dias. Mas antes que Hunter estragasse todo o planejamento de Emily dizendo que ele não faria nada daquela listinha, uma ideia não muito nobre brotou no fundo da mente dele.

Timmons não acreditava que o plano de Emily mudaria a vida dele ou que ele encontraria uma nova paixão dentro da lista preparada pela garota. Contudo, aquela era uma excelente oportunidade para passar mais tempo ao lado de Sinclair. Enquanto Chad se humilhava e implorava pela atenção da ex-namorada, Emily estava oferecendo o seu tempo e a sua atenção a outro rapaz. E Hunter não conseguia evitar uma certa satisfação em se vingar e também tirar de Clifford algo que era tão importante para o amigo.

As intenções de Emily eram nobres. Em nenhum momento a garota soltou alguma indireta que passasse a impressão de que ela tinha segundas intenções com Timmons. Como uma boa amiga, Sinclair estava apenas querendo ajudar Hunter a se reencontrar e parecia ser uma grande crueldade do rapaz usar aqueles bons sentimentos contra a menina. Mas, além de estar ferido demais para raciocinar com clareza, Timmons tinha acabado de brigar com Chad, estava se sentindo traído e a raiva que o consumia por dentro naquele momento conseguia falar mais alto que a racionalidade e o bom senso do rapaz.

O antigo Hunter jamais faria uma jogada tão cruel e calculista, ele nunca brincaria com os sentimentos das outras pessoas (muito menos de dois amigos tão próximos). Mas Timmons vinha se sentindo tão infeliz, frustrado, irritado (e agora traído), que ele acabou deixando que toda aquela negatividade falasse mais alto. E foram aqueles sentimentos ruins e os pensamentos deturpados que fizeram Hunter traçar um plano nem um pouco louvável: conquistar a ex-namorada de Chad.

Clifford havia se apoderado do maior sonho de Hunter, então, na mente atormentada do rapaz, era justo que ele também tirasse do melhor amigo aquela que parecia ser a maior paixão de Chad. Mesmo com tantas discussões, idas e vindas, Chad continuava completamente apaixonado por Emily e estava lutando para reatar aquele namoro. Então, num gesto maldoso e vingativo, Timmons decidiu que iria roubar aquela esperança de Chad assim como o amigo havia roubado dele o maior sonho da sua vida.

Só havia um pequeno problema no plano maldoso de Hunter: Emily não era como as outras garotas com quem Timmons estava acostumado a sair. Justamente por conhecer tão bem a amiga, Hunter sabia que ela não iria se derreter com uma cantada barata, que não toparia uma transa no banco traseiro do carro e que não iria mergulhar de cabeça numa aventura casual. Por ter acompanhado de perto o namoro entre Emily e Chad, Hunter sabia que Sinclair era romântica, que ela gostava de receber atenção, de ser mimada e de grandes gestos de afeto. Consequentemente, Timmons teria que ser paciente, cuidadoso e um excelente ator para conquistar uma garota como Emily Sinclair.

Uma vozinha bem distante dentro da consciência de Hunter até tentou convencê-lo de que aquela jogada baixa não era nada justa com Emily. Mas a raiva e o sentimento de vingança mais uma vez falaram mais alto e Timmons disse a si mesmo que aquele era um sacrifício necessário para atingir o seu objetivo final e devolver a grande punhalada que Chad tinha dado nas costas dele.

***

- Essa coisa ficou presa na gola. Você pode me ajudar?

O capuz que compunha o uniforme de corrida realmente estava embolado e, como Hunter era bem mais alto que Emily, foi preciso que ele dobrasse os joelhos para que a garota alcançasse o ponto em que o tecido do capuz tinha se prendido na gola do macacão. Em tons de preto e vermelho, Hunter estava usando roupas da mesma cor do carro de número sete. Além do macacão, Timmons também tinha recebido um par de luvas de couro, tênis esportivos e um capacete para usar durante a corrida.

- Eu detesto dar razão para as suas frescuras, mas é mesmo meio nojento usar esses capacetes que já passaram por não sei quantas cabeças... – Hunter fez uma caretinha enquanto analisava o interior do capacete branco, como se realmente estivesse esperando encontrar piolhos na parte interna – Mas eu prefiro pegar piolho do que estourar a cabeça numa dessas pilhas de pneus, então...

Ainda faltavam alguns minutos para o início da corrida. Um dos funcionários do estabelecimento já tinha dado algumas instruções para Hunter, mas só agora o rapaz analisava mais de perto o carrinho que ele pilotaria. E foi depois que Timmons colocou o capacete que Emily sacou o celular e registrou uma foto daquele momento.

- Vermont - - Página 2 Tumblr_pwafd3CkFX1y04zaao6_540

- Me deixa ver...

Hunter se ergueu e puxou o celular das mãos de Emily para ver a foto tirada pela menina. A careta surgiu quase que imediatamente no rosto dele, mas Timmons soou bem humorado ao fazer aquelas críticas.

- Eu sei que as suas habilidades não são o foco desse projeto, mas podemos excluir fotografia da sua lista, né? Que ângulo horrível! E você cortou metade do carro! O fundo também ficou bem embaçado...

Criticar Emily não parecia ser uma boa maneira de conquistar a garota, mas até aquelas implicâncias faziam parte do plano de Hunter. Se Sinclair desconfiasse que o rapaz tinha segundas intenções com aqueles encontros, ela poderia recuar. Então Timmons precisava convencê-la de que eles eram apenas bons amigos e que a paixão entre os dois brotaria acidentalmente.

Nos minutos seguintes, Hunter conseguiu se distrair e esquecer um pouco todas as suas mágoas e aquele plano de vingança. O rapaz não mostrou uma habilidade fora do normal na direção do carrinho, mas a corrida de kart ao menos serviu para arrancar algumas risadas dele. Ainda com o celular nas mãos, Emily havia filmado algumas voltas da corrida e trazia um sorriso animado no rosto quando Timmons saiu da pista e se juntou a ela.

- Tá, eu admito que foi divertido pra cacete. – a confissão de Hunter alargou ainda mais o sorriso de Emily – Mas o meu desempenho não foi tããão bom assim. Acho que fui um dos últimos a cruzar a linha de chegada, então vamos ter que cortar isso da sua tabelinha...

Antes que Emily pudesse argumentar que aquela tinha sido só a primeira corrida e que Hunter poderia ter um desempenho melhor se treinasse com mais frequência, o rapaz deu a ela outra razão para que eles não insistissem naquela ideia.

- Além disso, eu acho que sou alto demais pra esses carrinhos, Emily. Meu joelho está um pouco dolorido depois de ter ficado tempo demais dobrado na mesma posição.

O sorriso de Sinclair morreu e foi evidente que a moça começou a se sentir culpada por ter provocado um incômodo justamente no joelho lesionado do rapaz. Mas o sorriso tranquilo e a forma carinhosa como Hunter deslizou um dos braços pelos ombros dela enquanto os dois caminhavam lado a lado mostrou claramente que ele não estava chateado.

- Tudo bem, não tem problema. Foi uma boa tentativa! – a mão de Timmons tocou a pontinha dos cabelos ruivos e ele enrolou uma das mechas nos dedos, num gesto carinhoso (mas bem calculado) – E foi bem divertido, eu não me arrependo de ter topado. No começo eu achei que essa sua listinha seria uma péééssima ideia, Emy. Mas agora eu já estou ansioso para tentarmos outra coisa!
Hunter Timmons
Hunter Timmons
Admin

Mensagens : 61
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Liberty Bloomfield Dom Mar 10, 2024 6:14 pm

A ansiedade de Liberty crescia a cada minuto que ela “perdia” e isso se refletia na quantidade de vezes em que a garota consultava o relógio em seu pulso. A possibilidade de saltar para fora do carro de Dexter até se passou pela cabeça dela, mas Libby teve que abandonar aquela ideia insana ao pensar que um membro fraturado ou um traumatismo craniano poderiam atrapalhar ainda mais o seu cronograma.

Sem muita escolha, a novata estava apenas emburrada e irritada quando Thompson finalmente parou o veículo. Mentalmente, Libby repetia para si mesma que era a última vez que ela confiava nele ou entrava naquele carro. Mas boa parte da irritação de Bloomfield evaporou quando ela se viu diante daquela linda paisagem.

Tudo ali era completamente diferente da antiga vida de Liberty em Seattle. Tão acostumada com nuvens de poeira e poluentes, era a primeira vez que Libby via tantas cores no céu. O ar era fresco, limpo e entrava com mais facilidade nos pulmões dela. O silêncio só era quebrado pelos sons da natureza e isso trazia uma sensação de paz que também era algo inédito para uma garota tão habituada ao ritmo agitado e barulhento de uma grande metrópole.

Mais uma vez, a novata aceitou a oferta quando Dexter lhe ofereceu a jaqueta. A peça ficava enorme no corpo mais miúdo da menina, mas ainda assim Liberty se sentia estranhamente confortável com o calor e o perfume que o tecido emanava. E ela também não parecia mais irritada ou ansiosa para ir embora quando se sentou ao lado de Thompson, com suas pernas curtinhas penduradas para fora da ponte antiga.

- Desde que eu cheguei em Colchester, ainda não precisei usar o meu broncodilatador... – Liberty suavizou ainda mais o semblante enquanto fazia aquela confissão – Em Seattle as minhas crises de asma eram terríveis, eu tinha que usar a bombinha o tempo inteiro. Então a sua cidade já ganhou um ponto comigo, Thompson... – a menina fez uma pequena pausa enquanto deslizava os olhos pela paisagem – Dois pontos, porque este lugar é lindo.

A brisa suave soprava os cabelos de Bloomfield para trás, mas, ao contrário da maioria das garotas, ela não parecia preocupada se seus fios estavam ficando bagunçados. Pelo contrário, Liberty fechou os olhos e respirou fundo, puxando o ar puro de Colchester para dentro dos seus pulmões. Por estar com os olhos fechados, Libby não percebeu o olhar demorado e admirado que Dexter pousava nela.

Era a primeira vez que Liberty ficava tão calma e relaxada desde que pisara em Colchester. Com um cronograma rígido para cumprir, a novata estava sempre tensa, com passos apressados, a mente fervilhando de pensamentos e com os olhos voltados para o relógio. Naquela tarde, porém, uma sensação de paz tinha se apoderado de Libby e acabou sendo mais forte do que qualquer outro sentimento. Era como se o corpo e a mente da garota estivessem obrigando-a a tirar uma folga e se esquecer dos seus problemas pelo menos por alguns minutos.

Mas um pouco de toda aquela paz evaporou quando Dexter mencionou os horários dela e declarou que Liberty não deveria levar a vida tão a sério. Aquele comentário certamente geraria mais uma desavença entre os dois caso Libby respondesse que Dex não sabia nada sobre a vida dela ou que ela não vivia na mesma realidade privilegiada dele. Mas, ao invés de uma resposta ácida ou atrevida, Bloomfield fez apenas um desabafo que ajudaria Thompson a entender que nem todas as pessoas eram como ele, que nem todo mundo podia contar com o apoio de uma família rica e bem estruturada e que ela só teria um futuro melhor se lutasse MUITO pra isso.

- Eu preciso. Se eu realmente quiser ter uma chance de realizar os meus sonhos, eu preciso fazer tudo o que eu estou fazendo, Dexter.

- Vermont - - Página 2 B81d47846c4203976f48e0eaddc1edd054eb1c13

As pálpebras de Liberty se ergueram num movimento lento e a garota soltou um suspiro pesado antes de virar a cabeça para o lado e encarar o colega. Thompson ficava ainda mais atraente com os cabelos atrapalhados pelo vento e com as cores do pôr-do-sol se refletindo na pele dele, mas nem mesmo aquela imagem foi capaz de fazer Libby se perder em meio ao seu desabafo.

Apesar de Colchester ser uma cidade minúscula onde todos se conheciam e onde as fofocas se espalhavam velozmente, pouco se sabia sobre a nova moradora. No colégio, todos sabiam que Liberty era bolsista, que viera de Seattle e que as mães de Libby e Emy eram irmãs. Mas, naquela tarde, Dexter teria acesso a um pouco mais de informações pessoais sobre a vida da novata.

- Até alguns dias atrás, eu morava com a minha mãe em Seattle. Só nós duas. Morávamos num apartamento alugado de três cômodos porque era só isso que ela conseguia pagar com o salário de garçonete.

Aquela era uma realidade completamente diferente da vida de qualquer um dos alunos da MMU. Nem todos vinham de famílias milionárias, mas era preciso ter uma renda considerável para conseguir pagar as mensalidades de um colégio de elite como aquele. E certamente uma simples garçonete não conseguiria proporcionar aquilo à filha se Libby não fosse tão inteligente e esforçada ao ponto de ganhar uma bolsa.

- A minha mãe trabalha em dois turnos e faz mais horas extras do que deveria para que eu não precise trabalhar e consiga dedicar todo o meu tempo aos estudos. Eu consegui a bolsa na MMU e a tia Hilary também ajudou demais quando me ofereceu o quarto da Claire, mas ainda assim eu tenho muitos gastos com alimentação, com os livros, roupas e as atividades extras. A minha mãe nunca reclama, mas eu sei que tudo isso é pesado pra ela, Dexter. Então eu preciso fazer todo o sacrifício dela valer a pena.

Com aquele desabafo, Libby não estava buscando pela piedade do colega e muito menos se colocando numa posição vitimista. A maior prova de que Liberty não queria o papel de vítima foi o fato da menina não mencionar o pai ou a pensão ridícula que um empresário bilionário pagava para a filha. Sempre que possível, Libby evitava falar o nome de Jeff Wooton e naquele dia não foi diferente.

Com aquela conversa mais franca, Liberty só queria que Dexter entendesse que ela não era só uma nerd que gostava de se afundar nos estudos e era incapaz de se divertir ou apreciar a vida ao seu redor. Se Libby estava se colocando naquela posição era porque ela tinha um foco, um sonho e um objetivo que não seriam alcançados de outra maneira.

- Eu quero um diploma de Princeton. Mas a minha mãe nunca teve condições de guardar grana extra pra minha faculdade, então eu só vou conseguir entrar lá ou em qualquer outra universidade através de uma bolsa integral. Então, neste último ano, eu fiz o cronograma completo de todas as atividades que preciso fazer e todas as notas que preciso tirar para ter a chance de ganhar uma bolsa. Então sim, eu preciso levar a vida muito a sério se eu quiser mudar a minha realidade e melhorar a vida da minha mãe no futuro.

Aquela última declaração de Libby ia contra toda a realidade de um rapaz como Dexter. Vindo de uma família unida, estruturada e com boas condições financeiras, Dex estava acostumado a ocupar apenas o papel de um filho e a deixar a maior parte das preocupações nos ombros dos adultos da casa. Liberty, por outro lado, tinha a mesma idade dele e já se preocupava com a renda da casa, com os seus gastos e com a obrigação de cuidar da mãe no futuro.

Era evidente que os dois vinham de mundos opostos e estavam em estágios bem diferentes no processo de maturidade. Aquele desabafo de Libby poderia ser um grande choque de realidade para o rapaz, mas para ela era algo natural. Bloomfield não parecia enxergar ou se importar com o fato de estar perdendo experiências típicas da adolescência para assumir mais obrigações e responsabilidades do que deveria.

Liberty não se lembrava de já ter se aberto tanto com alguém antes, mas com Thompson as palavras simplesmente brotaram com facilidade. E a novata se sentia estranhamente mais leve depois de ter confessado para alguém toda a pressão que ela sentia e as preocupações que a angustiavam. Bloomfield não sabia explicar porque aquele desabafo tinha sido feito para alguém que ela acabara de conhecer, mas a sensação de Libby era que Dexter não era um completo estranho. Era como se, intimamente, a menina soubesse que podia confiar e se abrir com ele.

- Eu sou muito grata por você e a Emy estarem sendo legais comigo e querendo me incluir no grupinho de vocês. – Liberty ergueu os ombros e contraiu o rostinho num semblante de pesar – O problema é eu realmente não tenho tempo para festas, passeios, amigos ou diversão este ano. O “projeto Princeton” exige muito de mim. E este é um ano que pode mudar a minha vida inteira.
Liberty Bloomfield
Liberty Bloomfield
Admin

Mensagens : 58
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Emily Sinclair Dom Mar 10, 2024 9:08 pm

- Eu sinto muito pelo seu joelho, Tim. Prometo que vou tomar mais cuidado nas próximas atividades.

Emily soou sincera naquele pedido de desculpas. Na sua ansiedade em fazer algo divertido que pudesse revelar uma habilidade ou despertar uma paixão de Hunter, ela não tinha imaginado que uma simples corrida de kart poderia provocar dor no joelho lesionado. Mas como Timmons não parecia irritado, chateado e menos ainda se contorcendo de dor, Emy tentou aceitar aquela brincadeira como apenas um início do seu projeto, que ainda poderia melhorar nas etapas seguintes.

O gesto de Hunter ao deslizar um dos braços pelo seu ombro foi bastante casual, mas qualquer um que olhasse os dois caminhando lado a lado com aquela proximidade interpretaria imediatamente que se tratava de um casalzinho de namorados. Só que não era apenas a percepção das outras pessoas que passou pela mente de Emily. Era um gesto bobo, que ela não fazia ideia de que tinha sito tão bem calculado, mas o calor do corpo de Hunter tão próximo ao seu despertou uma sensação estranha e inédita em Sinclair.

Por alguns segundos, aquele encaixe casual pareceu tão certo que fez brotar um friozinho gostoso na sua barriga. Mas Emy mal tinha deixado que aquela sensação se espalhasse quando uma onda de culpa atropelou tudo. Toda a ideia daquele plano era apenas para ajudar Hunter. Não havia nada entre eles, nenhuma segunda intenção. Para começar, Timmons não era o tipo de cara que fazia programas de namoradinhos que saíam abraçados por aí. Os dois eram apenas amigos. Mas o mais importante de tudo, Hunter e Chad eram amigos, e era muito indecente que Emy se sentisse daquela maneira por alguém tão próximo do seu ex-namorado.

Com um sorriso nos lábios, a menina tentou disfarçar aquele conflito de sentimentos e pensamentos que aconteciam dentro dela. Durante todo o caminho de volta, Emy precisou fazer um pouco mais de esforço para soar relaxada, divertida e tagarela, mantendo aquela nova e gostosa dinâmica de amizade.


***

Com os treinos das líderes de torcida, as aulas, os trabalhos que começaram a se acumular e as primeiras reuniões do comitê de festividades, além da organização de uma festinha particular, Emily não teve tempo de encaixar novas atividades de experiência para Hunter pelos dias seguintes. Os dois ainda se encontravam na hora do almoço, dividiam a mesma mesa com os demais amigos, frequentavam algumas aulas em comum e trocavam mensagens, mas não houve mais nenhum momento isolado apenas entre eles.

Ocupada demais com uma lista de tarefas infinita, Emily se sentiu grata por não ter tempo para pensar sobre aquele breve momento em que ela tinha se deixado levar pelo toque de Hunter. E não pensar nisso até lhe dava a chance de acreditar que era mesmo apenas uma amizade divertida, afinal, sempre que eles estavam juntos, não faltavam risadas e provocações divertidas.

Naquele início de tarde, Emily trazia consigo uma prancheta com uma listinha bem semelhante a que tinha feito com as atividades propostas para Hunter. A diferença era que o check-list trazia no título "Festa da Libby" e era muito mais extensa, colorida e com diferentes símbolos para dizer o que tinha sido feito, o que estava por fazer e quem era o responsável por cada detalhe.

A casa das Sinclair não era tão grande quanto a residência dos Timmons ou Thompson, mas era um lar confortável, grande o bastante para uma família viver. Tudo estava bem conservado e os detalhes da decoração só provavam que era habitado apenas por mulheres. Nos fundos da casa havia um grande gramado verde e um caminho de pedras que levava diretamente até o deck de madeira suspenso sobre a margem do lago. E era naquela ampla área externa que Emy receberia os amigos da MMU para a festinha daquela noite.

Na porta da cozinha, a que dava acesso para os fundos, Emy tinha pendurado uma cortina de fitinhas coloridas. Toda a área externa estava iluminada com luzinhas de natal, em uma cor amarelada. O caminho de pedras até o deck era acompanhado por lanternas japonesas, trazendo um clima mais íntimo e bonitinho. Alguns pufes ou bancos de madeira estavam espalhados pelo gramado e Emy também tinha instalado alguns coolers para as bebidas, além do estoque que teria na cozinha. Na bancada, petiscos e pequenos sanduíches já estavam distribuídos em bandejas, além de alguns cupcakes com cobertura cor de rosa.

O último detalhe que faltava estava sendo supervisionado de perto pela ruiva. Com a prancheta em mãos, ela estreitou os olhos, ignorando o esforço dos dois rapazes. Mesmo para dois atletas, até mesmo Chad e Dexter pareciam um pouco cansados com todo o trabalho braçal delegado por Sinclair ao longo daquele dia, especialmente aquele último.

- E agora? - Dexter respirou fundo, o peito nu subindo e descendo rapidamente para recuperar o fôlego. O suor escorria pela sua testa e descia pelo abdome perfeito. - Está alto o suficiente, Emy?

- Hmmm... - A menina cruzou os braços, apertou os lábios já pintados com um vermelho intenso e fez uma longa pausa enquanto analisava. - É, acho que não está ruim.

- Não está ruim? - Chad tinha uma aparência semelhante a do amigo, esbaforido e com a camisa empapada de suor. - A hora que essa coisa pegar fogo, vai ser possível incendiar um avião!

- Você está reclamando, Chad? Vocês dois estão reclamando? O que vocês dois esperavam aqui, diversão???

- Bom, é uma festa, então é exatamente o que eu esperava! - Dex rebateu, mas logo deixou seu olhar desviar até a casa atrás de Emily. - E a Libby? Ela não está em casa? A gente tá aqui há horas e ainda não vi a cara dela.

- No quarto, estudando. E ela me ameaçou não aparecer na festa se eu pensasse em arrastá-la para cuidar da decoração e atrasar ainda mais o seu precioso cronograma, então é melhor a gente nem se meter!

Depois de finalizarem o amontoado de madeira que se transformaria em uma grande fogueira durante a festa, os dois rapazes voltaram para a parte central do gramado e cada um puxou de uma das caixinhas térmicas uma bebida para se refrescar. Além das opções de cerveja e alguns drinks, Emily tinha abastecido tudo com água, sucos e refrigerante. Não foi nenhuma surpresa assistir Dexter puxando uma garrafinha de água, mas os dois estranharam quando Chad abriu uma das longneck antes mesmo da festa começar.

- Vocês dois podem disfarçar os olhares de julgamento? Ainda nem estreamos o campeonato e não é como se eu fosse me embriagar. Uma ou duas cervejas não vai ser o meu fim!

- Você trouxe os jogos, Chad? - Emy preferiu não insistir naquele assunto, sem ter o direito de se meter na vida do ex-namorado. - Let's Sign, Let's Dance e o Guitar Hero?

- Eu gosto de ter a minha cabeça sobre o meu pescoço? É claro que trouxe, você mandou pelo menos uma dúzia de mensagens.

- E você trouxe as pastinhas que prometeu, Dex?

- Tudo fresquinho, da melhor qualidade. Eu fiz também aquele drink de cereja que você gostou na última festa.

- Hmmm! - Dessa vez Emily não conseguiu disfarçar o semblante de aprovação. - Tá legal, mas eu não posso beber agora. Trabalho primeiro! Por falar em trabalho, algum de vocês falou com o Tim hoje? Era para ele ter vindo mais cedo ajudar, mas não me respondeu.

A troca de olhares entre Hunter e Dexter ainda não tinha voltado ao normal. E Emy sentiu o peito apertar ao ver que nenhum dos dois parecia estar se esforçando em resolver a situação.

- As pessoas vão começar a chegar em breve. Eu posso me limpar um pouco, Emy?

- Pode usar o banheiro de cima. - Emily apontou para mostrar a direção para Dexter. - É só subir as escadas e ir até o final do corredor. Mas não deixe rastro de suor por aí, a minha mãe só liberou a festinha porque era para a Libby, o que não quer dizer que ela não vá me matar se quebrarmos ou sujarmos tudo por aí!

Depois que Dexter subiu as escadas, Emily e Chad também seguiram para o interior da casa. Enquanto a menina se ocupava em analisar as pastinhas trazidas por Thompson, Clifford encostou perto da geladeira e cruzou os braços para observá-la.

- É legal o que você está fazendo pela sua prima. Quer dizer, eu sei que você adora uma desculpa para fazer uma festinha, mas é legal mesmo assim.

- Eu só quero que a Libby se sinta acolhida e veja que aqui também pode ser o lar dela.

Como já tinha se arrumado para a festa, Emily estava perfumada e tinha escolhido um vestidinho vermelho xadrez. Os cabelos vermelhos tinham sido escovados e moldados com algumas ondas que caíam com naturalidade pelos ombros dela até a cinturinha fina. Além da maquiagem que sempre marcava os lábios, Sinclair usava alguns poucos acessórios, como um anel, uma pulseira e um chocker vermelho.

- Emy... - Chad chamou depois de quase um minuto inteiro com a menina concentrada nas pastinhas. - Eu sei que você leva esse lance da preparação de festas muito a sério. Mas será que, mais tarde conseguiria um tempo para nós dois conversarmos?

Clifford não vinha se esforçando para esconder suas intenções com Emily, mas era a primeira vez desde o retorno das aulas que ele pedia por uma conversa. Um pouco tensa, Emy largou os potinhos sobre a pia e se virou para encará-lo. Só que antes que a garota abrisse a boca para dizer qualquer coisa, seu olhar focou na jaqueta que ele trazia em mãos. Como jogador e capitão do time de basquete, era óbvio que Clifford sentia orgulho de vestir a jaqueta esportiva da MMU. Mas não passou desapercebido que o novo número que Chad usava era o mesmo que um dia tinha pertencido a Hunter Timmons.

Diante do silêncio e do olhar insistente de Emily na jaqueta em suas mãos, Chad pareceu finalmente entender o que estava errado. Parecendo envergonhado, ele puxou a jaqueta para trás do seu corpo e soltou um suspiro cansado antes de se justificar.

- Se você for se juntar ao clube que quer me fazer me sentir um merda, nem precisa, Emy. Eu realmente achei que os meus amigos fossem ficar felizes comigo, mas parece que todo mundo está só preocupado em passar a mão na cabeça do Hunter e ninguém se importa comigo.

- Não é isso, Chad. - Emily se sentiu envergonhada ao ver o quão chateado o rapaz parecia. - Claro que eu não quero que você se sinta culpado. Eu sinto muito que as coisas sejam tão complicadas assim...

- Bom, quer saber uma novidade? As coisas não são complicadas. Ele saiu do time. Ele não vai voltar. Eu estou lá. Se não fosse comigo, seria com outra pessoa.

- Eu sei, você tem razão. - Emy se obrigou a abrir um sorriso para mostrar que realmente não o julgava. - Você merece comemorar a sua conquista, foi mesmo muito merecido.

- Vermont - - Página 2 8adf64982a8c3f903b33285510bcddfc28d3a9f4


Emily já tinha parabenizado o ex-namorado, mas aquele novo elogio sincero fez os olhos de Clifford brilharem e o seu sorriso mais doce brotou, carregado de toneladas de esperança. O que Chad não desconfiava era que, mesmo sendo sincera em cada palavra, uma parte de Emy não conseguia deixar de pensar em Hunter e em como tudo aquilo deveria ser doloroso para ele. E foi apenas com os pensamentos em Timmons que Sinclair fez aquela sugestão.

- A minha mãe liberou a festa e não faz ideia que eu trouxe bebida para cá. Ela vai passar a noite com as amigas em Burlington, mas se chegar amanhã e encontrar tudo destruído, eu vou estar em sérios problemas. Será que, para evitar uma briga, eu posso guardar a sua jaqueta longe dos olhares das outras pessoas?

Havia apenas uma pessoa que deveria manter os olhares longe da nova jaqueta com o número de Timmons, e era óbvio sobre quem Emily estava falando. Mas Chad não estava fazendo tudo aquilo para provocar o amigo, então era óbvio que ele queria evitar uma chance de confusão. Para entregar a jaqueta nas mãos da ex-namorada, Clifford se aproximou alguns passos e calculou o espaço exato para que seus dedos tocassem os de Emily.

- Não esquece de separar um tempinho para falarmos mais tarde, está bem? - Ele pediu. Com uma concordância, Emily já estava quase saindo da cozinha quando Chad abriu um sorriso relaxado e emendou um novo pedido, claramente com a intenção de provocá-la. - E um mergulho no lago! Você me deve um mergulho no lago há meses, Emy! De hoje você não escapa!

- Vai sonhando, Clifford! - Emy respondeu com o mesmo bom humor enquanto subia as escadas para guardar a jaqueta no seu quarto.
Emily Sinclair
Emily Sinclair
Admin

Mensagens : 60
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Dexter Thompson Dom Mar 10, 2024 11:22 pm

Desde que Liberty Bloomfield tinha lhe atacado gratuitamente no primeiro dia de aula, a novata tinha se tornado uma incógnita para Dexter. Em uma cidade pequena onde ele conhecia tudo e todos com a palma da sua mão, era impossível ignorar aquela novidade. Principalmente porque Dex acreditava que tinha sido completamente inocente e nem imaginava que tinha, de alguma forma, provocado a reação grosseira da prima de Emily.

Tudo o que Libby fazia parecia ser exageradamente reativo e diferente de tudo o que Dex previa. Então, quando Bloomfield finalmente começou a contar um pouco da sua história, Thompson ficou completamente hipnotizado, como um espectador ansioso diante de uma trama magnífica que se revelava diante dos seus olhos. Só que ao invés de ter a curiosidade saciada, virado a página do livro ou abandonado a história, Dexter se viu ainda mais encantado diante daquele personagem raro.

Colchester poderia ser uma cidade pequena, mas ainda era habitada por pessoas diferentes e com personalidades fortes. Dex era filho de uma ex-cantora e um apresentador de televisão que adoravam os holofotes. Seus melhores amigos também não eram pessoas que viviam sob as sombras. Praticamente todo o meio que ele convivia, era preenchido por pessoas que gostavam de se destacar. Mas isso não significava que não existiam os nerds, intelectuais e obcecados pelas notas máximas. Mesmo assim, Dexter tinha certeza que nunca tinha conhecido alguém como Bloomfield.

Ela não era uma nerd riquinha que ficava obcecada com as notas máximas apenas para impressionar as pessoas. Liberty não era competitiva só porque queria diminuir o outro e ostentar o título de melhor. Toda aquela garra, a força de vontade, vinha de uma necessidade que não existia no mundinho perfeito de Dexter. E ao invés de enxergar na novata uma pobre coitada, Thompson ficou impressionado com a determinação de alguém ainda tão nova.

Se Dexter fosse mesmo o riquinho arrogante e prepotente que Liberty achava, descobrir que a mãe da menina era uma garçonete e que ela vinha de origens tão humildes seria uma mina de ouro para que ele pudesse humilhá-la. Ao invés disso, Dex escutou atentamente e mesmo depois que Libby terminou de falar, ele permaneceu em silêncio, refletindo por alguns segundos.

- Esse ano já está mudando a sua vida, Liberty. - Dex fez uma pausa antes de explicar sua linha de raciocínio. - Você está em Colchester, seu último ano será em um colégio novo, em uma cidade nova, com pessoas que você nunca viu. Eu não posso prever o futuro, mas de uma coisa eu tenho certeza... Todos os nossos esforços, toda a nossa rotina insana que as outras pessoas são incapazes de entender e menos ainda de conseguir seguir, são as que nos levarão até os nossos objetivos.

Liberty e Dexter não poderiam ser mais diferentes. Suas bases familiares, a situação financeira, personalidades e estilos de vida. Mas o que os dois não pareciam notar é que tinham em comum rotinas exaustivas que obrigava dois adolescentes que deveriam estar aproveitando a vida a renunciarem boa parte do lazer pelo trabalho que os levaria a colher seus frutos no futuro. Para Libby, os estudos a levariam até Princeton. Para Dex, a rotina exaustiva, as dietas e as renúncias de um adolescente comum seria o que o tornaria um atleta. Mesmo que ele não tivesse total consciência de que aquele objetivo era muito mais do pai do que dele, Thompson ainda era capaz de se entregar a uma rotina muito difícil de ser seguida por qualquer um.

Talvez Liberty não fosse capaz de enxergar aquele detalhe em comum. Para alguém como Bloomfield, onde o intelecto era superior a qualquer outra coisa, parecia até bobagem comparar treinos e dieta com o que ela precisava enfrentar. Mas era o que Dex acreditava. E saber que ele tinha algo parecido com aquela garota tão guerreira foi capaz de lhe trazer uma pontinha de orgulho e admiração.

- Vamos combinar uma coisa... - Ele abriu um sorriso mais relaxado, se endireitou sobre o chão da ponte até que seus ombros estivessem tocando os de Libby. Encarando o pôr do sol diante deles, Dexter gesticulou com as duas mãos para a paisagem.  - No final do ano letivo, quando você receber o seu e-mail de aprovação de Princeton, nós vamos voltar aqui e comemorar. Você não vai ter mais desculpas com os horários, mas como já saquei que você gosta de planejar bem as coisas, já deixa marcado na sua agenda. Eu quero ser o primeiro a te dar os parabéns quando você entrar em Princeton, señorita.

***

Emily Sinclair era obcecada nos preparativos de qualquer evento que ficasse como responsável. E não era raro que seus amigos fossem arrastados para o meio de toda aquela produção, para que Emy assumisse um papel de "chefia" e precisasse de empregados para cuidar da parte mais braçal. Para sorte da garota, Dexter Thompson não se incomodava com as ordens e com o fato de raramente escutar um "obrigada" mesmo depois de todo esforço em pendurar luzes, ajustar extensões de tomadas, regular o aparelho de som, trazer comidas ou até mesmo montar uma enorme fogueira na beira do lago.

Algumas das festinhas organizadas por Emily já tinham acontecido na residência dos Thompson, e Dex adorava receber os amigos na piscina, no salão de jogos e por toda a casa. Mas como aquele seria um evento de boas-vindas para a prima de Emy, era de se esperar que a comemoração fosse na propriedade das Sinclair. Então Dex foi preparado, sabendo que depois de todo o trabalho, não lhe restaria muito tempo para se arrumar.

- E aí, afinal, o que você achou da novata? Ela está na sua lista, mas já vai fazer uma semana e eu não vi nenhuma movimentação. Eu não estou conseguindo acompanhar a novela. Em um dia vocês dois estão se matando e no dia seguinte você está levando ela no Pat's.

Depois de se certificar que a ex-namorada não estava por perto, Chad ousou fazer aquela pergunta enquanto os dois terminavam de empilhar algumas madeiras para a fogueira. E a pergunta de Clifford poderia ter soado completamente fora de contexto, mas o rapaz só seguiu por aquele assunto depois de ter notado que Thompson buscava pelas janelas do segundo andar a cada dois minutos, procurando por alguma coisa.

- O que? - Dex só percebeu que estava novamente olhando na direção das janelas dos quartos quando Chad mencionou Liberty, o que o obrigou a ficar de costas para a casa, tentando disfarçar. - Ela está na minha lista porque você e o Tim desistiram rápido demais. Aposto que se soubessem como ela era gata, tinham lutado um pouquinho mais.

- Só se eu quisesse ser assassinado pela Emy. Quanto ao Timmons, eu não respondo por ele. O cara não tem muito critério mesmo.

- Vocês dois ainda não se entenderam? - Dexter franziu a testa ao se virar para o amigo. - No que você estava pensando, Cliff? Não tinha uma forma melhor de contar para o Tim sobre a liderança do time?

- Não começa, Dex. - O mal humor de Chad foi instantâneo quando aquele assunto surgiu. - Até parece que eu cometi um crime! Eu não roubei nada do Hunter, porra!

- Eu sei que não, mas você sabe da história dele, Cliff! Nós dois estávamos lá, desde o começo. Eu só acho que dava para ter evitado um pouco de todo esse drama.

- Claro que dava, se o Timmons não fosse um fodido egoísta. E não fuja de assunto, nós estávamos falando sobre a Liberty. Afinal, o que tá rolando?

Dessa vez, a pausa que Dexter fez não foi para fugir do assunto ou para tentar disfarçar. Ele realmente precisou de alguns segundos para refletir sobre aquela pergunta. A admiração que tinha surgido por Bloomfield era um sentimento novo. Liberty era diferente de todas as garotas de Colchester. E Dex seria um hipócrita em negar que ela era linda, com seu jeitinho sério e explosivo. Mas Libby tinha um objetivo muito sério e tinha deixado claro que não pretendia abrir mão do seu planejamento para se divertir como uma jovem comum. Thompson precisaria ser muito estúpido para arriscar uma aventura com uma garota que claramente não queria se envolver com ninguém, e por motivos muito nobres.

- Não está rolando nada. - Dex finalmente respondeu. - Eu só queria tentar desfazer a primeira má impressão que rolou entre nós dois. E a Libby é legal, mas é só isso.

- Só isso?

- Tá, ela também é muito gata e eu até admito que gosto daquele jeitinho birrento. Mas é só isso, Cliff. Acho que não rola muita química entre nós dois, sabe?

- Essa é novidade. - Chad arqueou uma das sobrancelhas, tentando entender o que o amigo estava querendo dizer, mas a chegada de Emily obrigou os dois rapazes a interromperem a conversa.

***

Embora já tivesse frequentado a casa das Sinclair outras vezes, Thompson não se lembrava de já ter cruzado os limites do segundo andar, então o rapaz travou um pouco quando terminou de subir as escadas trazendo consigo a mochila com roupas limpas, sem saber exatamente qual porta deveria seguir. Emily tinha dito que seria a do final do corredor, mesmo assim Dex se sentiu um pouco inseguro diante das tantas opções.

Um pouco incerto, o rapaz atravessou o corredor e foi até a última porta, mas ele mal tinha tocado na maçaneta quando a mesma se abriu. Com um sobressalto, Dexter saltou para trás ao mesmo tempo que Liberty também se assustava com aquele reencontro inesperado. Mas bastou que a menina entrasse no seu campo de visão para que um sorriso mais relaxado brotasse nos lábios dele.

- Então você estava mesmo em casa! A Emily disse que você estava estudando, mas todo mundo sabe que ela é meio maluca, então o Cliff e eu estávamos com uma teoria de que você estava amarrada no porão para não fugir da festa. Bom saber que a psicopatia da sua prima não foi tão longe. Ainda.

Mesmo com a porta entreaberta e com Liberty na sua frente, Dexter conseguiu confirmar que aquele era mesmo o banheiro. E pela segunda vez naquela semana, Thompson não parecia nada constrangido por ter o peito completamente exposto diante de uma garota. Era mesmo muito difícil para um rapaz como ele se sentir inseguro em relação ao próprio corpo quando, mesmo suado e com algumas marcas de terra, ainda parecia um modelo recém saído de uma capa de revista, cheio de retoques artificiais feitos pelo computador. E o fato daqueles "retoques" serem totalmente reais só mostrava que Dex estava muito acima da curva do que qualquer rapaz atraente.

Os cabelos volumosos estavam um pouco atrapalhados e alguns fios até grudavam na sua testa. A bermuda estava suja e em algumas partes do antebraço que tinham encostado nos troncos, tinham ficado alguns traços de terra. E nem isso era capaz de abalar a confiança de Thompson.

- Você já acabou aí dentro? A Emy disse que eu poderia tomar um banho e as pessoas já vão começar a chegar. Aliás, você também não deveria estar se arrumando... - Quando Dexter tombou a cabeça para o lado e deixou seu olhar percorrer o corpo de Liberty, não foi com a intenção de provocá-la ou humilhá-la. Pelo contrário, mesmo usando aquelas roupas simples, Libby ainda parecia adorável. E foi com um ar divertido e implicante de um bom amigo que Dex fez aquele comentário. - Pijamas bonitinhos! O que significam todos esses "zeros" e "uns"? Mas posso te dar um conselho, Libby? É melhor você nem sonhar em descer vestida assim. É capaz da Emy te prender de verdade no porão. Aliás, tem ela mandou montar uma fogueira enoooorme na margem do lago. Acho que ela te queimaria como as bruxas eram queimadas antigamente.

- Vermont - - Página 2 E8cfdafa933a18e9fe5dc1ba2ab116e2c3c524f5


Como Dexter tinha passado o olhar por todo o corpo de Liberty, sua atenção finalmente se prendeu em mais um detalhe, dessa vez próximo do rosto dela. E o sorrisinho divertido se tornou ainda mais adorável quando ele deu um passo para frente, esticou o braço e puxou uma caneta que Bloomfield tinha enfiado atrás da orelha.

- Canetas? Achei que isso fosse ultrapassado demais para a galera high tech. O que estava estudando? Como falar com os primatas? Eu te garanto que não é tão difícil assim conversar com o Tim. Ou comigo! Geralmente se você fizer um "uuuh uuh aaah aaah" a gente já começa a rir e fica tudo bem.
Dexter Thompson
Dexter Thompson
Admin

Mensagens : 57
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Hunter Timmons Seg Mar 11, 2024 12:09 pm

Como a cama tinha sido feita sob medida para uma pessoa com a estatura bem menor que a dele, os pés de Hunter estavam pendurados para fora do colchão. Mas nem mesmo aquela posição desconfortável parecia abalar o sono pesado do rapaz. Com o rosto afundado numa almofada cor de rosa, Timmons não despertou nem mesmo quando o colchão ao lado dele se afundou. Ajoelhada na cama, Pamela teve que se inclinar na direção do rapaz adormecido e mordiscar a pontinha da orelha dele num gesto provocante para acordá-lo.
 
- Eu sei que acabei com você hoje, mas você precisa acordar, Tim. Temos uma festinha pra ir, lembra?
 
O rosto de Hunter se contorceu numa careta insatisfeita e o rapaz se remexeu sobre o colchão estreito da cama de Pamela. A única coisa que cobria o corpo dele naquele momento era um lençol embolado ao redor da cintura de Timmons, mas ele não parecia nem um pouco constrangido por estar tão exposto. E o olhar de cobiça e admiração que Pamela deslizou pelo corpo do rapaz reforçava ainda mais que Hunter não tinha motivos para se sentir inseguro.
 
- Festa? – a voz sonolenta indicava que Timmons ainda não havia despertado por completo – Mas que festa?
 
- A festa de boas-vindas pra novata nerd e insuportável... – os olhinhos puxados de Pamela rolaram num ar enojado – Eu detesto aquela garota, tá na cara que ela não enxerga o lugar dela! Eu só vou nessa maldita festa pra não me indispor com a Sinclair...
 
O nome Sinclair fez Hunter terminar de acordar, arregalar os olhos e pular para fora da cama da menina. Aquela festinha de boas-vindas para Liberty tinha sido um dos assuntos mais comentados no colégio nos últimos dias, mas ainda assim Hunter havia se esquecido completamente que a festa aconteceria naquela noite. Assim como também havia se esquecido da promessa de ajudar Emily com a decoração.
 
- Puta que o pariu! É hoje? – com passos rápidos e gestos atrapalhados, Hunter começou a recolher suas roupas espalhadas pelo chão do quarto de Pamela – Eu esqueci completamente dessa merda! Por que não me falou, Penny???
 
A ruguinha entre os olhos de Pamela mostrava que ela ainda não sabia se “Penny” era algum apelido sem sentido ou se Hunter ainda se confundia com o nome dela mesmo depois dos dois já terem ficado tantas vezes. Mas, ao invés de fazer uma ceninha dramática ou de pedir explicações, Pamela apenas ergueu um ombro com um ar de descaso.
 
- Estou falando agora. Relaxa, Tim, ainda está cedo. E você só precisa de dez minutos para tomar um banho e ajeitar os cabelos. Às vezes eu invejo a praticidade dos homens, sabia? Enquanto você dormia, eu precisei de mais de duas horas para me arrumar!
 
Usando um vestidinho branco e justo, sandálias de salto alto, uma maquiagem impecável que realçava os traços orientais dela e com os cabelos cuidadosamente escovados, Pamela parecia estar esperando por um elogio do rapaz quando mencionou todo o trabalho que ela tivera para se arrumar naquela noite. Então foi um pouco frustrante ver que Hunter estava com a cabeça muito distante dali e nem parecia ter notado o visual dela.
 
A janela do quarto mostrando o céu escuro lá fora indicava que já era tarde demais para Hunter cumprir a promessa de ajudar na decoração da festinha. Mas ele não podia deixar de comparecer à festa organizada por Sinclair. Emily ficaria chateada com a ausência dele e aquilo poderia esfriar a aproximação dos dois e arruinar o plano do rapaz. Porque mesmo depois de ter alguns dias para pensar melhor em toda aquela história, Timmons continuava determinado a usar Emily Sinclair no seu plano de vingança contra Clifford.
 
Motivo fútil. Premeditação. Requintes de crueldade. Sem chance de defesa para a vítima. Se Hunter Timmons algum dia fosse julgado pelo crime que estava cometendo contra Emily Sinclair, um bom advogado faria com que a pena do rapaz fosse aumentada em vários anos por causa de todos aqueles agravantes.
 
Era um motivo fútil. Hunter estava usando Emily como um objeto com o único intuito de se vingar de Chad Clifford por um motivo banal, por uma rivalidade sem sentido, por causa de uma vaga no time de basquete que Timmons já não tinha nenhuma chance de ocupar.
 
A jogada suja de Hunter também tinha sido premeditada e muito bem calculada. Por mais que o rapaz tivesse tomado a decisão de conquistar Emily após brigar com o amigo e no calor do momento, Timmons não mudou de ideia nos dias seguintes. Mesmo com a cabeça mais fria e tendo bastante tempo para pensar no grande erro que ele estava cometendo, Hunter continuava determinado a seguir adiante com aquele plano.
 
Era inegável que havia requintes de crueldade na maneira como Hunter planejava enganar e iludir o coração de uma garota. Emily era inocente e não tinha feito nada além de tentar ser uma boa amiga. Era injusto e cruel demais que Timmons brincasse com os sentimentos dela e a usasse apenas para conseguir se vingar de Chad, sem qualquer intenção de retribuir aos sentimentos da garota.
 
E a maneira como Hunter articulou aquele plano não dava nenhuma chance de defesa para a vítima. Emily não enxergava as jogadas do rapaz, não fazia ideia do quanto eram podres as intenções dele. Era como se Sinclair estivesse sendo covardemente atacada no escuro, sem nenhuma chance de se defender daquele ataque que mirava diretamente o coração dela.
 
- O que está fazendo? – Pamela pareceu sinceramente confusa ao ver o rapaz se vestindo às pressas – Não vai tomar um banho?
 
- Vou. Em casa.
 
- Hm. E depois você passa aqui pra me buscar?
 
- Não. – a resposta de Timmons soou sem nenhuma hesitação ou constrangimento – É melhor você ir sozinha. A gente combina um novo encontro outro dia, ok? Eu tenho outros planos pra esta noite, Penny.
 
Como Hunter nunca havia feito nenhum tipo de promessa para Pamela, a garota sabia que não podia exigir exclusividade ou fidelidade. E Timmons nem tentava disfarçar que ele também ficava com outras meninas. O rostinho irritado de Pamela denunciava que a garota obviamente queria mais dele, mas ela sabia que Hunter Timmons era o tipo de cara que não se prendia a ninguém. A tola esperança de Pamela era que algum dia Hunter colocasse a cabeça no lugar e quisesse transformar o lance entre os dois em algo mais sério, e era só por isso que ela tolerava aquele tipo de situação.
 
- Tudo bem. Se você mudar de ideia, eu estarei na festa também. Bem ao alcance dos seus dedos...
 
***
 
Numa coisa Pamela estava certa. Hunter não precisou de muito tempo para se arrumar para aquela festinha. Um banho, uma loção pós barba amadeirada, uma fina camada de gel nos cabelos, calça jeans, blusa preta, jaqueta de couro e um par de coturnos foi tudo o que Timmons precisou para estar estupidamente atraente quando pisou na casa das Sinclair.
 
Com alguns poucos minutos de atraso, o local já estava bem movimentado quando Hunter chegou. Várias pessoas cumprimentaram Hunter enquanto ele caminhava pelos fundos da casa, admirando a decoração e o quanto Emily tinha sido cuidadosa com todos os detalhes daquela festinha. Não era a toa que Sinclair fazia parte do comitê de organização de eventos do colégio.
 
A música animada ecoava de todos os lados e várias rodinhas de conversa já tinham se formado. Os olhos cor de avelã correram o ambiente cuidadosamente sem que ele conseguisse encontrar a anfitriã. E foi naquela busca por Emily que o olhar de Timmons se cruzou com o de Chad Clifford. O novo capitão do time de basquete estava num canto, conversando com alguns colegas, mas ele pareceu ter sentido o peso do olhar de Hunter e acabou virando a cabeça na direção do recém chegado. E aquela troca de olhares gelados só deixou ainda mais claro que o clima continuava péssimo entre os dois amigos.
 
Da parte de Hunter não havia sido feito nenhum movimento para tentar resolver aquela pendência com o melhor amigo. Pelo contrário, Timmons havia bloqueado o número de Chad no seu celular e vinha evitando qualquer tipo de contato com o outro rapaz no colégio. Chateado e ofendido com a reação e as ameaças do amigo, Clifford também não vinha se esforçando demais para recuperar o clima de paz com Hunter. Na visão de Chad, era Hunter que precisava se desculpar por ter sido tão injusto, egoísta e agressivo.
 
Só que Timmons mostrou ao amigo que estava MUITO longe de se desculpar quando deu as costas e seguiu na direção oposta a Chad. Pelo caminho, Hunter pegou uma caneca de cerveja e logo encontrou um colega para conversar. E não demorou muito para que aquele assunto delicado surgisse na conversa e Hunter fosse ainda mais envenenado contra o melhor amigo.
 
- Eu errei oito dos dez arremessos. – ao invés de envergonhado por aquele desempenho tão ruim, Kendall parecia indignado – Quando foi que você me viu errar tantas bolas assim, Tim?
 
Depois que Hunter saiu do time, Kendall era o jogador mais cotado para assumir a vaga de capitão. Embora não fosse tão brilhante ou habilidoso quanto Timmons, Kendall era um jogador acima da média e tinha uma grande influência sobre os colegas. Não fazia mesmo muito sentido que ele tivesse se saído tão mal no teste para capitão daquele ano.
 
- O que deu em você? – Hunter abriu um sorrisinho debochado e tomou um golinho da cerveja – Estava bêbado? Ou passou a noite em claro trepando com alguma vadiazinha da torcida? Eu sei beeeem como isso pode comprometer o desempenho de um cara, Ken.
 
- Não, eu estava ótimo, descansado, sóbrio e muito bem disposto. Foi só depois do treino que eu percebi que as bolas que separaram pra mim estavam mais murchas do que deveriam...
 
Era uma insinuação muito grave. Nenhum nome foi dito, mas Kendall inclinou a cabeça na direção onde Chad Clifford estava. Até uma semana atrás, Hunter viraria uma fera para defender o melhor amigo daquelas acusações e para afirmar categoricamente que Chad era honesto demais para orquestrar uma trapaça como aquela. Mas agora Timmons estava tão chateado e irritado com Clifford que já não duvidava mais que o amigo seria capaz de um golpe tão baixo.
 
- E o treinador!? Você falou com ele, não falou? Isso não pode ficar assim, caralho!
 
- De que adianta falar? Eu não tenho como provar que foi ele. Mas quem mais seria, Tim? Aquele merdinha é a única pessoa que iria se beneficiar se eu mandasse mal nos testes.
 
- Isso não vai ficar assim, Ken, você pode apostar. O Clifford gosta de jogar sujo? Beleza, eu também sei brincar disso. E a rasteira que eu vou dar nesse filho da puta vai ser a pior de todas. Confie em mim, eu vou me vingar por nós dois.
 
- O que está planejando, Tim?
 
- Você vai saber na hora certa. Por enquanto deixe esse otário aproveitar as migalhas de felicidade que o cargo de capitão vai dar a ele. – Hunter tomou um gole maior da cerveja – Ele vai se arrepender amargamente dessa traição nojenta, isso eu te garanto.
 
Timmons tinha acabado de levar a caneca novamente aos lábios quando a visão periférica dele captou um pontinho avermelhado surgindo num dos cantos da festa. Como se fossem atraídas por um potente ímã, as íris de avelã se viraram naquela direção e Emily Sinclair finalmente entrou no campo de visão do rapaz.
 
- Vermont - - Página 2 D38923240348b41e290d9a4876b3862e
 
É claro que Hunter já tinha percebido o quanto Emily era linda. Mas como Sinclair estava na “lista” de Chad, Timmons jamais permitiu que aqueles pensamentos ganhassem força dentro dele. Depois que Emy e Chad começaram a namorar, a ruivinha ficou ainda mais inalcançável para Hunter e ele se acostumou a enxergar nela apenas uma boa amiga. Entretanto, agora que a amizade com Clifford estava tão fragilizada e Hunter estava se obrigando a encarar Emily com outros olhos, era impossível ignorar o quanto a ex-namorada de Chad era perfeita.
 
O vestidinho justo não escondia as curvas perfeitas da garota. A maquiagem mais pesada que ela usava naquela noite servia para realçar ainda mais os traços bonitos de Emily e torná-la ainda mais chamativa. E os cabelos ruivos eram o detalhe que deixava a imagem de Sinclair ainda mais sexy e atraente. Tudo aquilo ainda era um plano de vingança para Timmons, mas ele não precisou ser um bom ator ou forçar a expressão admirada com a qual ele olhou a menina de cima a baixo.
 
Depois de pedir licença para Kendall, Hunter caminhou direto até a anfitriã da festa. E não foi nenhuma surpresa ser recebido com um olharzinho irritado. Emily era absurdamente metódica e organizada com os seus eventos, então Timmons não precisava de muitas explicações para entender por que a garota estava chateada com ele naquela noite.
 
- Eu me rendo. – ainda com a caneca de cerveja nas mãos, o rapaz ergueu os braços num gesto divertido – Sou culpado, eu assino a confissão e mereço ser gravemente punido por ter quebrado a promessa que te fiz.
 
A verdade é que Hunter tinha se esquecido daquela promessa e passado o dia inteiro na cama de Pamela. Mas é claro que ele não podia abrir o jogo com Emily. Para manter vivo o plano de conquistar a ex-namorada de Chad, Hunter mais uma vez jogou sujo ao inventar uma desculpa esfarrapada (e dramática) que faria Emily perdoá-lo por aquela grave falha.
 
- Eu sei que deveria ter te ajudado ou atendido as suas ligações... – dessa vez Hunter assumiu um ar mais sério e parecia sinceramente incomodado ao tocar naquele assunto mais delicado – Desculpe, Emily, mas eu simplesmente não consegui. Essa merda toda ainda está me afetando pra caralho e eu não consigo fingir que sou um cara nobre e dizer que estou feliz por ele. Ainda mais depois da discussão que tivemos no Pat’s. Dentre outras coisas, eu tive que ouvir algo como “foi o seu joelho que estourou, não o meu”...
 
O nome de Clifford não foi mencionado, mas era óbvio demais que Hunter estava se referindo ao amigo. Numa inversão de jogo sensacional (e desonesta), Timmons estava usando a sua própria falha para manchar o amigo, amolecer o coração de Emily e trazê-la ainda mais pra perto dele. E consequentemente pra longe de Chad.
 
- Só de saber que ele estaria aqui, eu já perdi um pouco da vontade de vir. É só por sua causa que eu estou aqui hoje, mas não sei se vou ficar muito tempo. O clima ainda está péssimo entre a gente e é claro que ele tem prioridade pra ficar perto de você, né? Eu só precisava mesmo dar uma passada e dizer um oi pra você e pra novata. A festa está ótima, você está linda demais, então aproveite a noite e não se preocupe comigo.
Hunter Timmons
Hunter Timmons
Admin

Mensagens : 61
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Liberty Bloomfield Seg Mar 11, 2024 12:11 pm

- A única maneira de fazer algo excelente é amar o que você faz...
 
A frase soou completamente fora de contexto, então ninguém julgaria Dexter por parecer totalmente perdido com a explicação da garota. Nem mesmo quando Liberty apontou para a própria camiseta o rapaz pareceu entender o que ela queria dizer, então a novata precisou ser um pouquinho mais detalhista nas explicações.
 
- Eu adoro essa frase. Steve Jobs quem falou isso, sabia? É o que está escrito na minha camiseta. Em código binário...
 
Quando os olhos de Thompson buscaram novamente pela estampa da camiseta dela, Libby sentiu as bochechas esquentarem por estar usando pijamas na frente de um rapaz. Mas não demorou muito para que Liberty entendesse que o que realmente a deixava tão desconcertada não eram as suas roupas, mas a ausência de roupas no garoto a sua frente.
 
Ainda parada diante da porta do banheiro, Bloomfield contraiu o rosto numa das suas expressões irritadas. E era bizarro como Libby conseguia ficar ainda mais adorável e delicada quando assumia aquele arzinho mais bravo.
 
- Qual é o seu problema com camisas, Thompson? Se for alguma doença de pele, eu retiro o que eu disse. Mas se for só exibicionismo, cresça! – antes que Dexter pensasse que a novata despejaria mais uma tonelada de ofensas sobre ele, Liberty terminou aquela bronca com um tom mais leve e divertido – Já que estamos falando de primatas, sabia que tem certas espécies que adoram se exibir? Geralmente os machos levantam o rabo e mostram o traseiro, então acho que tenho que agradecer por você estar um degrau acima na escala de evolução, né?
 
Com um risinho mais melodioso, Liberty deu um passo para frente e se inclinou na direção de Thompson apenas para tentar tirar a caneta das mãos dele. O que Libby não calculou foi o quanto os dois ficariam encurralados contra a parede daquele corredorzinho mais estreito. O espaço mais restrito fez com que o braço de Libby acidentalmente roçasse no corpo dele e os dedos dos dois também acabaram se tocando durante o movimento da menina para puxar a caneta.
 
Um arrepio potente fez Bloomfield estremecer e o ar ficou preso dentro dos pulmões da menina quando ela e Dexter trocaram um olhar mais demorado. Há poucos minutos, Thompson tinha dito para Chad que não existia química entre ele e a novata. Mas era bem difícil encontrar qualquer outra explicação para o clima surreal que surgiu entre os dois só com aquele simples toque.
 
Visivelmente desconcertada, Liberty deu um passo para trás e tentou se recompor. E para quebrar o silêncio constrangedor que havia surgido, a menina indicou uma porta no meio do corredor, onde provavelmente ficava o quarto dela.
 
- Eu ainda preciso terminar de fazer umas coisas e depois vou me arrumar. Combinei com a Emy que vou descer assim que o pessoal chegar, então ainda tenho alguns minutos para adiantar umas tarefas e concluir uma redação. Eu não duvido que ela tenha montado uma fogueira pra me queimar viva caso eu não cumpre a minha promessa, então pode apostar que eu vou descer. A gente se vê daqui a pouco, Dexter.
 
***
 
- O que você achou?
 
A voz de Liberty soou um pouco distante porque ela estava nos fundos do quarto e tinha deixado o celular sobre a mesinha de cabeceira. A tela do aparelho exibia a imagem de Michael Martínez numa chamada de vídeo, mas pela posição do celular ele só conseguia ver o teto branco do quarto.
 
- Bom, eu não entendo muito de códigos, então pra mim parece complexo pra caramba. Não sei como você conseguiu fazer isso em tão pouco tempo!
 
- Ah, eu já tinha um esboço. Só tive que mudar umas coisinhas, adaptar outros detalhes. E ainda estou testando, mas acho que é um bom começo. E a sua parte?
 
- Bem adiantada também. Vou te enviar por e-mail. Acho que em mais duas ou três semanas já terei o bastante pra começar a construção do Rob... – o rapaz fez uma pequena pausa antes de um bipe soar no aparelho da menina – Acabei de te mandar, chegou?
 
- Sim. Mas eu só vou conseguir ver depois que voltar da tal festa. A música já está alta lá fora e não vai demorar para que a Emily apareça aqui pra me arrastar pelos cabelos!
 
Diferente de praticamente todas as meninas que perderam horas se arrumando para a festinha daquela noite, Liberty se vestia às pressas enquanto conversava com o colega sobre o trabalho em dupla que eles entregariam juntos. Martínez obviamente não tinha sido convidado para a festinha dos populares e ele também não fez a menor questão de participar mesmo depois que Libby disse que pediria à Emily para incluir o nome dele na lista. Como não estava olhando a tela do celular, Liberty não viu quando os olhos do rapaz rolaram no instante em que ela mencionou a festinha organizada pela prima.
 
- Isso se você sobreviver, né? Até hoje eu não vi nenhum nerd sair vivo de uma festinha dos populares...
 
- Eles não são tão ruins assim, Mike! É sério!
 
Nem a própria Libby acreditaria em si mesma até alguns dias atrás. Mas depois de conhecer melhor Emily e Dexter, a opinião dela sobre atletas e líderes de torcida estava se transformando. Liberty ainda não se encaixava tão bem num grupo tão diferente dela, mas pelo menos a visão da novata já não era mais tão preconceituosa e ela agora era capaz de enxergar as qualidades dos colegas.
 
- Eu conheço esse povo desde a infância, Libby, então você não vai conseguir me convencer de que... – Martínez se calou abruptamente quando a imagem de Liberty reapareceu na tela depois que a menina puxou o celular da mesinha – Uau. Você está linda...
 
Não havia nada de tão extraordinário na aparência de Liberty. Aliás, Emily provavelmente diria que o vestidinho quadriculado era sem graça demais, que faltava um pouco de cor e um decote mais ousado, que não havia a menor necessidade de usar uma calça legging por baixo da saia, que as sapatilhas deveriam ser substituídas por saltos e que a prima deveria ter usado um pouco mais de maquiagem. Comparada com as outras meninas que circulavam pela festa, Libby estava discreta, comportada e comum demais. Mas talvez fosse exatamente aquela simplicidade que realçava ainda mais a beleza natural da menina e a delicadeza dos traços dela.
 
- Vermont - - Página 2 B2fbedf2a4a70ea3b3772bb375eb4832
 
- Eu literalmente só tomei banho, coloquei roupas limpas, penteei os cabelos e passei um gloss. Então a sua admiração é preocupante, Mike. Eu estou indo tão desarrumada assim pro colégio?
 
- Não foi o que eu disse! – Martínez se atrapalhou um pouco naquela defesa, mas o rapaz não teve muita chance para tentar se corrigir.
 
- Eu não pretendo ficar lá muito tempo, ok? Vou descer, cumprimentar o pessoal e dar uma socializada antes de fugir de volta pro meu quarto. Provavelmente vou conseguir olhar o seu e-mail ainda hoje e te mando um retorno, está bem? Mas agora eu tenho mesmo que ir, Mike!

***

A área nos fundos da casa das Sinclair estava irreconhecível quando Liberty finalmente se juntou aos colegas na festinha organizada por Emily. Os pufes, as luzinhas, as fitas coloridas e a música animada tinham transformado um quintal simples num ambiente mais jovem e despojado. O burburinho das conversas e das risadas completava o clima de festa, assim como os copos e as taças com bebidas coloridas que circulavam pelas mãos dos convidados.

Bastou um único deslizar de olhos pelo quintal para que Bloomfield mais uma vez se sentisse um pouco deslocada no meio de pessoas tão diferentes dela. Não eram só as roupas mais ousadas ou a maquiagem forte das garotas que faziam Libby destoar do ambiente. Liberty não bebia, não conhecia as músicas pops agitadas que ecoavam pelo quintal e não estava acostumada com os jogos e brincadeiras que costumavam acontecer em festinhas como aquela.

A ideia de Bloomfield era apenas dar uma circulada pela festa, conversar com algumas pessoas, comer alguma coisa e depois fugir discretamente para o quarto. Um fone de ouvido anti-ruído seria o bastante para ajudá-la a se concentrar novamente nos estudos enquanto o restante dos convidados se divertia na festinha organizada por Emily.

Como Liberty não conseguiu localizar a prima no meio dos convidados, foi na direção de outro rosto conhecido que a menina se dirigiu. Os lábios de Libby começaram a se curvar num sorriso quando Dexter percebeu a aproximação dela. Mas o semblante de Liberty se fechou e ela não conseguiu disfarçar o desconforto quando notou que Thompson não estava sozinho. Antes mesmo que Libby tivesse a chance de abrir a boca, os braços de Debby se penduraram no pescoço de Dexter e foi ela que se dirigiu à novata com a voz carregada de ironia.

-Olha só quem finalmente apareceu na festa! - a entonação de Debby se tornou ainda mais venenosa enquanto os olhos dela deslizavam de cima a baixo pela imagem de Libby - Mas peraí… você veio pra festa ou está indo pra algum culto religioso? Só falta uma bíblia debaixo do seu braço pro seu visual careta ficar ainda mais completo!

Com uma minissaia que deixava as pernas dela quase que totalmente expostas e com um cropped que também deixava à mostra a barriga reta e o piercing brilhante no umbiguinho dela, Debby de fato exibia um visual BEM diferente de Liberty. Os longos cabelos loiros ultrapassavam o limite da cintura fina da garota e, além de ser naturalmente mais alta que Libby, Debby tinha ganhado vários centímetros de vantagem graças aos enormes saltos nos pés dela. Foi por causa dessa diferença nas estaturas que Bloomfield teve que erguer um pouco o queixo para conseguir encarar a outra menina.

-Eu não costumo julgar uma mulher pelas roupas que ela veste, Debby. Mas se você é do tipo de pessoa que faz isso, então deveria ser um pouquiiinho mais cuidadosa com a mensagem que a sua aparência transmite…

Foi uma alfinetada tão sutil e inteligente que Debby não pareceu entender que Libby estava devolvendo uma provocação sobre as roupas exageradamente ousadas que a colega usava naquela noite. A expressão de Liberty se tornou um pouco mais debochada diante do olharzinho confuso da outra menina, mas a novata não fez muita questão que Debby entendesse aquela ofensa. E o desejo dela de conversar mais com Dexter naquela noite simplesmente evaporou agora que aquele “acessório” estava pendurado no pescoço do rapaz.

-Enfim, eu vou dar uma circulada por aí. Não vou atrapalhar a diversão de vocês. Imagino que queiram privacidade…

Aquele último comentário era uma indireta à declaração que o próprio Dexter fizera sobre o seu hábito de se divertir (de maneira bem íntima) com Debby. Normalmente Libby não daria a menor importância para o comportamento dos colegas ou para o tipo de relação que existia entre eles. Naquela noite, contudo, a novata não conseguiu ignorar o quanto era indigesta a ideia de continuar por perto e assistir Dexter Thompson se divertindo com uma garota em seus braços.
Liberty Bloomfield
Liberty Bloomfield
Admin

Mensagens : 58
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Emily Sinclair Seg Mar 11, 2024 10:15 pm

Era uma festinha informal nos fundos da casa das Sinclair, com bebidas que Hilary não podia nem sonhar que estavam transitando sob o seu teto, nas mãos de menores de idade. Mas, como todo e qualquer evento que Emily decidia organizar, estava sendo um sucesso. A popularidade da capitã das líderes de torcida contribuía para que aquela festa fosse frequentada pelos grupinhos populares e todos pareciam estar se divertindo.

Como qualquer mocinha da sua idade, Emy deveria estar aproveitando a música, a bebida e as diferentes rodinhas de conversa. Ela não teria dificuldade alguma para se encaixar nos mais diferentes tópicos, ser o centro das atenções e esbanjar sua popularidade. Mas aquela festa era sua responsabilidade, o que significava que Sinclair não podia relaxar e deixar que tudo corresse apenas pela sorte. Era preciso se certificar que as bebidas não estavam acabando, que o gelo não estava derretendo rápido demais, que as comidas estavam sendo suficientes e que a música estava agradando.

Tudo o que Emy precisaria fazer era olhar ao redor e já teria certeza de que todos estavam se divertindo, mas a menina não conseguia relaxar. Como anfitriã, Emily gastava alguns minutos dando atenção para os amigos, mas logo estava correndo de um lado para o outro, conferindo detalhes que a maioria ali ignorava serem tão essenciais. E algo que ninguém além da organizadora daquele evento parecia estar se lembrando era de uma pessoa mais do que essencial naquela noite: Liberty Bloomfield.

- Eu estou falando sério, Libby!!! Mais cinco minutos e vou até aí! Eu estou te vendo pela sombra da cortina, sua vaca! Ande logo e desça até aqui, você me prometeu!

O áudio ameaçador enviado para o telefone da prima foi acompanhada de uma bufada irritada e Emily não desgrudou o olhar da janela que sabia pertencer ao novo quarto de Liberty. Não era a maneira mais simpática e amistosa de fazer a prima comparecer na própria festa, e se fosse ser justa, Bloomfield nem tinha ficado animada com a ideia daquela confraternização de boas-vindas. Mas na visão de Sinclair, não fazia sentido recusar uma festa em sua homenagem, com o principal objetivo de fazer a novata se entrosar. Mesmo que Libby já tivesse dito que não pretendia socializar e que seu foco era apenas os estudos, uma parte de Emily preferia acreditar que a prima só estava sendo tímida ou modesta, e que no fundo ficaria feliz com toda aquela organização.

Emily era facilmente uma das garotas mais bonitas da festa, uma das mais populares, do tipo que poderia facilmente ter todos lhe bajulando onde quer que fosse. Mas ao invés de se divertir, de sentar para dar gargalhadas ou até se arriscar nos braços de algum rapaz, era como se Sinclair estivesse ali apenas para trabalhar. E foi por isso que ela recebeu Hunter com um olhar estreito e furioso quando o rapaz se aproximou.

- Éééé, você é culpado mesmo! Um filho da puta, Tim! Tem noção de como eu tive que me desdobrar para cobrir o buraco que você deixou? Para sua sorte, o Dex tem um fôlego invejável e fez o trabalho em dobro, mas foi por muito pouco que não atrasou o cronograma todinho!

Quando Hunter precisou de uma boa ouvinte, Emily estava lá sem julgá-lo, de braços abertos. Tinha sido a primeira vez desde o acidente de Timmons que Sinclair notou qualquer interesse dele em sair daquela estagnação, por isso a menina estava tão empenhada em ajudá-lo a encontrar uma nova paixão, um novo significado. Mas não era uma moeda de troca. Emy não esperava que Hunter retribuísse seu esforço lhe fazendo favores com a decoração da festa. Sinclair estava acostumada a distribuir aquelas "tarefas" entre os amigos e só estava irritada porque os preparativos quase tinham atrasado por um furo de Hunter.

Ao menos era isso que Emily tentava dizer para si mesma. Que ela só estava irritada porque Timmons tinha feito uma promessa e lhe deixado na mão. Porque Sinclair não estava preparada para admitir que ela estava sentindo falta de Hunter, que queria que ele estivesse ali durante toda a tarde, que tivesse se lembrado dela da mesma maneira que ele tinha atravessado seus pensamentos. Se Emy admitisse o que realmente estava sentindo, ela seria obrigada a lidar com algo muito mais profundo e complexo, algo que era mais seguro manter escondido nas sombras.

Parte daquela frustração de Emily era por acreditar que Hunter tinha se esquecido dela, por isso, quando o rapaz explicou que o real problema ainda era a sua briga com Chad, o semblante dela se transformou. Nem por um instante Sinclair desconfiou que Timmons estava mentindo e manipulando toda a situação, e como um ratinho esfomeado diante de uma ratoeira com queijo, ela caiu na armadilha do rapaz.

- Ele disse o quê???

O rostinho bonito de Emily se contorceu em uma careta indignada quando escutou aquela versão deturpada do que tinha acontecido atrás do Pat's. Claro que Hunter estava omitindo a parte em que tinha quase agredido o melhor amigo e vomitado ofensas muito piores do que aquela. Na versão de Timmons, Clifford parecia como um grande filho da puta arrogante que não estava se esforçando em nada para entender os sentimentos do melhor amigo e que ainda tinha a audácia de tocar em uma ferida tão sensível.

Chad era um bom rapaz, e isso tinha sido um dos motivos que tinham feito Emily se apaixonar por ele. Mas o relacionamento dos dois também tinha provado que Clifford era imaturo em algumas situações. Ainda assim, foi chocante escutar que ele tinha sido capaz de ofender alguém que ele considerava quase como um irmão, tudo por causa de um título de capitão de um time de basquete.

Um biquinho irritado se formou nos lábios de Emily quando ela cruzou os braços e deixou seu olhar percorrer ao redor, procurando por qualquer sinal de Chad. Sinclair não julgava o rapaz por ter aceitado a nova posição no time e nem concordava que Hunter comprasse uma briga por algo que nem fazia mais parte da sua vida, mas depois de ter escutado o desabafo íntimo dele algumas noites antes, Emy não conseguia ser indiferente ao grande trauma que Timmons ainda vivia. E se ela se sentia dessa maneira, era ainda mais absurdo que Chad tivesse a coragem de dizer palavras tão ofensivas a alguém que já estava tão ferido.

- Eu não acredito que o Chad foi tão baixo! Isso é inadmissível!

Ainda sustentando um olhar enfezado quando Hunter completou dizendo que não pretendia ficar, que só tinha ido até ali por causa dela. O elogio de Timmons sobre a sua aparência não passou despercebido, mas foi outro detalhe nas palavras dele que chamou sua atenção. Ao dizer que Chad tinha "prioridade" em ficar perto dela, era como se existisse um desejo dentro de Hunter em continuar na festa, mas que ele estaria cedendo ao ex-namorado de Sinclair porque era assim que as coisas deveriam ser.

- Você não vai a lugar nenhum, Hunter. - Emily estava mais séria e seu olhar estava inteiramente preso em Timmons na escolha daquelas palavras. - O Chad não tem "prioridade" alguma. Nós dois terminamos. Você tem o mesmo direito de estar aqui do que ele ou qualquer outro. Somos todos amigos, não é?

Era difícil saber se Emily estava reforçando aquele título de amizade para tranquilizar Hunter ou para lembrar a si mesma dos papéis que eles deveriam estar desempenhando. Mas a menina logo voltou a assumir uma postura mais relaxada, abrindo um sorriso astuto que foi completado com um arquear de sobrancelhas.

- Além do mais, nós podemos aproveitar a noite de hoje para riscar algum item da sua lista. Não é exatamente uma aula de música, mas tem Let's Sing, Guitar Hero e Just Dance. Claro que eu sou a rainha do Just Dance, mas você pode se arriscar nos outros dois e assim vamos descobrir se existe algum talento musical aí dentro. - O ar divertido de Emily suavizou e ela estava mais dócil antes de continuar. - Eu quero que você fique e se divirta. E se você preferir conversar sobre essa situação toda, nós podemos ir para um lugar mais tranquilo. Mas se isso ainda está te afetando tanto assim, você não deveria se isolar. Eu estou aqui, Tim... Para virar shots ou para conversar, como você preferir.
Emily Sinclair
Emily Sinclair
Admin

Mensagens : 60
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Dexter Thompson Ter Mar 12, 2024 12:05 am

- Olhe bem para isso, Bloomfield... Você acha mesmo que tem alguma coisa errada com a minha pele?

Com um sorrisinho convencido, Dexter usou a mão livre para apontar na direção do próprio peito suado e despido. Era quase um desafio para que Liberty tivesse coragem de criticar alguma coisa na sua aparência. Mas ao invés de soar arrogante com aquele gesto, a forma com que seu sorriso curvava no cantinho dos lábios com um ar zombeteiro provava que ele só estava implicando com a novata.

Era simplesmente mais forte do que ele. Liberty tinha ficado corada e arregalado os olhos discretamente, da mesma maneira que tinha feito no vestiário. E Dex achava aquela expressão adorável demais para não provocá-la mais um pouco. Não era o seu ego querendo atiçar uma garota, era apenas tentador demais assistir a durona Liberty Bloomfield corando como uma garotinha só porque estava diante de um rapaz sem camisa.

- Eu não estou tentando me exibir. Em minha defesa, foi a señorita quem invadiu o vestiário masculino da última vez. E agora eu só estava a caminho do banho. As ordens da sua prima conseguem ser piores do que o treino do meu pai e do treinador juntos!

Dexter não era um rapaz que costumava ficar tenso, que se atrapalhava com as palavras ou que tinha problemas nos meios sociais. Para um cara tão popular, ele sabia muito bem como ter desenvoltura diante de qualquer pessoa, e era com aquela mesma naturalidade que estava agindo diante de Liberty. Era fácil conversar com ela, mais fácil do que Dex achou que poderia ser com uma moça tão arredia e inteligente. Mas quando aquele toque acidental aconteceu, a mente de Thompson simplesmente travou.

Seu corpo já estava aquecido e o coração acelerado depois de todo o esforço físico das últimas horas, mas foi algo completamente diferente que se espalhou sobre a sua pele e fez o seu sangue ferver. O ar ficou preso dentro dos seus pulmões e uma ruguinha surgiu entre as suas sobrancelhas. Seu cérebro tinha decidido parar de funcionar logo agora, então Dex ficou completamente sem reação enquanto Liberty se despedia e se apressava pelo corredor.

Enquanto a menina desaparecia atrás de uma das portas, Dexter continuou parado no mesmo lugar, com um olhar confuso para o ponto onde tinha visto Libby pela última vez. E a única coisa que sua mente conseguia processar era "o que foi que acabou de acontecer aqui?".

***

Dexter Thompson era um dos rapazes mais populares da MMU. Mesmo nos grupinhos mais populares, o quarterback ocupava um lugar de destaque, como se fosse a principal cabeça dos alunos. Popular, lindo, simpático, excelente atleta. Mas havia uma coisa que todos precisavam concordar sobre Dex: ele não era o aluno mais brilhante ou inteligente daquele lugar.

As notas de Dex eram medianas, algumas perigosamente baixas. O rapaz se esforçava para manter a pontuação mínima para não ser expulso do time, mas até isso parecia ser um sacrifício. Entre tantos treinos e com uma rotina inteiramente focada para o futebol, não restava tanto tempo (ou energia) para os estudos mais sérios, o que significava que Dex estava sempre precisando correr atrás de pontos extras para não reprovar em nenhuma matéria. Com isso, não era raro que Thompson também se sentisse muito burro.

Ás vezes, quando um trabalho era muito importante, Dexter lutava contra o sono e a exaustão, passando a noite em claro com pesquisas e estudos. Ele entregava seus resultados cheio de expectativas e quase sempre tinha como retorno uma nota abaixo do que acreditava que conquistaria. Era frustrante, e pensar que ele poderia ser alguém tão idiota incapaz de aprender o conteúdo programado da MMU trazia uma grande sensação de derrota. E não importava o que ele fizesse, seu cérebro simplesmente se recusava a colaborar.

Era algo parecido que acontecia com Dexter naquela noite. Ele estava em uma festa, rodeado de amigos, música animada, muita conversa e risada, com garotas lindas ao seu redor. E de alguma forma, aquela incógnita pairava sobre a sua cabeça, mas por mais que as engrenagens rodassem, Dex não conseguia encontrar as respostas que queria. Por mais vezes do que ele poderia contar, seu olhar voltou a buscar pelas janelas do segundo andar da casa, e a todo momento sua atenção varria toda a extensão da festa, procurando pela homenageada. E cada vez que ele percebia que Liberty não estava ali, sua inquietação aumentava.

Entre o atleta de notas medianas e a bolsista ridiculamente inteligente, não restava dúvidas sobre quem tinha o cérebro mais afiado ali. Então, uma parte de Dexter acreditava que se ele encontrasse Libby outra vez, ela poderia ter as respostas para o que tinha acontecido entre eles naquele breve toque do corredor.

- Você vai dar um mergulho?

A voz de Debby soou arrastada ao seu lado, despertando Dexter dos seus pensamentos confusos. Ele se virou para a loira com as sobrancelhas arqueadas, levando um tempinho a mais para entender a pergunta dela, e só então negou com a cabeça.

- Talvez mais tarde.

- Quer ir em algum jogo? - A garota insistiu, deslizando seus braços pelo pescoço dele.

Não existia nenhum compromisso firmado entre Dexter e Debby, mas a garota sabia exatamente como ele funcionava. Dex não ia atrás de garota alguma, mas Debby só precisava demonstrar o mínimo interesse e já teria o que queria. E por ter feito aquela mesma jogada tantas vezes, uma ruguinha de confusão surgiu quando Thompson ainda pareceu distraído e sem qualquer interesse em abraçá-la de volta.

- Acho que vou poupar a galera dessa humilhação, todo mundo ainda está digerindo depois que eu e a Emily arrasamos no Just Dance.

- É, você deve ser o único cara do mundo que fica sexy dançando Shakira.

Debby mordeu o lábio inferior, abusando de um sorrisinho sexy. E foi só então que Dexter pareceu começar a reagir. Seu olhar finalmente se prendeu na loira a sua frente e ele estava começando a ceder quando sua visão periférica captou a chegada de alguém. Como estava colada ao rapaz, Debby notaria facilmente como o semblante de Thompson se iluminou e como um sorriso leve e sincero brotou ao reconhecer Bloomfield.

- Finalmente!

Mesmo com uma garota pendurada no seu pescoço, o olhar de Dexter percorreu Liberty da cabeça aos pés. E a novata não precisava de roupas curtas e decotadas ou de maquiagem chamativa para prender a atenção de um rapaz. Era exatamente aquela beleza mais pura que se tornava tão admirável, porque Libby não precisava fazer nenhum esforço para ser tão bonita.

Bloomfield tinha chegado há poucos dias na MMU, e na visão de Dexter, ela estava começando a ser bem recebida pelos colegas. Thompson não fazia ideia que isso estava acontecendo principalmente por influência sua, mas ele acreditava que Liberty estava se adaptando bem aos novos colegas. Então ele ficou surpreso ao escutar a forma ríspida com que Debby recebeu a garota, com comentários tão grosseiros sobre suas vestes.

A cabeça de Dex virou na direção de Debby e ele parecia estar enxergando uma segunda cabeça surgindo sobre o ombro da garota. Como tinha dito para Liberty, Thompson enxergava os amigos de Colchester como uma segunda família, e como sempre era muito bem recebido em qualquer lugar, ele não estava acostumado a enxergar aquele lado grosseiro das pessoas.

- Mas que merda é essa, Debs?

O olhar de Dexter estava preso em Debby, em uma clara reprovação. Era como se ele fosse um pai decepcionado com falta de educação de um filho e esperasse que, só com o seu semblante irritado, a criança se desculpasse. Mas ao invés disso, Debby rolou os olhos e deu de ombros.

- É uma festa, Dex! Aliás, uma festa da Emily. Parece até uma piada vir vestida dessa maneira.

- É, você disse tudo. - A pausa que Dexter fez até passava a impressão que ele estava concordando com a loira, mas a forma com que ele se afastou dela mostrava o contrário. - É uma festa da Emily. Para a Liberty. E mesmo que não fosse, desde quando você tem o direito de ser tão ignorante com as pessoas?

A última coisa que Debby precisava era começar uma discussão com Dexter diante de Liberty. E Bloomfield também não queria ficar ali assistindo uma ceninha como aquela, mas antes que a novata se afastasse, Dexter se aproximou um passo dela.

- Onde você vai, Dex??? Achei que a gente ia jogar alguma coisa!

Dexter interrompeu seu passo para se virar para a loira. Com as sobrancelhas levemente arqueadas, ele alongou uma pausa como se estivesse fazendo um grande esforço para decidir o que deveria fazer. Uma das suas mãos estava suspensa no ar, reforçando aquela imagem de que seu raciocínio tinha congelado por um instante, mas Thompson logo mostrou que aquilo não passava de uma encenação debochada quando respondeu um simples "Aaahn. Nop" e se colocou ao lado de Liberty.

- Vermont - - Página 2 8ce0bfdeec5552b30d28d3a4b129f1e498fe176b


- Não liga para a Debby. Deve ser aquele lance de TPM. Você entende dessas coisas melhor do que eu, né?

Uma das suas mãos foi apoiada na base da coluna de Liberty e aquele arrepio voltou a percorrer o seu braço. Mesmo com tantas pessoas ao redor, Dex procurou o perfil de Liberty com um olhar intrigado, tentando desvendar se apenas ele estava recebendo aquela descarga elétrica bizarra. Atrás deles, parada no mesmo lugar, Debby fitou as costas dos dois por um instante antes de rolar os olhos e bufar. Ela sabia que não seria enfrentando Dexter que conseguiria alguma coisa, mas a novata tinha acabado de comprar uma briga com a pessoa errada dentro da MMU.

- Vermont - - Página 2 Tumblr_ni9ywmzXZe1tfe9z7o1_250

- Não que eu não tenha gostado daquele pijaminha fofo, mas você ficou muito melhor assim. Acho que podemos relaxar, a Emy não vai matar ninguém. Não por hoje, pelo menos. Vem, eu não sei onde a sua prima foi parar, mas eu vou te mostrar a sua festa.

Depois de alguns passos, Dexter recolheu a sua mão das costas de Liberty, mas o rapaz ainda se manteve próximo o bastante para que os ombros dos dois tocassem vez ou outra. Já livre de qualquer suor e agora devidamente vestido, era difícil dizer se Thompson estava mais atraente antes, sem camisa, ou agora. Os cabelos ainda estavam um pouco úmidos, o que parecia diminuir um pouco o volume dos fios grossos. A jaqueta esportiva já tinha sido abandonada em algum canto da festa, então Dexter usava apenas uma camisa cinza que marcava os seus braços fortes e o peito bem definido. A calça jeans era moderna, de uma marca cara, assim como o relógio que ele usava no pulso. E mesmo vestido daquela maneira, Thompson não se via melhor ou superior a Libby.

- Eu sei que você preferia estar no quarto, agarrada ao seu cronograma... A Emy se esforçou muito para essa festa. Espero que você consiga ao menos se divertir um pouco.

Como um velho amigo de Sinclair, era de se esperar que Dexter enxergasse o lado da ruiva naquela situação. Emily tinha feito aquela festa acreditando que poderia animar a prima. Mas o rapaz mostrou que já tinha entendido que aquele não era o real desejo de Bloomfield quando completou com seriedade, pouco antes de chegarem até um grupinho maior próximo da fogueira.

- Mas se em algum momento você quiser fugir, é só me avisar. Vamos combinar um sinal ou uma palavra-chave e eu prometo que faço você sumir daqui rapidinho. Você pode coçar a orelha ou dizer "Steve Jobs" e o resto é comigo. Palavra de escoteiro!

Uma das mãos de Dexter foi levada até o peito ao fazer aquela promessa, mas logo ele abriu seu largo e relaxado sorriso enquanto eles alcançavam a área mais aquecida e iluminada pela fogueira. Algumas pessoas tinham se espalhado pela grama, ou se sentavam em alguns troncos que Dex e Chad tinham deixado para trás. Foi perto de Clifford que ele e Liberty se acomodaram.

- Faaaala, Libby! Finalmente apareceu! Cerveja?

Clifford estava estrategicamente sentado ao lado de uma das caixinhas de bebida e só precisou esticar um braço para puxar uma longneck de dentro. A bebida foi oferecida primeiro a Dexter, e o rapaz conferiu o rótulo para se certificar de que era a versão sem álcool antes de dar um pequeno gole.

- Também tem um drink de cereja. É o preferido da Emily, se você quiser experimentar. Foi eu que fiz.

Não era nenhum segredo para os amigos de Thompson que ele gostava de se aventurar com alguns doces, drinks ou pequenas receitas. Liberty já tinha provado "o especial do Dexter" no Pat's, mas ainda foi com grande expectativa que ele encarou a novata depois de fazer aquela oferta, ansioso por uma avaliação dela em cima da sua "obra de artes".

- Já brincou com o Xbox? - Chad puxou assunto para conseguir fazer Liberty participar da roda de conversas. - Você ficaria impressionada com a guerra que é no Guitar Hero. As meninas preferem o Just Dance, mas se quiser arriscar qualquer um deles, a gente te acompanha.

A rodinha de conversa onde Dexter Thompson estivesse, certamente seria a mais atrativa da festa. Se Liberty prestasse atenção, ela notaria a mistura de rostos que se agrupavam ali. Jogadores de futebol, do time de basquete, líderes de torcida. As conversas e risadas fluíam como em qualquer festinha animada, e ninguém parecia notar como o quarterback insistia em deslizar seu olhar até a menina sentada ao seu lado.

- A fila do Guitar Hero está impossível agora. - Um rapaz negro sentado na outra ponta deu as últimas goladas na sua cerveja e depois colocou a garrafinha sobre a grama, abrindo um sorrisinho malicioso. - Então vamos ter que animar as coisas por aqui de outra maneira.

- Aaaaah, não! - Chad protestou. - Se for para jogar Verdade ou Consequência, será que não dá para esperar pelo menos a Emy chegar?

- Não. A sua namoradinha é o capeta dos desafios, Clifford. E das verdades também. Ainda lembro como ela me fez chorar no último quatro de julho.

- É, você chorou como uma garotinha. - Dexter debochou, mas um instante depois seu sorriso morreu e ele se virou apressado para Liberty. - Não que seja errado garotinhas chorar...

- A gente deixa você começar, Libby. - O rapaz negro soou simpático ao colocar a garrafa mais próxima da novata. - Sei que parece jogo de criança, mas é divertido. E a gente promete pegar leve com você!

- O que não significa que você precise pegar leve com o Jordan. - Dex pontuou, balançando o indicador no ar. - Ele me fez dar um mergulho pelado nesse mesmo lago uma vez. E era inverno. Eu quase morri congelado.

- É, mas agora a gente tá no início do campeonato, ninguém vai te tentar matar porque precisamos de você, Dex. - Jordan soltou uma risada alta e gostosa ao implicar com o amigo. - E aí, vamos?
Dexter Thompson
Dexter Thompson
Admin

Mensagens : 57
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Hunter Timmons Ter Mar 12, 2024 10:59 am

- Você tem certeza? Eu realmente não quero causar problemas entre vocês dois, Emily...

Embora as palavras de Hunter soassem com naturalidade, por dentro o rapaz estava atento a cada expressão e palavra que saía pela boca de Emily. Não foi difícil notar que Sinclair tinha caído na armadilha dele e se voltado contra Chad, mas o que deixou Timmons mais satisfeito foi ouvir a garota dizendo que Clifford não tinha qualquer tipo de prioridade com relação a ela.

Todos em Colchester já conheciam aquela velha dinâmica entre Emily e Chad. Os dois brigavam, se afastavam, mas não demorava muito até que uma reconciliação acontecesse. Era um namoro cheio de altos e baixos, mas os dois formavam um casal bonitinho e praticamente todos no colégio apostavam que Clifford e Sinclair acabariam reatando a relação novamente. Aliás, essa também era a esperança de Chad. Mas o discurso de Emily naquela noite definitivamente não combinava com a postura de uma menina que estava disposta a aceitar Chad de volta em sua vida.

Desta vez era diferente e Sinclair parecia bem determinada a encarar aquele término como algo definitivo. Talvez Chad ainda tivesse alguma chance se fosse insistente e conseguisse convencer a garota com gestos e declarações apaixonadas. Mas era justamente naquele momento que entrava o plano de Hunter. Numa jogada ardilosa (mas inteligente), Timmons estava se aproveitando para agir naquele momento de maior distanciamento do casalzinho e maior fragilidade da relação. Era exatamente naquele momento que Hunter tinha mais chances de trazer Emily para os braços dele.

- Tudo bem, então. Se você quer que eu fique, eu vou ficar. Mas sem dramas hoje, está bem? Eu não quero ficar enchendo os seus ouvidos com os meus problemas numa noite de festa. Eu prefiro a opção em que a gente vira alguns shots e passa vergonha nos jogos.

Antes de iniciar a festa, Emily tinha prometido ao ex-namorado que encontraria um tempo para que os dois pudessem ter uma conversa mais séria naquela noite. Contudo, ao invés de procurar por Chad, Sinclair deixou que Hunter segurasse a mãozinha dela e a puxasse para alguns minutos de diversão.

Cantar não era o maior dom de Timmons, mas o desempenho dele com o microfone nas mãos também não foi uma tragédia total. Como o rapaz escolheu uma música pop mais animada, ele e Emily conseguiram fazer um dueto que arrancou aplausos dos colegas que assistiam à performance. Enquanto se divertia ao lado de Sinclair, Hunter por um momento se esqueceu de que tudo aquilo era apenas uma vingança. As risadas dele foram sinceras, assim como o brilho que as íris cor de avelã refletiam a cada vez que o olhar dele se cruzava com o de Emily.

Mas o bom desempenho do rapaz não se manteve depois que eles trocaram de jogo e decidiram se arriscar no Just Dance. Com toda a habilidade, elasticidade e desenvoltura de uma líder de torcida, Emily deu um verdadeiro show enquanto reproduzia com perfeição os passos de dança propostos pelo joguinho. Hunter, por outro lado, mostrou que era um péssimo dançarino.

Além de errar praticamente todos os passos, o rapaz era bastante travado, não conseguia acompanhar o ritmo da música e em poucos segundos de brincadeira a tela já indicava que Sinclair estava com uma pontuação infinitamente mais alta que a dele. Já sem nenhuma esperança de vencer o jogo, Timmons simplesmente jogou a toalha e aceitou aquela derrota humilhante. Ao invés de olhar para a tela para tentar reproduzir os passos de dança, a cabeça dele se virou de lado e Hunter gastou os seus últimos segundos na partida apenas admirando a sua adversária.

Emily era facilmente uma das garotas mais lindas e interessantes de Colchester, mas ela conseguia ficar ainda mais atraente enquanto dançava. Os movimentos do corpo dela eram perfeitos, a pele mais corada pelo esforço físico realçava os traços dela e as discretas sardas que a garota normalmente tentava esconder com maquiagem. A aproximação com Sinclair até podia ser parte de um plano de vingança, mas Hunter não estava fingindo ou encenando a expressão encantada com a qual ele a encarava naquele momento.

E foi para ter um registro da imagem tão perfeita que Timmons tinha diante dos seus olhos naquela noite que o rapaz puxou o celular do bolso. Concentrada nos últimos passos da dança, Emily inicialmente não percebeu quando Hunter acessou a câmera do celular e demorou alguns segundos até encontrar um bom ângulo. A garota só se deu conta do que estava acontecendo quando a câmera disparou um flash milésimos de segundo antes de capturar uma foto dela.

Os pezinhos de Emily pararam de se mover e ela estava com os olhos arregalados quando se virou na direção de Timmons. E como Hunter já esperava por uma pequena explosão da amiga, o rapaz reagiu rápido e ergueu o braço, deixando o celular fora do alcance de Emily enquanto a menina esbravejava para que ele apagasse logo a foto.

Vaidosa e extremamente preocupada com a própria imagem, Emily surtava com a simples ideia de que uma foto ruim pudesse se espalhar pelas redes sociais. Sinclair era o tipo de pessoa que obrigava os amigos a repetirem a mesma pose para dezenas de fotos e não ficava satisfeita com o resultado até que ela aparecesse perfeita no registro. Consequentemente, Hunter já imaginava que ela tentaria se livrar de uma foto espontânea na qual os cabelos dela estavam suados, atrapalhados e a maquiagem claramente precisava de um retoque.

- Calminha aí, Sinclair! – Hunter soltou uma risada divertida enquanto assistia a menina pulando e tentando puxar o braço dele para ter acesso ao celular – A conexão está péssima aqui, eu só preciso de mais alguns segundos pra terminar de publicar no Instagram!

Os berros furiosos e desesperados de Emily para que Hunter lhe entregasse o celular e deletasse a foto arrancaram algumas risadas dos amigos. E o desespero de Sinclair só cresceu ainda mais quando Timmons correu pelo quintal, afastando-se da área mais movimentada da festa. Como as pernas do rapaz eram mais compridas que as dela, Hunter conseguiu uma boa vantagem e só parou de correr quando já estava nas proximidades do lago.

Com as pernas mais curtas e sapatinhos de salto, Emily demorou alguns segundos até alcançar o rapaz. A menina estava ofegante e ainda mais corada quando parou diante dele. Desta vez, ao invés de gritos e ameaças, Sinclair estava com um biquinho nos lábios quando suplicou para que Hunter se livrasse daquela foto. E foi aquilo que desarmou o rapaz e fez Timmons colocar um fim naquela piadinha.

- Hey, relaxa, ruivinha... Está tudo bem, eu só estava brincando. É claro que eu não postei a foto. Mas sabe de uma coisa? Eu acho que você deveria postar. Ficou linda, olha...

O celular de Hunter finalmente foi repassado para as mãos de Emily e ele permitiu que a menina visse a tela. E, para a surpresa de Sinclair, a foto realmente havia ficado muito boa. Os fios ruivos estavam atrapalhados e caíam sobre o rostinho corado de Emily durante os movimentos da dança, mas o jogo de luzes e o ângulo capturado por Hunter beneficiavam demais a menina. Quem visse aquela foto não acreditaria que a imagem tinha sido feita pela câmera amadora de um celular, num clique espontâneo.

- Vermont - - Página 2 Emy_ph10

O sorriso de Hunter se alargou enquanto Emily avaliava a foto e, mesmo que agora o celular estivesse nas mãos dela, a menina não fez menção de apagar aquele registro. E ficou ainda mais óbvio que Sinclair tinha gostado da fotografia quando os ombros dela relaxaram. Ainda forçando um ar emburrado, Emily usou o aplicativo de mensagens no celular de Hunter para enviar aquela foto para o número dela e só depois devolveu o aparelho para o rapaz.

- Eu disse que tinha ficado legal, não disse? Você não precisava ter me atacado, sua doida! E puta merda, Sinclair! Isso aí nos seus dedos são unhas ou lâminas de barbear?

De fato Sinclair tinha feito alguns arranhões nos braços de Hunter enquanto lutava para tirar o celular das mãos dele. Mas o sorrisinho divertido do rapaz mostrava claramente que ele não estava chateado.

Como os dois tinham se afastado vários metros da parte mais movimentada da casa, agora o som da música e das conversas chegava abafado até eles. Sem as luzinhas da festa e longe da fogueira, a iluminação também estava reduzida naquele ponto e, daquela distância, ninguém conseguiria enxergar o casalzinho. E também não havia ninguém por perto para testemunhar o momento em que Hunter ergueu uma das mãos para tocar carinhosamente nos cabelos atrapalhados da menina, puxando uma das mechas ruivas para trás da orelha dela.

- Eu não entendo por que você estava tão preocupada, ruivinha. Você é perfeita demais pra sair feia em qualquer foto...

Nem o próprio Hunter conseguiria dizer se aquilo ainda fazia parte do plano. Depois que Emily retribuiu ao olhar dele com uma expressão mais intensa, o clima se transformou completamente e Timmons acabou caindo junto com a garota na armadilha que ele próprio montou. Sentindo o coração acelerado e um calor inédito em seu peito, Hunter nem se lembrava da existência de Chad ou da sua vingança quando se deixou levar pelo momento.

A mão que já tocava os cabelos de Emily só precisou de um leve movimento para se encaixar com perfeição no rostinho dela. E a maneira como Sinclair estremeceu com aquele toque denunciou que ela também estava completamente envolvida pelo rapaz. Até então, todos os passos, gestos, atitudes e palavras de Hunter estavam sendo cuidadosamente planejados. Naquele momento, contudo, foi por impulso, instinto e desejo que Timmons fechou os olhos e se inclinou na direção dos lábios de Emily.
Hunter Timmons
Hunter Timmons
Admin

Mensagens : 61
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Liberty Bloomfield Ter Mar 12, 2024 10:59 am

Apesar de Liberty inicialmente ter odiado a ideia de perder o seu valioso tempo em uma festinha, ela não pretendia ser ingrata ou indelicada depois de ter visto todo o esforço que a prima fez para que aquela comemoração fosse perfeita. Mesmo que não tivesse a intenção de passar o restante da madrugada se divertindo no quintal das Sinclair, Libby também não pretendia ficar emburrada ou de braços cruzados num cantinho da festa. E, graças à companhia de Dexter, nem foi tão difícil assim para a novata se encaixar numa rodinha de conversa.

Bloomfield não estava nem um pouco acostumada a frequentar aquele tipo de festa. Em sua antiga escola, Libby definitivamente não fazia parte do grupinho dos populares e nem fazia muita questão de interagir com aquelas pessoas. Portanto, naquela noite, tudo aquilo era uma grande novidade para a garota. E até mesmo Liberty precisava admitir que o clima estava agradável e animado com a música, as risadas e os jogos organizados por Emily.

Como Libby pretendia retomar a sua rotina de estudos ainda naquela noite, a garota dispensou qualquer tipo de bebida alcoólica. E também foi a primeira vez que Liberty experimentou a versão sem álcool de uma cerveja. O gostinho mais amargo da bebida arrancou uma caretinha dela, mas o segundo gole já desceu muito melhor. Ainda com a longneck na mão, Bloomfield também não viu problemas em participar dos joguinhos propostos pelos colegas.

Verdade ou Consequência era um clássico em festinhas como aquela e Liberty tinha plena convicção de que aquela era uma brincadeira que poderia se tornar muito constrangedora. Mas, na cabeça de Bloomfield, ela não teria grandes problemas com aquele joguinho. O plano de Libby era muito simples: sempre que a garrafa apontasse para ela, sua escolha seria “verdade”. Além de não ter nada a esconder, seria muito mais fácil responder qualquer pergunta do que cumprir os desafios propostos pelos colegas.

- Já jogou isso antes? Conhece as regras? – Chad perguntou enquanto via a novata se inclinar na direção da garrafa deitada sobre o gramado.

- O jogo se chama Verdade ou Consequência, Cliff. Essas são basicamente as duas únicas regras, não?

- Nós adicionamos mais algumas. – a resposta veio de Jordan e ele abriu um sorrisinho malicioso antes de completar – Você sabe... pra deixar as coisas mais interessantes...

- O que for dito aqui não vai sair daqui. – Chad novamente tomou a palavra para enumerar as regras da brincadeira – Nada de fugir das perguntas, respostas vagas não serão aceitas. Sem desafios perigosos que envolvam qualquer risco de alguém se machucar. E sempre que for necessário, vamos ajudar o coleguinha a cumprir o desafio.

- Como assim? Não entendi a última parte...

- Por exemplo, se eu desafiar o Chad a passar um trote pra sua mãe, você é obrigada a fornecer o número do celular dela. Se alguém me desafiar a dançar usando o vestidinho da Pam, ela vai ter que me emprestar. Basicamente você vai ter que colaborar se o desafio de alguém te incluir de alguma maneira...

Era uma regra bem perigosa, mas Liberty não imaginou que a situação poderia sair de controle. Os exemplos dados por Jordan passavam a impressão de que os desafios seriam apenas brincadeiras divertidas, então a novata inocentemente concordou com todas aquelas regras. E como o jogo começaria com ela, Libby girou a garrafa até que o gargalo apontasse para uma das meninas.

- Verdade ou consequência, Pamela?

- Consequência. – a resposta de Pamela foi imediata e ela arqueou as sobrancelhas num semblante irônico, como se duvidasse que a novata seria capaz de escolher um desafio interessante.

- Hm... – Liberty só precisou de dois segundos para que uma ideia brotasse dentro da mente dela – Okay. O Jordan vai escolher o seu pior ângulo, você vai fazer uma careta horrorosa e ele vai tirar uma foto que você vai postar nas suas redes sociais e só vai poder deletar depois do fim da festa...

As risadas explodiram ao redor daquela rodinha e Pamela parecia ser a única pessoa que não tinha aprovado a decisão da novata, mas a menina não teve escolha senão cumprir o desafio proposto por Liberty. Várias pessoas já estavam lacrimejando de tanto rir depois que Pamela postou no Instagram uma foto horrorosa em que ela estava vesga e totalmente descabelada.

- Gostei, novata! Você pegou bem rápido o espírito da brincadeira! – Jordan fez uma pausa enquanto usava o próprio celular para curtir e fazer um comentário divertido na foto postada pela amiga – Puta merda, Pamela! Só tem um minuto que você postou e as curtidas já estão bombando!

- Minha vez! – com os olhinhos puxados ainda mais estreitos, Pamela girou a garrafa – Comece a rezar, novata, você está fodida se essa garrafa apontar pra você!

Para sorte de Bloomfield, a garrafa apontou para um dos rapazes do time de futebol. E por várias rodadas Libby apenas se divertiu com as perguntas constrangedoras e com os desafios divertidos propostos pelos colegas. Quando a garrafa apontou novamente para ela, Liberty mais uma vez teve que agradecer ao destino pela própria sorte porque era Chad quem faria a pergunta. Embora estivesse em Colchester há poucos dias, a novata já tinha notado que o ex-namorado de Emily era um rapaz gentil e bonzinho, então Libby realmente acreditava que Clifford pegaria leve com ela.

- Verdade ou consequência, Libby?

- Verdade. – a resposta imediata de Liberty arrancou um “uuuuh” das pessoas que assistiam a brincadeira nas proximidades da fogueira.

- De quem é a última chamada registrada no seu celular?

Chad recebeu uma chuva de xingamentos e Jordan chegou a dar um tapa na cabeça dele após aquela pergunta tão inocente. Porque para todas as pessoas ali presentes parecia óbvio demais que Liberty responderia “minha mãe”, “meu pai”, “minha tia” ou qualquer coisa nesse estilo. Mas quando a menina alongou o silêncio e prendeu o ar dentro dos pulmões, Libby acabou denunciando que a resposta não seria tão óbvia ou inocente como todos pensavam. E já imaginando a reação dos colegas, Libby franziu o nariz numa caretinha antes de confessar.

- Michael Martínez.

- O queeeeeeeeeeeeeee? O Martínez??? Do colégio??? – depois de várias cervejas, Jordan reagiu com uma risada exagerada – O que tá rolando aqui? É algum conto de fadas dos nerds??? Vocês dois estão se pegando???

Se Bloomfield fosse uma menina tímida, aquele seria o momento em que ela ficaria desesperada para explicar que só existia uma relação de amizade entre ela e Martínez e que o rapaz só tinha feito uma ligação para falar de um trabalho em dupla da aula de robótica. Mas Liberty mostrou o quanto estava envolvida pelo clima leve da brincadeira quando arqueou as sobrancelhas e respondeu com um tom de deboche.

- Ué. Eu posso estar errada, mas acho que as regras dizem que só sou obrigada a responder uma pergunta por rodada, não é? Minha vez de girar a garrafa!

O jogo continuou naquele mesmo clima descontraído. Sentada ao lado de Dexter, Liberty teve a ligeira impressão de que o quarterback tinha ficado um pouco mais sério e calado depois que o nome de Michael Martínez surgiu na brincadeira, mas Thompson foi obrigado a interagir novamente com os colegas quando, depois de mais algumas rodadas, o giro da garrafa parou apontando na direção dele.

- E aí, Dex...? – Pamela lançou um olharzinho maldoso para o colega e, assim como Emily, ela também tinha a fama de não pegar muito leve em jogos como aquele – O que vai ser? Verdade ou consequência?
Liberty Bloomfield
Liberty Bloomfield
Admin

Mensagens : 58
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Emily Sinclair Ter Mar 12, 2024 10:14 pm

Se a história de Hunter Timmons tivesse sido diferente, não seria assim tão absurdo imaginar que ele e Emily Sinclair pudessem ficar juntos. Antes do acidente, Hunter era o garoto de ouro de Colchester, com um futuro promissor, um atleta com potencial para se tornar uma lenda. A grande estrela do time de basquete combinava muito bem com a garota linda, popular e divertida. Mas um único momento tinha mudado por completo a vida de Hunter.

Enquanto o rapaz estava se afundando em um buraco perigosamente escuro e solitário, remoendo a própria infelicidade, a vida das outras pessoas continuava seguindo. E sem a grande luz do melhor amigo para ofuscar a sua, Chad Clifford também teve a chance de brilhar. Não que Chad não merecesse todas as suas conquistas, ele era um bom rapaz, mas sem o estrelismo de Timmons, ficou muito mais fácil para surgir uma aproximação entre ele e Sinclair. Hunter tinha se isolado em uma personalidade dura e ferida, mas os amigos ao seu redor continuavam vivendo.

Embora sempre tivesse feito parte do mesmo grupo de amigos que Hunter, Emily sentia que apenas agora estava começando a ter a chance de conhecer o rapaz de verdade. Os desabafos que Timmons tinha compartilhado apenas com ela, a intimidade que vinha surgindo entre eles, até mesmo os momentos de diversão pareciam diferentes. E ter uma chance de conhecer Hunter de verdade trazia sentimentos que Emy não estava preparada para lidar.

Quando pegou o celular de Hunter para ver a foto que tinha causado todo aquele alvoroço, Emy não escondeu um arquear de sobrancelhas com a surpresa que a atingiu. Ela tinha certeza que o registro seria algum borrão desengonçado, que ela estaria com alguma careta engraçada. Mas era impressionante como Timmons tinha conseguido fazer um registro lindo de um momento espontâneo.

- Tá legal, então não ficou nada mal... Sorte sua, Timmons!

O olhar de Emily estava estreito quando ela devolveu o aparelho celular de volta ao dono, depois de enviar para si a fotografia. Apesar do biquinho, era possível notar um discreto sorrisinho surgindo no canto dos seus lábios, mas o foco de Emily mudou por completo quando Hunter a elogiou.

Mesmo que Chad Clifford tivesse sido o seu namorado, Emily não era cega e nem podia ser hipócrita em dizer que nunca tinha notado como Hunter era atraente. Ela já tinha sido bastante enfática para a prima ao elogiar a aparência de Dexter Thompson, então Emily não era o tipo de garota que fingia não notar os outros rapazes só porque estava comprometida. Timmons só nunca tinha sido uma opção para Emy porque ele claramente não estava interessado em se envolver com ninguém, levava uma vida desregrada e cheia de confusões. Só que agora que Sinclair começava a ter a chance de conhecê-lo de verdade, a beleza de Hunter era potencializada.

Não era à toa que Hunter, Dexter e Chad formavam um grupinho tão popular. Cada um tinha suas características, com suas personalidades distintas e com suas aparências admiráveis. Mas não era só por causa da atração física que o clima tinha mudado de repente. Emy sentiu seu corpo inteiro aquecer e seu coração parecia estar derretendo diante do elogio e do olhar de Timmons.

Chad, a festa ou qualquer outro detalhe simplesmente sumiram do seu foco quando Emily prendeu o olhar nas íris cor de avelã. O toque de Hunter no seu rosto fez um suspiro mais intenso escapar e nem que Emy quisesse, ela não seria capaz de dizer que não estava envolvida com aquele momento. Timmons deveria ser mesmo muito talentoso, porque Sinclair ficou completamente entregue quando ele se inclinou na direção dos seus lábios.

Emily não era tão baixinha, mas como ainda havia uma significante diferença nas estaturas, a menina precisou se esticar e usou os braços para se pendurar no pescoço de Hunter. As unhas que Timmons tinha acabado de implicar novamente arranharam sua pele, dessa vez em um carinho mais suave na sua nuca. E Emy já estava de olhos fechados quando as bocas se tocaram. O calor que emanava dos lábios de Hunter causou mais uma grande onda de arrepios, mas o sabor daquele beijo mal tinha atingido seus sentidos quando o choque da realidade obrigou Emy a despertar.

Não era por falta de desejo, e isso era muito óbvio pela forma com que Sinclair estava arrepiada ou pelo brilho intenso no seu olhar assim que as pálpebras foram erguidas. Era apenas a razão que lhe obrigava a colocar os pés no chão. E não importava o quão desesperada ela estivesse para mergulhar naquele beijo, a culpa por se envolver com alguém tão próximo do seu ex-namorado foi mais do que suficiente para que Emy recuasse e interrompesse aquele beijo antes mesmo que ele se completasse.

Com os olhos arregalados, Emily apoiou as duas mãos sobre o peito de Hunter, obrigando o rapaz a recuar. Seu coração batia acelerado dentro do peito e ainda existia uma vozinha egoísta dentro da sua cabeça dizendo para que ela aproveitasse o momento e se entregasse ao desejo, mas Emy conseguiu ser forte e deu o primeiro passo para trás, quebrando por completo qualquer contato físico com Timmons. Seu corpo inteiro esfriou de imediato, mas apesar da frustração, isso serviu para que ela conseguisse pensar com ainda mais clareza.

- Eu preciso voltar para a festa.

Abraçando o próprio corpo e sem dar chance para Hunter retrucar, Emily deu as costas para ele e seus passos foram apressados para a área mais movimentada e barulhenta da festa, onde seria impossível voltar atrás e saciar seus instintos se jogando nos braços de Hunter.

***

Nascida e criada em Colchester, Emily conhecia aquela cidade minúscula com a palma da sua mão. Popular e querida por muitos, Sinclair também estava mais do que familiarizada com a MMU. Mas havia um poderoso frio se espalhando pela sua barriga quando Sinclair estacionou diante da escola, porque diferente do que tinha acontecido durante o restante do final de semana, ela não teria mais como adiar o encontro com Chad Clifford e Hunter Timmons.

Ao contrário do que tinha prometido ao ex-namorado, Emily não tinha conseguido encaixar nenhuma conversa com o rapaz durante a festa. Mas Chad não era o único que vinha sendo evitado. E a insistência com que Hunter aparecia nos seus pensamentos só provavam que Sinclair tinha se enfiado em uma gigantesca confusão e agora ela precisava fazer o que fazia de melhor: ignorar os problemas e fazer de conta que nada tinha acontecido.

Ainda dentro do carro, enquanto esperava Liberty revirar a mochila para conferir os livros, Emy puxou o celular e respirou fundo até encontrar o contato de Hunter. E como se precisasse reforçar aquela encenação, ela abriu um sorriso forçado enquanto digitava, mesmo que o rapaz não fosse capaz de ver aquele detalhe.

"Pronto para mais uma experiência? Eu já tinha deixado agendado para o final da tarde de hoje, mas esqueci completamente que preciso terminar algumas coreografias da torcida. Vou te enviar o endereço e depois você me conta tudo o que achou!"

Emily era mesmo muito compromissada com suas atividades acadêmicas e extracurriculares, mas especificamente naquela tarde, ela não precisava ter tanta pressa para finalizar as coreografias antes de repassar ao time. E Hunter também não seria inocente de acreditar naquela desculpa que Sinclair estava apenas usando para que os dois não ficassem a sós outra vez.

***

- Você vai continuar me ignorando?

Emily levou um susto quando fechou a porta do armário e encontrou Chad encostado na portinha ao lado, trazendo um sorriso relaxado nos lábios. Apesar da primeira onda de culpa, Emy se apressou em recolocar uma máscara de tranquilidade no rosto e deu de ombros com um jeitinho fútil.

- Eu não estou te ignorando.

- Nós não conseguimos falar no dia da festa... - Chad apoiou uma das mãos no armário, ao lado da cabeça de Emily, de modo que conseguia ficar de frente a ela. - E você não respondeu nenhuma das minhas mensagens.

- Você sabe como esses eventos me consomem, Chad. E a minha mãe descobriu que rolou bebida, então ela passou o final de semana todo me alugando. Já disse, eu não estou te evitando...

- Ótimo. Então eu posso ir na sua casa mais tarde? A minha jaqueta ficou lá, não é? Eu posso ir buscar e aproveitamos para conversar.

Pela visão periférica, Emily notou quando Hunter virou no corredor, bem próximo ao armário dela. E a simples visão do rapaz fez com que seus ombros ficassem mais tensos e que seus lábios formigassem com a lembrança do que quase tinha acontecido durante a festa. O pior de tudo era sentir tudo aquilo por Timmons com Chad bem na sua frente.

- Eu te aviso quando você puder ir buscar a sua jaqueta, nós temos mesmo que conversar sobre uma coisa. Mas agora eu preciso mesmo ir.

Arrumando a alça da mochila em um dos ombros, Emily se apressou para fugir daquela situação o quanto antes. E ela nunca esteve tão ansiosa em pisar em uma sala de aula, longe de Clifford ou Timmons como naquela manhã.

***

Tinha sido mais fácil do que Emily imaginava conseguir se esquivar de Hunter ou Chad pelo restante da manhã. E aquela facilidade trouxe uma falsa sensação de que tudo estava resolvido e que os problemas tinham sido superados. Relaxada em um dos sofás da cafeteria anexa ao refeitório, Emy folheava uma revista enquanto buscava algumas referências de grandes eventos que pudessem ser aproveitados em festas futuras.

- Urg, festa neon? De onde surgiu isso? Voltamos para a década de setenta?

Distraída entre as folhas, Emily só percebeu que alguém se aproximava depois que Hunter já estava próximo demais. Aquelas mesmas sensações da manhã voltaram para lhe assombrar, com os lábios formigando e o coração acelerado, mas Sinclair conseguiu ser uma boa atriz ao colocar um sorriso nos lábios e receber o rapaz como se não tivesse acontecido nada demais.

- Olha só quem resolveu ficar para as aulas da tarde...

- Vermont - - Página 2 2f2ce9af364f2c4195ed5febb9cec378f11d80eb

A revista foi deixada de lado, mas um bom observador notaria como os dedinhos apertavam os papéis com um pouco mais de força do que o necessário enquanto ela chegava para o lado, abrindo espaço para que Timmons se sentasse.

- Recebeu o endereço que te passei? Se quiser chegar na hora, é melhor não demorar muito para sair. Você viu que fica em Burlington? Claro, porque nunca tem nada demais nessa cidade. Você vai conseguir ir, não vai?
Emily Sinclair
Emily Sinclair
Admin

Mensagens : 60
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Dexter Thompson Qua Mar 13, 2024 12:20 am

Era adorável e hilário quando Dexter tinha aquela reação espontânea e transparente que trazia estampado no seu rosto "eu não entendi!". A cabeça dele tombava para o lado e o rapaz franzia a testa com um olhar de filhotinho perdido. Mas por dentro, Dex não se sentia nada adorável ou hilário. A única coisa que passava pela sua cabeça era: eu não estou entendendo!

Não era como se Dexter estivesse fazendo algum tipo de caridade. Ele também não estava com segundas intenções quando tentou ajudar Liberty a se enturmar entre os seus amigos. Uma parte de Dex queria mostrar para a novata que ela tinha sido injusta ao julgá-lo de forma tão negativa precocemente, mas ele precisava admitir que também estava gostando de conhecer alguém tão diferente quanto Bloomfield.

Libby parecia ter um grande poder de despertar aquela "trave" na sua mente com frequência. Aparentemente, não era apenas em Robótica ou nas matérias avançadas que Bloomfield era mais inteligente, porque Dex se sentiu muito burro enquanto se esforçara para entender o que estava acontecendo depois de ter escutado o nome de Michael Martínez. Enquanto Thompson estava sempre disponível e pronto para receber a novata no seu grupo, ele escutava de Liberty que ela não tinha tempo para socializar, que sua prioridade era Princeton e que toda a sua vida dependia disso. Então como e quando foi que ela tinha começado a perder tempo ligando para Martínez?

Thompson não queria ser presunçoso, mas no seu mundinho privilegiado, não fazia sentido que Liberty fosse tão reativa em fazer parte do seu grupo, mas não tinha dificuldade alguma para se relacionar com Martínez. E a provocação de Jordan trouxe a palavra chave que explicava tudo: os dois eram nerds. Os dois pertenciam ao mesmo mundinho. Era de se esperar que Libby se sentisse mais à vontade com alguém como ela. E pensar que ele era tão diferente assim da novata trouxe uma sensação incômoda na boca do seu estômago.

Mais calado e reflexivo, Dexter levou alguns segundos para perceber que a garrafa tinha virado na sua direção. A sua cerveja sem álcool já tinha esquentado e a bebida foi abandonada de lado enquanto o rapaz respondia no automático, sem precisar se esforçar para pensar.

- Consequência. Manda ver, Pam.

- Uh, quanta coragem... Eu desafio você... - Pamela refletiu por alguns segundos, mas a pausa arrastada e o sorrisinho diabólico mostravam que ela já tinha tomado a sua decisão. E um arrepio se espalhou pela nuca de Dexter com um pressentimento de que a colega iria aprontar. - ...a beijar a novata.

O coração de Dexter deu uma cambalhota e ele rapidamente deslizou o olhar até o ponto onde Bloomfield estava sentada. Se Pamela realmente quisesse provocá-lo, ela teria falado para que ele beijasse Chad ou Jordan, que mergulhasse pelado no lago ou que passasse um trote para a mãe de Emily. Não era exatamente um desafio que Thompson beijasse uma garota. Mas para quem conhecia o quarterback, sabia muito bem que Liberty não se encaixava no "padrão" de garotas com quem ele era visto aos beijos. Pamela estava desafiando Dexter, mas ela claramente estava tentando atingir a autoestima de Liberty com aquela jogada.

- É sério? Isso é tudo o que você conseguiu pensar?

- Eu não estou falando de um selinho igual ao que você dá na sua avó, Dexter...

- Deixe a minha abuela fora dessa história. - Dexter rolou os olhos e parecia bastante tranquilo com aquele desafio, o que só escondia como seu coração batia tão acelerado dentro do peito.

- Eu te desafio a beijar a Bloomfield de verdade, com todo o charme e intensidade... Como você faria, bom... - Pamela tombou a cabeça e estava olhando diretamente para Liberty antes de completar. - Com a Debby.

- Você não precisa fazer isso, Libby... - Chad sussurrou para a garota.

- Aaah, é claro que precisa! Ela escutou as regras e concordou em jogar mesmo assim! Qual é o problema, novata? Nunca beijou um cara antes?

- Deixa de ser infantil, Pamela. - Thompson bufou e se colocou de pé. Diante de Liberty, ele ofereceu a mão para a garota também ficar de pé, e dessa vez foi difícil disfarçar como ele se sentia ansioso. - É só um beijo, a gente acaba com esse circo e podemos procurar outra coisa para fazer.

Próximos da fogueira, Dexter podia sentir o calor do fogo ardendo na sua pele. Mas não era só por isso que seu sangue tinha esquentado dentro das suas veias. Mesmo diante de todos os colegas que continuavam sentados na rodinha, Dex deu alguns passos até parar diante de Liberty. E não foi porque isso englobava o desafio de Pamela, mas era a sua tentativa de fazer Bloomfield relaxar um pouco quando ergueu as duas mãos e a puxou pela cintura até que os dois estivessem com os corpos colados.

O mesmo arrepio que tinha percorrido o corpo de Dexter no toque acidental na porta do banheiro voltou com ainda mais força quando ele pôde sentir a cintura delicada escondida sob o tecido do vestido. Liberty era magrinha, mas Dex não esperava que suas mãos se encaixassem com tanta perfeição ali. E a intensidade do seu olhar buscando pelo dela mostrava que, mesmo surpreso, Thompson estava completamente envolvido por aqueles sentimentos.

Os olhares de todos estavam presos nos dois jovens que estavam de pé, mas toda a atenção de Dexter estava voltada para Liberty. Uma das suas mãos foi erguida até que ele conseguisse segurar o delicado queixo da menina, e com um movimento muito leve, ele a obrigou a erguer o rosto para que eles se encarassem, para que ela não tivesse a chance de fugir dos sentimentos que se apoderavam dos dois.

Libby era uma moça linda, mas era aquele par de olhos tão comuns para os outros que mais chamava a atenção de Dexter. Os traços delicados do seu rosto, o formato perfeito dos lábios, o narizinho arrebitado. Não importava se Bloomfield não era o "padrão". Naquele momento, Thompson tinha certeza que ela era a garota mais interessante e linda do mundo.

As pálpebras de Dexter começaram a ficar mais pesadas enquanto, ainda segurando o queixo de Liberty, ele se aproximou mais. O hálito quente da menina se chocou contra seu rosto e ele terminou de fechar os olhos enquanto se deliciava com o perfume que vinha dos cabelos curtinhos. E quando os lábios de Thompson finalmente tocaram os dela, Libby teria certeza que a fama do quarterback não era apenas por causa do seu abdome perfeito ou da sua personalidade. Dexter tinha os lábios fartos, deliciosos e tentadores, e eles estavam úmidos quando englobaram os de Libby.

Quando sentiu o sabor de Liberty e a textura macia dos lábios dela, Dexter fechou os olhos com ainda mais força. Mesmo com a música alta ou com as provocações dos colegas, ele só conseguia se concentrar na garota em seus braços. E aquela onda intensa fez com que ele puxasse o ar pelo nariz antes de prender a respiração e finalmente permitir que a sua língua também participasse daquele toque. A explosão que aconteceu fez o corpo inteiro de Dexter vibrar. A mão que segurava o queixo de Libby deslizou até se encaixar na nuca dela, em um pedido mudo e desesperado para que ela não interrompesse aquele beijo tão cedo. O braço que rodeava a cintura da menina também a puxou com mais desejo, até que o tronco de Libby curvasse um pouquinho para trás.

- Eeeeeita, acho que a gente já entendeu, Dex! 

Jason deixou uma risada divertida escapar ao ver a empolgação do casalzinho, mas ele foi completamente ignorado enquanto Thompson afastava seus lábios apenas por um segundo até procurar um novo encaixe, dando continuidade ao beijo. 

- Vocês dois querem arrumar um quarto?

Chad também provocou, mas as vozes dos amigos nem chegavam aos ouvidos de Dexter. Foi só quando seus pulmões começaram a protestar e com as mãozinhas de Liberty o empurrando de leve pelo peito que Dexter foi obrigado a aterrissar de volta a realidade. E Thompson parecia ter chegado de uma viagem longa, precisando de alguns segundos para entender onde estava ou o que estava acontecendo.

Com os lábios inchados e avermelhados, os cabelos um tanto atrapalhados pelo vento, Dexter estava ofegante. Seu peito subia e descia rapidamente e um brilho intenso tinha se espalhado pelas íris escuras quando ele procurou pelo rostinho de Libby, tentando interpretar o que ela estava pensando sobre o que tinha acabado de acontecer entre os dois.
Dexter Thompson
Dexter Thompson
Admin

Mensagens : 57
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Liberty Bloomfield Qua Mar 13, 2024 6:59 pm

Naquela última rodada, a garrafa tinha apontado para Dexter Thompson. Mas o semblante malicioso de Pamela e o desafio escolhido pela garota deixavam muito claro que era a novata que ela queria atingir. Liberty já tinha notado que as garotas do colégio MMU gostavam de competir e de alimentar uma rivalidade feminina tola entre elas, então é óbvio que as líderes de torcida estavam ansiosas para mostrar para uma nerd que não havia lugar no grupo dos populares para alguém como Bloomfield.

A consequência proposta por Pamela era claramente uma tentativa de humilhar Libby. Naquele jogo, os desafios eram escolhidos com o intuito de constranger os participantes e obrigá-los a fazer algo que eles jamais fariam numa circunstância normal. Em outras palavras, o que Pamela estava insinuando era que seria um sacrifício e um castigo para Dexter beijar uma garota como Liberty e que ele jamais se aproximaria da novata se não fosse obrigado pelas regras daquela brincadeira.

Contudo, contrariando as expectativas de Pamela, Thompson não tentou fugir daquele desafio e nem demonstrou qualquer tipo de insatisfação com a ideia. Por outro lado, quando Dexter murmurou para Liberty que seria “só um beijo”, o rapaz reforçou aquela impressão de que ele só estava fazendo aquilo por causa do jogo e para que os colegas parassem com as implicâncias.

E também era isso que Libby tentava repetir para si mesma. Era só uma brincadeira, ela havia concordado com as regras e Pamela se aproveitou disso para colocá-la numa situação mais delicada. Aquelas implicâncias só piorariam caso Liberty se recusasse a participar do desafio, então parecia ser muito mais fácil aceitar aquela proposta, fazer o que Pamela queria e não dar à outra garota o prazer de notar que ela tinha ficado bastante afetada com aquela situação.

Porque não importava o quanto Liberty tentasse enxergar tudo aquilo de forma prática e objetiva. Nada era capaz de fazer Bloomfield ignorar as batidas completamente descompassadas do seu coração e a ansiedade que a corroía por dentro quando ela e Dexter ficaram frente a frente.

O toque acidental no corredor da casa das Sinclair já tinha provocado em Libby um turbilhão de sensações que nem a mente tão brilhante dela era capaz de compreender. Mas o arrepio foi ainda mais intenso no instante em que Thompson encaixou as mãos firmes na cintura da garota e colou os corpos com um puxão.

Os olhos de Liberty eram naturalmente grandes, mas eles pareciam ainda maiores quando a garota encarou Dexter de muito perto. Os dois estavam próximos à fogueira, mas definitivamente não eram as chamas que faziam a garota sentir tanto calor. Visivelmente ansiosa e um pouco atrapalhada, Libby pousou as mãos superficialmente nos ombros de Thompson e o toque do rapaz no queixo dela provocou mais um arrepio delicioso na menina.

Por fora, Liberty estava se esforçando ao máximo para não demonstrar o quanto ela estava afetada com tudo aquilo. Mas Dexter estava perto demais da garota para não notar os sinais. No momento em que os lábios dele tocaram os dela, Libby fechou os olhos com força e seus dedinhos agarraram com mais firmeza a camiseta do rapaz.

Dois segundos depois daquele encaixe mais superficial, os lábios de Dexter englobaram os dela de forma mais exigente. E ao invés de Liberty demonstrar desconforto ou insatisfação, Thompson sentiria o corpinho da garota relaxando enquanto ela se derretia nos braços dele e retribuía ao beijo com a mesma intensidade.

Uma das mãos da garota permaneceu no ombro de Dexter, mas a outra mãozinha se atreveu a deslizar pelas costas dele, subir pela nuca e mergulhar nos cachos escuros do rapaz. Sem desgrudar os lábios dos dele, Liberty arfou no instante em que Thompson a enlaçou pela cintura com ainda mais firmeza, fazendo a coluna dela arquear para trás. Dexter não era tão assombrosamente alto, mas como Libby era muito baixinha, inconscientemente a garota se colocou na pontinha dos pés para reduzir a diferença nas estaturas.

Embora Bloomfield não fosse uma especialista no assunto como Pamela ou as outras garotas daquela rodinha, ela também não era completamente inexperiente. Alguns poucos garotos já tinham passado pela vida de Liberty em Seattle e, apesar da fama de nerd e de se focar tanto nos estudos, a novata já tivera alguns encontros e não era a primeira vez que Libby beijava um rapaz. Mas nunca acontecera com Liberty nada parecido com o que ela sentia agora nos braços de Dexter Thompson.

Tudo era tão intenso que, por alguns instantes, Liberty pareceu mergulhar em outra dimensão e conseguiu ignorar tudo o que acontecia ao redor dos dois. As risadas, palmas, assovios e provocações simplesmente não atingiam os ouvidos da garota enquanto Bloomfield estava concentrada apenas em mover os seus lábios e a sua língua na mesma sintonia que Dexter.

Thompson não tinha o perfil dos garotos com quem Libby costumava se relacionar. Normalmente Liberty buscava por alguém mais parecido com ela, um cara com quem ela tivesse assuntos e interesses em comum. Um cara mais parecido com Michael Martínez. E não parecia existir aquele tipo de sintonia entre Liberty e Dexter.

Os dois viviam em mundos diferentes, não dividiam os mesmos gostos, possuíam personalidades bem opostas. É lógico que a aparência física ganhava alguns pontos na avaliação de Libby na hora de se interessar por um garoto, mas aquele detalhe não costumava ser uma prioridade para a menina. Então não fazia muito sentido que ela se sentisse tão afetada por Thompson só porque o quarterback era ridiculamente atraente. O clima e a sintonia mágica que havia brotado entre os dois obviamente não podiam ser explicados apenas por uma atração física.

Poucos segundos já seriam suficientes para que o desafio fosse cumprido, mas nem Dexter e nem Liberty pareciam ter pressa para finalizar aquele beijo. O sorrisinho sacana de Pamela foi morrendo aos poucos enquanto ela notava que o casalzinho parecia estar gostando muito mais do que deveria do “castigo” imposto por ela. E como Pamela estava emburrada diante daquela cena, foi uma das amigas dela que soltou aquela alfinetada venenosa.

- Confesse, Pam, você e a novata combinaram isso, né? O que ela ofereceu em troca da chance de beijar o Dex? Vai fazer os seus deveres até o fim do ano?

A piadinha mais uma vez reforçava a ideia de que aquele beijo só estava acontecendo porque era parte de uma brincadeira. E a insinuação maldosa de que Liberty jamais conseguiria beijar um garoto como Thompson em circunstâncias normais foi o detalhe que trouxe a novata de volta para a realidade. Os lábios de Dexter ainda pareciam sedentos enquanto se moviam sobre os dela, mas Libby tomou a iniciativa de interromper o beijo e espalmou as mãozinhas no peito musculoso do rapaz, obrigando Dex a se afastar.

Com os lábios entreabertos, Liberty estava corada e ofegante quando reabriu os olhos e encarou o rapaz a sua frente. Havia um brilho diferente nos olhos de Dexter e ele a encarava com uma nítida expectativa. Então provavelmente Thompson experimentaria a sensação de um balde de água fria sendo derramado sobre a sua cabeça quando Bloomfield se desvencilhou dos braços dele e forçou um sorriso enquanto retornava para a rodinha e se sentava novamente em seu lugar, numa clara atitude de quem não tinha se abalado e queria retomar a brincadeira.

Por dentro, o coração dela batia tão acelerado que Libby estava surpresa pelas pessoas ao redor não serem capazes de escutar as pulsações. A pele dela estava em chamas e um furacão parecia ter entrado dentro da cabeça da garota e bagunçado todos os seus pensamentos. Mas ainda assim Liberty conseguiu deixar o orgulho falar mais alto.

Se ela fugisse da festa ou se recusasse a continuar com a brincadeira, todos perceberiam o quanto a novata tinha ficado afetada com aquele beijo e Libby passaria o resto do ano ouvindo piadinhas e provocações. Então o plano de Bloomfield era fingir que, para ela, tudo aquilo também tinha sido apenas um jogo. E como o próprio Dexter dissera que seria apenas um beijo para interromper as implicâncias dos amigos, a garota também imaginava que ele se sentia daquela mesma forma.

Diferente da garota, Dexter continuou de pé por mais alguns segundos e ele parecia um pouco perdido e até desapontado quando Liberty virou a cabeça por cima do ombro e se dirigiu a ele.

- Não vai voltar pra roda, Thompson? É a sua vez de girar a garrafa...
Liberty Bloomfield
Liberty Bloomfield
Admin

Mensagens : 58
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Hunter Timmons Qua Mar 13, 2024 7:39 pm

Uma única jogada impensada provavelmente tinha arruinado todo o plano de Hunter. Quando planejou a vingança contra Chad, Timmons já sabia que não seria fácil conquistar Emily, que ela não era fácil ou superficial como as outras garotas, que seria necessário ter paciência e agir com extrema cautela para não colocar tudo a perder. Mas Hunter acabou cometendo um erro que poderia comprometer todo o seu planejamento. Um erro que certamente faria Sinclair fugir dele e não abrir mais brechas para qualquer tipo de reaproximação.

Aquele beijo não deveria ter acontecido. Não naquele momento, não tão rápido. Hunter deveria ter estudado melhor o território, alimentado mais os sentimentos da menina e envenenado Emily contra Chad antes de se arriscar numa iniciativa mais radical como aquela. Era óbvio que Emily ficaria assustada, que ela ainda não estava pronta para aquele passo e que agora certamente começaria a desconfiar das intenções de Timmons. Racionalmente, Hunter sabia que não deveria ter tomado uma atitude tão precipitada. O único problema foi que o rapaz não estava sequer pensando no seu plano de vingança quando cedeu ao desejo de beijar Emily Sinclair.

Não foi por maldade, por vingança ou para tentar atingir o ego de Clifford. No momento em que Hunter se inclinou na direção de Emily, a única coisa que o rapaz desejava era sentir o sabor dos lábios dela, afundar seus dedos nos cabelos ruivos sedosos e saciar um instinto inexplicável que havia surgido dentro dele.

Sinclair era uma garota absurdamente bonita, divertida e que vinha se comportando como uma amiga compreensiva e atenciosa. Timmons tinha motivos de sobra para se sentir afetado pela garota e para se deixar levar pelo clima que surgiu entre os dois. Então a reação de Emily provocou em Hunter um sentimento muito mais dolorido do que simplesmente a frustração por ter arruinado um plano. Como o desejo do rapaz ao buscar por aquele beijo tinha sido sincero, Hunter também se sentiu sinceramente rejeitado quando a garota recuou.

Mesmo se não houvesse um sórdido plano de vingança por trás da aproximação dos dois, ainda seria MUITO errado que Hunter e Emily se deixassem levar pelo momento. Timmons era um dos melhores amigos do ex-namorado de Sinclair. Um ex-namorado que ainda nutria esperanças de reatar o relacionamento com ela. O namoro de Emily e Chad havia terminado há poucas semanas e era natural que a garota precisasse de mais tempo para reorganizar a sua vida e os seus sentimentos.

E, além de tudo isso, os dois eram diferentes demais, praticamente incompatíveis. Enquanto Emily era uma garota romântica, madura e que levava os seus relacionamentos a sério, a fama de Hunter em Colchester dizia que o rapaz não se envolvia emocionalmente com nenhuma garota e só buscava por aventuras e transas casuais.

Era uma noite agradável, então não foi por causa da brisa que vinha do lago que Timmons sentiu uma incômoda sensação de frio se apoderando dele depois que Emily se afastou. Rapazes como Hunter não estavam acostumados a serem dispensados pelas garotas e o recuo de Emily poderia ferir o orgulho de Timmons ou provocar mais uma de suas crises raivosas de irritação. Contudo, a reação do rapaz foi bem diferente disso. Hunter pareceu envergonhado e arrependido no instante em que desviou o olhar e nem tentou impedir que Sinclair se esquivasse dele.

A caneca com cerveja que estava nas mãos de Timmons no início daquela noite foi a única coisa que Sinclair viu o rapaz bebendo. E de fato Hunter não parecia estar embriagado ou sob efeito de qualquer outra substância. O álcool não podia ser responsabilizado pela atitude do rapaz naquela noite, mas a verdade é que Hunter se sentiu tão inebriado pela garota que era como se a sua cabeça realmente estivesse entorpecida pelo efeito de alguma droga viciante.

Por alguns segundos, Timmons perdeu completamente o controle da própria mente e agora ele se sentia sinceramente surpreso e envergonhado por aquele momento de fraqueza. Tão envergonhado que Hunter não retornou para a festa e não foi mais visto no quintal das Sinclair naquela noite.

***

Diferente de Sinclair, Hunter Timmons não era o tipo de pessoa que ignorava os seus problemas ou fingia que nada estava acontecendo. Geralmente Hunter explodia, brigava, gritava, fazia ameaças ou planejava vinganças quando estava insatisfeito com alguma coisa. Mas desta vez era difícil ter uma reação tão extrema porque o único culpado era ele próprio.

Timmons tinha estragado tudo, em todos os aspectos. O plano de vingança contra Chad estava totalmente arruinado porque agora era óbvio demais que Emily tentaria manter distância dele (como ela vinha fazendo durante todo aquele dia no colégio). Mas não era só isso que Hunter perdeu com aquela jogada equivocada. Muito provavelmente o rapaz tinha perdido a amizade de Sinclair. E também qualquer mísera chance de se aproximar dela sendo mais do que um amigo.

A mensagem enviada por Emily já deixava bem claro que a menina queria colocar uma pedra sobre aquele assunto, fingir que nada havia acontecido e se afastar dele. Mas Timmons não foi capaz de seguir a encenação proposta pela garota. E mesmo depois que Emily se esforçou para soar casual naquela conversa cara a cara, o rapaz não atendeu às súplicas dela.

- Uau. É sério que isso funciona pra você? Porque pra mim esse lance de encenar não rola, Emily. Acho que podemos cortar artes cênicas da sua listinha, definitivamente não é uma das minhas habilidades...

Foi notável que Emily ficou mais tensa quando notou que Hunter tocaria no assunto do qual ela queria fugir. Mas Timmons mostrou que não pretendia transformar aquilo numa briga ou em mais um drama quando se sentou ao lado da menina com um semblante suave. As pernas compridas dele foram esticadas sobre a mesinha em frente ao assento e Hunter inicialmente fixou o seu olhar na ponta dos próprios tênis porque parecia ser mais fácil iniciar aquela conversa sem encarar a menina sentada ao seu lado.

- Eu sinto muito.

Eram palavras muito vagas, mas Hunter não precisava entrar em detalhes para que a menina entendesse que ele estava se referindo à iniciativa de beijá-la na noite da festa. Antes que Sinclair tivesse a chance de interromper o discurso dele, Timmons completou na mesma entonação.

- Eu não deveria ter feito aquilo. Eu não sei o que deu em mim, eu confundi as coisas e me deixei levar... Eu sinto muito, Emily.

Não era verdade que Hunter havia "confundido as coisas". Sinclair também tinha dado alguns sinais bem claros que conduziram o rapaz na direção daquele erro. As trocas de olhares, o clima que havia surgido entre eles, a maneira como Emily se derreteu nos braços de Hunter e o arranhou com as unhas, tudo passava a impressão de que ela desejava aquele beijo tanto quanto ele. Mas Timmons agiu como um cavalheiro quando tomou para si toda a culpa por aquele deslize.

- Não precisamos mais falar sobre isso se você não quiser. Aliás, eu vou entender se você nunca mais quiser olhar na minha cara. Mas eu precisava voltar nesse assunto pelo menos mais uma vez para me desculpar.

- Vermont - - Página 2 Tumblr_inline_p7lc9zRZwZ1sccn28_250

A cabeça de Hunter finalmente se virou de lado para que ele pudesse encarar Emily. Como Timmons tinha certeza de que o seu plano de vingança estava totalmente arruinado, aquele pedido de desculpas não se enquadrava em mais uma tentativa de conquistar a menina. Hunter só queria mesmo demonstrar o quanto estava arrependido por ter estragado tudo e perdido a companhia dela.

- Eu não vou pra Burlington hoje. Agradeço o seu empenho em me ajudar, mas vou desistir do seu projeto, Sinclair. Acho que a única coisa em que eu sou realmente bom é em ferrar com tudo. E não é o tipo de coisa que vai me dar algum futuro, né?
Hunter Timmons
Hunter Timmons
Admin

Mensagens : 61
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Emily Sinclair Qui Mar 14, 2024 11:09 am

 Para Emily, a melhor forma de lidar com aquele problema era fingir que nada tinha acontecido. Só assim ela tinha a chance de não precisar encarar de frente o que vinha sentindo ultimamente por Hunter Timmons. Fazer de conta que aquele quase beijo nunca tinha acontecido significava ignorar tudo e poder se iludir de que só existia amizade entre ela e o melhor amigo de Chad. Mas Hunter não lhe deu essa chance quando foi direto ao ponto.

No instante em que ficou óbvio sobre o que Timmons queria falar, os ombros de Emily ficaram tensos e ela fechou os olhos em uma caretinha. Mas qualquer incômodo ou desconforto de Sinclair se esvaiu quando ela viu o rumo que Hunter estava dando para aquela conversa.

Emy vinha conhecendo quem Hunter era de verdade quando o rapaz era capaz de baixar a sua guarda. Mas ela achou que ele lidaria com aquele beijo de maneira irreverente, com piadinhas ou talvez até um pouco mais duro por ter deixado aquele erro ir tão longe, sendo melhor amigo de Clifford. Por mais que os dois rapazes ainda estivessem brigados, Emily sabia que o trio Hunter, Chad e Dexter respeitavam a amizade que tinham. Nunca, até aquela festa, nunca tinha acontecido uma insinuação maliciosa, um olhar insistente ou mesmo uma brincadeirinha com segundas intenções. Todos sempre tinham respeitado o seu relacionamento com Clifford, e era por isso que Sinclair tinha certeza que a culpa cairia sobre ela.

Ao invés de acusar a garota de tentá-lo seduzir ou de decidir se divertir às custas do seu erro, Hunter estava puxando a responsabilidade toda para si. E ver como ele se sentia envergonhado e se culpando, fez o coração de Emy se apertar. Era como se os dois estivessem mais uma vez no chão escuro da sala dos Timmons, sem fingimentos, com todas as suas fragilidades expostas.

Para quem preferia fingir que nada tinha acontecido, tudo o que Emily precisava fazer era aceitar as desculpas de Hunter e encerrar aquele assunto. Mas ela não podia simplesmente ignorar e deixar Timmons carregar aquela responsabilidade sozinho, se sentindo tão mal. O olhar de Emy continuou preso nele, como se fosse capaz de enxergar além das palavras do rapaz, e depois de uma pausa, ela negou com um movimento da cabeça.

- Você não confundiu as coisas, Hunter. E com certeza não se deixou levar sozinho... - Emy se endireitou no sofá e respirou fundo quando precisou colocar em voz alta algo que vinha negando para si nos últimos dias. - Eu acho que tenho gostado de passar mais tempo com você. E eu queria aquele beijo. Muito.

Emily não era o tipo de garota que se declarava para um rapaz. Chad tinha se arrastado e mimado a líder de torcida por semanas até que ela estivesse tão derretida. E confessar seus sentimentos para um rapaz como Timmons, que claramente não era o tipo que se envolvia em relacionamentos e descartava as garotas quando se sentia entediado, era como dar um tiro no próprio pé. Mas Sinclair não estava dizendo que estava apaixonada por ele. Ela estava apenas admitindo que não era indiferente a ele, que o queria por perto. E essa confissão tinha como objetivo apenas mostrar para Hunter que ele não tinha confundido as coisas e que não tinha motivos para se sentir tão culpado por ter tentado beijar a ex-namroada de Chad.

- Você não ferrou com tudo, isso não foi culpa sua. Mas acho que seria mesmo melhor fazermos uma pausa nesse projeto... Porque nós dois sabemos que o que rolou, não pode acontecer de novo. Sou eu que sinto muito por ter confundido as coisas e ter deixado que elas fossem tão longe.

A cafeteria anexa ao refeitório não era o melhor lugar para uma conversa tão íntima. Se Clifford entrasse ali e percebesse o clima entre a ex-namorada e o amigo, aquilo certamente geraria uma guerra. Além do mais, fofocas poderiam surgir com a proximidade de Hunter e Emily. Mas por sorte, ninguém além de Timmons testemunhou aquele desabafo. E como não havia mais nada a ser dito, Emy puxou a mochila para o seu colo e se colocou de pé, dando a conversa por encerrada.

***

A agitação estava quase fazendo Emily chorar. E Emily Sinclair não chorava em público. Andando de um lado para o outro na quadra de basquete, a menina tentava desesperadamente encontrar uma solução. Suas mãos tremiam quando ela puxou o celular e mais uma vez tentou ligar para o número do fotógrafo, apenas para que a chamada fosse encaminhada para Caixa Postal mais uma vez.

A mensagem que ele tinha enviado já estava bastante clara. O homem, que tinha sido contratado no início das aulas, não conseguiria comparecer no compromisso daquele dia. Ele tinha sofrido um acidente e estava sendo atendido no hospital, mas ao invés de se preocupar com o estado de saúde de outra pessoa, Sinclair estava desesperada com a própria agenda.

Algumas mensagens um tanto malcriadas foram enviadas para o fotógrafo, mas como o celular do homem tinha sido desligado, Emily estava brigando sozinha. Não havia como resolver aquela situação e seria impossível contratar outro fotógrafo a tempo do prazo que ela precisava atender.

- É isso! É o meu fim! Na minha lápide podem colocar "Aqui jaz Emily Sinclair, a capitã das líderes de torcida pelo período mais curto da história!".

O desabafo choroso de Emily soou para o nada, já que a menina estava sozinha na quadra. E sentindo a ansiedade lhe correr por dentro, ela se sentou na pontinha das arquibancadas e puxou o celular, como se fosse capaz de encontrar alguma solução em uma pesquisa rápida pelo Google. Mas foi quando desbloqueou o aparelho que Emily parou por alguns segundos, encarando a própria foto que servia como papel de parede.

A foto registrada por Hunter durante a festa tinha ficado incrível, mas era por saber todo o contexto de antes e depois daquela imagem que Emily não tinha compartilhado nas suas redes sociais. Todas as vezes que abria a tela do celular e encontrava aquela imagem, Emily se lembrava de Hunter e do quase beijo que tinha acontecido. Mas um pensamento diferente surgiu enquanto ela admirava a jogada de luzes e a técnica de Timmons.

Envolver Hunter naquela história e trazê-lo para perto depois que Emily tinha deixado claro que não era indiferente a ele não era uma boa ideia. Mas não havia outra alternativa. E foi ainda tomada pela ansiedade que ela abriu a aba de conversas de Timmons e enviou um "SOS".

Ainda tinham se passado longos minutos desde que Emily tinha enviado aquele pedido de socorro ao amigo, avisando que estava na quadra e que era um caso de vida ou morte. Para qualquer um, aquilo poderia soar como um exagero, mas Sinclair realmente se sentia com a corda no pescoço caso não conseguisse concluir aquela tarefa no prazo, então ela não escondeu o alívio quando Timmons surgiu.

- Graçaaaaas a Deus! Eu estava com medo de que você não estivesse mais por aqui!

Emy praticamente correu da arquibancada até o meio da quadra para se encontrar com Hunter. Como tempo demais tinha passado desde que ela tinha mandado a mensagem, Sinclair chegou a acreditar que o rapaz não apareceria, então agora que ele estava ali, ela precisava convencê-lo a aceitar a sua proposta.

- Aconteceu uma catástrofe, uma tragédia! E eu preciso da sua ajuda, Tim. O primeiro jogo de futebol acontece na próxima semana, o que significa que até lá as Líderes de Torcida precisam estar cadastradas para a competição paralela. Mas eu não posso fazer o cadastro enquanto não tiver as fotos oficiais não estiverem no site. Acontece que o imbecil do fotógrafo que eu contratei decidiu limpar a calha de casa essa manhã e caiu do telhado! Agora ele está em observação no hospital e eu não tenho tempo para encontrar outro, porque as fotos precisam estar cadastradas até amanhã!

Além de participarem dos jogos de futebol e basquete da escola, as líderes de torcida também tinham uma competição apenas delas, que normalmente acontecia após o fim da temporada de jogos. Mas para que elas pudessem competir, todo o cadastro precisava estar finalizado antes dos jogos oficiais, para que já fosse possível avaliar o desempenho antes mesmo que elas estivessem competindo. E uma das regras da competição era que cada escola tivesse as fotos oficiais dos seus respectivos times.

- Essa é a minha primeira grande missão como capitã e eu não posso falhar! Não posso decepcionar as meninas. E nem dar chance para que elas comecem a me criticar! Vai ser o meu fim se eu não conseguir essas fotos, Tim!

Não era apenas para convencer Hunter que Emily estava sendo tão dramática. Ela não queria mesmo dar a chance para Pamela ou qualquer outra garota apontar a sua falha e nem decepcionar a treinadora, então a aflição de Sinclair era verdadeira. Foi só depois de perceber que Timmons ainda não tinha entendido o objetivo de chamá-lo até ali que Emy respirou fundo e tentou soar mais calma ao fazer aquele pedido.

- Vermont - - Página 2 F4a00212952d215664d67a93cc81c8a31069c8e6


- Eu preciso que você tire as fotos. Nós podemos usar o equipamento da MMU, mas eu preciso de alguém que tenha o mínimo de noção do que está fazendo. E isso aqui... - Emily ergueu o celular para mostrar que vinha usando a foto registrada por Hunter como papel de parede. - Isso aqui é coisa de quem tem uma mínima noção. Por favoooor, Tim! Por favooor!

Emily chegou a unir as mãos para enfatizar aquela súplica, mas antes que Timmons tivesse a chance de recusar, ela ainda insistiu, sem esconder o seu desespero.

- Eu não vou conseguir mais ninguém com o tempo tão curto! Mesmo que as fotos não fiquem profissionais, ainda é melhor do que perder o prazo de inscrição e ficar fora do campeonato no meu último ano! Eu faço qualquer coisa! Posso fazer os seus trabalhos pelo restante do semestre... Ou podemos pagar o valor que seria do fotógrafo. Qualquer coisa, o que você quiser! Só, por favor, me ajude!
Emily Sinclair
Emily Sinclair
Admin

Mensagens : 60
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Dexter Thompson Qui Mar 14, 2024 2:19 pm

Não era a primeira vez que um beijo acontecia como consequência daqueles joguinhos. Dexter já tinha protagonizado brincadeiras até mais maliciosas do que aquela e sempre tinha encarado na esportiva, com risadas e provocações. Não havia nada de errado quando os dois jovens mergulhavam de cabeça naquela encenação divertida que serviria de entretenimento para os colegas por alguns segundos. O problema foi que aquele beijo não parecia nada com os que Dex já tinha protagonizado.

A reação do corpo de Dexter até poderia ser explicada pelos hormônios de um rapaz jovem com uma bela garota nos seus braços, mas se fosse só isso, por que ele não tinha se sentido de forma parecida ao lado de Debby? A loira tinha deixado claro que estava disponível para ele naquela noite, mas antes mesmo que aquele beijo acontecesse, a mente de Thompson já estava presa em Liberty. E depois de experimentar o sabor dos lábios dela, depois de sentir literalmente na pele o que era ter Bloomfield em seus braços, ele precisava admitir que estava completamente atraído pela novata.

Havia tantas pegadinhas do destino ali que era difícil para Dexter acalmar o coração e conseguir organizar os pensamentos. O detalhe de que Liberty não se encaixava no "tipo" que ele estava acostumado era o menor de todos, algo insignificante. O que realmente mudava todo aquele cenário era algo impossível de ser ignorado: Bloomfield não parecia estar nem minimamente interessada nele. Claro que a garota tinha correspondido ao beijo com intensidade, mas bastou que os lábios se soltassem para que Libby agisse de maneira indiferente. Um sentimento esquisito, de insegurança, se espalhou em Dexter quando ele achou que toda aquela magia só tivesse acontecido na cabeça dele.

- Ahn... - Com o raciocínio mais lento, Dexter levou uma das mãos até os lábios vermelhos e inchados enquanto piscava pesadamente. - Não, valeu. Acho que vou dar uma volta por aí.

Dexter não queria fugir da brincadeira, mas a proximidade com a fogueira e principalmente de Liberty estava começando a lhe tirar o fôlego. Quando Dexter se afastou da rodinha de amigos, ele sentia uma desesperada necessidade de respirar o ar puro da noite, como se isso pudesse ajudar toda sua agitação.

***

- Qual a emergência?

Dexter ergueu o rosto quando Chad Clifford entrou no seu campo de visão. Instintivamente, ele interrompeu a série que estava fazendo e olhou ao redor, para se certificar de que não havia ninguém por perto. Por sorte, a academia da MMU estava completamente vazia, então Thompson terminou de descer da barra onde fazia as flexões verticais e puxou uma toalhinha para secar o rosto antes de se sentar em um banquinho acolchoado.

- Eu preciso de ajuda. - Dexter soou um tanto hesitante, mas sustentando o olhar no amigo, ele respirou fundo antes de explicar, constrangido. - Com uma garota.

A gargalhada de Chad ecoou entre os aparelhos, mas foi o olhar duro de Dexter que o obrigou a se calar. Como Thompson não parecia estar brincando e aquilo não era uma piada, Clifford contorceu o rosto em uma caretinha surpresa e também se apressou em sentar no banquinho de um dos aparelhos.

- Como é que é? Desculpa, Dex... É que por um instante eu escutei que você precisa de ajuda com garotas.

- Não, eu não disse "garotas". Eu disse "garota". Uma em específico.

Chad abriu e fechou a boca algumas vezes enquanto avaliava o amigo. Mesmo suado e com os músculos pulsando pelo treino pesado, Dexter estava anormalmente sério. E Clifford não precisava ser nenhum gênio para somar dois mais dois até enxergar o que estava bem óbvio. Como conhecia Thompson há anos, era muito fácil entender sobre quem ele estava falando.

- A novata? Qual é o problema? Vocês estão brigando outra vez? Achei que tinham superado aquelas tretas.

- Sim, é a Libby. Mas nós não estamos brigando. - Dexter respirou fundo e se inclinou para frente, mantendo a conversa em um tom baixo, mesmo que os dois estivessem sozinhos. - Eu acho que... Acho que pode rolar alguma coisa legal entre a Libby e eu e preciso da sua ajuda para saber como me aproximar dela.

- Peraí que eu estou completamente perdido... Você me disse que não tinha química entre vocês dois e agora quer investir na garota?

- Não existe quími... - Dexter interrompeu a frase para soltar uma risada debochada com aquela lembrança. - Chad, eu vivenciei a tabela periódica todinha quando beijei a Libby na festa. Só que eu não sei fazer essas coisas... Não sei me aproximar de uma garota! É por isso que te chamei aqui, você tem experiência e dos caras que conheço, é o único que teve um relacionamento mais longo.

Dexter tinha pensado muito sobre aquilo. Era a primeira vez que ele se interessava por uma garota de verdade, a primeira vez que, quando pensava em alguém, não era apenas nas curvas ou na diversão de uma transa casual. Liberty tinha uma personalidade diferente de tudo o que ele conhecia em Colchester, ela era linda e não saía mais dos seus pensamentos. Se Thompson queria entender de verdade o que estava acontecendo, ele precisava tentar se aproximar dela.

- Então... - Chad franziu as sobrancelhas, tentando entender exatamente o que o amigo estava pedindo, mas sem querer soar ofensivo. - Basicamente, o que você está dizendo, é que não sabe como chegar numa garota? Que porra de mundo é essa, Dex? Tá, você coloca o futebol em primeiro lugar, mas eu nunca te vi com dificuldade nenhuma para ficar com alguém!

- Mas é diferente! - Dexter se agitou enquanto ficava de pé. - A Liberty é diferente das meninas de Colchester. Nós dois somos muito diferentes. Eu não sei nem por onde começar! O que você fez para conquistar a Emy?

- Para começar, eu procurei saber do que ela gostava. Roupas, séries, músicas, até mesmo os artistas que ela curtia, para ter assunto quando estivéssemos juntos. Tem noção que eu comecei a escutar Ariana Grande por causa dela?

- Tá, isso faz sentido. - Dexter cruzou os braços e coçou o queixo enquanto refletia. - A Libby gosta de Princeton, Steve Jobs e robôs. Acho que eu iria preferir escutar Ariana Grande, mas posso fazer isso.

- Depois vocês precisam encontrar motivos para passar algum tempo juntos. No meu caso, ajudou bastante sempre que tínhamos jogo de basquete fora de casa, porque as líderes de torcida iam no mesmo ônibus e eu conseguia ir ao lado dela puxando assunto.

- Mas tudo o que a Liberty quer é seguir o cronograma de estudos para entrar em Princeton. - Dex choramingou, completamente perdido como se estivesse diante de um caso sem solução. - Foi um sacrifício arrastá-la para o Pat's naquele dia e ela só foi na festa porque a Emy obrigou. Além do mais, eu não quero ficar interferindo nos estudos dela, sei o quanto é importante para a Libby conseguir entrar em uma boa faculdade.

Diante do olhar perdido do amigo, Chad abriu um sorrisinho debochado. Era divertido assistir o grande Dexter Thompson se torturando daquela maneira, incapaz de enxergar algo que estava diante dos olhos dele. Clifford ainda fez uma longa pausa, como um cientista observando um ratinho em um experimento, e como Dex foi incapaz de chegar até a resposta mais óbvia sozinho, ele interviu.

- Tá, e por que você não entra no mundinho dela, só para variar? Você não precisa interferir no cronograma da novata, é só fazer parte dele. Se ela só pensa em estudar, então use isso ao seu favor.

As sobrancelhas grossas de Dexter foram arqueadas e ele encarou Chad como se estivesse diante de um magnífico guru. E quando a ideia começou a tomar forma dentro da sua cabeça, um sorriso largo e empolgado foi brotando.

- Claro! É isso! Chad, você é um gênio!

***

Uma caretinha se formou quando Dexter encontrou aquele "C" no topo da folha. O rapaz tinha ficado exausto com o treino extra de futebol que o treinador tinha passado na noite anterior, mas mesmo assim tinha ficado acordado até tarde fazendo aquela pesquisa, então era frustrante ver que seu esforço não valia nem mesmo um "B-"

Frustrado e envergonhado, Thompson empurrou a pesquisa para o fundo da mochila, amarrotando-a por completo, mas com pressa de que ninguém mais visse aquele seu fracasso. Curiosamente, aquilo que tinha tudo para ser a desculpa perfeita para que ele se aproximasse de Liberty, foi escondido como a arma de um crime, algo que ninguém nunca poderia encontrar.

Quando a sineta tocou avisando o fim da aula, Dexter enfiou a mochila em um dos ombros e se apressou a sair para o corredor. A maioria das pessoas passava acenando ou chamando pelo seu nome, mas Thompson estava tão distraído e chateado com aquela nota que quase não retribuía a gentileza dos colegas. Foi só quando estava chegando quase ao fim do corredor que algo foi capaz de mudar o seu foco.

Assim como tudo na MMA, a biblioteca era um lugar muito bem equipado. Além de alguns computadores modernos com os catálogos de livros, banco de dados de revistas e jornais ou para serem usados para pesquisas externas, as prateleiras estavam abarrotadas de títulos importantes e conceituados de todas as áreas acadêmica. Mas Dexter estava mais do que acostumado com aquele canto da escola. O que realmente chamou sua atenção foi a menina debruçada sobre um caderno de anotações.

Parado diante da porta, Dexter olhou de um lado para o outro pelo corredor antes de respirar fundo e criar coragem para dar aquele passo. Não seria a primeira vez que ele falaria com Liberty, então não tinha motivos para ele se sentir ansioso. A diferença era que, em todas as outras vezes, Dex ainda não tinha um segundo interesse com aquela proximidade.

Tinham sido poucas as vezes que Dexter tinha entrado naquele canto ad MMA, e usando a jaqueta esportiva do time, ele não parecia se encaixar com aquele ambiente teoricamente destinado aos nerds. Mesmo assim, Thompson tentou se vestir de autoconfiança quando entrou em silêncio, até parar em uma das estantes logo atrás de onde Liberty estava estudando.

- Oi! Não achei que a galera da tecnologia curtisse essas antiguidades.

- Vermont - - Página 2 Tumblr_inline_qt7o7taTTL1sm9guj_500


Quando Liberty se virou com um pequeno sobressalto, Dexter abriu um sorrisinho adorável. Era impossível ignorar aquele biquinho natural nos seus lábios ou os olhos arregalados sempre prontos para examinar tudo ao seu redor. E foi só depois que os ombros da garota relaxaram que Thompson se aproximou, ocupando a cadeira vaga ao lado dela.

- Que bom que te achei por aqui, eu estava mesmo querendo falar com você. - Dexter tinha a desculpa perfeita e até provas para argumentar com a nota vergonhosa do trabalho amassado dentro da sua mochila. Mas Thompson jamais admitiria aquele fracasso, especialmente para uma garota inteligente como Libby. - Você já começou a fazer o trabalho do Sr. Alfred? Eu preciso admitir que o Laboratório de Tecnologia não está sendo tããão fácil quando eu imaginei, mas esse lance de algoritmo... Eu não sei nem por onde começar. Sério, Libby, eu estou perdido. Alguma chance de você ter alguns minutinhos para me ajudar? Eu não quero admitir que estava errado para o Chad e o Hunter, mas também não quero ter que desistir da matéria tão rápido. E você parecia estar se saindo bem, talvez com a sua ajuda seja mais fácil para entender do que com o Sr. Alfred.
Dexter Thompson
Dexter Thompson
Admin

Mensagens : 57
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Liberty Bloomfield Qui Mar 14, 2024 8:34 pm

Uma ruguinha de estranhamento surgiu entre os olhos castanhos de Liberty Bloomfield quando o professor Alfred pediu que ela continuasse no laboratório após a aula para uma conversa particular. O enorme “A+” no topo do trabalho de Libby deixava bem claro que o problema não era o desempenho da menina nos testes. E a novata também não tinha qualquer problema de atrasos ou indisciplina nas aulas. Mas o professor parecia sério e pronto para dar uma bronca no instante em que a sala ficou vazia e Bloomfield se aproximou da mesa dele.

- Precisamos conversar sobre o seu trabalho, Bloomfield…

- O senhor não gostou?

- Eu não teria te dado nota máxima se não tivesse gostado.

Normalmente era Dexter que franzia a testa e fazia um olhar de cãozinho perdido quando não entendia alguma coisa. Mas foi inconscientemente que Liberty repetiu a mesma expressão de Thompson diante daquela conversa sem sentido com o professor. As coisas só ficaram mais claras para a novata quando Alfred explicou onde queria chegar com aquela bronca.

- Você tem noção de que o seu projeto está MUITO acima do nível de um trabalho de colégio, Bloomfield? A ideia é sensacional e inovadora, você já está muito adiantada no esboço do programa e praticamente já finalizou o algoritmo! Você não deveria sair por aí mostrando o projeto pra qualquer um, garota! Se eu fosse desonesto, eu pegaria o seu projeto pra mim e registraria uma patente provisória em meu nome! Aliás, é por isso que eu te chamei. Eu acho que você deveria registrar uma patente provisória o quanto antes. Quando o programa estiver finalizado e rodando sem bugs, você vai conseguir vendê-lo por uma fortuna para qualquer empresa de tecnologia!

Completamente sozinha, Liberty havia pensado e criado um código para um novo software. O programa que Bloomfield vinha desenvolvendo era uma nova proposta para um aplicativo de conversão instantânea de diferentes formatos de mídia. Embora já existissem programas semelhantes no mercado, o projeto de Libby englobava todos os formatos de músicas, vídeos e imagens existentes na internet. E possuía inclusive uma ferramenta para integrar diferentes mídias num mesmo arquivo com apenas um clique. Num mundo em que as redes sociais e os criadores de conteúdo estavam em ascensão, aquele aplicativo certamente seria um grande sucesso.

- Eu já tinha pensado nisso, professor. Mas é meu último ano no colégio, eu estou totalmente focada em Princeton e não terei tempo pra me dedicar, corrigir os bugs e finalizar o projeto. Talvez no ano que vem.

- Se você prefere assim, tudo bem. Mas eu estou falando sério, Bloomfield. Não mostre isso pra mais ninguém. É uma mina de ouro que uma pessoa sem escrúpulos pode tentar tirar de você.

***

Liberty estaria mentindo descaradamente se dissesse que Dexter Thompson não havia se instalado nos pensamentos dela após o beijo que acontecera na festinha de boas vindas. Bastava um segundo de distração para que a mente de Libby recuperasse as lembranças do beijo, do toque de Dex na cintura dela e da maneira como o corpo da garota havia explodido e se derretido ao mesmo tempo nos braços dele. Mas era exatamente por isso que Liberty vinha se esforçando tanto para não ter nem mesmo um segundo de descanso ou distração.

Com um cronograma tão rígido, Libby simplesmente não podia perder tempo com o turbilhão de dúvidas e emoções que se apoderavam dela sempre que o assunto era Dexter Thompson. Bloomfield não tinha tempo para típicos dramas e paixonites adolescentes naquele ano tão decisivo para a vida dela. Além disso, uma vozinha detestável (bem parecida com a de Debby), ecoava dentro da cabeça da garota, repetindo que era uma grande tolice perder tempo com um cara como Dexter, que ela não se enquadrava no perfil de garotas com quem Thompson gostava de sair e que, por isso, aquele beijo não tinha significado nada para o rapaz.

Só que foi muito difícil continuar ignorando os pensamentos e os sentimentos que Dexter despertava dentro dela quando o rapaz surgiu na sua frente. Sem que Libby tivesse controle sobre isso, o coração dela deu um salto dentro do peito, sua garganta ficou instantaneamente mais seca e um brilho diferente se espalhou pelas íris castanhas no momento em que Thompson interrompeu os estudos dela na biblioteca.

A aparência física nunca tinha sido um problema ou uma preocupação para Liberty, mas naquela tarde ela se sentiu incomodada por não ter se arrumado um pouquinho melhor para as aulas daquele dia. Dexter parecia estar sempre ridiculamente perfeito, como uma escultura de um deus grego sarado e imponente. Então, perto dele, Libby se sentia minúscula com a sua saia comportada, as sapatilhas baixas, um suéter já um pouquinho surrado e os cabelos curtinhos presos num penteado desajeitado.

Uma onda de expectativa se apoderou de Liberty quando o rapaz explicou que queria falar com ela. Então foi até um pouco frustrante quando o assunto iniciado por Dexter não dizia respeito à festa ou ao beijo dos dois. Mas aquele também foi um choque de realidade que obrigou Libby a aterrissar novamente os pés no chão e a repetir para si mesma que caras como Dexter Thompson só enxergavam aquilo quando olhavam para meninas como ela: uma nerd que poderia ajudá-lo a ter notas menos vergonhosas.

- Hum… - uma longa pausa foi feita antes que Liberty abrisse um sorrisinho implicante - Então quer dizer que as suas habilidades de editar vídeos do Youtube e de movimentar as redes sociais postando fotos do seu tanquinho trincado não impressionaram o professor? Estou chocada!

Apesar da alfinetada, Bloomfield usava um tom leve de brincadeira. A menina não pretendia transformar aquilo num drama e a melhor maneira de disfarçar o quanto Dexter a deixava afetada era se comportar da forma mais natural possível perto dele. Se para Thompson aquele beijo não tinha significado nada, Libby estava disposta a se esforçar (muito) para fingir que ela também encarava a situação com o mesmo distanciamento emocional.

- Beleza, eu acho que posso te ajudar. Na verdade, será um acordo vantajoso para as duas partes. - um “shhhhiu” irritado da bibliotecária obrigou a menina a reduzir o tom de voz - Você também vai me ajudar muito com uma coisinha…

Exceto pelo futebol, era difícil imaginar qualquer disciplina em que Dexter tivesse um desempenho melhor do que a novata. Mas o rapaz entenderia do que Liberty estava falando quando ela puxou uma folha de dentro da mochila. Era um formulário oficial de monitoria que Dexter deveria preencher para que Bloomfield provasse que estava ajudando um colega e acrescentasse aquilo no seu currículo como mais uma atividade extra valiosa para o ingresso numa boa universidade.

Thompson ainda estava com os olhos presos no documento quando Liberty novamente sussurrou aquela pergunta.

- O que você já sabe sobre algoritmos? Eu preciso ter uma ideia dos seus conhecimentos prévios para saber por onde começo as aulas…

Os olhos de Bloomfield se arregalaram em choque no momento em que Dexter repetiu aquela velha expressão de um cachorrinho confuso e perdido. Mesmo surpresa, a garota foi capaz de manter a entonação baixa para não despertar a ira da bibliotecária.

- Nada??? Nadinha??? O que você tinha na cabeça quando se matriculou nas aulas de tecnologia avançada??? Pra quem não sabe nada de algoritmos, é até surpreendente que você tenha tirado um “C” ao invés de um “F”!

O trabalho corrigido pelo professor tinha sido entregue nas mãos de Dexter há poucas horas e foi empurrado para dentro da mochila do rapaz logo no segundo seguinte. Então o ar de choque no rosto de Thompson mostrava claramente que ele queria saber como Libby tivera acesso àquela informação. Ao notar que tinha cometido um deslize indiscreto, Liberty arregalou os olhos e apertou os lábios, mas agora já era tarde demais para engolir as palavras que ela deixou escapar.

- Vermont - - Página 2 Tumblr_inline_nftxhmya5r1t2kn2x

- Tá. Eu vou dizer, mas você precisa prometer que não vai contar pra ninguém! É sério, Dexter, eu vou confiar em você. Eu posso até ser expulsa do colégio se você me denunciar!

Com uma pequena pausa, Libby virou a cabeça por cima dos ombros para conferir se mais ninguém estava perto o bastante para ouvir aquela confissão comprometedora.

- Eu estava muito ansiosa para saber o que o professor tinha achado do meu trabalho. Então eu meio que invadi o e-mail dele e tive acesso à planilha de notas da turma toda. Confesso que fiquei bem decepcionada…

Por um momento, pareceu que Bloomfield estava se referindo à nota baixa do rapaz. Mas ela logo explicou melhor qual era o real motivo da sua decepção.

- Eu esperava muuuuito mais de um professor de tecnologia avançada. Foi fácil demais invadir o computador dele. Eu quase dei umas dicas pro Sr. Alfred se proteger melhor e evitar o ataque de hackers!
Liberty Bloomfield
Liberty Bloomfield
Admin

Mensagens : 58
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Hunter Timmons Qui Mar 14, 2024 8:36 pm

Todos os alunos da MMU obrigatoriamente tinham que acrescentar algum tipo de atividade física em sua grade curricular. E isso se tornou um grande problema para Hunter depois que o rapaz abandonou o seu lugar no time de basquete. Timmons chegou a pedir que seus médicos fizessem um relatório que o livrasse daquela obrigação, mas o ortopedista afirmou categoricamente que a prótese no joelho esquerdo não era um impeditivo para o paciente se exercitar. Pelo contrário, era até aconselhável que Hunter tivesse uma vida ativa e o mais normal possível.

Nem mesmo um retorno para o time de basquete foi descartado pelos médicos. Timmons certamente não teria mais a mesma habilidade e não conseguiria correr o jogo inteiro ou forçar demais a articulação. Mas, se Hunter quisesse, ele poderia voltar a treinar com os colegas e talvez até ocupar o banco de reservas e ser usado pelo treinador durante alguns minutos nas partidas oficiais. Contudo, o basquete foi a primeira atividade que Timmons descartou da sua lista de possibilidades.

Disputar uma vaga no time de futebol também estava fora de cogitação. Diferente do basquete, no futebol havia muito mais esforço físico e risco de contatos mais violentos entre os jogadores. Seria uma grande tragédia levar uma pancada ou danificar a prótese de joelho, então Hunter não podia praticar nenhum esporte daquela modalidade. Também era bem improvável que o joelho machucado de Timmons suportasse o esforço necessário para estar na equipe de corrida ou de cross country.

Sem grandes opções, Hunter acabou optando pela natação. Na MMU, alguns alunos mais habilidosos eram inscritos na competição estadual de natação, mas a maior parte da equipe apenas cumpria uma tabela de exercícios mais simples, duas vezes por semana. E era nesse segundo grupo que Timmons se encaixava. Na verdade, Hunter vinha mais faltando do que comparecendo às aulas de natação, e nas poucas vezes em que aparecia na piscina o rapaz ficava na água o mínimo de tempo possível. Naquela tarde, inclusive, praticamente todos os alunos ainda estavam na piscina quando Hunter saiu da água e se dirigiu ao vestiário.

Para o professor, aquela era a postura de um aluno irresponsável e indisciplinado. O que Hunter não disse ao homem era que ele geralmente interrompia os treinos na piscina quando começava a sentir um incômodo no joelho. Era humilhante demais para Timmons admitir que antes ele era o melhor atleta do time de basquete e agora mal conseguia dar três voltas na piscina sem sentir o joelho latejar. Por orgulho e por não querer receber mais uma rodada de olhares de piedade, Timmons preferia ganhar a fama de um aluno indisciplinado que não cumpria as tarefas propostas pelo professor.

Usando apenas o calção de banho e uma touca cobrindo os cabelos escuros, Hunter se aproveitou que o vestiário parecia estar vazio para tirar aquela máscara orgulhosa. Com o rosto contraído numa expressão de dor, Timmons se sentou num dos banquinhos próximos aos armários e levou uma das mãos ao joelho dolorido. E o rapaz só percebeu que havia mais alguém dentro do vestiário no instante em que uma voz familiar soou às costas dele.

- Está com dor? Você deveria falar com o treinador, ele pode modificar a sua sequência e evitar os exercícios que forçam demais os joelhos…

A entonação suave e preocupada usada por Chad era claramente uma bandeira de paz sendo erguida. Hunter, por outro lado, não trazia no rosto um semblante nada amigável quando se virou na direção do amigo. Uma sombra cobria o olhar de Timmons e ele deixou que seus lábios se curvassem num sorriso ácido e sarcástico durante aquela resposta.

- E o que você tem a ver com isso, Clifford? Vai entrar na equipe de natação? Quer ficar com a minha sequência de exercícios e tomar o meu lugar aqui também?

- Não. Eu só sou seu amigo e estou preocupado com você, Tim.

- Aham. Graaaande amigo…

Alguns dias já tinham se passado desde a discussão dos dois rapazes na lanchonete. Chad ainda achava que Hunter estava errado, que o amigo estava sendo injusto e egoísta e que era Timmons que precisava se desculpar e tentar uma reaproximação com ele. Mas como era óbvio que o orgulho de Hunter jamais permitiria que isso acontecesse, Clifford resolveu que ele seria mais nobre que o amigo e tomaria a iniciativa de uma reconciliação. Hunter podia até ser uma pessoa difícil e ter um temperamento terrível, mas isso não mudava o fato de que os dois eram amigos de infância e Chad sentia falta da companhia dele.

- Que tal se a gente parasse logo com essa palhaçada, Tim? Somos amigos desde sempre! Eu achei que a nossa amizade estivesse acima de uma posição no time de basquete!

- Exatamente. Eu também achei que você valorizava mais a nossa amizade do que a sua posição no time de basquete.

- Eu valorizo. Eu jamais teria tirado algo tão importante de você, Hunter. Mas acontece que você não está mais na equipe! Por que é tão difícil fazer isso entrar na sua cabeça???

- Se você estivesse mesmo tão preocupado comigo ou com a nossa amizade, você entregaria o cargo de capitão hoje mesmo.

Um sorriso amargo e sem emoção surgiu nos lábios de Chad enquanto o rapaz sacudia a cabeça num gesto de repreensão. E só depois de um longo período de silêncio, a voz de Clifford ecoou de novo pelo vestiário vazio.

- Se eu entregar o cargo, o Ken vai assumir a vaga de capitão, não você. Então que diferença isso faz, Hunter? É uma exigência totalmente descabida, isso sem mencionar que é muito infantil e egoísta da sua parte impor essa condição pra retomar a nossa amizade. Não é a atitude de um amigo de verdade. Eu esperava que você fosse um pouquinho mais nobre!

- Nobre??? - os olhos de Timmons se estreitaram ainda mais, a voz dele se elevou e o rapaz assumiu uma postura ainda mais intimidadora ao se colocar de pé para encarar o amigo de frente - E quem você pensa que é pra falar sobre atitudes nobres, Clifford? Além da punhalada nas minhas costas, eu sei que você jogou sujo pra tirar a vaga de capitão do Kendall!

A expressão confusa no rosto de Chad foi sincera. A ruguinha entre as sobrancelhas do rapaz mostrava claramente que ele não fazia ideia do que Hunter estava falando. Se Clifford tivesse mesmo trapaceado nos testes, ele ficaria desconfortável ou envergonhado perante aquela acusação. Mas o rapaz parecia apenas perdido quando se defendeu.

- Do que você está falando, Tim? Eu não fiz nada. Eu só mandei bem nos testes e o Ken parecia estar num dia péssimo.

- Alguns dias atrás eu até acreditaria nisso. Mas depois da sua traição, eu já acho que você é capaz de fazer qualquer coisa, Clifford. E quer saber? Pra mim essa conversa acabou. - Hunter completou de forma ainda mais radical - A nossa amizade acabou. Não temos mais nada pra conversar.

***

A nova discussão com Chad ainda fazia uma dose extra de adrenalina circular pelas veias de Hunter quando o celular dele vibrou com uma mensagem de Emily Sinclair. Parecia ser o destino mostrando a Timmons que ele tinha desistido cedo demais daquele plano e que a vingança contra o melhor amigo estava ao alcance das mãos dele.

Após aquela conversa mais franca com Sinclair, Hunter decidiu que se afastaria dela. Apesar de Emily ter admitido que não era indiferente ao rapaz e que também desejara aquele beijo, a garota também deixou bem claro que não podia dar aquele passo. Se Hunter insistisse ou forçasse a barra, Emily poderia ficar desconfortável, ofendida ou desconfiada. Mas como agora era a menina que tomava a iniciativa de uma reaproximação, Timmons não podia desperdiçar aquela grande chance.

O desejo de se vingar de Chad Clifford não havia desaparecido e Emily continuava sendo a melhor maneira de atingir o rapaz. Mas Hunter estaria mentindo se dissesse que era apenas por causa do seu plano de vingança que ele queria se reaproximar da garota. Algo havia mudado entre os dois depois que Emily e Hunter passaram algum tempo juntos e se conectaram. Timmons queria estar novamente perto dela, ouvir a voz suave de Sinclair, ter mais uma chance de tocar nos fios ruivos e sentir o sabor dos lábios dela. Vingar-se de Chad tinha se transformado apenas num bônus que acompanhava o prêmio principal que era ter Emily para si.

Hunter não esperava que Emily se jogasse nos braços dele naquela tarde, mas já era uma grande vitória ver a garota tomando a iniciativa de uma reaproximação. O que Timmons definitivamente não esperava era aquele papo estranho sobre cadastro, competição das líderes de torcida e fotos oficiais.

- Do que você tá falando? Tá, eu saquei que o fotógrafo furou com você. Mas o que eu tenho a ver com isso, Emily?

Como Hunter tinha acabado de sair de uma ducha no vestiário masculino, os cabelos do rapaz ainda estavam úmidos e jogados para trás. A pele fresca pelo banho também exalava um cheiro gostoso de sabonete. O dia estava quente, então Timmons enfiou sua jaqueta na mochila e usava apenas a calça jeans e uma camiseta de mangas curtas que não escondia os músculos bem definidos nos braços do rapaz.

O discurso de Emily parecia um monte de peças soltas, mas Hunter finalmente entendeu onde a garota queria chegar quando ela explicou como Timmons se encaixava naquela história. A primeira reação do rapaz diante do pedido de Sinclair foi um “pfff”, acompanhado por uma risada e uma expressão de descrença. E não foi por modéstia que Hunter duvidou de suas habilidades como fotógrafo. O rapaz de fato não enxergava aquela qualidade em si mesmo.

- Comeu bosta, Sinclair? Eu não entendo nada sobre fotografia. Sim, a sua foto ficou legal, mas talvez só tenha sido um golpe de sorte. Eu não sou profissional, nunca fiz nenhum curso. Eu nunca nem li nada sobre esse assunto! Com certeza eu vou arruinar as fotos da torcida.

No álbum de fotos no celular de Hunter estava a prova de que ele gostava de registrar imagens e que era muito bom naquilo. Diferente da maioria dos adolescentes que lotava a memória do celular com selfies ou fotos com os amigos, Timmons possuía várias imagens de paisagens e de pontos turísticos de Colchester. Hunter sabia selecionar bons ângulos e usava o jogo de luzes a seu favor, mas ainda assim eram fotos amadoras feitas pela câmera básica de um celular.

O rapaz sequer possuía um equipamento fotográfico de verdade, então ele se sentiu bastante inseguro com a proposta de Emily. Perfeccionista, Sinclair transformaria a vida dele num inferno se Hunter estragasse algo tão importante quanto as fotos da torcida. Mas, por outro lado, a capitã da torcida não parecia ter muita escolha. E o olharzinho de súplica e desespero que ela lançou na direção de Timmons acabou desarmando o rapaz.

Depois que o foto que Hunter tirou de Emily não apareceu nas redes sociais da garota, o rapaz ficou sinceramente decepcionado e certo de que Sinclair não havia gostado tanto assim do registro. Mas o pedido de Emily e a imagem como fundo de tela do celular dela alimentaram o ego de Hunter e ele não conseguiu conter uma pontinha de orgulho e satisfação.

- Tá, eu posso tentar… Pega o equipamento do colégio e eu dou uma olhada, preciso pelo menos aprender a mexer na câmera. - Hunter acrescentou com um olhar mais sério - Não precisa me pagar ou fazer os meus trabalhos escolares. Eu não vou cobrar nada pra te ajudar, Emy. A única coisa que eu quero em troca é a promessa de que você não vai surtar e comer o meu fígado se as fotos ficarem ruins. Não é mesmo uma boa ideia, ainda mais considerando que o meu fígado já deve estar beeeem zoado pelo álcool.
Hunter Timmons
Hunter Timmons
Admin

Mensagens : 61
Data de inscrição : 25/02/2024

Ir para o topo Ir para baixo

- Vermont - - Página 2 Empty Re: - Vermont -

Mensagem por Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 2 de 10 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10  Seguinte

Ir para o topo


 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos