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Mensagem por Emily Sinclair Ter Abr 30, 2024 6:45 pm

- Quando foi que eu tentei mudar você, Hunter? Quando foi que eu fiz qualquer coisa para tentar mudar quem você era??? Tudo o que eu fiz foi estar ao seu lado, te ajudando e tentando te apoiar nas suas escolhas!

No começo daquela conversa, ao ser surpreendida por Hunter no estacionamento do Pat's, Emily estava distante e magoada demais. As confissões do ex-namorado despertaram uma dor ainda mais profunda e Emy ficou mais sensível com as declarações feitas por ele. A decisão de Emy estava tomada, mas ela ainda experimentou mais uma onda de diferentes sentimentos ao sentir a irritação, como resposta da postura dura e defensiva de Timmons.

Era injusto que Hunter a acusasse de querer moldá-lo, quando Emily nunca o recriminou ou tentou modificá-lo. Emy tinha insistido até ajudar o rapaz a reencontrar algo que amava e que lhe desse motivação na vida, e no máximo tinha tentado fazer o rapaz se acalmar e agir com a emoção quando ele deixava a impulsividade e as moções falarem mais alto. Mas Sinclair sempre tinha defendido Timmons, mesmo diante dos piores comentários, de quem quer que fosse, então não era certo que agora ela escutasse que não tinha lhe amado de verdade ou que esperava por algum tipo de mudança.

- Eu não queria um príncipe encantado, mas eu também não queria alguém que me enganasse e partisse o meu coração como você fez! Então é, não tem mais nada que você possa dizer ou fazer, Hunter, porque você já estragou tudo!

Qualquer sinal de fragilidade tinha se dissipado naquelas últimas palavras, mas apesar de soar dura, firme e decidida, Emy ainda não era capaz de esconder o quanto estava arrasada com o fim daquela história, principalmente pelo modo que as coisas terminavam.

***

Era verdade que os pensamentos de Emily estavam bem distantes daquela quadra, que seus movimentos estavam no modo automático e que ainda era o rosto de Hunter que ocupava a sua mente enquanto o ensaio da torcida chegava ao fim, mas não foi por uma mera distração que a menina errou a sequência seguinte dos passos, indo para um sentido completamente diferente do restante do time.

Com uma ruguinha entre as sobrancelhas, Emy se virou para olhar por cima do ombro enquanto literalmente todas as meninas jogavam o quadril e os braços em uma única batida, enquanto ela tinha dado sozinha dois passos para frente e um giro.

- Espera, não foi isso que nós tínhamos ensaiado. É frente, giro, salto. E não balança, balança e gira.

Algumas meninas se entreolharam diante do comentário da capitã, e como nenhuma delas parecia ter coragem de dizer o que estava acontecendo, foi Pamela quem tomou a dianteira. O semblante da menina era forçadamente cuidadoso, mas Emy conhecia muito bem aquele brilho de satisfação no olhar quando a colega se aproximou, com uma das mãos na cintura.

- É que nós fizemos algumas modificações nos últimos ensaios e achamos que ficava melhor assim.

- Como assim? Vocês trocaram os passos sem me envolver?

- Bom, você não estava aqui, Emy. E nós não podíamos ficar sentadas de braços cruzados esperando você decidir voltar, não é? - Foi com um ar muito mais forçado que Pamela se aproximou de Emily, mas ela definitivamente não soava tão complacente quanto gostaria. - Olha, a gente te entende, tá? Acho que todas nós aqui já tivemos alguma decepção amorosa. Claro, não ao ponto de ser usada por um cara só por causa do basquete, mas a gente te entende. Só que não dava para ficar esperando você voltar, o próximo jogo é no final de semana e precisamos estar preparadas.

Os cabelos de Emily eram naturalmente vermelhos, mas as palavras de Pamela e principalmente a maneira de falar fizeram com que o rosto da menina também ficasse rubro. Como Sinclair tinha precisado de alguns dias para se recuperar da imensa decepção, ela tinha faltado alguns dias de aula na MMU. Consequentemente, perdido também as reuniões do comitê de eventos e os treinos da torcida.

Aquele era o primeiro dia de Emily de volta a sua rotina, e embora ainda estivesse longe de se recuperar e se sentir bem, ela tentava se agarrar aos seus afazeres e suas responsabilidades para tentar diminuir um pouco daquela pressão e da dor que Hunter tinha deixado no seu peito. Emy já tinha assistido a algumas aulas e falado com alguns colegas pelos corredores, mas era a primeira vez que alguém mencionava a vingança de Hunter de forma tão escancarada. E era óbvio que Pamela tinha feito aquilo de propósito.

Algumas garotas se entreolharam desconfortáveis, mas Pamela se aproveitou que Emily tinha ficado travada e sem reação para insistir na sua vitória. Era difícil esconder a satisfação de assistir Sinclair saindo derrotada, sem Hunter e ainda humilhada com a história que agora envolvia os corredores da MMU.

- Nós vamos continuar com a última versão, não dá mais tempo de mudar nada, amiga. Vamos lá, meninas! Mais uma vez!

Como se fosse a nova capitã do time, Pamela assumiu o lugar frontal e deu novamente play na música para que elas repetissem o ensaio mais uma vez. E daquela vez, ainda sentindo o baque que se somava a todo o restante que já vinha lhe corroendo por dentro, Emily continuou estática, sem acompanhar o ritmo e os passos das colegas.

***

O bracinho de Emily era fininho, mas seu punho pequeno conseguiu fazer um grande barulho ao socar a máquina de bebidas que ficava em um corredor próximo do refeitório da MMU. O barulho, entretanto, não foi suficiente para fazer com que a latinha da Coca-Cola Zero saísse da trava e caísse na saída. Era como se o universo inteiro estivesse contribuindo para sua frustração.

- Uuuuuuuuuuuuuurg, máquina idiota! A sua única função é liberar as bebidas, como consegue ser tão incompetente nisso???

- Tendo um dia ruim?

Concentrada nos socos que dava na máquina, Emily não tinha notado a proximidade de Chad até o rapaz parar ao lado dela. O rosto do rapaz já não estava mais inchado, mas ainda era possível notar alguns pontos arroxeados dos hematomas deixados por Hunter, o que provavelmente só tinha contribuído ainda mais para as fofocas.

- Eu só queria uma maldita bebida gelada, e eu nem me importo com os aditivos químicos e cancerígenos que a Libby tá sempre falando! É pedir demais?

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Com um ar dramático, Emily passou uma das mãos pelos cabelos ruivos e fechou os olhos para respirar fundo, tentando recuperar minimamente o controle do seu humor. E sem que ela precisasse dizer mais nada, Clifford ergueu um dos pés e deu um chute leve na lateral da máquina, em uma região já um pouco amassada, o que indicava que era um ponto conhecido por outros alunos da MMU. Com um estalo, a trava que prendia a latinha terminou de deslizar e ela escorregou até a saída, onde Chad prontamente buscou para entregar nas mãos da ex-namorada.

- Prontinho. O segredo é esse lado esquerdo. Sempre destrava qualquer um dos níveis.

- Obrigada. - Emily aceitou a bebida, mas sem se preocupar em abrir a latinha, ela deslizou o rosto pelos pontos escuros que Chad ainda tinha no rosto. - Eu não sabia que você já tinha voltado para as aulas.

- Primeiro dia. - Chad admitiu com um ar cansado enquanto os dois começaram a andar lado a lado. - Você também não estava vindo?

Emy apenas apertou os lábios com um sorrisinho infeliz enquanto negava com a cabeça. Quando os dois alcançaram o corredor mais movimentado, seguindo na direção do laboratório de química, alguns olhares passaram a se prender neles e algumas pessoas não disfarçavam os cochichos. Como dois alunos bastante populares na MMU, Emily e Chad estavam acostumados a ser o centro das atenções e também já tinham sido motivos de várias fofocas por causa das suas brigas escandalosas no passado. Naquela tarde, contudo, eles sabiam exatamente qual era o assunto mais comentado.

- Aparentemente o Kendall não sabe ficar com a língua dentro da boca. Quando ele soube que você e o Timmons terminaram, saiu por aí espalhando do plano como se fosse a coisa mais incrível que já tinha acontecido em Colchester. Acho que, na cabeça dele, isso faria com que eu me sentisse pior.

- É, pensar nunca foi o forte do Kendall.

- Então... - Chad esperou que Emily entrasse no laboratório e se acomodasse em uma das bancadas antes de se colocar ao lado dela, e ainda olhou ao redor para se certificar de que não havia ninguém escutando a conversa antes de fazer aquela pergunta. - Você falou com o Timmons desde...?

- Sim. - Os ombros de Emily ficaram tensos e ela parecia desconfortável por falar de Hunter com Chad. - Sim, nós dois conversamos.

Como Emily manteve o olhar preso no quadro branco enquanto alguns colegas entravam no laboratório para se acomodar, ela não notou como Chad pareceu ligeiramente mais tenso e até prendeu a respiração por alguns segundos.

- Vocês dois voltaram?

- O que??? - A surpresa com aquela pergunta foi tão grande que Emily não mediu o tom de voz e acabou atraindo alguns olhares, e ela também não escondeu a incredulidade ao girar rapidamente a cabeça e encarar Chad como se fosse um alienígena. - É claro que não! Mas que pergunta é essa?

Hunter Timmons era um excelente manipulador e já estava provado a grande influência que ele tinha sobre Sinclair. Mas muito além de achar que Emy era uma garota bobinha que acreditaria em qualquer bobeira, Chad tinha escutado da boca de Hunter que ele amava a ruivinha de verdade, então a sua preocupação era que o rapaz tivesse conseguido convencer a menina.

- Você estava lá, você escutou tudo o que ele disse, Chad! - Dessa vez Emy conseguiu usar uma entonação mais contida para que apenas o ex-namorado escutasse. - O Hunter mentiu para mim, e tudo o que ele fez foi para te atingir. Você acha mesmo que eu ficaria com alguém que me deixou ficar tão exposta na frente de outra pessoa, como ele fez na quadra?

Aquela lembrança era algo que incomodava profundamente tanto Emily quanto Chad, então foi notável o ar mais tenso que surgiu entre os dois por alguns instantes. Enquanto o professor entrava na sala e saudava a turma, Clifford deslizou o olhar ao redor e depois se voltou para Emy, tentando quebrar um pouco aquele clima ruim.

- Pensa pelo lado positivo, pelo menos eu já tinha te visto sem roupa um milhão de vezes antes.

Era um comentário bobo e até meio infantil, e por um instante Emily estreitou os olhos para repreender Chad. Mas foi o olhar do rapaz que claramente estava se esforçando para que ela não colocasse mais tanto peso no que tinha acontecido que acabou desarmando Emy e a garota soltou um risinho enquanto rolava os olhos.

- Ridículo.

A “ofensa” arrancou um sorriso largo e satisfeito de Chad, como se ele tivesse acabado de receber o mais nobre dos elogios. Seguindo as orientações do professor, Clifford puxou os óculos de proteção e as luvas antes de começar a separar os produtos químicos que usariam na aula, enfileirados sob a bancada. Ao contrário dele, Emy não se mexeu enquanto o observava em silêncio.

- O que você está fazendo, Chad?

- Como assim? - Ele soou sinceramente confuso enquanto ligava o gás e uma pequena chama de fogo surgia sob o tubo de ensaio.

- O que você está fazendo? Nós dois terminamos há meses, já conversamos sobre não ter mais um futuro para nós dois. Eu fiquei com um dos seus melhores amigos e não acreditei quando você tentou me contar a verdade! Era para você me odiar. Então, o que você está fazendo?

Hunter tinha acusado Clifford de ser um otário que passava semanas e meses se humilhando na esperança de voltar com a ex-namorada. E Emily também sentia que já tinha dado inúmeros motivos para que Chad desistisse dela. Mas independente do que Sinclair fizesse ou dissesse, ali estava o rapaz, sendo gentil e atencioso. Chad só precisou de alguns segundos de reflexão e encarava Emily no fundo dos olhos ao responder.

- Você precisa de uma dupla para o trabalho de Química, então é isso que eu vou ser. O que você precisar, eu estarei aqui, Emy.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Ter Abr 30, 2024 10:00 pm

Antes que Liberty Bloomfield pisasse em Colchester, Debby não costumava se esforçar muito para conseguir um pouco de atenção do quarterback da MMU. Mesmo que Dexter nunca tivesse feito nenhuma promessa ou assumido um relacionamento mais sério com a colega, os dois passavam muito tempo juntos e era óbvio que ambos aproveitavam igualmente aquela experiência. Normalmente Debby só precisava de um sorrisinho mais insinuante para conseguir trazer Thompson para os seus braços e não foram poucas as vezes que os dois jovens se renderam a beijos, amassos ou transas.

Contudo, aquela dinâmica se transformou radicalmente com a chegada da novata. Não era novidade para Debby ver Dexter flertando ou até ficando com outras garotas, mas com Liberty a situação foi completamente diferente. Desde o começo ficou bem claro que Dexter não enxergava Libby como só mais uma aventura casual e essa teoria se tornou ainda mais sólida quando os dois assumiram um namoro. Pela primeira vez, Thompson se comprometeu com uma garota, começou a se comportar como um cara apaixonado e foi fiel a ela. Consequentemente, Debby tinha motivos de sobra para não gostar nem um pouco da novata que tinha chegado em Colchester e tirado dela o título de “preferida” do garoto mais popular do colégio.

Exceto por algumas trocas de farpas e olhares atravessados, nunca houvera um embate de verdade entre as duas meninas. Debby e Libby não eram amigas, mas também nunca tinham se atracado pelos corredores. Desde o início, Thompson deixou muito claro qual era a sua escolha, então nem havia brechas para uma disputa entre as meninas. Mas foi inevitável o surgimento de uma rivalidade.

Debby não gostava de Liberty e se sentia ameaçada pela novata por ter perdido Dexter. Na visão de Debby, era muito humilhante ter sido trocada por uma nerd, por uma menina que não parecia combinar em nada com o quarterback. Embora Thompson nunca tivesse feito nenhuma promessa para Debby, intimamente a garota torcia para que algum dia o relacionamento entre eles se tornasse mais sólido. Então a chegada de Liberty frustrou os planos da outra garota.

Do outro lado daquela história, Bloomfield também não gostava da colega e nem se sentia à vontade perto de Debby. Thompson nunca deu motivos para que a namorada se sentisse enciumada ou insegura, mas que garota não se sentiria nem um pouco ameaçada por uma rival como Debby? Dona de uma beleza clássica e inegável, líder de torcida, experiente, popular, com lindos fios loiros esvoaçantes e todas as curvas nos lugares certos. Por mais que Liberty acreditasse no amor e na fidelidade do namorado, era extremamente incômodo pensar que uma garota atraente como Debby estava tão perto de Dexter e tão interessada nele. Era como se lá no fundo do subconsciente de Libby existisse o receio de que Thompson poderia não ser tão forte e acabar cedendo àquela enorme tentação.

Durante o relacionamento com Liberty, Dexter foi fiel à namorada e resistiu a todas as investidas de Debby. Mas, naquela noite, Libby teve a nítida impressão de que o ex-namorado só tinha esperado o fim da relação para ceder aos encantos da antiga ficante. As mensagens insistentes que chegavam ao celular de Thompson, o comportamento suspeito do rapaz e agora o nome de Debby aparecendo no visor digital do carro eram peças que se encaixavam e que faziam Libby ter certeza de que Dexter e Debby estavam estreitando os laços de intimidade novamente. E era doloroso demais para Bloomfield pensar que o ex-namorado só tinha precisado de poucos dias após o término para superá-la e para engatar um novo romance.

Nenhum comentário foi feito, mas os segundos em que os olhos de Liberty ficaram presos no visor denunciavam que ela tinha lido o nome de Debby. O coração de Bloomfield se comprimiu dentro do peito dela, um nó apertou sua garganta e a garota experimentou uma desagradável mistura de ciúme, tristeza e humilhação. Porque, independente da maneira como aquela relação havia terminado, era mesmo muito humilhante pensar que ela ainda estava sofrendo pelo término do namoro ao mesmo tempo em que Dexter já estava transando e se divertindo com uma linda líder de torcida.

- Eu preciso ir... – Liberty desviou o olhar com a desculpa de se soltar do cinto de segurança e odiando ouvir a sua voz soando tão frágil – Não vou tomar mais o seu tempo, Dexter. Eu tenho muito o que estudar e imagino que você também já tenha um “compromisso” esta noite, não é?

O tom que a menina usou para se referir ao compromisso que esperava por Dexter naquela noite soou amargo e enciumado, mas Bloomfield saltou para fora do carro sem esperar por uma resposta do ex-namorado. Com passos firmes e os braços cruzados numa postura defensiva, Libby marchou até a porta de entrada da casa das Sinclair sem nem mesmo olhar para trás. Principalmente porque ela temia ver o carro de Dexter fazendo um retorno na rua para seguir na direção da casa de Debby.

***

- Não é justo. Não é nem um pouco justo...

Liberty fez uma pausa nas reclamações para enfiar uma colher lotada de sorvete de menta na boca. Como ela não era a única garota daquela casa enfrentando uma desilusão amorosa, o congelador estava bem abastecido com potes de sorvete e Libby sabia que Emily não sentiria falta de um deles.

A pessoa com quem Liberty conversava naquela noite estava do outro lado do país. Mas, como aquela era uma chamada de vídeo, Kate conseguia ver claramente o rostinho abatido e choroso da filha através da tela do celular. Libby claramente estava enfrentando uma fossa e a mãe da menina se sentia péssima por não poder acomodá-la em seus braços e sussurrar no ouvido dela que tudo ficaria bem.

- Eu sinto muito, querida. Eu sei o quanto você gostava desse rapaz e eu sinto muito que não tenha dado certo. O que houve, afinal?

Como Kate não podia nem sonhar que Leonard Wooton havia procurado (e roubado) a meia-irmã, Libby não podia contar muitos detalhes sobre o término do namoro com Dexter. Por isso a menina fez uma pequena pausa, deixou o pote de sorvete de lado e soltou um suspiro enquanto olhava a imagem da mãe na tela do celular e fornecia uma resposta muito vaga para Kate.

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- Nós somos muito diferentes, mãe. Não deu certo...

Kate sabia que existia algo a mais por trás daquela história, mas ela já conhecia muito bem a personalidade arredia da filha para saber que ela não arrancaria nada de Liberty enquanto a menina não quisesse falar sobre aquele assunto. Mas a mãe de Libby percebeu facilmente que existia outra garota fazendo Liberty se sentir insegura e inferiorizada.

- Não é justo. – Liberty repetiu o desabafo e dessa vez foi um pouco mais específica – A genética me odeia, né? Por que eu não nasci com os seus cabelos ruivos? Ou com os seus olhos verdes? Ou com esse seu corpão!? Eu nem fazia questão de todo o pacote, mas é revoltante que eu não tenha herdado NADA da sua beleza, mãe!

- Você é linda, Libs.

- Não, eu não sou. Eu sou baixinha, tenho um corpo estranho, quadris largos, olhos grandes demais, um cabelo sem graça... É por isso que a minha vida sentimental é uma grande merda. Tudo seria muito diferente se eu fosse uma ruiva escultural!

- Ah, claro. De fato os cabelos ruivos são uma garantia de sucesso! Afinal eu, a sua tia Hils e a sua prima Emily somos suuuuper bem resolvidas em nossas respectivas vidas amorosas, né?

A alfinetada irônica de Kate deixou Liberty sem argumentos, afinal três belas ruivas vinham tendo tantos fracassos amorosos quanto ela. Aproveitando-se do silêncio da filha, Kate tomou novamente a palavra com um ar mais sério.

- Eu não sei o que o tal Dexter fez, mas se ele te traiu ou fez qualquer comentário sobre a sua aparência...

- Não, mãe. – Libby novamente soltou um suspiro ao interromper as ameaças de Kate para defender o rapaz – Ele não fez nada. A culpa é toda minha. Fui eu que errei. Esquece esse papo sobre ruivas, ok?

“Até porque o Dexter gosta de loiras”. O subconsciente de Liberty completou aquela provocação, como se estivesse gostando de torturar ainda mais a garota. E para garantir que a mãe não insistiria naquele assunto, Libby mudou logo o foco da conversa.

- E quanto ao meu aniversário? Você acha que vai conseguir vir aqui me visitar?

Ainda faltavam algumas semanas para o aniversário de Liberty, mas a enorme distância entre Seattle e Colchester obrigaria Kate a programar aquela viagem com antecedência. Libby já imaginava que seria difícil para a mãe, mas ainda assim ela se sentiu infeliz e decepcionada ao ver a culpa se refletindo no semblante de Kate.

- Querida, eu não vou conseguir, eu sinto muito. Você sabe que eu comecei num novo emprego há duas semanas, eu não posso pedir uma folga tão rápido! Mas eu prometo que serei a primeira a te ligar e que vou participar da festinha com uma chamada de vídeo, ok?

- Não vai ter festinha, mãe. – apesar do semblante tristonho, Libby parecia conformada com a situação – Eu não estou no clima para festas, acho que ninguém aqui está...
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Mensagem por Hunter Timmons Ter Abr 30, 2024 10:33 pm

O término com Emily fez com que Hunter pensasse ter chegado ao fundo do poço. Num estalar de dedos, toda a felicidade que ele sentia e a esperança de um futuro ao lado da namorada evaporaram e escaparam por entre os dedos do rapaz. Mas Timmons descobriu que ainda havia muita lama para se afundar naquele poço depois de passar uma noite nas ruas de Colchester.

Como um verdadeiro sem-teto, Hunter não teve onde se abrigar naquela noite chuvosa. Voltar para casa com o rabinho entre as pernas depois de ter dito palavras tão definitivas para o pai não era uma opção. E foi com um gosto amargo na garganta que Timmons se deu conta de que não havia restado nenhum colega ou amigo que pudesse acolhê-lo naquele momento difícil.

Depois que o escândalo sobre as drogas se espalhou e chegou aos ouvidos de todos os moradores de Colchester, Hunter sabia que ninguém abriria facilmente as portas da própria casa para ele. E nem mesmo com os dois melhores amigos de infância o rapaz podia contar. Chad Clifford agora era declaradamente o pior inimigo de Hunter e o distanciamento de Dexter naqueles últimos dias fez com que Timmons concluísse que Thompson havia escolhido ficar ao lado de Chad e se voltar contra ele naquela guerra.

A única pessoa em Colchester que ainda demonstrava o mínimo de afeto e empatia por Hunter era Liberty Bloomfield. Mas, ironicamente, Libby morava na última casa daquela cidade que abriria as portas para recebê-lo. E depois de um bom tempo vagando sem rumo pelas ruas vazias, Hunter acabou cedendo à exaustão e vivendo a terrível experiência de dormir sem um teto sobre a sua cabeça.

Timmons ainda não fazia ideia do que faria quando o dia amanhecesse. Independente se era dia ou noite ou se havia sol ou chuva no céu, Hunter ainda não tinha para onde ir e nem dinheiro para se sustentar. Então foi quase por milagre ou interferência divina que Dexter apareceu no caminho de Timmons antes que o rapaz fizesse mais uma grande burrada. Era difícil saber se Thompson estava oferecendo ajuda por pena ou por amizade. Mas, fosse como fosse, Hunter não estava em condições de recusar nenhuma oferta naquele momento.

- Eu já não aguentava mais viver naquela casa. – a entonação do rapaz soou sombria e Hunter continuou com um olhar perdido, fitando a caneca de café sobre a mesinha do Pat’s – Eu estava aguentando esse sacrifício todo porque tinha planos para o futuro, porque eu precisava da grana pra pagar os advogados e me livrar da cadeia. Mas agora... – Timmons ergueu um ombro com bastante descaso – Nada mais importa agora.

Era bizarro ouvir um rapaz tão jovem falando sobre o próprio futuro sem nenhum entusiasmo ou esperança, mas se a memória de Dexter fosse boa o rapaz se lembraria que não era a primeira vez que aquilo acontecia. Hunter reagiu da mesma maneira derrotada e desmotivada após o acidente que o tirou das quadras. Emily tinha dado um novo rumo e uma nova motivação para o rapaz, mas depois de perdê-la Timmons parecia ter mergulhado novamente naquele mesmo lugar escuro e sombrio de antes.

Depois de passar a noite inteira na rua, Hunter estava com as roupas amassadas e empoeiradas e o semblante dele nunca estivera tão abatido como naquele momento. Por sorte, o Pat’s estava praticamente vazio àquela hora da manhã e quase ninguém testemunhava a aparência desleixada de Timmons. O que era uma grande sorte, afinal Hunter alimentaria ainda mais as fofocas sobre ser um viciado com aquele visual sujo, abatido e cansado.

- Eu sei que fiz merda, tá bom? – Hunter se colocou na defensiva antes mesmo que Dexter pensasse em iniciar algum tipo de bronca – Eu sei que todo mundo tem motivos pra estar puto comigo. Eu não vou tentar fugir da responsabilidade pelos meus erros, Dex. Mas não é verdade essa história que eu usei a Emily o tempo inteiro. Eu me apaixonei de verdade por ela. Eu nunca menti quando disse que a amava. E eu inclusive falei isso pro Kendall naquele maldito dia do estacionamento, mas é óbvio que o seu amiguinho Clifford cortou essa parte da gravação!

Uma sombra cobriu os olhos de Hunter ao mencionar a jogada suja de Chad, mas desta vez o rapaz estava tão cansado que não deixou que a raiva se apoderasse dele. Depois de ter passado uma madrugada fria e chuvosa na rua, Timmons ainda sentia o corpo gelado, então as duas mãos dele seguraram a caneca de café na esperança de que a bebida quente amenizasse um pouco o desconforto da hipotermia.

- Eu precisava sair de casa, mas a verdade é que eu não tenho para onde ir. E vai ser difícil tentar me reerguer em Colchester. Eu duvido que alguém nesse buraco de cidade me dê um emprego ou um lugar pra morar. O xerife disse que eu não deveria sair do estado durante o processo, então a minha ideia agora é ir pra outra cidade aqui perto. Qualquer lugar onde as pessoas não saibam quem eu sou e não me odeiem.

Na cabeça de Hunter, aquela era mesmo a única solução para o grande dilema no qual ele havia se metido. Numa cidade onde o nome dele não estivesse envolvido em fofocas tão graves, Timmons tinha mais chances de arrumar um emprego e de viver em paz. O que Hunter não calculou era que, naquele momento, ele estava diante de um dos rapazes mais populares e queridos de Colchester.

E Dexter mostrou o quanto ele era influente naquela cidadezinha quando só precisou de um sorriso doce e meia dúzia de frases gentis com a dona do estabelecimento para conseguir resolver parte do problema do amigo.

***

Anotar pedidos, servir mesas e receber gorjetas certamente não era o que Hunter sonhava para o seu futuro. Mas ao menos aquele emprego no Pat’s ajudaria Timmons a se sustentar enquanto a sua vida estivesse revirada de pernas para o ar. Hunter ainda pensava em usar o seu dom na fotografia como um meio de ganhar a vida, mas ele precisava de um emprego mais estável para se sustentar enquanto aquele sonho não se tornava uma realidade.

Sendo o único filho de um dos homens mais ricos do estado, era para Hunter abominar a ideia de trabalhar servindo mesas em uma lanchonete local. Um rapaz mais esnobe ou arrogante encararia aquela tarefa como algo humilhante ou se sentiria incomodado com as fofocas maliciosas que se espalhariam por Colchester nos próximos dias. Mas Timmons estava tão aliviado por ter se livrado dos cavalos e por ter conseguido uma chance de se reerguer que tudo o que ele sentia no momento era gratidão.

Com roupas limpas e um avental vermelho contendo o nome da lanchonete amarrado em sua cintura, Hunter iniciou o trabalho no Pat’s naquele mesmo dia. Durante a maior parte do dia, o estabelecimento funcionava com pouco movimento e numa rotina bem tranquila. Mas Timmons sabia que o clima estava prestes a mudar no fim da tarde.

Por estar localizado tão perto da MMU, a maior parte dos clientes do Pat’s eram os alunos do colégio. Consequentemente, o local costumava ficar cheio ao fim das aulas. Hunter estaria mentindo se ele dissesse que não estava nem um pouco preocupado com a reação que seus antigos colegas teriam vendo Timmons ocupar aquela nova posição, mas em nenhum momento o rapaz pensou em recuar ou desistir daquele emprego.

Como Hunter já esperava, o movimento no Pat’s começou a aumentar no fim da tarde. Não eram poucos os olhares que se fixavam naquele e várias pessoas nem se preocupavam em disfarçar a surpresa ou abafar os cochichos. Mas o que realmente afetou o rapaz foi o instante em que o reflexo dos fios ruivos de Emily Sinclair entraram no seu campo de visão.

Petrificado atrás do balcão, Timmons torceu intimamente para que a ex-namorada se sentasse do outro lado do salão e fosse servida pela outra garçonete. Mas é claro que o destino não perderia a chance de zombar ainda mais dele. E, para desespero de Hunter, Emily não o notou e acabou ocupando uma das mesinhas que o novo funcionário deveria servir.

- Hey, Tina! – Hunter se inclinou e chamou pela colega quando a garçonete passou pelo balcão com passos rápidos – Tô meio agarrado aqui! Consegue atender a mesa dezessete?

- Tá brincando, né??? – a garçonete pareceu irritada e mostrou a própria bandeja abarrotada de comida – Os atletas se sentaram do meu lado hoje! E hoje rolou treino de futebol, então pode apostar que eu estou MUITO mais agarrada do que você, Timmons! Vire-se!

A boca de Hunter chegou a se abrir para que ele se oferecesse de bom grado para trocar de setor com a colega, mas Tina sumiu de vista antes mesmo de ouvir aquela proposta. Com um suspiro pesado e sem outra alternativa, Timmons puxou o bloquinho de pedidos e se dirigiu até a mesa dezessete como se estivesse caminhando para um sacrifício mortal.

Não era vergonha por estar trabalhando como atendente numa lanchonete. Hunter não via nenhum problema naquele trabalho e nem se importava com as fofocas maldosas que se espalhariam pela cidade. O que realmente o incomodava era ter que falar novamente com a ex-namorada. Poucos dias tinham se passado desde a difícil e definitiva conversa com Emily, então Timmons ainda estava magoado demais e definitivamente não se sentia pronto para enfrentar mais uma dose de dor e desprezo. Portanto, a única saída encontrada pelo rapaz foi tentar soar o mais distante e profissional possível naquela abordagem.

- Boa tarde. O que vai querer hoje...?

Com os olhos presos no bloquinho de anotações, Hunter esperou por uma resposta e torceu para que Emily reagisse da mesma maneira mecânica e fizesse logo o pedido para libertá-lo daquela situação constrangedora. Mas, como já era de se esperar, Sinclair ficou tão chocada em encontrar o ex-namorado ali, naquela situação, que ela ficou sem palavras. E o silêncio que se alongou por muitos segundos acabou obrigando Hunter a erguer o olhar para encará-la.

- Já escolheu o que vai querer ou precisa de mais tempo com o cardápio para se decidir?
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Mensagem por Emily Sinclair Qua maio 01, 2024 10:40 pm

- Então, nós vamos começar com “Sexta-Feira 13”. Ainda vai estar cedo, é o primeiro horário e as pessoas ainda vão estar chegando, se acomodando e preparando os petiscos. Depois o público vai estar mais concentrado, vamos passar “A Maldição da Residência Hill”. E por último, depois que tiver próximo da meia noite, começamos com “Chucky”. Os clássicos sempre dão certo!

Quando as pessoas falavam durante as reuniões do comitê de eventos, normalmente já estavam com o olhar cheio de expectativas para saber a opinião de Emily Sinclair. Diferente do time da torcida, as pessoas não invejavam ou cobiçavam a posição de presidência que a menina ocupava naquele grupo. Mesmo com seu jeitinho autoritário e perfeccionista, todos sabiam que onde Emy encostasse seu dedo, os eventos acabariam sendo um grande sucesso, então eles estavam sempre ansiosos em saber a opinião dela.

E a verdade era que Emily não costumava poupar a sua opinião, fosse ela uma aprovação empolgada e admirada ou uma negação horrorizada. Com voz ativa e opiniões fortes bem formadas, Sinclair fazia por merecer aquela posição de liderança, sempre trazendo ideias novas e divertidas. Então foi uma surpresa que o comentário de um dos colegas tivesse sido completamente ignorado por ela, que continuava com o olhar um pouco perdido e distraído em um ponto qualquer da mesa.

- Ahn... Esses filmes não são meio velhos? Tem certeza que são as melhores escolhas? - Uma das garotas sentada na ponta tentou arriscar sua opinião quando Sinclair permaneceu muda.

- Não são velhos, são vintage! - O rapaz tentou defender o seu ponto de vista, e dessa vez foi mais direto para conseguir o que queria. - O que você acha, Emy?
Com todos os olhares voltados na sua direção, Sinclair ainda levou dois segundos para perceber que falavam com ela. A menina piscou algumas vezes, como se só então tivesse despertado, e rapidamente deslizou o olhar para a apresentação projetada no telão branco, mostrando o slide com a seleção de filmes.

- Hm? O que? A programação? Está ótima. Bom trabalho, pessoal. Eu vou até Burlington amanhã, terminar de comprar os itens para decoração. Mas preciso de voluntários para a preparação do estacionamento do clube no sábado, pela manhã. Não é porque as atenções estarão na tela que podemos negligenciar o lugar, é noite de Halloween!

Emy até tentou se esforçar para soar mais animada e concentrada na festa, mas os colegas se entreolharam um tanto desconfortáveis, e novamente foi a garota da ponta que pigarreou antes de explicar.

- Ahn, o clube não vai rolar mais, Emy. Falamos disso no segundo slide. Eles estarão fechados para um evento privativo.

- O que???? - Dessa vez Emily não precisou se esforçar para fingir que estava concentrada. - Como assim, fechados para outro evento? Eu reservei essa data desde o ano passado! Eles não podem simplesmente cancelar em cima da hora!

- É, eu sei! Mas nós recebemos essa notícia enquanto você estava fora. Eles não quiseram admitir, mas está na cara que receberam uma proposta muito melhor, né?

- Que proposta, amiga? - O rapaz murmurou com um ar irônico. - A gente não tem proposta nenhuma.

- Porque é uma festa beneficente! - Emily se defendeu com um rosnado. - Eles nos cedem o lugar e nós os colocamos como um dos apoiadores do evento, mas todo o valor dos ingressos é para uma instituição carente! Aqueles avarentos! Eu vou ter que resolver isso, eles não sabem com quem estão se metendo!

- A Rachel também já resolveu isso, Emy. - O garoto apontou para a menina da ponta, que sorriu orgulhosa. - A gente conseguiu o estacionamento do Pat's. Já temos todo o licenciamento da prefeitura e eles nos deixaram usar de graça, desde que a comida e a bebida seja comprada lá.

- Hm. - Emily fez um biquinho enquanto refletia, ainda irritada com a resposta do clube, mas avaliando aquela segunda opção. - É, não é uma má ideia. Mas eu ainda preciso ir e avaliar as instalações elétricas e a melhor estrutura para a projeção.

- Também já fiz isso. - Rachel estufou o peito. - Sério, Emy... Nós cuidamos de tudo enquanto você esteve fora. Mas pode contar comigo para arrumar toda a decoração!

- Comigo também! - Disse o outro rapaz. - Será a melhor noite de Halloween de Colchester!

***

O carrinho já estava abarrotado com esqueletos de plástico, lanternas, aranhas de mentirinha, tintas que seriam usadas para forjar sangue, lâmpadas verdes e vermelhas que mudariam o clima do Pat's e alguns quadros horripilantes para montarem todo o cenário da noite de Halloween. Emily já conseguia imaginar toda a decoração na sua cabeça e ela precisava admitir que organizar uma festa era a melhor maneira de enfrentar seus problemas, porque daquela maneira ela simplesmente podia fingir que Hunter Timmons não existia.

Não importava se Emily estava acordada ou dormindo, se estava no meio da aula, fazendo as sobrancelhas ou escovando os cabelos. Sua mente parecia insistir em trabalhar vinte e quatro horas por dia com um grande esforço para trazer as lembranças de Timmons. E isso significava se lembrar dos momentos mais felizes tanto quanto dos piores.

O coração de Emy não tinha esquecido Hunter em um estalar de dedos. Nem mesmo a profunda mágoa e decepção não conseguiam exterminar aquele amor que tinha se enraizado no seu coração. Racionalmente, Sinclair continuava listando todos os defeitos de Timmons e os inúmeros motivos para que ela não continuasse apaixonada. Os dois eram diferentes, Hunter tinha lhe usado em uma vingança, ele era um rapaz egoísta, manipulador, agressivo e problemático. Timmons não poderia ter sido mais certeiro durante aquele término: ele não era o príncipe encantado que Emily sabia que merecia ter ao seu lado.

O problema era que a lógica e a razão não tinham força nenhuma naquela batalha, porque apesar de todos os seus esforços, Emily ainda amava Hunter. Ela ainda estava magoada e não conseguia enxergar um futuro ao lado de um rapaz que tinha conseguido lhe usar e literalmente transar com ela diante de outro rapaz só por vingança. Hunter tinha usado os seus sentimentos e o seu corpo só para atingir Clifford e seria impossível recuperar a confiança depois disso. Mas nem isso era capaz de fazer Emy deixar de amá-lo.

Distraída com os corredores e empurrando o carrinho pesado, Emily seguiu até o final da loja, onde estavam amontoada as enormes abóboras que todos usavam como decoração em suas portas. Avaliando as opções, Emy chegou a tocar uma e puxar mais para perto, e foi só depois desse movimento que ela percebeu duas pessoas do outro lado da pilha de abóboras.

- Emy??? É você? Querida, quanto tempo!!!

A Sra. Clifford carregava uma cesta com algumas compras pequenas, mas rapidamente empurrou aquele peso para os braços do filho enquanto contornava a pilha de abóboras para puxar Emily para um abraço. Ao lado da mãe, Chad lançou um sorriso cúmplice para a ex-namorada, porque estava muito bem acostumado com aquela dinâmica. Lauren Clifford nunca tinha escondido o carinho com a antiga nora e a aprovação por aquele relacionamento.

- Oi Sra. Clifford, como vai? - Emy abriu um largo sorriso ao receber aquele abraço apertado. - Também estão fazendo as compras para o Halloween?

- Ah, não! Nossa casa já está toda decorada, um luxo! São só algumas coisinhas para o jantar. Vou fazer o prato preferido do Chad essa noite. - Brincando com as pontas dos cabelos ruivos da garota, a Sra. Clifford deslizava o olhar pelo rostinho de Emily, sem esconder como se sentia encantada. E Lauren não foi muito discreta ao lançar um olhar rápido na direção do filho antes de fazer aquela sugestão. - Por que você não vem jantar conosco? Aaah, vem, Emy! Nós estamos com saudade de você, o Calvin vai adorar te ver!

Chad parecia ter a quem puxar quando queria sondar e se aproximar de alguém. E se Hunter tivesse a chance de assistir aquela cena, ele certamente apontaria com deboche sobre tudo o que tinha dito no fim do relacionamento dos dois. Segurando a cesta de compras da mãe, acompanhando a Sra. Clifford no mercado e aquele ar de bom moço, Chad se encaixava mesmo muito bem naquele papel de príncipe encantado, o bom rapaz de uma boa família. O oposto de tudo que Timmons era.

Mais uma vez, se Emily fosse capaz de usar apenas a razão, ela usaria todos esses argumentos para aceitar o convite da Sra. Clifford. Voltar para Chad, fingir que Hunter nunca tinha existido e dar mais uma chance ao rapaz que obviamente se encaixava melhor ao seu lado (e o rapaz que nunca tinha desistido dela), parecia ser uma escolha fácil. Mas Sinclair sentia que o seu estoque sentimental já tinha se esgotado e ela não tinha cabeças para se envolver com ninguém enquanto seu coração ainda desejava Hunter. Muito menos alguém que só faria aquele velha novela dramática continuar com novos episódios.

- Ah, eu agradeço o convite, Sra. Clifford, de verdade! Eu sei que o seu quiche de cebola é o melhor de Colchester! Mas nós temos o evento de Halloween esse final de semana e eu ainda estou muito atrasada no meu cronograma.

- Aaaaah, mas que pena! - A Sra. Clifford apoiou uma das mãos no ombro de Emily e novamente olhou rapidamente para o filho antes de tentar contornar a situação. - Então na próxima semana! É meu aniversário, nós vamos fazer um churrasco. Eu faço questão que você venha, querida! Vou pedir para o Chad te enviar os detalhes, mas eu não aceito “não” como resposta!

– Hey, não olhe para mim! - Chad ergueu os ombros com um ar defensivo, mas não escondia o sorriso e o brilho no olhar ao ver a interação da mãe com a ex-namorada. - Você sabe como ela pode ser insistente. E inconveniente!

- Não seja deselegante, querido! A Emy é praticamente da família. Vá, e leve a sua mãe e a sua prima também! Quero todas vocês comigo, será uma tarde muito divertida!

***

Rachel já tinha garantido que estava tudo certo com as licenças da prefeitura e com a inspeção do Pat's para o evento que aconteceria naquele final de semana. A principal tarefa de Emily seria a execução prática para que o drive-in acontecesse, a decoração e a manutenção de todos os detalhes durante o evento. Mas como uma boa controladora que era, Sinclair não deixaria passar batido sem uma inspeção própria no lugar.

Mesmo que já tivesse ido ao Pat's inúmeras vezes, agora Emily estaria com um olhar crítico e objetivo. As tomadas nos lugares certos, geradores, espaço dos carros, como seria o fluxo de entrada e saída, a melhor posição para o telão e uma melhor forma de servir os clientes com as comidas e bebidas da lanchonete.

Quando Emily se acomodou em uma das mesinhas naquela tarde, ela já tinha uma extensa lista de atividades montada no celular. Algumas tarefas já tinham sido riscadas depois de fazer as compras das decorações, mas Sinclair repassava mentalmente diversas vezes tudo o que poderia ou precisaria ser feito. E como sua mente finalmente parecia ter se desligado um pouco de Hunter Timmons, foi como um balde de água fria (ou o choque de uma cadeira elétrica) que ela se viu diante do ex-namorado.

Por um instante, quando Hunter parou ao seu lado da mesa, Emy achou que o rapaz só estava passando algum tempo na lanchonete e que tinha se aproximado para mais uma sequência de desaforos e ofensas. Mas ao invés de alfinetadas e provocações, Timmons estava perguntando sobre qual seria o pedido dela. E só então o olhar de Emily deslizou até notar o avental que o ex-namorado usava.
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- O que você está fazendo aqui?

A simples presença de Hunter já fazia com que a respiração de Emily ficasse mais pesada e acelerada. E ela não estava perguntando o que ele fazia ali no sentido literal. O que Sinclair realmente queria saber era o que Timmons estava fazendo usando um avental da lanchonete e anotando pedidos.

- Isso é algum tipo de pegadinha? - Ela inclinou o tronco para frente e girou a cabeça, mas ao ver que a outra garçonete não parecia se importar com o fato de Timmons estar usando um avental e atendendo clientes, Emily precisou aceitar que o rapaz estava mesmo trabalhando. - Desde quando você trabalha aqui, Hunter?! O que aconteceu com o haras??? O seu pai não disse que...

Por ter acompanhado de perto o drama dos Timmons, as imposições de Henry e como Hunter tinha ficado encurralado para obedecer as regras apenas para conseguir garantir um bom advogado, Emily levou alguns segundos para entender aquela súbita mudança na vida do ex-namorado. Não fazia sentido que ele tivesse saído do haras e agora estivesse trabalhando no Pat's, o Sr. Timmons jamais concordaria com aquilo, o que só podia significar que ele também não manteria o advogado que Hunter precisava.

- Você saiu de lá? Como assim? Mas e o advogado? E tudo o que o seu pai tinha falado?

O pedido que Hunter deveria anotar sequer passou pela cabeça de Emily. E Sinclair também não estava nem lembrando das brigas ou da separação quando a sua única preocupação era saber como o rapaz conseguiria enfrentar um processo na justiça sem a ajuda do pai, e principalmente o que Hunter estava pensando e sentindo para chegar ao ponto de enfrentar Henry.
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Mensagem por Dexter Thompson Qui maio 02, 2024 12:20 am

- No Pat's? O Timmons?

Mesmo depois de fechar o armário, Chad manteve seu olhar preso na porta metálica e evitou o contato visual com Dexter até o último instante, quando finalmente se virou para encará-lo. E Thompson se esforçou para continuar sustentando um semblante imparcial, para mostrar que ele não se meteria na briga dos dois amigos e nem escolheria lados.

- É. E eu só estou te avisando para você não ser surpreendido depois. Se preferir evitar ir ao Pat's, não sei.

- E por que eu evitaria ir ao Pat's? - Chad franziu a testa com um ar confuso, mas já era possível notar alguns sinais de irritação. - Eu não vou evitar ir a lugar algum por causa do Timmons. Ele que ferrou com tudo, então se ele está incomodado, que saia do Pat's. Aliás, ele poderia sair de Colchester, vai fazer um favor para todo mundo!

Dexter soltou um suspiro pesado e ergueu uma das mãos para esfregar os olhos. Era cansativo estar no meio daquele fogo cruzado e era ainda mais desgastante se forçar a entender todos os lados daquela história, tudo isso enquanto sua mente já fervilhava de problemas, com o celular acumulando com as mensagens de JJ, a saudade de Liberty lhe sufocando e agora o insistente contato de Debby.

- Eu sei que o Tim fez merda, Cliff. Mas ele já está pagando caro por todos os erros.

- Ótimo, que continue pagando! Nada vai ser suficiente depois de tudo! Sério que você ainda tem coragem de abrir a boca para defender aquele filho da puta na minha frente, Dex??? Você sabe que tudo o que o Timmons fez contra mim, poderia facilmente ser contra você! Era só ter sido você a pisar no calo dele primeiro! Eu queria ver se você ia continuar sustentando esse seu discursinho político se fosse a Liberty transando com o Timmons no meio da quadra de basquete, só para te atingir!

A simples ideia de Libby nos braços de Hunter, sendo o objeto de uma vingança estúpida, foi suficiente para fazer o estômago de Dexter revirar. Talvez fosse mesmo mais fácil perdoar e tentar não julgar Hunter quando não tinha sido ele uma das vítimas diretas do rapaz, mas Thompson ainda não conseguia negar a sua essência e aquela voz interior lhe dizendo que não deveria dar as costas a um amigo que claramente já tinha chegado ao fundo do poço.

- Me diz uma coisa, Cliff... - Dexter deu um passo e se colocou diante do amigo. - Tinha mais coisa naquele vídeo? Na gravação que você mostrou para a Emily, tinha mesmo a parte em que o Hunter admitia ter se apaixonado por ela?

Mesmo sem abrir a boca, toda a postura de Chad se transformou. Seus ombros ficaram mais tensos, seu maxilar endureceu e ele engoliu em seco enquanto suas narinas dilatavam em uma respiração mais pesada. Toda a sua linguagem corporal já falava por ele e dava a resposta que Dexter precisava, mas Clifford ainda soou duro e ainda mais irritado.

- Você quer mesmo comparar as duas coisas? O Timmons jogou sujo desde o começo, Dexter! E que diferença isso faz???

- Se não faz diferença, por que você não mostrou tudo para a Emily? - Dex arqueou as sobrancelhas como um jogador que coloca a sua peça prestes a fazer o xeque-mate.

- Quer saber de uma coisa? O Timmons fez merda e eu estou cansado de ver você fingir que está tudo bem! Não está tudo bem! Mas se mesmo depois de tudo você ainda prefere ter um amigo filho da puta, mentiroso, manipulador e traiçoeiro como ele, que se foda! A escolha é só sua, Dexter! Só não venha chorar no meu ombro depois que o babaca do Timmons te apunhalar pelas costas exatamente como fez comigo!

Marchando duro, Chad sequer deu a chance de Dexter abrir a boca. Emily já tinha terminado o namoro com Hunter, a amizade entre os dois rapazes obviamente não tinha mais salvação, e mesmo assim Dexter ainda se sentia preso no meio daquele caos sem fim.

Se sentindo um pouco tonto e cansado de todo aquele assunto, Thompson seguiu pelos corredores da MMU até a próxima aula. O celular vibrou no bolso e como vinha trocando novas mensagens com JJ, o rapaz prontamente puxou o aparelho. Então foi com um olhar intrigado que ele viu o nome de Debby nos pop-ups do aplicativo de mensagens.

“Preciso falar com você! É urgente!”

Durante o namoro entre Dexter e Liberty, Debby não tinha sido tão insistente ou inconveniente, mas a menina não tinha sido completamente respeitosa. Em alguns momentos, a líder de torcida tinha insinuado sobre como sentia falta da companhia do quarterback, ou de como ela não entendia o que ele fazia ao lado de uma garota como Bloomfield. Mas desde que a MMU inteira tinha ficado sabendo do fim do seu namoro, Debby parecia carregar uma plaquinha “disponível” no pescoço. E era incômodo ver que, mesmo livre de Liberty, Thompson não tinha vindo correndo para os seus braços como no passado.

Como aquilo parecia ser mais uma das “armadilhas” de Debby, Dex ignorou a mensagem e voltou a enfiar o celular no bolso. E ele tinha acabado de erguer o rosto na direção do corredor quando sua visão periférica chamou a atenção para uma movimentação no interior de uma das salas.

O laboratório de robótica tinha uma das paredes de vidro. Normalmente os professores usavam persianas para dar mais privacidade durante as aulas e não deixar que seus alunos se distraíssem com os demais que passassem pelo lado de fora. Mas como estavam fora do horário das aulas, não havia nada bloqueando os vidros, deixando mais luz entrar no laboratório e dando uma visão mais ampla do que acontecia na parte interna.

O simples fato de ter tanta visibilidade já mostrava que Liberty e Michael não estavam fazendo nada de errado. Com um pequeno robô apoiado sobre a bancada, os dois pareciam estar discutindo sobre o trabalho, fazendo alguns testes e analisando as melhorias. Mas era a forma com que os dois agiam que acabou chamando a atenção de Dexter.

Durante o namoro com Liberty, Thompson nunca tinha se mostrado o tipo ciumento e nunca tinha feito nenhum tipo de ceninha por causa da amizade entre Bloomfield e Martinez. Mas não era excesso de confiança que o fazia se sentir seguro. Dex sempre tinha acreditado no seu relacionamento e nos seus sentimentos, então ele tinha certeza que Libby estava feliz e satisfeita ao seu lado.

O problema era que “insegurança” sempre tinha sido uma sementinha meio abafada no fundo do coração de Dexter. E algumas sementes adoravam aqueles lugares escuros e abafados para conseguir criar suas raízes mais profundas. Para começar, Thompson sempre tinha se sentido inadequado para uma garota como Libby. Qualquer um dentro da MMU diria que Dex era bonito demais, popular demais, o quarterback, o rei do baile, o cara perfeito que poderia ter a garota que desejasse, e que aquilo não combinava com uma garotinha comum que só se preocupava em estudar e não tinha muita vaidade. Mas os sentimentos de Dex diziam o contrário.

Os amigos de Liberty, Leonard Wooton e até a própria menina já tinha soltado alguns comentários sobre o intelecto de Thompson. E como um cara “burro”, era Dexter quem não se encaixava ao lado de Libby, não o contrário. Era uma imensa ironia do destino que Libby estivesse sofrendo com sua autoestima em relação a própria aparência com o fim daquele namoro e algo muito parecido acontecesse com Dexter. Porque ver Liberty e Michael trabalhando naquela tarde parecia ser um gigantesco atestado do quão incompatível ele era com a ex-namorada. Era óbvio que um cara inteligente como Martinez se encaixava melhor ao lado dela.

Com esse pensamento, com a visão de Libby concentrada e discutindo praticamente de igual para igual com outro rapaz, usando termos e uma sopa de letrinhas que Dexter não seria capaz de entender nem a metade, ele se perguntou se Martinez também teria sido desacreditado e descartado com a mesma facilidade que tinha acontecido com ele no fim daquele namoro. Se fosse Michael falando sobre Lenny, Bloomfield teria escutado? Ela teria dito com tanta facilidade e tanta rapidez que não o escolheria? Ou a menina teria lhe dado ao menos o benefício da dúvida?

Segurando as alças da mochila que estava pendurada nas suas costas, Dexter assistiu em silêncio os dois alunos de robótica no interior do laboratório, sem nem ser notado. Quando o robô se mexeu e uma luzinha apareceu no seu letreiro enquanto ele falava algo, Michael e Liberty deram gritinhos empolgados e se abraçaram para comemorar aquela vitória. E aquele abraço foi o que terminou de empurrar Dex para aquele lugar solitário e desprezado que ele vinha experimentando há dias.

***

- O que era tão urgente assim? Tem alguém morrendo?

Com o sol forte, Dexter franziu o rosto quando pisou no campo de futebol e se aproximou de Debby. E por sorte, a careta provocada pela claridade conseguiu disfarçar o quanto ele se sentia irritado e mal-humorado.

- Mas que merda, Dexter!

Sem elogios, sorrisinhos, insinuações. Mesmo ainda usando o uniforme da torcida, Debby tinha um semblante carregado quando se levantou da arquibancada vazia e marchou até o rapaz, o recebendo com um soquinho no ombro.

- No que você estava pensando, seu idiota???

- Aieee! Que agressão é essa? Tá maluca, Debs?

- É sério que você saiu do futebol???

Assim como Chad tinha se entregado apenas com a linguagem corporal depois de ser questionado sobre o restante do vídeo que tinha de Hunter, Dexter também não conseguiu disfarçar ao ser questionado tão diretamente sobre aquele assunto. O tema tinha virado motivo de guerra dentro da casa dos Thompson, mas o treinador estava sendo cuidadoso para conter rumores daquela fofoca enquanto tentava reverter a situação, então não havia comentários de boca em boca. Nem mesmo os amigos mais próximos de Dexter pareciam ter notado sua ausência nos treinos ou no último jogo.

- Eu não acredito nisso!!! A Lina disse que o Alec, namorado dela, veio com essa história de que o quarterback tinha abandonado o time, mas eu poderia colocar a minha mão no fogo para dizer que isso era uma mentira! Porque é óbvio que você nunca seria tão burro ao ponto de sair do futebol!

- É, bom, aparentemente eu sou tão burro. - Dexter respondeu carrancudo, se sentindo diretamente provocado por causa daquela palavra. - Eu tenho coisa demais acontecendo na minha vida agora, Debby. Não tenho tempo para o futebol.

- Não tem tempo... Não tem tempo para o futebol? - Debby soltou um risinho incrédulo e ao invés de continuar com gritos, ela recuou um passo e respirou fundo, olhando para o gramado sob seus pés enquanto refletia. - Você não tem tempo para a única coisa que vai te garantir a entrada em uma faculdade? E não me venha dizer que isso é ofensivo! Você acha que as minhas notas também vão me levar a algum lugar? Por que acha que eu me empenho tanto nas atividades extras, Dex?

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Não havia um plano B. Dexter não sabia como conseguiria entrar em uma faculdade se não fosse por um programa esportivo. Por mais que os Thompson tivessem dinheiro, eles não eram tão poderosos e influentes ao ponto de conseguir “comprar” uma vaga para o filho. Eles teriam perfeitas condições de pagar uma boa universidade que Dex fosse aceito por causa do futebol, mas isso era tudo. Dex precisava pelo menos garantir aquela primeira entrada, e ele tinha jogado no lixo sua única chance.

- Eu ainda não sei como vou fazer. Talvez alguma faculdade comunitária, eu sei lá, Debby... Mas será que ninguém aqui nunca pensou que talvez eu nem gostasse tanto assim de futebol?

- Quem falou alguma coisa de gostar? Você acha que eu adoro balançar pompons e usar saias minúsculas para escutar comentários machistas e maldosos sobre o meu corpo? Ou porque isso é bonitinho e me da algum tipo de popularidade? Eu deixo isso para a Pamela e para a Emily, Dex! Eu faço o que precisa ser feito! Qual é o seu problema?

Dexter e Debby nunca tinham namorado de verdade, não existia um relacionamento, longas conversas ou confissões íntimas. Liberty tinha sido a única garota a ocupar esse papel na vida de Thompson. Mas naquela tarde, Debby era a única pessoa que mostrava algum tipo de preocupação com ele. Emily, Hunter e Chad estavam presos demais no próprio drama para notar qualquer coisa que existisse fora da própria bolha. E Dex já tinha recebido diversas dicas de Liberty de que ela não se importava o bastante. Aliás, a garota tinha dito com todas as letras que eles não seriam nem mesmo amigos e que o único assunto que teriam em comum seria a inocência de Hunter Timmons.

Foi com uma carência que Dexter nem tinha percebido que carregava que o rapaz deixou seus ombros murcharem e acabou se sentando em um dos níveis mais baixos da arquibancada. Seu olhar deslizou pelo campo vazio, se lembrando de tantas vezes que já tinha corrido por ali, dos treinos, das vitórias e de todas as vezes que as pessoas aplaudiram ou gritaram seu nome por causa de alguma jogada.

- Eu sei lá, Debs. O mundo está desmoronando ao meu redor, todo mundo parece estar completamente perdido... É como tentar conter o furo de uma represa que pode se romper a qualquer momento.

De pé, Debby cruzou os braços enquanto observava o olhar derrotado de Dexter. E ela levou um longo tempo refletindo até se sentir ao lado dele, puxando a mão do rapaz entre os seus dedinhos. O olhar carinhoso e atencioso que a garota lançou na sua direção fez com que Thompson se sentisse querido e desejado, de uma forma que ele não vinha sentindo desde a briga com Libby. Para alguém que vinha tentando a todo custo resolver os problemas de todos ao seu redor, aguentando a pressão do pai, Dexter não conseguia ignorar o sentimento de finalmente estar sendo acolhido.

- Você não é um super-herói, sabia? Seus músculos podem ser beeeem fortões e sensacionais, mas você não vai conseguir sozinho conter uma represa. Quando tudo estourar, você vai ser arrastado pela força da água. Principalmente se não estiver pensando em você.

Com as mãos de Debby envolvendo a sua, Dexter refletiu naquelas palavras. Tudo o que o rapaz tentava fazer era ajudar a crise entre Hunter e Chad, cuidar de Emily e principalmente resolver o grande drama de Bloomfield. Mas Debby era a primeira pessoa a notar que Thompson também precisava de ajuda.

- Eu sei. Eu sei que não foi inteligente, e eu ainda não sei como resolver isso. Mas eu não queria continuar no futebol. Não se não fosse uma escolha só minha, e não parecia que eu tinha qualquer opinião sobre isso enquanto o meu pai cobrava e exigia tudo.

- Pode não ser pelos motivos mais nobres ou pela maneira mais adequada, mas talvez o seu pai estivesse tentando te ajudar. É sério, Dex... pessoas como nós dois... Nós precisamos dessas coisas se quisermos sair dessa cidade algum dia, ter algum futuro. Ou você quer mesmo que essa seja a sua melhor fase, o ápice da sua vida, e depois só ladeira abaixo?

Quando Liberty e Dexter tinham se conhecido, Bloomfield tinha dito algo bem semelhante. Que como atleta e cara popular, Thompson estava vivendo a sua melhor fase, mas que ele logo encararia o mundo real onde seria alguém medíocre e sem futuro. Mas ao invés de se sentir ofendido com as palavras de Debby, Dex só enxergou nela alguém muito semelhante, porque a líder de torcida estava na mesma posição que ele. E era uma sensação muito diferente estar com alguém do mesmo nível, sem precisar se esforçar tanto para erguer o pescoço ou lutar para conseguir alcançar o patamar bem mais elevado que Libby ocupava.

- Você acha que eu devo voltar para o futebol?

- Eu acho que você precisa pensar o que realmente quer e o que precisa fazer para isso. Não é a minha opinião, ou do seu pai e de mais ninguém. Use a sua cabecinha, Dexter Thompson... Ou melhor, use o que você tem de mais precioso: o seu coração.

Ao lado de Libby, Dexter sempre era comparado como o cara de inteligência mediana ou até mesmo burro. Então Debby foi certeira ao dizer que ele deveria usar seu coração. Mais do que mostrar que ele não precisava ter o QI mais elevado da MMU para pensar no que era melhor para si, Debby ainda pontuava uma qualidade de Dexter. E o rapaz se sentia tão carente que escutar um elogio tão sincero foi suficiente para mexer com ele.

Como os dois estavam sentados muito próximos e Debby tinha usado a mão livre para apoiar o indicador no peito de Dexter, o rapaz só precisou se virar um pouco para olhá-la nos olhos. As íris azuis brilhavam de expectativa e naquela tarde Thompson não a decepcionou ao se inclinar e iniciar um beijo.

***

Não foi nenhuma surpresa chegar ao Pat's naquela noite e encontrar a grande produção liderada por Emily Sinclair. Letreiros luminosos indicavam por onde os carros deveriam seguir e as fileiras devidamente organizadas para estacionarem diante do telão. Havia uma área mais a frente para que algumas pessoas pudessem estender toalhas ou cadeiras de plástico para assistirem aos filmes, mas a maioria ainda preferia permanecer em seus carros para ter um pouco mais de privacidade.

Um imenso telão tinha sido instalado e já passava o primeiro filme quando Dexter chegou ao Pat's. E como nos velhos tempos, Thompson não precisou marcar nada para saber que Debby o acompanharia naquela noite. A garota já aguardava por ele no interior da lanchonete, com uma fantasia de anjinho que combinava com seus traços bonitos, o cabelo loiro e os olhos claros.

Até mesmo o interior do Pat's tinha sofrido com as modificações de Emily. As luzes estavam mais fracas e as lâmpadas brancas tinham sido trocadas por outras vermelhas, trazendo um clima mais macabro. Um caixão aberto com um esqueleto tinha sido posicionado logo na entrada, quadros de assombrações e velhos estranhos estavam distribuídos pelas paredes, além de teias de aranha, múmias, aranhas e vampiros.

Tudo era muito realista e até um pouco assustador, para que fosse o clima perfeito de uma noite de filmes assustadores. Mas Dexter não tinha se esforçado demais ao apenas enfiar um diadema de plástico que fingia ter uma faca atravessando seu crânio.

- Hey, desculpe o atraso. - Dexter apoiou uma mão na cintura de Debby ao parar ao lado da garota, bem diante do balcão. - Você já fez o pedido?

- Está passando Sexta-Feira 13, então a gente não tá perdendo muita coisa.

Como Hunter Timmons estava atrás do balcão, o rapaz não disfarçou a caretinha de confusão ao ver a intimidade retomada entre Thompson e a líder de torcida, mas Dex se apressou em mudar o assunto anets que o amigo fizesse qualquer comentário.

- E aí, Tim? Consegue duas cocas para a gente? E um balde de pipoca grande. Ahnnn, o que seria isso?

Sem soltar a cintura de Debby, ele pegou um panfleto posicionado estrategicamente ao lado do caixa. Além dos filmes e da decoração, Emily também tinha interferido no cardápio da lanchonete, trocando alguns dos sanduíches clássicos por nomes de personagens de terror e até mesmo a embalagem de uma bebida de cereja tinha sido substituída pelo que parecia ser saquinhos para armazenar sangue nos hospitais.

- Isso é de cereja? Interessante... Me vê um desse O+. Uhh, e esses dentes de vampiro com chocolate branco e morango, parece ser bom!

- Você vai mesmo comer tudo isso? - Debby abriu um sorrisinho divertido para o rapaz ao seu lado. - Eu sinto informar, mas pretendo manter a sua boca muito mais ocupada, gostosinho...

No passado, Dexter e Debby não costumavam ser discretos e nem tentavam esconder o relacionamento aberto que tinham. Por um instante, Dex até conseguiu voltar no tempo e parecia que tudo seria como antes. Mas quando o olhar de Hunter se prendeu em um ponto atrás dele, Thompson já sentiu a tensão se espalhando pelos ombros antes mesmo de se virar. E no instante em que criou coragem, seu coração falhou uma batida ao reconhecer Liberty.

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Com Debby ao seu lado, já provando a pipoca que Hunter tinha deslizado por cima do balcão, toda a atenção de Dexter se prendeu em Bloomfield. Seu olhar deslizou pela garota da cabeça aos pés, e enquanto a saudade vinha como uma onda potente pronta para lhe derrubar, uma vozinha mais sarcástica ecoava na sua cabeça com um sonoro “Otário, ela não te quis mais!”.

- Oi. Você também veio ver os filmes?
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Mensagem por Liberty Bloomfield Qui maio 02, 2024 10:48 am

- Okaaaay... – com um sorriso bem humorado, Hunter Timmons deslizou os olhos de cima a baixo pela aparência da garota e precisou ser mais direto para entender o que Libby vestia naquela noite – Você vai ter que me explicar, novata.

- O que? – as sobrancelhas de Liberty se franziram enquanto ela encarava o amigo atrás do balcão do Pat’s – A fantasia? Eu sou a Zarah, ué!

A entonação de Liberty e a maneira como ela abriu os braços e deu um giro com o próprio corpo para que Hunter a visse melhor mostravam que, para a menina, aquela fantasia era óbvia. O vestido vermelho com as mangas compridas e esvoaçantes tinha um corte antigo e remetia à moda medieval. Além do vestido, Bloomfield usava uma tiara na testa, um cinto prateado amarrado na cintura e brincos em formato de adaga. Os cabelos castanhos tinham sido cuidadosamente escovados e ondulados para ficarem parecidos com os da personagem e, por baixo dos fios, era possível ver que Libby usava orelhas falsas e pontiagudas feitas de silicone. Alguém que conhecesse a personagem não teria dúvidas sobre a fantasia escolhida por Liberty naquele Halloween, mas o olhar perdido de Timmons denunciava que ele estava completamente por fora daquele universo.

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- Zarah! A guerreira élfica! – mesmo depois da explicação, Hunter ainda não parecia fazer ideia a quem Libby estava se referindo – Ah, por favor! É um dos universos mais famosos no RPG! Inclusive é tão famoso que desenvolveram um videogame inspirado na história! Rolou uma convenção em Seattle alguns anos atrás e eu pedi que a minha mãe me mandasse a fantasia que eu usei naquela época. Estou feliz por ainda caber dentro dela!

- Eu não faço a menor ideia do que você está falando, novata. Acho que foi a coisa mais nerd que eu já escutei em toda a minha vida! – depois daquela alfinetada, Hunter soou mais gentil – Mas, seja como for, você está bonita.

Como qualquer garota, Liberty gostou de ouvir um elogio naquela noite. Mesmo que não houvesse qualquer tipo de interesse ou segundas intenções na postura de Hunter, ainda era gostoso ouvir palavras de aprovação. Depois de ter passado os últimos dias sendo corroída pela insegurança e se vendo como a garota menos atraente ou desejável de Colchester, era bom saber que todo o trabalho que ela tivera com a própria aparência naquela noite não tinha sido em vão.

Logo que soube que a prima estava organizando mais uma festinha, o primeiro impulso de Libby foi se esquivar. Além das desculpas de sempre e do seu cronograma que estava mais atrasado do que nunca, Liberty dessa vez ainda poderia alegar que não estava no clima para festas depois de ter sido enganada e roubada pelo irmão e, como “brinde”, perdido o namorado na mesma jogada. Mas a verdade é que Emily nem precisou insistir demais para convencer Bloomfield a prestigiar o evento programado para o Halloween.

O Halloween sempre foi o feriado preferido de Libby, principalmente porque antecedia o aniversário dela. Na infância, a garotinha adorava se fantasiar e a mãe a levava de porta em porta para pedir doces. Além de reviver aquela memória afetiva, Liberty também gostou da ideia de passar aquela noite vendo filmes de terror antigos. Não seria mais uma festinha chata com música alta, bebedeira ou pegação e a novata realmente achou que poderia aproveitar aquela noite para se distrair um pouco e para resgatar o seu humor completamente abalado desde o sumiço de Leonard e o término com Dexter. Pelo menos por uma noite, Libby tinha a esperança de se distrair um pouco e de parar de se torturar com os próprios erros.

E o visual de Liberty mostrava que a garota realmente estava animada para o evento daquela noite. Além da fantasia, Libby pediu a ajuda de Emily para se maquiar. O delineador e a sombra mais escura realçavam ainda mais os grandes olhos castanhos da garota e seus lábios estavam pintados num tom avermelhado, combinando com o vestido. Os vários anéis prateados empilhados nos dedinhos dela também faziam parte da fantasia, mas Bloomfield acabou se aproveitando desse detalhe para “esconder” entre os acessórios o seu anelzinho com o diadema de Ravenclaw.

Na primeira discussão com Dexter, Liberty devolveu o anel para o namorado e só o recebeu de volta depois que os dois se entenderam. Então era estranho que Libby quisesse ficar com aquele presente agora que os dois enfrentavam um término muito mais sério e definitivo. A explicação era que, inconscientemente, Liberty não queria se livrar da única coisa que parecia ter restado para que ela se lembrasse de Thompson e de todos os momentos felizes que os dois passaram juntos.

- Obrigada. – Libby se sentou num dos banquinhos próximos ao balcão e também deslizou o olhar pelo corpo de Hunter – Você também não está nada mal com a sua fantasia de atendente de lanchonete...

A piadinha de Bloomfield arrancou uma risada bem humorada de Timmons e o rapaz repetiu o gesto dela e girou o corpo, como se quisesse mostrar melhor a “fantasia”. Diferente de todos os jovens que se divertiam no evento de Halloween, Hunter não usava nenhum acessório divertido ou fantasia. Com uma calça jeans, uma camiseta cinza de mangas curtas e o avental vermelho do Pat’s amarrado na cintura, Timmons deixava bem claro que só estava ali para trabalhar naquela noite.

- Ninguém pode dizer que eu não fiquei perfeito com essa fantasia de atendente sexy, né?

- Estou surpresa em ver você aqui hoje. Achei que pediria uma folga ou algo assim...

Mesmo sem mencionar o nome da prima, era evidente que Liberty estava se referindo ao clima péssimo entre Hunter e Emily. Timmons de fato tinha motivos para não querer participar de um evento organizado pela ex-namorada e passar a noite inteira servindo Sinclair e as pessoas que ela havia convidado para a festinha. Mas a resposta do rapaz soou muito direta e objetiva.

- Ficou maluca!? A Sra. Patmore está pagando o dobro da hora extra e eu não estou na posição de alguém que pode recusar grana, novata!

Era bizarro ver como a vida de Hunter Timmons tinha se transformado. De um dos rapazes mais ricos e influentes de Colchester, ele agora tinha se tornado um funcionário que precisava fazer horas extras servindo mesas para se sustentar. E por saber que toda a confusão provocada por Leonard Wooton estava no centro dos problemas de Hunter, Liberty sentia boa parte da culpa pela desgraça do amigo pesando os seus ombros.

- Eu queria poder te ajudar mais, Tim. Mas eu sou tão ferrada quanto você. A minha única chance de ganhar uma grana voou pelos ares...

- Você não vai nem tentar recuperar o tal programa e provar que aquele filho da puta te roubou?

- Com que dinheiro eu vou contratar um advogado ou entrar com um processo de revisão de patente? Mesmo se eu vendesse a alma pra dar esse primeiro passo, ainda seria a minha palavra contra a palavra de um Wooton, Tim. Por experiência própria eu já sei de que lado os juízes vão ficar...

O tom derrotado da garota fez com que a expressão de Hunter se fechasse num semblante de insatisfação. Mas antes que o rapaz pudesse insistir naquela ideia ou dizer que Liberty não deveria desistir tão facilmente daquela batalha, a menina mudou o foco da conversa. Com o celular nas mãos, Libby acessou uma imagem do seu álbum e estava com um sorriso mais leve e animado no rosto ao virar a tela na direção do amigo.

- Eu não tenho grana pra te dar, mas pensei em te ajudar a conseguir um dinheiro extra. O que acha disso?

A tela do celular de Liberty exibia um folder digital feito pela própria garota. O anúncio oferecia serviços de fotografia para festas, casamentos e batizados. E, para a surpresa de Hunter, o número de contato para agendamentos era o celular dele.

- Eu sei que o seu lance com a fotografia é algo muito mais profissional e artístico. Mas isso não te impede de ganhar um dinheirinho extra praticando em eventos menores, né? Pensei em divulgarmos isso nas redes sociais de Colchester e das cidades próximas. Você pode tentar encaixar as suas folgas no Pat’s nos dias que te contratarem para algum evento.

Bloomfield tinha a melhor das intenções quando teve aquela ideia e preparou o folder para ajudar o amigo. Ainda assim, ela estava um tanto insegura quanto à reação de Hunter. O rapaz andava tão desanimado e desiludido com a própria vida que era difícil saber se alguma coisa ainda o motivaria. Então foi um alívio para Liberty ver um sorrisinho de aprovação surgindo nos lábios do rapaz.

- Ficou bem legal, novata. Acho que podemos tentar. – Hunter devolveu o celular para Libby enquanto o seu sorriso se tornava mais sacana – Só preciso que você faça algumas modificações nesse anúncio. Além de casamentos e batizados, você pode acrescentar que estou disponível para tirar fotos para books de atrizes e modelos. E que dou um desconto especial caso forem fotos com pouca roupa!

- Você é um depravado ridículo... – os olhos castanhos rolaram, mas Liberty acabou rindo daquela piadinha – Mas é bom saber que você está de volta. Eu prefiro a versão depravada do que o Dark Tim.

- Por que está fazendo tudo isso pra me ajudar? Eu achei que, como todo o resto da cidade, você também me odiasse agora. Você não está dando em cima de mim, né, novata?

- O QUEEE? CLARO QUE NÃO! VOCÊ TÁ BEBENDO O ESTOQUE DO PAT’S, HUNTER!?

- Eu sei lá... Eu sei que sou irresistível. E eu também ganhei uma certa fama de talarico...

- Eu não estou dando em cima de você! E, em caso de dúvidas no futuro, eu NUNCA vou dar em cima de você! Eu só quero reparar um pouco do mal que te causei, Tim. E, sendo beeem sincera, eu também não tenho muitos amigos por aqui, né? Você é um dos poucos que restou.

Na época do namoro com Dexter, Liberty vivia dizendo para o namorado que os amigos de Dex só falavam com ela porque os dois estavam juntos. Com o término do relacionamento, Libby percebeu que estava certa naquela teoria. Não havia uma guerra declarada contra ela e ninguém nos corredores da MMU a provocava ou virava a cabeça em outra direção quando a novata passava por perto. Mas era evidente que os colegas já não faziam mais tanta questão de conversar com ela. Sem o “título” de namorada do quarterback, Libby tinha voltado a ser apenas uma nerd comum com a qual ninguém se importava muito. Além de Emily e de Michael Martínez, a única pessoa com que Liberty ainda mantinha laços de amizade era Hunter Timmons e, mesmo sabendo que Emy agora odiava o ex-namorado, Libby não podia riscar o nome dele da sua minúscula lista de amigos.

- Você também foi uma das poucas amigas que me restaram... – Hunter ergueu um ombro e tentou soar bem humorado, mas aquela piadinha acabou revelando que ele não estava tão tranquilo e indiferente assim com aquele isolamento – É bom ter a sua companhia no fundo do poço, novata.

- Tá, o Dark Tim parece estar ressurgindo das cinzas. Então eu vou ali no banheiro e já volto para continuarmos com as nossas lamentações.

Como na maioria das festinhas, havia uma pequena fila diante do banheiro feminino, então Libby acabou demorando mais tempo do que planejava. E enquanto esperava a sua vez de usar uma das cabines, Liberty não conseguiu deixar de notar como ela estava diferente das outras garotas presentes naquele evento.

A maior parte das meninas parecia usar o Halloween como uma desculpa para se exibir em trajes pequenos e sensuais. O “sexy” fazia parte do nome de praticamente todas as fantasias femininas que Liberty viu enquanto circulava pela festa. Enfermeira-sexy, fadinha-sexy e até uma freira-sexy! Não importava qual fosse a fantasia, o “sexy” significava que as garotas tinham permissão para usar saias minúsculas e decotes escandalosos. Antes de chegar ao Pat’s, Bloomfield estava feliz e satisfeita com a sua fantasia de guerreira-élfica. Mas o excesso de tecido e os olhares de deboche e reprovação que ela recebeu na fila do banheiro serviram para que Libby mergulhasse novamente na mesma insegurança que a acompanhava nos últimos dias.

E se Liberty já se sentia desconfortável e insegura quanto à própria aparência, aquele sentimento se tornou ainda mais sufocante e avassalador no instante em que Bloomfield retornou para perto do balcão. Com os lábios forçados num sorriso, Libby planejava continuar conversando com Hunter enquanto o amigo trabalhava. Mas o sorriso de Liberty morreu no momento em que ela se deu conta de que Timmons já não estava mais sozinho.

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No fundo, Libby já imaginava que Dexter e Debby estavam juntos novamente e que era uma questão de tempo até vê-los em uma situação mais íntima. Depois das mensagens, das ligações e do comportamento suspeito do ex-namorado, Liberty já esperava pela cena que seus olhos captaram naquela noite. Mas nem mesmo o fato de já imaginar que Dexter estava com outra garota preparou o coração de Bloomfield para vê-lo ao lado de Debby.

Para aumentar ainda mais o abalo emocional de Libby, a acompanhante de Dexter naquela festinha parecia ter seguido o “manual” das fantasias femininas. Não havia nada de puro ou casto na fantasia de anjinho de Debby. A saia curta, o tecido branco rendado e transparente e o decote exagerado deixavam muita pele à mostra e não escondiam o quanto a garota era linda e possuía todas as suas curvas nos lugares certos.

Mais do que simplesmente linda, Debby parecia combinar com Dexter de uma forma que a ex-namorada do rapaz jamais combinaria. Lado a lado, os dois pareciam o rei e a rainha do baile e era impossível imaginar que um garoto deixaria uma menina perfeita como Debby para ficar com uma nerd desajeitada como Bloomfield.

Apesar da decisão do fim do namoro ter vindo de Libby, agora era ela que se sentia desprezada e descartada. Afinal, Liberty estava sozinha e continuava sofrendo pelo ex-namorado enquanto Dexter já circulava pela cidade muito bem acompanhado.

Normalmente, Bloomfield se esforçava bastante para esconder os seus sentimentos, para parecer forte ou indiferente. Mas a personalidade arredia de Libby não sobreviveu ao impacto de ver Debby e Dexter juntos naquela noite. Foi impossível sustentar uma máscara de indiferença e a voz da novata soou engasgada quando ela finalmente reencontrou o fôlego para responder à pergunta de Thompson.

- Não. Eu já estou de saída, na verdade. Só dei uma passadinha rápida pra Emy não me matar...

A fantasia, a maquiagem e os cabelos arrumadinhos não combinavam com alguém que só pretendia dar uma voltinha rápida pelo evento organizado pela prima. Liberty estava mesmo animada com a festa e queria tentar se divertir um pouco e esquecer os seus problemas naquela noite. Mas a visão de Dexter acompanhado por outra garota exterminou qualquer chance de Libby ter uma noite agradável. A última coisa que ela queria agora era continuar naquele lugar e assistir de perto outra menina se deliciando nos braços do cara que ela amava. Debby e Dexter juntos era uma imagem mais aterrorizante do que qualquer filme que Emily programara para exibir no Halloween.

A ideia de Libby era fugir dali o mais rápido possível, mas as pernas da garota ficaram travadas quando Debby se virou e a encarou de cima a baixo com um olharzinho de desdém. Numa clara provocação e para demarcar logo o seu “território”, Debby usou um dos braços para se pendurar no pescoço de Dexter e, aproveitando-se da falta de reação do rapaz, a loirinha englobou os lábios dele com um beijinho.

- Já peguei a pipoca e os doces... – Debby esticou a mão livre para mostrar a sacolinha preparada por Hunter – Que tal encontrarmos um bom lugar pra vermos o filme? Eu já vi um cantinho mais escuro que vai ser perfeito pra nós dois, gostosinho. Ah, oi...

Numa encenação bem fraca, Debby fingiu que só tinha notado a presença de Liberty naquele momento. Os olhos azuis repetiram o gesto de deslizarem pela aparência da menina e, pelo sorrisinho irônico e malicioso que surgiu nos lábios de Debby, Bloomfield já esperava por uma alfinetada antes mesmo que a voz da outra menina quebrasse o silêncio pesado que surgiu entre os três.

- Bela fantasia, Bloomfield. Mas o que é isso, exatamente? Alguma caipira virgem da idade média?

A palavra “virgem” terminou de empurrar Liberty para o fundo do poço. Debby tinha dito aquilo apenas numa tentativa de provocá-la e de criticar a fantasia que cobria a maior parte do corpo de Bloomfield, mas a insegurança de Libby já tinha atingido um patamar tão elevado que a menina deu uma interpretação completamente diferente à frase. Por um momento, Bloomfield imaginou que Debby estava zombando dela por sua falta de experiência naquele campo da intimidade. Quando os olhos castanhos de Libby buscaram por Dexter com um ar de incredulidade, a garota estava chocada e ofendida por pensar que o ex-namorado havia compartilhado uma informação tão íntima com Debby.

O estômago de Liberty se revirou enquanto a imaginação dela projetava aquela conversa. Na cena construída dentro da cabeça de Libby, Dexter e Debby estavam nus numa cama, ou no banco traseiro do carro do rapaz ou quem sabe até debaixo das arquibancadas da MMU. E enquanto os dois se amavam ferozmente, trocavam olhares apaixonados e gemiam completamente loucos de desejo, Thompson deixava escapar que estava assim tão sedento porque a ex-namorada “virgem” não era boa o bastante para saciar as suas necessidades.

Não importava a forma e nem o momento em que Dexter havia compartilhado aquela informação com Debby. De qualquer forma Liberty se sentia exposta, humilhada e ainda mais insegura. Normalmente a novata não abaixava a cabeça para os populares e respondia às alfinetadas com acidez, mas naquela noite Debby conseguiu nocauteá-la e fazer com que Libby se comportasse como uma típica nerd que não sabia se defender diante de um bullying.

Com um nó na garganta, Bloomfield apenas desviou o olhar, deu as costas para o casalzinho e marchou até a porta dos fundos da lanchonete, que dava acesso ao estacionamento. Com o clima escuro da decoração de Halloween e como quase todos estavam com a atenção voltada para o filme projetado na tela, ninguém notou quando Liberty soltou uma fungadinha e deixou escapar uma lágrima, que ela rapidamente limpou com a manga longa da sua fantasia.

O maior desejo de Libby era desaparecer magicamente daquele lugar, com um simples estalar de dedos. Mas como a garota não tinha aquele poder e suas pernas trêmulas não permitiriam que ela corresse para longe dali, a única saída encontrada por Bloomfield foi se esconder. Como a menina já não tinha o menor interesse em assistir aos filmes, Libby se afastou do telão em busca de um esconderijo que a deixasse fora do campo de visão de qualquer convidado daquela festinha. O que Liberty não esperava era que o caminho da fuga dela fosse bloqueado por um Mike sorridente.

- Aaah, finalmente! Você está aí!!! Eu estou há mais de meia hora circulando pela festa atrás de você! Uaaaau! – o rapaz não pareceu perceber o semblante infeliz da amiga enquanto a olhava de cima a baixo – Você ficou perfeita de Zarah! Sintonia total, vão até achar que nós combinamos! Eu também sou um elfo hoje!

A fantasia de Frodo era fofa, mas parecia tatuar na testa de Martínez que ele também fazia parte do universo nerd. E só depois de cruzar o caminho do rapaz foi que Liberty se lembrou de que ela havia convidado o amigo para o evento. Assim como Libby, Michael também não gostava muito de festinhas (e nem era convidado para se juntar aos populares), mas Libby acabou conseguindo convencê-lo de que seria divertido passar a noite de Halloween comendo doces e assistindo a filmes de terror.

Depois de ter convidado o rapaz e insistido para que Martínez fosse à festa, seria muito indelicado se Libby simplesmente fosse embora e o deixasse totalmente sozinho e deslocado naquele ambiente. Já não existia nenhum clima para Liberty permanecer naquele evento e ela não sabia se seu estômago seria forte o bastante para assistir Dexter e Debby juntos, mas a menina acabou se lembrando da conversa que ela tivera com Hunter no começo daquela noite.

Em Colchester, Libby tinha poucos amigos com quem ela podia contar e Mike fazia parte daquela listinha restrita. E ela não podia magoar o rapaz ou colocar aquela amizade em risco por causa de um ex-namorado que obviamente já tinha superado o término do relacionamento e estava se divertindo com uma líder de torcida.

- Eu estava no banheiro... – Libby se odiou ao ouvir a voz tão frágil, mas ainda assim ela se obrigou a forçar um sorriso – Eu pretendo acordar cedo amanhã, então não vou ficar muito tempo por aqui. Mas podemos terminar de assistir a esse filme, o que acha?

- Perfeito! – Martínez abriu um sorrisinho animado – Pode escolher o lugar enquanto eu vou buscar uns doces pra gente!
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Mensagem por Hunter Timmons Qui maio 02, 2024 10:48 am

Em uma cidade tão pequena quanto Colchester, Timmons sabia que em algum momento o seu caminho se cruzaria novamente com o da ex-namorada. Mesmo que Hunter não frequentasse mais a MMU, aquela ainda era uma cidade pequena demais e não existiam muitos lugares para ir. Era inevitável que ele e Emily se encontrassem pelas ruas ou nos poucos eventos que aconteciam nas redondezas. Mas o emprego do rapaz no Pat’s acabou fazendo com que aquele encontro acontecesse mais cedo do que o esperado.

Como a maioria dos alunos da MMU, Sinclair tinha o costume de frequentar a lanchonete próxima ao colégio. Se quisesse fugir de um encontro com a ex-namorada, Hunter não poderia jamais aceitar um emprego num lugar onde era certo que Emily pisaria. Mas além de não ter muitas opções de trabalho, Timmons sabia que era tolice continuar fugindo. Mesmo que a simples visão de Sinclair ainda despedaçasse o coração dele, o rapaz precisava lidar com o fato de que ele havia perdido o grande amor da sua vida e que agora Emily não pertencia mais a ele.

Só que a esperança de Hunter era que a ex-namorada não dificultasse ainda mais as coisas entre os dois. Sinclair já tinha deixado bem claro que não existia nenhuma chance de reconciliação, que ela o desprezava, que não confiava mais nele e nem era capaz de perdoar os erros cometidos por Timmons. Então tudo o que Hunter esperava dela agora era que Emily reagisse com distanciamento e indiferença.

Era terrível receber o desprezo de uma garota que ele ainda amava, mas Hunter ainda achava mais fácil lidar com isso do que com aquele olhar surpreso e preocupado que Sinclair lançou para ele naquela tarde. Porque se Emily não queria mais nada com ele, era até maldade que ela demonstrasse preocupação ou interesse na vida de Timmons e alimentasse uma esperança que já parecia estar morta dentro do rapaz.

No instante em que Hunter soltou ruidosamente o ar que vinha sendo mantido preso dentro dos seus pulmões, ele pareceu irritado e impaciente. Mas aquilo nada mais era do que mais uma tentativa de se defender e de blindar o seu coração contra mais uma pancada dolorosa.

- É sério isso? Não sei se você notou, mas eu estou trabalhando e não tenho tempo pra bater papo.

Como se o avental já não fosse o bastante para mostrar o novo papel que Hunter ocupava dentro do Pat’s, o atendente sacudiu o bloquinho e a caneta em suas mãos, novamente se referindo ao pedido que Emily ainda não havia feito.

- A lanchonete está lotada, é o meu primeiro dia e a Sra. Patmore está me vigiando. Então, se você não vai pedir nada, é melhor desocupar a mesa e dar lugar pra outro cliente.

Até alguns dias atrás, Hunter se comportava como um rapaz apaixonado que estava fazendo o impossível para que Emily o escutasse e o perdoasse. Mas depois de ouvir de Sinclair que não existia nenhuma chance de reconciliação era como se Timmons tivesse girado uma chave dentro do próprio cérebro e assumido uma postura completamente diferente. Diferente de Chad, que insistia e paparicava Emily até fazer a garota ceder, Hunter tinha optado por um comportamento muito mais hostil e nada romântico.

Por um momento pareceu que Timmons deixaria os questionamentos de Emily morrerem sem uma resposta. Então a garota provavelmente ficaria surpresa quando, depois de mais um suspiro pesado, Hunter a atualizou sobre as últimas novidades da sua vida.

- Não que isso seja da sua conta, mas eu abandonei o trabalho no haras, saí de casa e dispensei o advogado. Esses processos costumam demorar e, se chegar o dia do julgamento e eu ainda estiver sem grana, vou dizer ao juiz que preciso de um defensor público.

Mesmo para os padrões de um rapaz impulsivo e inconsequente, aquela era uma irresponsabilidade grande demais. A justiça de fato disponibilizava defensores públicos para pessoas pobres que não podiam arcar com os honorários de um bom advogado, mas na maioria das vezes eram servidores públicos desmotivados, que folheavam o processo um dia antes do julgamento e não tinham muito interesse em ajudar os clientes. E Timmons definitivamente precisava de um advogado experiente e muito empenhado no processo para livrá-lo das acusações tão graves feitas contra ele.

O Sr. Timmons já tinha dito ao filho que ele acabaria voltando para a cadeia se seguisse por aquele caminho, então Hunter sabia quais eram os riscos e não precisava que as pessoas continuassem repetindo que aquilo era mais um grande erro. Por já estar decidido e disposto a levar aquela história até o fim, o rapaz nem esperou por uma resposta e apenas tombou a cabeça para o lado, se referindo à lanchonete cheia para colocar um fim naquela conversa com a ex-namorada.

- Eu realmente tenho muito trabalho e não posso perder esse emprego, Sinclair. Então, se mudar de ideia e quiser pedir alguma coisa, me chame. Ou melhor, mude de lugar, sente-se do outro lado do salão e seja atendida pela Tina. Assim será melhor pra todo mundo...

Sem esperar por uma resposta, Hunter deu as costas à ex-namorada e caminhou até outra mesinha onde um rapaz sacudia o braço freneticamente para solicitar a presença de um atendente.

Timmons sentia os olhares acompanhando os passos dele e algumas pessoas mais indiscretas nem disfarçavam os risinhos e os comentários debochados. Numa cidade como Colchester deveria mesmo ser um grande espetáculo assistir o filho de um dos homens mais ricos da região chegar ao fundo do poço e se submeter a um trabalho como aquele. Mas ao invés de ficar incomodado ou constrangido com o comportamento maldoso das pessoas ao seu redor, Hunter apenas usou aquela cena para fortalecer ainda mais o seu plano de sair daquele buraco de cidade.

Assim que o processo chegasse ao fim (e se ele não fosse preso, é claro), Hunter pretendia dar as costas para Colchester e nunca mais pisar naquele lugar. Pensar em se afastar de Emily era terrível, mas Timmons sabia que continuar vendo a ex-namorada todos os dias seria uma tortura ainda maior.

***

- Eu quero dois coquetéis de cereja, um balde de pipoca caramelizada e um pacote das balinhas em forma de globo ocular.

Depois de alguns dias trabalhando no Pat’s, Hunter já tinha se acostumado com alguns clientes mais grosseiros que faziam seus pedidos num tom autoritário e pareciam desconhecer palavras como “bom dia”, “por favor” ou “obrigado”. Naquela noite, porém, não era apenas um cliente rude que o abordava. Havia um certo ar de superioridade na maneira como Chad Clifford fez os seus pedidos, como se ele estivesse se vangloriando por assistir o seu rival tendo que servi-lo.

O olhar frio que Hunter pousou no antigo amigo não durou mais do que dois segundos. O lado mais impulsivo e explosivo de Timmons queria enfiar cada um dos itens pedidos por Chad em um orifício bem específico do corpo do rapaz, mas o fato de precisar daquele emprego (e do quartinho nos fundos do bar onde ele vinha dormindo nas últimas noites), fez com que Hunter respirasse fundo, abafasse os seus piores instintos e agisse com profissionalismo.

- São vinte e dois dólares... – Hunter empurrou uma bandeja sobre o balcão contendo todos os itens pedidos por Chad.

De dentro da carteira, Clifford tirou exatamente vinte e dois dólares e jogou sobre o balcão com indelicadeza. O olhar de desafio que Chad lançou ao atendente deixava claro que ele esperava por uma reclamação por não haver nenhuma gorjeta, como era comum naqueles casos. Então o cliente ficou frustrado quando Hunter apenas pegou o dinheiro e o colocou na caixa registradora.

Clifford não denunciou Hunter mesmo depois de ser brutalmente agredido pelo rapaz, principalmente por não querer expor e magoar ainda mais a ex-namorada. Timmons sabia que tinha sorte por não ter ido parar novamente atrás das grades e por isso ele vinha se esforçando para não cometer mais erros como aquele. Mas Chad parecia estar implorando por mais uma surra quando apoiou os cotovelos sobre o balcão e provocou o rival um pouco mais.

- Acho que você não imagina como é satisfatório assistir essa cena, né? Você com esse aventalzinho, servindo mesas, anotando pedidos, vivendo de gorjetas. Eu tenho a sensação de que algum ser divino finalmente interferiu para que a justiça fosse feita.

De costas para o balcão, Hunter tentou ocupar as mãos e a mente com a pia abarrotada de copos sujos na esperança de evitar as provocações de Chad. Mas como o som do telão ecoava abafado no interior do estabelecimento, Clifford sabia que a sua voz estava chegando até os ouvidos de Timmons.

- E sabe qual será a próxima justiça divina que será feita neste caso? A Emily... Só pra você saber e já estar preparado para mais esse golpe, falta bem pouco pra ela voltar pra mim.

O nome da ex-namorada fez com que Hunter interrompesse o trabalho com a louça suja, mas ele continuou de costas, fingindo ignorar as provocações de Chad. Apenas os ombros mais tensos de Timmons denunciavam que ele tinha ouvido e ficado afetado com as palavras do outro rapaz.

- Ela inclusive aceitou um convite para almoçar na minha casa no próximo fim de semana, como nos velhos tempos. Logo logo as coisas vão se acertar entre a gente e tudo vai voltar a ser como antes.

Dessa vez Hunter não conseguiu continuar fingindo indiferença e um risinho debochado escapou dos lábios dele antes mesmo que o rapaz se virasse para encarar Chad. Por dentro, Timmons estava despedaçado e ele realmente acreditava que Emily acabaria cedendo à velha dinâmica do casal e voltaria para os braços de Clifford depois de tanta insistência do rapaz. Mas Hunter não estava disposto a permitir que Chad se sentisse tão vitorioso.

- Você realmente acha que tudo vai voltar a ser como antes? Eu duvido muito. – o tom de voz de Hunter diminuiu ainda mais durante aquelas provocações – Eu duvido que você algum dia vai se esquecer do que você viu. E eu não me refiro só ao que rolou na quadra, eu estou falando de todas as vezes que você ouviu a Emily dizer que me amava, que ela escolheu ficar comigo, e da forma como os olhos dela brilhavam quando estávamos juntos. Sempre que ela estiver nos seus braços, você vai perceber que aquele brilho não está mais lá e vai se perguntar se a Emy ainda pensa em mim, se ela ainda me quer... E eu vou te poupar dessas dúvidas, Clifford. A resposta é sim.

É claro que Hunter queria provocar Chad e tirar aquele sorrisinho vitorioso dos lábios do rival. Mas Timmons acreditava de verdade em cada uma daquelas palavras, não porque ele estava convencido dos sentimentos de Emily, mas principalmente porque era assim que ele próprio se sentia. Não importava quanto tempo se passasse ou qual outra garota estivesse nos braços dele, parte do seu coração ainda se lembraria de Sinclair e desejaria voltar para ela.

- Ela nunca vai me esquecer, assim como eu também nunca vou deixar de amá-la. O sentimento que nasceu entre nós dois não é bobo e infantil como a sua obsessão por ela. Mesmo que a Emily nunca me perdoe e que a vida nos leve em caminhos opostos, esse amor não vai morrer e vai continuar sendo especial. Mas eu não duvido que você seja tão otário ao ponto de querer ficar com uma garota que não te ama mais, isso é bem a sua cara. Só não se iluda achando que as coisas serão como antes, porque isso não é verdade.

O queixo de Chad tremeu, os olhos dele se estreitaram e seus dedos apertaram com força o pacote de balinhas, fazendo alguns dos globos oculares estourarem. Isso e a ausência de uma resposta imediata mostravam que o rapaz não só acreditava nas palavras de Hunter, como tinha ficado bastante afetado com aquele discurso.

Como os dois rapazes se encaravam com expressões duras e nada amigáveis, a organizadora do evento provavelmente temia por mais uma briga violenta quando se aproximou do balcão com passos rápidos. Ao ver Emily surgir ao lado de Chad, os ombros de Timmons ficaram ainda mais tensos, mas a explosão que Sinclair tanto temia não aconteceu. Pelo contrário, Hunter usou um tom de voz calmo e abriu um sorriso mecânico ao se dirigir à ex-namorada.

- E aí, Sinclair? Vai querer alguma coisa ou isso aqui também é pra você... – Hunter indicou a bandeja com o pedido de Chad, que de fato parecia ser o suficiente para duas pessoas – Talvez o Clifford tenha se esquecido que as suas calorias são milimetricamente contadas e que você só abre exceções para sorvete, Coca-Cola e chocolate, né? Então toma isso, pra sua noite não ser um fiasco completo...

Um pacotinho com os dentes de vampiro de chocolate foi jogado sobre a bandeja de Clifford e Hunter tentou ignorar como seu coração estava derretido e rendido à beleza de Sinclair naquela noite. Era desesperador pensar que ela passaria as próximas horas nos braços de Chad, então Timmons estava quase aliviado por estar atrás daquele balcão e não precisar assistir aquela ceninha indigesta.
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Mensagem por Emily Sinclair Qui maio 02, 2024 5:55 pm

Emily já sabia que Hunter detestava os cavalos, que trabalhar no haras da família era uma tortura e que ele só tinha aceitado as imposições do pai porque não tinha outra escolha. Por ter acompanhado de perto algumas das discussões entre pai e filho, ou até mesmo a coragem de Henry em deixar seu único filho esquecido atrás das grades como se isso fosse lhe servir alguma lição, Emily não tinha dúvidas de que a situação era delicada e nada agradável dentro da residência dos Timmons. O que Sinclair não conseguia entender era o que tinha mudado em tão pouco tempo para que Hunter decidisse abandonar tudo, enfrentar o pai e recusar a melhor ajuda que ele poderia receber para enfrentar um processo judicial.

Hunter era explosivo, impaciente e impulsivo, então não seria tão absurdo assim imaginar que um mínimo gatilho teria sido suficiente para que ele jogasse tudo pelos ares. Mas Timmons parecia tão decidido a suportar aquele inferno sabendo que era uma fase temporária apenas para não voltar para trás das grades, que Sinclair não conseguia compreender o que tinha acontecido. E como os dois agora estavam separados, Hunter deixou claro que não pretendia entrar em detalhes ou desabafar com a ex-namorada.

Depois de tudo o que tinha sofrido com o fim daquele namoro, das mentiras e manipulações, Emily sabia que precisava manter a distância de Hunter. Mas mesmo com o coração tão partido, ela não conseguia ignorar por completo a preocupação que ainda sentia por ele. E se Timmons não tivesse colocado os seus limites naquela conversa, Sinclair provavelmente teria cometido o erro de insistir, entender e talvez até aconselhar o ex-namorado. Mas a postura de Hunter foi um lembrete dos papéis que ambos agora precisavam ocupar, distantes e separados, sem qualquer vínculo, exatamente como Emy precisava para conseguir sobreviver com aqueles sentimentos ainda intensos dentro de si.

Calada e sem reação, Emy apenas sustentou o olhar de Hunter por mais alguns segundos, se esforçando para ignorar as batidas pesadas do seu coração dolorido, e se limitou a fazer um pedido para levar, de modo que não precisasse continuar no Pat's, alimentando a tortura dos dois.

***

Usar saltos finos e altos talvez não fosse a escolha mais confortável para quem pretendia trabalhar naquela noite, mas claro que a vaidosa Emily Sinclair não abriria mão de cuidar da própria aparência, mesmo que isso significasse que suas pernas estariam exaustas e os pés doloridos antes do fim daquela noite.

Como a maioria das garotas que se reuniam para o Drive-In naquela noite de Halloween, Emily tinha aproveitado a desculpa para usar uma roupa decotada e sensual. O vestido vermelho era longo e até elegante, mas trazia uma fenda profunda em uma das suas pernas, deixando a coxa direita praticamente toda exposta. Embora fosse magrinha, o busto de Sinclair sempre era algo que chamava mais atenção, principalmente quando ela abusava dos decotes, e a fantasia de Jessica Rabbit sabia exatamente como realçar as curvas dos seus seios.

A escolha daquela personagem para a noite de Halloween tinha acontecido quando Hunter e Emily ainda estavam juntos. No live-action, Jessica Rabbit tentava inocentar o marido acusado injustamente de assassinato, com a ajuda de um detetive. Além de ser uma personagem ruiva e sensual, Emy tinha brincado com a licença poética de que também estava empenhada em inocentar Timmons das acusações que ele teria que responder na justiça.

Agora que os dois estavam separados, Emy se sentia um pouco tola vestindo aquela fantasia, mas não havia mais tempo de encontrar uma segunda opção. E pelo menos ela sabia que tinha atingido seu objetivo de estar atraente com os fios ruivos soltos e a maquiagem marcante, usando luvas que ultrapassavam seus cotovelos.

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Como Emy tinha evitado o Pat's naqueles últimos dias, ela não tinha conseguido fazer toda a conferência que desejava para aquela noite, então a menina estava ainda mais agitada que o normal, mesmo enquanto todos já se acomodavam em seus carros ou algumas fileiras de cadeiras para assistir ao primeiro filme. Perfeccionista como sempre, Sinclair tinha caprichado em toda a decoração, mas havia muito mais trabalho para ser feito além do que as pessoas eram capazes de enxergar.

Aquela não era só uma festinha improvisada na casa de um amigo. A estrutura era maior, havia a logística de carros, o operacional da máquina de cinema, a estrutura do telão, a cobrança de ingressos e a garantia para que não tivesse superlotação. Claro que todo o comitê de eventos da MMU estava trabalhando e espalhado em diferentes atividades e responsabilidades, mas Sinclair, como presidente, precisava garantir que tudo estivesse perfeito.

Ao invés de se acomodar em um dos carros, de se juntar aos amigos e aproveitar aquela noite, Emily pretendia trabalhar durante todo o tempo. E de preferência, bem longe da parte interna da lanchonete, onde Hunter Timmons estaria. Mas foi impossível ignorar mais uma onda de atritos entre seus dois ex-namorados, o que obrigou Emy a se aproximar das duas pessoas que ela mais queria distância naquela noite.

Com os ombros tensos e a respiração mais pesada, os olhos castanhos da menina passaram de um rapaz para o outro. Era impressionante como Chad e Hunter só precisavam se encarar para que o clima inteiro do ambiente se transformasse. E como sempre, Emy se colocava bem no meio daquele furacão. A verdade era que não importava o que Sinclair fizesse, ela sempre estaria bem no meio daquela história.

- O que vocês dois estão fazendo?

- Eu só vim comprar alguma coisa para a gente comer durante o filme. - Chad usou o seu melhor ar de inocência, mas propositalmente respondendo a pergunta de Timmons. - O primeiro já começou, mas eu sei que o segundo é o seu preferido. Vamos? Eu deixei o meu carro na melhor vaga.

O olhar de Emily mais uma vez deslizou por entre Hunter e Chad. Os três já tinham estado em posições semelhantes no passado, onde Timmons manipulava a situação para obrigar a namorada a excluir Clifford e mostrar que estava lhe escolhendo. Era óbvio que Chad estava usando a mesma tática para que Sinclair agora fizesse uma escolha diferente, e a tensão da menina ao insistir no olhar entre os dois mostrava que ela se sentia desconfortável. Mas não houve hesitação, ela não gaguejou e nem pareceu intimidada quando tomou a palavra.

- Eu não posso. Não estou aqui para assistir os filmes, Chad. Eu sou a principal responsável pelo evento!

Não era uma mentira, uma simples desculpa para se esquivar do ex-namorado. Mas Emily se sentia grata por ter tanto trabalho e com isso não precisar alimentar ainda mais o conflito entre os dois rapazes. O problema era que, com aquela negativa, era como se mais uma vez Sinclair estivesse dando o ponto para Timmons. E Clifford não estava disposto a enfrentar mais derrotas.

- Está bem, então eu vou te ajudar. Vamos?

Emily se sentiu como um objeto no meio daquela disputa ridícula. Algumas garotas até poderiam se sentir prestigiadas por ver dois dos rapazes mais atraentes de Colchester vivendo em guerra por causa dela, mas Sinclair estava cansada de ser sempre um prêmio de uma disputa machista. No final, era como se os sentimentos dela ou até mesmo a presença dela não fizessem diferença alguma, que a única coisa que importava para os dois rapazes era vencer.

Mas Emy também estava cansada de precisar mostrar o tempo inteiro se estava escolhendo um ou outro rapaz. A única coisa que ela precisava naquele momento era garantir que Clifford saísse da presença de Timmons e evitasse que Hunter se complicasse ainda mais com uma nova briga física.

Com uma das mãos, Chad puxou a bandeja, mas Emily rapidamente puxou a embalagem dos dentes de vampiro de chocolate para si. E ela lançou um olhar na direção de Hunter enquanto murmurava um agradecimento. Timmons até poderia ter feito aquilo para provocar Clifford, mas ele também conhecia a ex-namorada bem o bastante para saber que ela tinha passado o dia inteiro ocupada na preparação do evento e que tinha se esquecido de comer.

- Eu esqueci de comentar, mas você está linda. - O olhar de Chad deslizou pelo corpo dela logo que os dois deram as costas para sair da lanchonete, mas claro que ele usou uma entonação alta o bastante para que o funcionário do Pat's escutasse aquele elogio.

***

- Hey, Emy! Nada mal para uns filmes velhos, hein?

Sentada sobre o capô de um carro, na companhia de mais duas amigas, Pamela elevou a voz ao perceber Sinclair passando por perto. No telão, o primeiro filme já passava os créditos finais e a programação dizia que haveria um intervalo de vinte minutos até o próximo começar.

A julgar pelo estacionamento lotado e pelas pessoas que conversavam animadas ou que já se encaminhavam para a lanchonete para uma nova remessa de guloseimas, Emily já imaginava que a noite estava sendo um sucesso. Mesmo com o frio, algumas pessoas tinham puxado cobertores e se adaptado para assistir o filme em grupos ou se enfiado nos bancos traseiros para ter um pouco mais de privacidade.

Como tinha prometido que ajudaria a ex-namorada, Clifford tinha ido até a bilheteria conferir a lotação do local enquanto Emily tentava uma breve escapada até o banheiro. E foi no meio daquele trajeto que Pamela interrompeu os passos da capitã, desceu do carro e abriu um sorriso falso.

- Que bom ver que você está superando aquela história do Timmons. Vai por mim, Emy, nenhum cara vale o nosso sofrimento. Especialmente um canalha como o Hunter, não é?

- Agora o Hunter é um canalha? Você vivia correndo atrás dele, Pam. - Emily cruzou os braços e rolou os olhos, sem sustentar aquela falsidade. - Inclusive quando ele estava comigo, não é?

- Pelo menos eu fui esperta o bastante para não me apaixonar, não é? Olha, sem essa de rivalidade feminina, Emy! Eu sempre soube o tipo de cara que o Timmons era, por isso nunca me iludi. Mas que bom que você também está deixando isso para trás, porque não dá para ficar chorando por um cara que já está até fazendo a próxima vítima.

- Próxima vítima? - Emy soou com desdém. - O que foi, vocês dois vão se agarrar nos fundos do Pat's, é?

- Querida, eu nunca fui uma vítima do Tim. Mas eu estou falando da Bloomfield.

- Como é que é?

Pamela quase não conseguiu disfarçar um sorrisinho satisfeito ao ver o choque e a confusão estampados no rosto de Sinclair. Não que ela recusasse qualquer oferta de Hunter para que os dois voltassem para a velha dinâmica, mas era um prazer ainda maior ver aquele rostinho perdido de Emily diante de algo ainda mais podre.

- O que? Você não está sabendo? Por favor, Emy... Todas nós vimos! Os dois estavam um grude mais cedo. E o Tim nem poupou elogios para a fantasia da Bloomfield. Acho que ela deve ser bem o tipo dele... O tipo que é ex de um amigo e muito fácil de enganar.

- Você está viajando. - Emily rolou os olhos e deu as costas para Pamela. - A Libby é minha prima, ela não faria isso.

- Talvez não... Mas você sabe que não dá para confiar no Timmons, não é? Ele não se importa com mais ninguém além do próprio umbigo.

***

O segundo filme estava quase pela metade, mas nem todo aquele tempo tinha sido suficiente para que Emily parasse de pensar nas provocações de Pamela. Não havia dentro dela nenhuma dúvida ou desconfiança sobre o comportamento de Liberty Bloomfield. Bom, talvez Hunter tivesse mesmo uma lábia boa o bastante para convencer até mesmo uma garota como Libby, mas era difícil acreditar que sua prima continuaria lhe tratando como sempre, agindo como a sua melhor amiga, enquanto se apaixonava pelo seu ex-namorado.

O problema era que era mesmo muito difícil confiar em Timmons. Se ele tinha se aproximado dela só para atingir Clifford, o que poderia impedir Hunter de fazer algo parecido com Liberty? Ela e Dexter não estavam mais juntos, Thompson também estava seguindo em frente. Na falta de confiança que Emily vinha sentindo, não era impossível imaginar que Hunter iria tão longe se quisesse adicionar Libby na sua lista.

Irritada e agitada com aqueles pensamentos, Emily não conseguia se concentrar no telão nem mesmo quando conseguiu parar alguns minutos para descansar. Ao seu lado, Chad comia a metade do balde de pipoca com o olhar preso nas cenas tensas de terror, mas tudo o que Sinclair conseguia enxergar era o trabalho da própria imaginação, da conversa animada e dos elogios que Timmons teria feito para Libby.

- Eu preciso ir ao banheiro. - Emy declarou em um impulso, no ápice da sua agitação. - Já volto.

A melhor maneira de entender o que realmente estava acontecendo era procurar Liberty e tentar conversar com a prima para entender a visão dela, e não cair como um patinho na armadilha de Pamela. E a ideia de Emy era conseguir se afastar alguns minutos do evento apenas para colocar a cabeça em ordem, o problema era que Sinclair mal tinha chegado na metade do caminho para os banheiros quando um zunido ecoou pelo estacionamento enquanto as luzes se apagavam.

Como todos os carros estavam desligados para não atrapalhar o telão, o estacionamento inteiro mergulhou em uma imensa escuridão. Não dava para ver as sombras dos carros e nem se o seu caminho até a lanchonete estava liberado. Com os olhos arregalados, Emy girou o pescoço de um lado para o outro, tentando entender o que estava acontecendo.

- Só pode ser brincadeira!!! Dez minutos de descanso! Eu só queria DEZ MINUTOS! É pedir muito?

Bufando irritada, Emy sabia que seu mau humor ia muito além das obrigações do evento ou de um imprevisto daqueles. E ela contou até dez, esperando pelo tempo que o gerador tinha para ligar e a energia voltar, mas quando tudo continuou mergulhado na escuridão, Emy soltou um novo palavrão e puxou o celular para usar a lanterna e tentar iluminar seu caminho até o armário de equipamentos aos fundos do Pat's, onde ficava o gerador.
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Mensagem por Dexter Thompson Qui maio 02, 2024 6:49 pm

Diferente de Emily e Hunter, Dexter não tinha feito um grande estrago que tinha causado o fim do seu relacionamento com Liberty. Pelo contrário, mesmo separado de Bloomfield, Thompson continuava empenhado em ajudar a ex-namorada em segredo, provando que seus sentimentos eram sinceros e que ele não estava fazendo nada apenas com a intenção de tê-la de volta.

Quem tinha declarado o fim do namoro tinha sido Libby. Ela tinha dito com todas as letras quais eram as suas prioridades e que Dexter não se encaixava ali. E apesar de ter pedido desculpas pelo seu erro de julgamento, Liberty nunca tinha dito ter mudado de opinião quanto a isso ou quanto aos seus sentimentos por Dex. Então, para Thompson, a ex-namorada não o amava e já tinha se cansado da história dos dois.

Se Libby tinha terminado o relacionamento, Dexter não tinha motivos para se preocupar em ser visto ao lado de outra garota. Tecnicamente não tinha passado tanto tempo assim desde que Leonard Wooton tinha ido embora de Colchester roubando o software da meia-irmã, mas isso não mudava o fato de que Dex agora era um rapaz solteiro e que tinha ao seu lado alguém que estava se empenhando muito mais em lhe dar atenção e lhe fazer feliz.

Debby era linda, atraente e se encaixava muito mais como o tipo de garota para ser vista ao lado de um quarterback popular e bonito. Aliás, o capitão do time de futebol e uma líder de torcida era uma combinação clássica e até um pouco clichê, mas que fazia sentido. Só que não era apenas a beleza, as curvas, os cabelos loiros ou os olhos azuis de Debby que tinham atraído a atenção de Dex daquela vez. Era aquela carência que ele vinha tentando esconder de si mesmo e que Debby parecia ter acertado em cheio que realmente estava mexendo com Thompson.

Mas não havia carência, fatos ou razão que fizessem Dexter mudar o que ele realmente sentia. Debby até conseguia tampar um pouco daquele buraco que a falta de atenção e carinho vinham causando nele, mas bastava que Liberty entrasse no seu campo de visão para que o rapaz se visse tomado de verdade pelo grande poder do amor. E ele amava Libby de uma maneira tão intensa e arrebatadora que o ar faltava por alguns instantes e o restante do mundo se ofuscava para que ele prestasse atenção apenas nela.

A fantasia de Bloomfield não era algo previsível ou comum, mas o olhar embasbacado de Thompson mostrava o quanto ele se sentia admirado pela visão dela naquele vestido, dos cabelos bem arrumados e da maquiagem. Nem mesmo os decotes e as roupas curtas de Debby tinham atraído tanto a atenção de Dexter como a ex-namorada fez com ele sem nenhum esforço.

Apesar de toda aquela produção não combinar com o perfil de alguém que pretendia ir embora nos minutos seguintes, Dexter estava tão acostumado a ver Liberty fugindo dos encontros sociais que não pareceu surpreso com aquela desculpa. E aquele parecia ser mais um traço nas diferentes personalidades dos dois, porque enquanto Bloomfield estava sempre ocupada demais ou interessada de menos em festinhas, Dex adorava a desculpa de se enfiar em qualquer evento para se divertir com os amigos.

A única coisa que chamou a atenção de Dexter foi o olhar ofendido e magoado de Liberty depois da provocação de Debby. Só que o raciocínio lento de Thompson foi incapaz de seguir o mesmo caminho que a mente de Libby. Tombando a cabeça para o lado com o seu típico olhar confuso, Dex parecia perguntar o que estava acontecendo para Bloomfield agir daquela maneira.

- Ela é a Zarah. - Dexter respondeu com naturalidade. - Zarah, a guerreira élfica.

Alguns meses atrás, se qualquer um perguntasse para o cara mais popular da MMU quem era Zarah, a guerreira élfica, Dexter prontamente lançaria seu olhar mais perdido do mundo, porque ele nunca tinha escutado nada sobre aquela personagem. Mas depois de namorar Liberty, de se envolver no mundinho nerd dela e de acompanhar os interesses dos livros, filmes e jogos, Dex provavelmente era uma das poucas pessoas no Pat's naquela noite que sabia qual era a fantasia da menina.

***

- Pronto. Você pode abrir os olhos agora.

- Tem certeza?

Agarrada ao braço de Dexter, Debby manteve os olhos fechados e as unhas quase afundando na pele do rapaz. Enquanto a garota parecia prestes a chorar, Thompson tinha um ar divertido ao confirmar que ele tinha certeza e que era seguro abrir os olhos. E Debby ainda sustentou um semblante desconfiado enquanto se virava para a tela e se certificava de que realmente a cena sanguinária tinha acabado.

- Credo! Que tipo de pessoa gosta de um filme desses? Um boneco assassinado humanos? E eles conseguem fazer mesmo horripilante!

A cabeça de Dexter tombou para trás em uma gargalhada alta e sonora. Como ele e Debby estavam acomodados no capô do carro, envolvidos em um cobertor como um típico casalzinho, as pessoas ao redor conseguiam testemunhar aquela cena adorável. Assim como os beijos e as carícias que os dois trocavam vez ou outra.

Apesar de manter um braço ao redor do corpo de Debby, o olhar de Dexter vez ou outra varria todo o estacionamento, buscando por qualquer sinal de Liberty. Como a ex-namorada tinha dito que iria logo embora, Dex até acreditava que Bloomfield já estaria em casa, mas era mais forte do que ele continuar naquela busca, como se fosse vital para sua existência ter o mínimo de contato visual com Libby.

Enquanto o primeiro filme passava no telão, Dexter e Debby continuaram abraçados. Mas a mente de Thompson vez ou outra o arrastava de volta para o breve encontro com Liberty no início da noite. Havia uma parte de Dex que se sentia bastante incomodado por estar com outra garota na frente da ex-namorada, mas uma vozinha cortante e ríspida ecoava na sua cabeça dizendo que Bloomfield nem se importava.

Além da distração dos próprios pensamentos, o filme estava quase chegando ao fim quando o celular de Dexter começou a vibrar. Sob o olhar desconfiado de Debby, o rapaz puxou o aparelho até ver algumas mensagens de JJ. E Dex também não se sentiu nada constrangido em deixar de dar atenção para a sua acompanhante enquanto conversava com Wooton.

JJ tinha reforçado naquele mesmo dia que Leonard ainda não desconfiava de toda a movimentação que ele vinha fazendo, mas que eles não podiam continuar alongando tempo demais, já que o rapaz começava a cobrar pelas correções dos bugs que o irmão mais velho teoricamente precisaria estar trabalhando. Então Dexter tinha sugerido a JJ que viesse até Colchester na semana seguinte, e não era uma coincidência que ele fizesse aquele convite logo para o mesmo dia que Liberty faria aniversário.

Provavelmente, receber a visita de um Wooton seria a última coisa que Bloomfield desejaria. Mas depois de todo aquele tempo conversando com JJ, dos e-mails e até conferências feitas com alguns advogados, Dexter precisava admitir que não tinha motivos para desconfiar do Wooton mais velho. E se JJ estava tão empenhado em enfrentar Lenny por causa de uma garota que ele sequer conhecia Dex estava curioso para ver a reação quando ele soubesse que Libby também era sua irmã.

- Está tudo bem?

Como nunca houve um namoro declarado entre Dexter e Debby, a menina sempre acreditava que não tinha o direito de fazer cobranças ou exigências do quarterback. Mas ela não disfarçou tão bem o incômodo ao vê-lo desviando a atenção para o celular.

- Sim. É só um amigo que está me ajudando com um problema. - Ao ver o letreiro subindo no telão, Dexter inclinou a cabeça na direção da lanchonete. - Temos alguns minutos até o próximo filme, quer refil da pipoca?

- Claro. Eu vou ao banheiro, já volto.

***

Além dos banheiros no interior da lanchonete, alguns banheiros químicos também tinham sido instalados aos fundos do estacionamento, para facilitar o fluxo que imediatamente aumentou durante o intervalo de um filme ao outro. A maioria das pessoas começaram a se mover para fora dos carros e dos seus lugares, fosse para comprar mais alguma bebida ou guloseima, ou para se aliviar nos banheiros.

Enquanto Dexter seguiu para o interior do Pat's, Debby olhou ao redor e estava pronta para procurar o banheiro quando notou aquele vulto vermelho das vestes de Zarah. Ela mordeu o lábio inferior enquanto avaliava as suas opções, e foi com um sorrisinho sacana que acabou se deixando ir na mesma direção de um dos banheiros químicos.

Como Debby estava há uma pequena vantagem de distância, ela alcançou primeiro o banheiro. Mas a menina não demorou e logo estava saindo, fingindo surpresa ao se deparar com Bloomfield parada do lado de fora, esperando a sua vez.

- Oi. - Debby nem se deu ao trabalho de sorrir enquanto dava a vez para Libby, e a menina até fingiu que seguiria em frente quando dei meia-volta e soltou um suspiro, encenando com perfeição um arrependimento que não existia. - Olha, foi mal pelo comentário lá no Pat's, Bloomfield. Eu sei que fui uma vaca, não queria ter te ofendido. A sua fantasia até que é legal.

Com as asinhas da sua fantasia de anjo balançando, Debby apoiou as mãos na cintura e soltou um suspiro, como se ter aquela conversa mais “honesta” exigisse um grande esforço.

- Eu sei que não sou a pessoa mais gentil do mundo com você, acho que no fundo é esse lance de rivalidade feminina que acaba falando mais alto. Mas você e o Dex não estão mais juntos e eu não quero ficar parecendo uma vaca insegura. Então será que podemos deixar essas bobeiras de lado? - Debby esticou uma mão para apertar a de Libby em sinal de paz. - Não precisamos ser amigas, mas que tal civilizadas?

Liberty ainda pareceu um pouco desconfiada com aquele acordo, mas Debby rolou os olhos e foi mais rápida, ainda insistindo naquele papel de ser tão difícil ser legal.

- Olha, eu poderia ficar quieta e deixar você passando vergonha por aí, mas é que dá para ver uma manchinha na parte de trás do seu vestido. Toma, aqui... Isso vai ajudar.

A bolsinha branca que Debby usava atravessada no tronco era pequenininha e discreta, e de dentro dela a garota tirou um bolsinho ainda menor, de tecido, que foi empurrado para a mão de Liberty. Quando Bloomfield abriu o zíper e encontrou o absorvente íntimo, entenderia sobre o que a líder de torcida estava falando.

- Pode usar, depois você me devolve a bolsinha, tá? O carro do Dex tá na primeira fileira e ele saiu para pegar mais pipoca, então sem drama.

***

Dexter tinha mesmo saído para pegar o refil da pipoca e mais duas bebidas. E com o Pat's cheio durante aquele intervalo, já era de se esperar que o rapaz levasse todo o tempo disponível e talvez até perdesse o começo do próximo filme. Mas a amizade com Hunter Timmons tinha permitido que o quarterback poupasse um tempo considerável, então ele já estava de volta ao carro praticamente um minuto depois de Debby.

- Podemos ficar aqui dentro um pouquinho? Está esfriando!

- Claro.

Ele empurrou a pipoca para o colo de Debby e já estava puxando novamente o celular para responder as últimas mensagens de JJ quando sentiu as mãos da sua acompanhante deslizando pela sua nuca. A pipoca foi deixada nos pés de Debby e as bebidas no suporte do painel enquanto a menina se ocupava em afundar os dedos nos cabelos de Thompson, tomando a iniciativa de um beijo.

Ainda com o celular na mão, Dex se atrapalhou um pouco e demorou a reagir até bloquear a tela do aparelho e deixar de lado, para corresponder aos toques e beijos de Debby. Por já estar bastante familiarizado com o ritmo que a garota demonstrava quando queria apimentar as coisas, o corpo de Dexter não demorou para começar a responder, mas ele ainda lançou um olhar preocupado para as janelas do carro e o estacionamento movimentado.

- Debby, não acha melhor a gente fazer isso mais tarde...? Alguém pode ver!

- Ninguém vai me ver. - Ela prometeu com um sorrisinho malicioso enquanto deslizava a mão pelas coxas de Thompson. - E nós podemos continuar isso mais tarde, mas eu queria te dar só uma pequena amostra, gostosinho. Vai dizer que você não está com saudades?

O coração de Dexter era inteiramente de Liberty, ele ainda era perdidamente apaixonado e só conseguia pensar na ex-namorada. Mas o seu corpo mostrou que não reprovava a atitude ousada de Debby, e talvez por já ter vivido momentos como aquele outras vezes, era como seguir um script de um filme já conhecido.

Apesar da tensão e do olhar preocupado ao redor, Dexter soltou o ar enquanto se acomodava melhor no banco do motorista. E quem olhasse de fora realmente acreditaria que Thompson estava sozinho quando Debby abaixou a cabeça na direção das pernas do rapaz. O sorriso da menina era largo e satisfeito depois de abrir o zíper da calça jeans que Dex usava, e ela até soltou um risinho malicioso quando escutou o palavrão do rapaz ao iniciar aquela carícia mais íntima.

Há alguns corredores de carros de distância, Liberty não demoraria até alcançar o carro do ex-namorado. E mesmo que ela não notasse a presença de Debby através dos vidros, o olhar vidrado de Thompson e a forma com que ele deixava as pálpebras pesarem vez ou outra já mostravam que alguma coisa estava acontecendo. Libby já estava próxima o suficiente quando Dex fechou os olhos com mais força e tombou a cabeça para trás, em um semblante de satisfação. E dois segundos depois, a cabeça de Debby surgiu ao lado do rapaz, usando uma das mãos para secar o cantinho dos lábios preenchido por um sorrisinho deliciado.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Qui maio 02, 2024 8:55 pm

Cada minuto do dia de Liberty Bloomfield era cuidadosamente cronometrado. A garota era tão organizada e meticulosa com os seus horários e os seus compromissos que tinha o costume de calcular até as horas que ela dormiria ou os minutos que perderia indo ao banheiro ou fazendo as refeições. Então é óbvio que Libby não costumava ser pega de surpresa com as alterações do seu ciclo menstrual.

Como se aquele aspecto da vida dela refletisse a mesma disciplina que Bloomfield possuía para todo o resto, a garota também costumava ter um ciclo muito bem regulado. Liberty tinha total controle da data em que a sua menstruação deveria descer, de quanto tempo o sangramento costumava durar ou do seu período de maior fertilidade do mês. Por isso a menina ficou sinceramente surpresa e confusa quando Debby mencionou a manchinha e lhe ofereceu um absorvente.

Segundo os cálculos de Libby, ainda faltavam quase duas semanas para que ela chegasse até aquela fase do ciclo. Não tinha sido um descuido sair de casa sem um absorvente, a garota simplesmente não pensou que aquilo seria necessário e nem tinha sentido nenhum fluxo anormal nas últimas horas. Mas depois de ter vivido dias de tanta tensão e infelicidade, Liberty não conseguia descartar a possibilidade de todo aquele estresse ter desregulado o seu ciclo. E foi com uma expressão constrangida que Libby aceitou o “favor” de Debby e ainda agradeceu a colega por aquele toque.

Era constrangedor para Bloomfield pensar que ela estava circulando pela festinha com o vestido manchado. Por sorte, o tecido vermelho poderia ter ajudado a camuflar aquela marquinha e o ambiente mais escuro do estacionamento certamente tinha evitado que mais pessoas notassem o descuido da menina. Tanto isso parecia ser verdade que Liberty tinha passado a última hora dividindo uma toalha com Martínez no gramado em frente ao telão e nem mesmo o amigo demonstrou ter notado nada estranho com o vestido dela.

Quando se fechou dentro da cabine estreita do banheiro, a intenção de Libby era avaliar o tamanho do estrago e tentar se limpar. Mas uma ruguinha de confusão surgiu entre os olhos castanhos no instante em que Bloomfield abaixou a calcinha branca e a encontrou impecavelmente limpa. Ainda existia a chance de Liberty ter se sentado acidentalmente em alguma superfície suja e ter manchado o vestido, mas a garota também não encontrou nenhuma mancha mesmo depois de conferir cuidadosamente toda a sua fantasia.

Simplesmente não fazia sentido que Debby mentisse sobre algo tão bobo. Se a intenção da garota era humilhar a novata ou fazer Libby se sentir constrangida, Debby poderia ter inventado uma mentira melhor, algo que não fosse tão fácil de ser conferido e descartado. Também não fazia o menor sentido que Debby inventasse toda aquela história como uma desculpa para se aproximar ou para selar a paz com a rival. Além de não existir uma guerra declarada entre as duas, era bem óbvio que Thompson já tinha feito a sua escolha e que Liberty não era mais uma ameaça contra Debby. E é claro que Bloomfield não acreditou nem um pouco naquela oferta de paz da outra menina.

Mesmo não entendendo as motivações que levaram Debby a fazer aquela jogada, nem por um momento Liberty desconfiou que a garota estivesse tramando algo tão baixo. Por isso, depois de usar o banheiro e checar que não havia nada errado com o próprio vestido, Bloomfield começou a andar pelo estacionamento na tentativa de localizar Debby e devolver a ela o absorvente que Libby não precisava usar naquela noite.

Quando escolheu se sentar no gramado diante do telão para assistir ao filme na companhia de Martínez, Liberty havia calculado muito bem aquela decisão. Ali, distante do local onde os carros estavam estacionados, Bloomfield sabia que eram menores as chances de ter que se deparar novamente com Dexter e Debby. A última coisa que Libby desejava naquela noite era assistir o casalzinho trocando beijos e carícias durante o filme, então o plano dela naquele momento era aproveitar o intervalo para devolver a bolsinha para Debby o mais rápido possível e sair dali antes que Thompson retornasse da lanchonete.

Como Libby já tinha avisado para Martínez, ela não pretendia alongar demais a noite. Então depois de resolver aquela pendência com Debby, a menina também pretendia procurar por Michael, anunciar que já estava de saída e se despedir do amigo. Tudo o que Bloomfield mais queria era poupar o próprio coração de mais um golpe doloroso, mas o destino mais uma vez não facilitou as coisas para a novata.

Por já ter estado dentro do carro de Dexter tantas vezes, Liberty não teve dificuldade para localizar o veículo num canto da primeira fileira do estacionamento. Com a iluminação fraca, Libby inicialmente não enxergou nada através dos vidros escuros do carro, então ela continuou caminhando naquela direção, convencida de que só encontraria uma pessoa no interior do veículo.

E, de fato, Liberty só viu a sombra de uma pessoa no banco do motorista quando se aproximou um pouco mais do carro. Mas Bloomfield só notou que essa pessoa era Dexter quando ela já estava perto demais, praticamente ao lado da janela.

Thompson estava tão desconectado da realidade e distraído que ele não pareceu notar a proximidade da ex-namorada. Se quisesse, Liberty teria saído de perto dele silenciosamente, sem nem ser notada. Mas foi a expressão e o comportamento de Dexter naquela noite que deixaram Libby confusa e sem reação.

Com as pálpebras pesadas, os lábios entreabertos e um olhar vago, Thompson parecia estar em outro mundo naquele momento. Como não conseguia ver Debby do ângulo em que estava, Liberty demorou demais até entender o que estava acontecendo ali. As coisas só ficaram mais claras (e muito mais indigestas) para Bloomfield no momento em que Dexter tombou a cabeça para trás e contraiu o rosto numa expressão deliciada. E o movimento da mão dele indo na direção da cabeça de Debby naquele instante fez com que Liberty finalmente notasse o reflexo dos cabelos loiros entre as pernas do rapaz.

Aquele era o pior pesadelo que Libby poderia vivenciar, um verdadeiro filme de terror que nunca mais sairia da memória dela. Bloomfield vinha fugindo da possibilidade de ver Dexter aos beijos e amassos com Debby, então é óbvio que ela não estava nem um pouco preparada para se deparar com uma cena ainda mais constrangedora. E muito pior do que assistir de tão perto o ex-namorado recebendo uma carícia tão íntima de outra garota foi notar o quanto Thompson parecia estar gostando dos toques de Debby.

Era evidente que Dexter estava deliciado e totalmente excitado com o comportamento ousado da menina. E pela respiração pesada, o olhar perdido e o semblante satisfeito do rapaz, Debby era o tipo de garota que sabia muito bem o que fazer para levar um cara até o paraíso. Se antes só a imaginação de Liberty já estava sendo suficiente para alimentar a insegurança dela, agora aquela ceninha não deixaria que Bloomfield tivesse mais nenhuma dúvida de que ela jamais chegaria aos pés de uma garota sexy, ousada e experiente como Debby.

O estômago de Libby protestava loucamente e ameaçava expulsar todos os doces que a menina havia ingerido naquela noite. E agora tinha ficado muito claro para Bloomfield o que Debby queria com aquela história idiota sobre uma mancha no vestido. Era claramente uma emboscada e uma provocação, Debby tinha calculado tudo para que Liberty caísse naquela armadilha. Mas, mesmo ciente do golpe articulado pela outra garota, Libby não conseguiu reagir. Aquela imagem feria os olhos e despedaçava completamente o coração da ex-namorada de Dexter, mas ainda assim Bloomfield não conseguiu fugir daquela tortura. Completamente petrificada pelo choque e pelo asco, Liberty sentiu as pernas travadas e o olhar preso naquela ceninha grotesca.

Depois que Debby levantou a cabeça, a visão periférica dela captou a imagem de Liberty parada ao lado do carro. E ao notar que a novata estava congelada pelo choque, Debby decidiu que poderia torturá-la ainda mais. Com Dexter ainda entorpecido de prazer e sem noção da realidade, a loirinha foi ainda mais ousada quando se apoiou no banco apenas para conseguir enfiar uma das mãos debaixo da saia da fantasia e puxar a calcinha.

- Espero que ainda reste algum fôlego, gostosinho, porque eu quero mais. Muuuuito mais. Eu quero você dentro de mim. Agora, Dex!

Além de Liberty estar perto o bastante para ouvir os sons que vinham de dentro do carro, Debby fez questão de erguer um pouco mais o volume da própria voz para garantir que aquela provocação seria ouvida pela outra menina. E a risada gostosa e satisfeita de Debby também ultrapassou os limites do vidro quando ela sentiu as mãos fortes de Thompson a puxando para o colo dele. Mesmo depois de Dexter empurrar o banco do motorista um pouco para trás, ainda havia pouco espaço entre o banco e o volante, mas isso definitivamente não foi um problema para o casalzinho que colou os corpos.

Com os joelhos de Debby pressionados ao redor da cintura dele, Dexter apoiou as mãos na cinturinha fina da garota e ajudou Debby a se movimentar sobre ele. Com os corpos encaixados, Debby mais uma vez mostrou que sabia exatamente o que fazer para tirar qualquer rapaz de órbita. Thompson estava completamente envolvido pelo momento, soltando suspiros deliciados, com uma expressão intensa de satisfação estampada no rosto e nem pareceu notar quando Debby se atreveu a dar uma olhadinha para o lado.

A malícia se misturava com o prazer no semblante da garota. É claro que Debby estava excitada e deliciada com os toques de Dexter, mas a satisfação dela era ainda maior em saber que a sua grande rival estava assistindo aquela ceninha. Debby podia até ter planejado aquela emboscada e feito Libby cair na armadilha, mas nem toda a culpa poderia ser creditada na conta da garota. Tudo o que Debby fez foi criar o cenário, ela não tinha influência alguma na maneira intensa e sedenta como Thompson estava reagindo às investidas dela.

Debby não podia ser responsabilizada pela expressão boba de prazer no rosto do rapaz, nem pela maneira como os dedos dele se afundavam na cintura dela e muito menos pela iniciativa que Thompson teve ao puxar o decote de Debby para baixo, inclinar a cabeça e englobar um dos mamilos da menina com seus lábios.

Ironicamente, foi aquele movimento da cabeça que fez com que Thompson finalmente enxergasse uma sombra parada ao lado do carro. E ao se virar naquela direção, o que Dexter viu foi o rostinho de Liberty Bloomfield. Pálida, com uma expressão horrorizada e com lágrimas escorrendo por suas bochechas, Libby pareceu sair daquele terrível estado de transe apenas no instante em que o olhar de Dexter se fixou nela. O único som que a menina emitiu foi um soluço engasgado antes de soltar a bolsinha de Debby no chão, dar meia volta e fugir dali.

Sem olhar para trás, Libby começou a correr entre os carros estacionados, com a visão completamente embaçada pelas lágrimas. E por azar (ou sorte) da menina, foi naquele exato momento que todas as luzes se apagaram e o estacionamento mergulhou na mais completa escuridão.
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Mensagem por Hunter Timmons Qui maio 02, 2024 9:36 pm

Era verdade que a dona do estabelecimento estava pagando muito bem para que seus funcionários trabalhassem naquela noite. Mas também era verdade que Hunter estava fazendo por merecer cada centavo que cairia na sua conta no fim do mês. Com a lanchonete abarrotada de jovens em clima de festa, Timmons ainda não tinha conseguido nem uma pausa de dez minutos para recuperar o fôlego.

Mesmo durante a exibição dos filmes já havia uma pequena fila diante do balcão. E durante os intervalos era ainda maior o número de pessoas que se aglomeravam dentro da lanchonete querendo se reabastecer com bebidas e guloseimas. O evento estava longe de terminar e Hunter já se sentia exausto, mas o rapaz ainda preferia estar trabalhando atrás do balcão ao invés de estar circulando pelo estacionamento, onde ele fatalmente corria o risco de ver Emily e Chad juntos.

Muito antes da provocação de Clifford, Hunter já imaginava que o antigo casalzinho poderia estar caminhando para uma reconciliação. Além de já conhecer muito bem aquela dinâmica de idas e vindas do casal, Timmons sabia que Chad não perderia a chance de se aproveitar de toda aquela situação, da carência que Emily deveria estar sentindo e da dolorosa decepção amorosa que a garota enfrentava. Sinclair parecia gostar de ser paparicada, de ser bajulada, de ver o rapaz aos seus pés implorando por mais uma chance. E isso era algo que Clifford sabia fazer melhor do que ninguém, então parecia óbvio que era uma questão de tempo até que Emily mais uma vez cedesse às investidas insistentes do primeiro ex-namorado.

Mas uma coisa era imaginar que aquela reconciliação acabaria acontecendo mais cedo ou mais tarde. E outra coisa muito diferente era assistir de camarote a garota que ele amava voltando para os braços do seu pior inimigo. Enquanto pudesse evitar aquela cena torturante, Hunter tentaria fugir da situação. E, naquela noite, o trabalho acabou sendo uma excelente desculpa para distrair a mente de Timmons.

É claro que em alguns momentos a imaginação de Hunter conseguia burlar as barreiras erguidas pelo rapaz e ele se flagrava tentando imaginar o que poderia estar acontecendo do lado de fora da lanchonete. Na época do namoro, Emily e Chad costumavam ser muito discretos e não tinham o costume de protagonizar grandes explosões apaixonadas na frente dos colegas, mas era difícil prever como as coisas seriam agora. Sinclair estava carente e Clifford não perderia a chance de se vingar e de fazer uma fofoca mais escandalosa sobre o casalzinho chegar até aos ouvidos de Timmons.

Sem jamais imaginar que era nele que Emily pensava e que a ex-namorada estava bastante incomodada e desconfortável com os boatos envolvendo Hunter e Liberty, o rapaz se esforçou para continuar focado no trabalho. E a fila ao redor do balcão estava especialmente grande quando um grande imprevisto aconteceu e todas as luzes do lugar se apagaram.

Várias pessoas gritaram de susto, outras começaram a rir. Não demorou para que as lanternas de vários celulares se acendessem, fazendo pontinhos de luz brilharem por toda a parte. Era noite de Halloween e, por um momento, Timmons acreditou que aquele blecaute fizesse parte do “show” programado para aquela noite. Conhecendo bem a maneira como a ex-namorada organizava os seus eventos, Hunter não duvidava que tudo aquilo tinha sido cuidadosamente planejado e que fizesse parte de alguma programação divertida daquela noite.

Contudo, quando o tempo foi passando sem que nada demais acontecesse, Hunter precisou descartar a possibilidade de que aquilo fizesse parte dos planos da comissão de eventos. Do lado de fora da lanchonete, algumas vaias ecoaram no estacionamento e as pessoas pareciam irritadas pelo fato do filme ter sido interrompido bem no meio de uma cena empolgante.

E quando Emily entrou pela portinha lateral segurando o celular aceso nas mãos e com uma expressão aflita, Timmons teve ainda mais certeza de que o blecaute não estava nos planos da garota e que aquilo poderia arruinar completamente o evento organizado por Sinclair.

Um ex-namorado que não quisesse mais nada com Emily pouco se importaria com os problemas da garota. E se Hunter fosse mesmo tão sacana, maldoso e vingativo como todos pensavam, ele poderia ficar até feliz e satisfeito por ver o evento de Sinclair se transformando em um grande fiasco. Mas, ao invés disso, Timmons soltou um suspiro pesado, contornou o balcão e foi o primeiro a oferecer ajuda para Emily. Como funcionário do Pat’s, Hunter sabia onde ficava o gerador e já tinha recebido algumas instruções sobre o uso do equipamento. Então, sem dúvida, ele era mesmo a melhor pessoa para socorrer Sinclair naquele momento.

- Relaxa, a Sra. Patmore me mostrou como o gerador funciona. Eu vou dar um jeito...

Os olhos cor de avelã rolaram com impaciência, mas Hunter não ficou realmente surpreso ao ver Emily seguindo os passos dele até os fundos da lanchonete. Timmons tinha garantido que resolveria o problema, mas o fato de Sinclair ir atrás para se certificar era mais uma grande prova de que ela não confiava no ex-namorado.

- Qual o seu problema? O que exatamente você acha que eu vou fazer? – a provocação ácida soou depois que os dois se afastaram da parte mais movimentada da festa e estavam há poucos passos da salinha do maquinário – Eu sei que você não confia em mim e que acha que eu sou um filho da puta que só quer sacanear todo mundo. Mas o que exatamente eu faria com o gerador? Como eu trairia a confiança dele? Talvez eu possa prometer combustível de boa qualidade e usar alguma porcaria, né?

Para alguém que estava acostumada com o comportamento romântico de Chad, a postura mais ácida de Hunter seria uma grande surpresa. Era como se Timmons agora já não fizesse a menor questão de ser gentil, de agradar a ex-namorada ou de convencer Emily a lhe dar mais uma chance.

Ao chegar diante do gerador, Hunter perdeu alguns poucos minutos examinando a máquina na tentativa de descobrir qual era o problema. Depois de checar os cabos, Timmons retirou a tampa do reservatório de combustível e bufou ao encontrá-lo completamente vazio.

- A Patmore é uma velha muito mão de vaca mesmo, não deixou nem uma gotinha de querosene na reserva. Toma, segura isso pra mim...

Sem nenhuma cerimônia, Timmons empurrou o próprio celular para as mãozinhas de Emily e pediu que a menina iluminasse as prateleiras do armário ao lado do gerador. Mesmo na escuridão, Hunter tateou as prateleiras até encontrar um reservatório de combustível. E por estar tão focado no trabalho de realimentar o gerador, Timmons nem se deu conta de que Sinclair estava tendo uma visão completa do fundo de tela do celular dele.

Era simplesmente o mesmo fundo de tela de semanas atrás. Mesmo depois do término, das brigas e da separação, Timmons não tivera coragem de trocar a foto que os dois tinham tirado juntos em Nova York, na mesma noite em que se amaram pela primeira vez. Diferente de Chad, Hunter não tinha esperanças de uma reconciliação e nem estava lutando mais por uma segunda chance. Mas isso não significava que o rapaz já havia esquecido Sinclair ou arrancado a menina do seu coração. Exatamente como o próprio Timmons tinha dito para Chad naquela noite, não importava se os dois estavam separados, aquele amor se recusava a morrer e seria eternamente a lembrança mais feliz e especial da vida de Hunter.

- Pronto, isso aqui deve resolver...

Depois de despejar todo o querosene dentro do reservatório, Timmons reiniciou a máquina. Por três segundos, nada aconteceu. Mas foi então que o motor do gerador começou a funcionar e as luzes se reacenderam. Nos fundos da lanchonete foi possível ouvir os gritinhos animados e os aplausos das pessoas na festa. Apesar daquele pequeno incidente, a noite ainda tinha tudo para ser um grande sucesso.

- Eu só vou lavar as mãos e já volto pro balcão. Meu celular...

Como um pouco de querosene havia respingado nas mãos de Hunter, o rapaz acabou arregaçando as mangas da camisa para evitar que o tecido se sujasse. E como agora as luzes estavam acesas e o ambiente estava muito bem iluminado, um detalhe na mão do rapaz ficou muito evidente no instante em que Timmons estendeu o braço para pegar de volta o próprio celular.

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Mesmo que Emily não soubesse exatamente há quanto tempo aquela tatuagem existia, a garota sabia que Hunter não tinha aquela marquinha antes do término. Na noite em que Chad estourou a bomba e mostrou a gravação para Sinclair, Emily estava nos braços do namorado e ela certamente teria notado aquele detalhe. Isso significava que Timmons tinha marcado o próprio corpo com a inicial do nome dela DEPOIS do fim do relacionamento.

Se Emily já se sentia tola e arrependida pela atitude impulsiva de tatuar a inicial de um namorado na própria pele, era ainda mais bizarro pensar que Timmons tinha tomado aquela decisão depois que os dois já não estavam mais juntos. Mas, mais uma vez, Hunter não tinha feito aquilo de maneira impensada. Mesmo que Emily nunca mais fosse dele, ela ainda era uma linda lembrança feliz que o rapaz queria eternizar na própria pele, como um bilhete constante da melhor fase da sua vida.
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Mensagem por Emily Sinclair Sex maio 03, 2024 3:34 pm

- O meu problema??? Você quer saber qual é o meu problema??? O meu problema é que eu estou no meio de um evento e esse fim de mundo não consegue nem sustentar um projetor de cinema! Isso tudo é culpa daquele maldito clube que me deixou na mão de última hora, mas isso eu vou resolver depois! Agora eu só preciso que essa droga de energia volte logo! Nem tudo é sobre você, sabia, Hunter?

Não era nenhuma novidade que Emily ficasse agitada, ansiosa e até irritada quando estava coordenando algum evento. Mandona, perfeccionista, Hunter conhecia bem a fama da ex-namorada e como Emy era exigente e não aceitava nem as menores falhas. E uma queda de energia daquela proporção no meio de um filme, diante de um grande público que estava pagando ingressos, era óbvio que Sinclair ficaria ainda mais estressada.

O que Hunter não conseguia imaginar era que o humor de Emy já estava afetado antes daquele imprevisto. Fingir que o seu único problema era a preocupação com o evento era a desculpa perfeita para esconder como Sinclair realmente se sentia, fingindo que não estava agitada durante toda a noite só porque sabia da proximidade de Timmons e principalmente como ela tinha ficado ainda mais afetada depois das provocações de Pamela a respeito do seu ex-namorado e a sua prima.

Com passos apressados e o semblante emburrado, Emily seguiu Hunter de perto até a sala de máquinas. Os saltos eram altos demais para conseguir manter o mesmo ritmo de um rapaz com pernas tão longas, mas a experiência de Emy com aquele tipo de sapatos permitiu que ela não chegasse tão esbaforida. E apesar da escuridão, Sinclair não conseguiu evitar um franzir do nariz quando olhou ao redor do quartinho abafado e sujo.

- Você tem certeza que sabe mexer nisso? A última coias que eu preciso é ter que chamar os bombeiros!

Tendo as suas reclamações ignoradas, Emily estreitou os olhos quando o celular de Hunter foi empurrado para as suas mãos. A lanterna já estava ligada e apontada para a estante que o rapaz revirava, então foi um leve esbarrão no sensível touch screen que fez a tela se iluminar contra o rosto de Emy, exibindo aquela foto muito familiar.

De costas e ocupado na tarefa de encontrar mais combustível para o gerador, Hunter não notou quando o semblante de Emily se transformou. O biquinho irritado se desfez e os lábios vermelhos se entreabriram enquanto sua mente era arrastada pelas lembranças do momento que tinha ocorrido aquele registro.

A primeira vez que Hunter e Emily tinham dormido juntos não tinha sido uma noite planejada ou romântica. Sob o teto de Bobby Sinclair, os dois tinham apenas se deixado levar pelas emoções. Mas isso não significava que não tinha sido especial. As declarações de amor, os toques intensos e apaixonados, a conexão no olhar e a inegável química que existia entre os dois. E pensar naquela noite, na forma com que Timmons olhava para ela, em tudo o que ele dizia enquanto eles se amavam, ficava ainda mais difícil acreditar que tinha sido uma grande mentira ou que ele estivesse encenando o tempo inteiro.

Emily queria tanto poder voltar no tempo e fingir que nunca tinha existido vingança alguma, de poder reviver aqueles momentos apenas com o amor que ela acreditava ter. Hunter tinha criado raízes no seu coração, e aquele amor tão intenso tinha nocauteado a razão de Sinclair por muito tempo. Um amor arrebatador, uma tatuagem, a forma com que Emy sempre defendia o rapaz. Todos os sinais de que ela se deixava levar apenas pelos sentimentos estavam bem ali, escancarados.

Os sentimentos de Emily não tinham desaparecido ou perdido a intensidade. Ela ainda amava Hunter da mesma maneira intensa e desesperadora de antes. O problema era que agora a menina não era mais capaz de fechar os olhos para a razão. E Timmons conseguia dar um completo nó na sua cabeça com tudo o que estava fazendo ou dizendo. Porque se tudo tinha sido uma vingança, se a intenção era afetar Chad, qual era a necessidade de manter uma foto dos dois no celular, dias depois daquele namoro ter chegado ao fim? E se fosse verdade que ele a amava, que tinha se apaixonado durante o próprio plano, por que ele ainda tinha sido capaz de ir tão longe e arquitetar um flagra tão sujo na quadra de basquete?

Afetada e até um pouco tonta com os pensamentos que se atropelavam, Emily permaneceu calada enquanto Hunter trabalhava no gerador. E mesmo quando a energia voltou e a lanchonete foi invadida pela luz elétrica, Sinclair não demonstrou nenhuma reação de alívio ou agradecimento, porque ela já tinha se esquecido completamente do evento que acontecia na área externa.

Se só aquela fotografia tinha sido capaz de abalar Emily, a menina ainda nem tinha se recuperado direito quando o verdadeiro golpe a atingiu. Ainda com o celular de Hunter na sua mão, o olhar de Emy se prendeu na pequena letra “E” tatuada na pele dele. E seu coração dolorido deu um salto como se tivesse acabado de receber uma gigantesca dose de ânimo e esperança. Era como se, naquela batalha entre o seu coração e a sua mente, os seus sentimentos finalmente estivessem recebendo alguma vantagem e dizendo “eu te disse!”.

Por um tempo longo demais, Sinclair continuou parada e sem reação, com o olhar preso na tatuagem de Hunter e sem fazer qualquer menção de devolver a ele o celular. E quando Emy pareceu finalmente despertar, ela ignorou o pedido do rapaz e usou a mão livre para segurar o punho de Timmons, o puxando para mais perto de modo que a tatuagem estivesse virada para cima.

- O que é isso?

Quando tinha tatuado a própria pele com a inicial de Hunter, Emily se exibiu com orgulho, sem deixar dúvidas de que tinha feito aquilo em homenagem a ele. Os dois ainda estavam no início daquele relacionamento, tinham dormido juntos pela primeira vez e trocado as primeiras declarações de amor há poucas horas, mas Emy nunca achou que tinha sido cedo demais. Mesmo que fosse um tanto precoce, ainda era um timing completamente diferente do escolhido por Timmons, porque se eles não estavam juntos, e se Hunter era mesmo um grande manipulador mentiroso que nunca tinha lhe amado, aquilo não fazia sentido algum.

- O que significa isso, Hunter? - Emy finalmente ergueu o olhar da tatuagem e procurou as íris de avelã enquanto sua respiração se tornava mais intensa. - Por que você fez isso? Por que agora?
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Mensagem por Dexter Thompson Sex maio 03, 2024 5:10 pm

Antes de Liberty, Debby não tinha qualquer dificuldade para arrastar Dexter por algumas horas de diversão. Como qualquer rapaz da sua idade, solteiro e com os hormônios trabalhando em máximo vapor, não era nenhum sacrifício para Dex ter uma garota linda nos seus braços, se esforçando para agradá-lo de todas as maneiras possíveis.

Diferente de Timmons, Thompson não era o tipo de cara que esquecia os nomes das garotas com quem estava e nem era tão rude e grosseiro, sem papas na língua. Dex nunca tinha se interessado por relacionamentos e namoros, mas ele também não escondia de quem quer que fosse que só queria curtir e se divertir. Mas independente da diversão e curtição, Dexter gostava de fazer com que a garota ao seu lado também se sentisse bem, desejada e bem cuidada. Pelo menos naquele tempo em que os dois estivessem juntos, Dex sempre se concentraria e estaria por inteiro naquele momento.

E não tinha sido muito diferente que aquela noite tinha começado. Ainda não existia nenhuma pretensão de Dexter em transformar a sua dinâmica com Debby em um namoro ou algo mais sério, mas a companhia da menina tinha caído como uma luva para o momento que ele estava vivendo. Tudo o que Thompson queria e precisava era se distrair, se divertir um pouco, se sentir desejado, sem precisar se esforçar o tempo inteiro para parecer mais inteligente ou merecedor de atenção.

Com Debby, Dex não precisava se sentir tão cansado em exercitar o próprio cérebro para acompanhar assuntos mais complexos, nem receoso com a possibilidade de fazer uma bobagem que faria a namorada gargalhar com a sua burrice. Com notas tão medianas quanto as de Thompson, com objetivos muito mais simples para o seu futuro e com a rotina normal de uma adolescente, Debby parecia se encaixar muito melhor ao seu lado.

O problema era que isso não significava que tudo era um mar de rosas. Não havia a dificuldade, o esforço e o desafio de ter uma garota tão acima da média ao seu lado. Debby o aceitava e o desejava exatamente como ele era. Mas também não existia a explosão de sentimentos, o amor profundo, a conexão tão única que Dexter tinha experimentado com Liberty Bloomfield. Era óbvio que o seu corpo reagia com um toque de uma garota como Debby, mas até nisso as reações eram mais fracas e ofuscadas depois de ter vivido o ápice ao lado de Libby.

Assistir um filme bobo, fazer comentários idiotas e rir estava sendo ótimo. Até mesmo os beijos de Debby estavam contribuindo muito bem para a autoestima de Dexter. O problema foi quando a sua acompanhante decidiu esquentar ainda mais as coisas.

Em uma cidadezinha como Colchester, todos precisavam ser cuidadosos com o que faziam ou diziam, porque uma única vírgula fora do lugar já era motivos para fofocas generalizadas. Hunter Timmons era a prova viva de como a curiosidade e a opinião dos cidadãos daquela pequena cidade podia ser irritante e impossível. Então Dexter e Debby deveriam saber muito bem que não era uma boa ideia protagonizar uma cena tão íntima em um local público.

A maioria das pessoas estava no interior de seus respectivos carros, ou atentas demais no que acontecia no telão, mas o estacionamento ainda estava lotado, o que aumentava demais as chances de serem observados (ou até fotografados) por um curioso. E era esse medo que não permitiu que Dexter relaxasse por completo.

- Eu acho que isso não é uma boa ideia, Debs. Nós podemos procurar um lugar mais afastado ou...

- Shhhh... Pare de falar e aproveite, gostosinho.

A reação óbvia do corpo de Thompson não escondia o quanto ele desejava seguir adiante, mas a forma com que seu olhar deslizou ao redor mostrava que ele ainda não tinha se entregado por completo. Mas Debby foi insistente e paciente, além de uma “técnica impecável” para fazer a mente de Dexter se desligar das preocupações.

Os olhos de Dex continuaram abertos, vidrados em um ponto fixo diante do carro, mas sua mente estava muito distante dali enquanto o seu corpo se deliciava com os toques de Debby. Dentro do carro, a menina conseguia escutar a respiração mais pesada e ritmada de Thompson, em um sinal de que ele estava chegando bem perto de se satisfazer por completo.

Não foi nada que Debby tenha feito, nem nada no estacionamento ou nas cenas do filme que passavam no telão. Não existia nem o mínimo sinal de interferência, mas como uma gota surpresa que cai na bochecha anunciando a proximidade da chuva, a mente de Dexter sofreu com um clarão momentâneo que trouxe a lembrança do rosto de Liberty. Foi tão rápido quanto um piscar de olhos, mas a visão da ex-namorada nos seus pensamentos conseguiu transformar por completo o clima.

O corpo de Dexter até atingiu o limite um segundo depois, mas a verdadeira onda de prazer não se espalhou como ondas, como ele sabia que normalmente acontecia. Ao invés de satisfação e alívio, foi uma amarga sensação de culpa que se espalhou pelo seu peito e Dex se sentiu sujo. Mas como aqueles conflitos não se refletiam na reação física, Debby se mostrou muito satisfeita e ainda mais empolgada em continuar com aquele momento.

- Alguém pode ver a gente, Debs. Vamos para outro lugar.

A voz de Dexter soou rouca enquanto a menina se acomodava sobre o seu colo. A culpa que o corroía trazia novamente a imagem de Libby para os seus pensamentos, mas agora não era só a sensação de que ele estava traindo a ex-namorada. Debby tinha acabado de lhe proporcionar um orgasmo com uma carícia íntima e Thompson não queria ser o canalha que vestia as roupas e ignorava os sentimentos da sua companheira depois de se satisfazer.

Dex estava mais tenso e mais mecânico, mas ao mesmo tempo em que ele não conseguia parar de pensar em Liberty, ele também não queria ser um grande canalha com Debby. E a garota em seus braços certamente notaria o quanto o rapaz estava com dificuldades para se entregar, porque Debby se empenhou ainda mais.

O corpo de Dexter já começava a esfriar e ele tinha certeza que ia falhar. E talvez fosse um pouco de vergonha, de orgulho ferido, mas Dex não queria ser aquele cara “fraco”, incapaz de satisfazer uma garota. Parecia óbvio que o real problema ali era a sua mente confusa e os sentimentos que ainda existiam pro Libby, mas se Thompson tinha chegado tão longe com Debby, ele não podia recuar agora.

Dexter sabia que aquilo era errado, que as coisas só pioravam a cada segundo. Mas agora Thompson precisava lidar com aquilo até o fim, e só depois seria capaz de raciocinar e refletir sobre o que estava acontecendo para tomar uma decisão. Então, por mais que se sentisse podre por dentro, ele se agarrou a única chance que tinha para ir adiante. Quando suas mãos deslizaram pela cintura fininha de Debby e pelas curvas do quadril dela, os olhos de Thompson se fecharam e ele obrigou a sua imaginação a pensar em Bloomfield.

Aquilo estava errado em tantos níveis que era impossível ter algum tipo de defesa. Era errado consigo mesmo, com Libby e com Debby. Mas Dex realmente não conseguia enxergar outra alternativa naquele instante, com os pensamentos atordoados e o peito explodindo com tantos sentimentos confusos. E com a ex-namorada nos seus pensamentos, o corpo de Thompson voltou a reagir.

Era preciso manter os olhos muito bem apertados, e mesmo que racionalmente ele conseguisse notar a diferença do corpo miúdo de Debby para as curvas já bem conhecidas de Libby, Dex tentava reviver nos seus pensamentos os momentos íntimos com a namorada. Como os cabelos castanhos deslizavam ao redor do rostinho dela quando Libby se inclinava para beijá-lo, ou como sua mão se encaixava no rosto dela e os lábios se encaixavam com tanta perfeição. Não havia nenhuma semelhança entre Debby e Liberty, mas com o esforço certo, Dexter tentou se enganar.

E a mente dele estava trabalhando tanto naquele faz de conta que quando Dex ergueu as pálpebras e realmente foi capaz de enxergar Libby do lado de fora do carro, ele teve certeza de que era uma visão projetada pelos seus pensamentos, que não era real. Mas foi aquele olhar arrasado e as lágrimas de Bloomfield que o arrastaram de volta para a realidade.

Não existia mais fingimento, mundo de fantasia ou espaço para confusão. Não importava se Dexter estava convencido de que não tinha sido importante para Liberty e que ela já tivesse superado a história dos dois. O olhar da menina não deixava nenhuma sombra de dúvidas sobre o que ela estava sentindo. E Dexter nunca se sentiu tão canalha ao ver que ele era o responsável por aquele sofrimento.

- Libby???

- O que?

Debby se fingiu de confusa e até forçou um biquinho irritado para mostrar que não tinha gostado de escutar o nome de outra garota durante um momento tão íntimo, mas Dexter ignorou por completo o fato de estar literalmente dentro de outra garota quando usou suas mãos para erguer o quadril da menina e quebrar aquele contato.

- A Libby!!! - Ele tentou explicar enquanto suas mãos trêmulas tentavam destravar a porta. - A Libby estava aqui, ela viu tudo!

- Calma, Dexter! - Debby foi obrigada a ocupar o banco do carona enquanto puxava a sua saia para baixo. - Não é o fim do mundo! Precisa disso tudo?

Ignorando a garota ao seu lado, Dexter saltou para fora do carro, mas o estacionamento já tinha mergulhado na escuridão e sua visão ainda estava tentando se adaptar com a pouca iluminação. O celular foi puxado para fora do bolso, mas claro que a luz da lanterna não foi suficiente para ver muito além do carro. E mesmo quando Dex se apressou correndo até o mesmo ponto onde tinha visto Bloomfield, já não havia mais nenhum sinal da garota.

- É sério que você vai fazer isso? Qual é, Dex! Vocês dois já não tinham terminado? Qual é o problema?

Debby tinha armado toda aquela situação, mas isso não significava que ela estava gostando da reação de Thompson, que tinha largado tudo e só pensava na ex-namorada. Mais uma vez a menina foi deixada falando sozinha enquanto Dexter tentava ligar para o número de Bloomfield, sem sucesso.

- Eu preciso ir falar com ela!

Dex estava trêmulo quando voltou para o carro e tateou até encontrar as chaves para ligar o motor. Mesmo com tantos veículos enfileirados, o comitê do evento tinha organizado o espaço necessário para que ninguém ficasse preso. E Dexter estava pronto para sair e deixar o evento pela metade, abandonando a sua acompanhante, quando Debby se apressou a ocupar o banco do carona outra vez.

- Você vai mesmo me deixar aqui sozinha? Tem noção do quanto isso é humilhante, Dexter? Você me disse que não tinha mais nada com a novata, e agora vai sair correndo como um cãozinho adestrado? Eu achei que a gente estivesse se divertindo!

- Eu... Eu... - Dexter abriu e fechou a boca diversas vezes, engasgado entre o que era certo fazer e o que ele tanto precisava. E foi sabendo que não teria escolha certa que o rapaz tomou uma decisão. Era óbvio que Debby ficaria profundamente ofendida, mas o olhar de dor e as lágrimas de Libby mostravam qual era a maior urgência daquela noite. - Eu sinto muito Debby. Eu juro que nós podemos conversar depois, mas você não viu como a Libby saiu daqui!

- Ela só está fazendo drama, Dexter! Eu sei que nunca te cobro nada e sou bem tranquila, mas isso já é demais! Eu juro que não vou te perdoar se você me abandonar aqui!

- Tá, eu posso te deixar em casa primeiro.

O queixo de Debby despencou e ela não conseguia acreditar no que estava escutando. E Dexter já estava familiarizado com aquela expressão, porque era a mesma que Liberty fazia sempre que o namorado falava alguma coisa MUITO errada.

Bufando de raiva e já um tanto arrependida daquele plano, Debby desceu do carro e não foi nada delicada ao bater a porta do carona. E ela ainda estava rosnando como um cão feroz quando Thompson ligou o motor e deixou o estacionamento ainda no meio do blecaute.

A queda de energia não tinha acontecido só no Pat's, então as ruas de Colchester estavam escuras quando Dexter passou devagar com o carro, estreitando os olhos para tentar enxergar qualquer sinal de Liberty. Mas como era noite de Halloween, pessoas demais transitavam pelas calçadas, crianças correndo procurando doces e seus responsáveis caminhando próximos e atentos, usando as lanternas dos celulares ou das abóboras nas casas para tentar enxergar o caminho.

Frustrado, Dexter encontrou a residência das Sinclair completamente escura. Se Liberty tinha saído do Pat's andando, ela ainda não tinha chegado ali. Então foi com um ar derrotado e angustiado que Dex trocou o banco do motorista para se acomodar nos degraus da escada da varanda. Ele afundou o rosto nas mãos e voltou a puxar o celular, tentando uma nova chamada para o número de Bloomfield enquanto mantinha os olhos fechados. Com um suspiro, Dex escutou a ligação sendo recusada, mas nem por isso ele desistiu.

Mesmo que estivesse tarde, com o frio da madrugada que se aproximava e com o desconforto de um degrau, Dexter permaneceu sentado naquela escada dura, na esperança de que Liberty pudesse aparecer pelas horas seguintes.

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- Qual é o seu problema, cara? - Dexter resmungou para si mesmo. - Até mesmo a sua burrice deveria ter limites, mas isso... No que é que eu estava pensando?
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Mensagem por Liberty Bloomfield Sex maio 03, 2024 7:08 pm

Era inegável que havia brotado entre Liberty e Dexter um sentimento intenso e especial, do tipo que muitas pessoas morriam sem nunca conhecer. Embora fossem tão jovens, os dois se apaixonaram de verdade e sentiram aquele arrepio inexplicável que os livros e filmes românticos descreviam. Era algo tão intenso e surreal que vencia as diferenças que existiam entre eles e fazia com que Libby e Dex quisessem ficar juntos apesar de todas as dificuldades. Mas a grande verdade é que, apesar daquela conexão tão especial, Liberty e Dexter não tiveram muito tempo para construírem uma rotina de intimidade.

O namoro não durou muito tempo. E o fato de Libby ser totalmente inexperiente também foi um obstáculo que acabou atrasando aquele processo que acontecia naturalmente entre todos os casais. Era natural que no começo de uma relação e com tanta ansiedade envolvida as coisas acontecessem de maneira mais tensa ou mecânica. Com o passar do tempo, a intimidade começava a ser moldada, a confiança crescia e a sintonia entre o casal aumentava. Então era injusto demais comparar o que tinha acontecido entre Libby e Dex com a velha dinâmica que já existia entre Debby e o quarterback depois dos dois já terem compartilhado várias experiências íntimas.

No fim das contas, Dexter e Liberty só tinham dormido juntos uma única vez. A relação se prolongou por boa parte da noite e os dois se amaram novamente depois do amanhecer, mas foi logo depois dessa primeira experiência que os problemas começaram a surgir. A discussão sobre a listinha de garotas já tinha causado um pequeno afastamento entre o casal antes mesmo que a chegada de Leonard Wooton a Colchester agravasse ainda mais a crise naquele relacionamento. Em outras palavras, o namoro de Liberty e Dexter acabou chegando ao fim antes mesmo que os dois tivessem a chance de repetir aquela experiência e de estreitar ainda mais os laços de intimidade. Consequentemente, tudo o que Libby tinha para comparar com a ceninha indigesta do estacionamento era uma única experiência manchada pela ansiedade da primeira vez. E provavelmente era por isso que agora Bloomfield se sentia tão arrasada, humilhada e inferior à Debby.

Simplesmente não dava para comparar as duas situações. Debby era uma garota ousada e experiente que já tinha dormido não só com Dexter, como também com outros rapazes. Era óbvio que ela sabia o que fazer, que ela não via problemas em tomar a iniciativa e era muito mais segura de si e atrevida. Também era evidente que já existia uma dinâmica muito bem estabelecida entre a líder de torcida e o quarterback. Antes que Liberty chegasse à Colchester, Debby e Dexter eram vistos juntos com bastante frequência e a menina já o conhecia bem o bastante para saber como Thompson gostava de ser tocado ou quais eram as carícias ou as palavras que costumavam esquentar o motor do corpo dele. Mesmo que fosse apenas um lance casual e que Dexter nunca tivesse assumido um relacionamento mais sério com Debby, os dois já tinham ficado juntos tantas vezes que uma rotina de intimidade acabou surgindo entre os dois. E foi disso que Debby se aproveitou naquela noite. A intenção da loirinha era mostrar para Liberty que ela conhecia muito bem o quarterback e sabia o que precisava ser feito para deixá-lo afetado. E Bloomfield caiu em cheio naquela armadilha.

Enquanto seguia com passos rápidos pelas ruas escuras de uma cidade sem energia, Liberty se engasgava no próprio choro, num sinal claro do quanto ela estava abalada com os últimos acontecimentos. O choro desesperado consumia boa parte do fôlego da garota e Libby estava se esforçando ainda mais com o ritmo acelerado daquela caminhada no meio de uma noite fria. Embora o vestido de Zarah tivesse as mangas compridas, ainda era um tecido delicado que não bloqueava a temperatura do vento frio que circulava pela cidade naquela noite.

Desde que pisou em Colchester e foi envolvida pelo ar puro de uma cidadezinha do interior, Bloomfield nunca mais havia tido nenhuma crise de asma. Naquela noite, porém, o som dos soluços da menina se misturava a uma respiração ruidosa e os chiados que vinham do peito dela já pareciam algo bem preocupante quando Libby finalmente chegou à rua onde ficava localizada a casa das Sinclair.

Depois daquela fuga desesperada, a linda fantasia que tinha deixado Bloomfield tão animada no começo da noite agora estava completamente arruinada, com o tecido amassado, as sapatilhas sujas, a tiara perdida, os cabelos atrapalhados e a maquiagem completamente borrada pelas lágrimas. Liberty se odiava ainda mais por não conseguir parar de chorar, mas aquela reação emocionada e infeliz estava acima do controle da garota. Já era suficientemente doloroso para Libby ter perdido Dexter e saber que ela era a única culpada pelo término da relação. Mas, naquela noite, a dor e a insegurança de Bloomfield ultrapassaram todas as barreiras depois que ela viu de tão perto a maneira como Thompson se comportava quando estava com Debby.

A comparação era inevitável. A primeira vez de Liberty e Dexter não tinha sido ruim e, até alguns minutos atrás, a menina realmente acreditava que não havia nada errado com a sua performance e que Thompson também havia ficado satisfeito com a experiência. Bloomfield só se deu conta de que poderia estar errada sobre isso depois de ver como Dexter se comportava de maneira diferente com outra garota. Com Debby em seus braços, o rapaz agia de forma muito mais intensa, ousada e espontânea. A maneira exigente como ele tocava a loira, as investidas mais fortes, os gemidos deliciados que ele arrancava dela, o olhar distante e o sorrisinho bobo de prazer não escondiam que Thompson estava tendo uma verdadeira amostra do paraíso enquanto transava com Debby. E o grande problema é que Liberty não se lembrava de ter visto nada daquilo na noite em que ela se entregou ao namorado pela primeira vez.

Era a primeira vez de Liberty, mas isso não significava que ela era a única pessoa ansiosa e tensa naquela relação. É óbvio que Dexter também sentia seus ombros mais pesados na noite em que transou com a namorada. Era natural que, apesar de ser bem mais experiente que a menina, Thompson também se sentisse inseguro por medo de machucá-la, pela responsabilidade de saber que Libby se lembraria daquela noite para sempre, pela ansiedade de fazer com que aquela experiência não fosse traumática para a garota. É claro que Dexter tinha pegado mais leve, sido mais cuidadoso e se focado mais em Liberty do que no próprio prazer. O comportamento mais contido dele naquela noite era só mais uma prova do quanto ele amava e se importava com Libby, mas agora, depois de ter caído na armadilha traiçoeira de Debby, tudo o que Bloomfield conseguia pensar era que ela não era capaz de saciar os desejos do ex-namorado e que Dexter não sentia por ela a mesma atração avassaladora que a líder de torcida despertava nele.

Qualquer pessoa ficaria constrangida se flagrasse um casalzinho num momento tão íntimo, mas para Liberty o sentimento ia muito além de vergonha ou desconforto. Aquela tinha sido a experiência mais humilhante de toda a vida dela e Bloomfield tinha certeza de que aquelas imagens pavorosas nunca mais sairiam da sua memória. A expressão de prazer no rosto de Dexter durante o orgasmo e o sorrisinho malicioso e vitorioso que Debby dirigiu a ela enquanto cavalgava sobre o corpo do cara que Libby amava era pior que qualquer filme de terror do Halloween. E a cereja do bolo foi a maneira como os olhos de Thompson se arregalaram quando finalmente notaram a presença da ex-namorada, enquanto o corpo dele ainda estava unido ao de Debby.

Cada uma daquelas lembranças nojentas fazia o estômago de Libby se contorcer e mais lágrimas brotavam nos olhos dela. Infeliz, humilhada, fragilizada e se sentindo a garota mais horrorosa e menos desejável de todo o universo, tudo o que Liberty mais queria era desaparecer. Bloomfield não fazia ideia de como ela conseguiria continuar indo para o colégio e encarar Debby e Dexter depois daquela ceninha, mas pelo menos naquela noite a menina se sentiria segura e protegida dentro do próprio quarto, lidando sozinha com aquela avalanche de emoções negativas. O que Liberty não imaginava (e nem tampouco desejava) era que o rosto de Thompson surgisse na sua frente naquele momento, antes mesmo que ela conseguisse se abrigar dentro do próprio quarto.

Mais uma onda de choque se apoderou de Liberty no instante em que ela pisou na entradinha do jardim e deu de cara com o ex-namorado na varanda da casa. Com as têmporas salpicadas de suor, o rosto manchado com uma mistura de lágrimas e maquiagem e com o peito chiando numa respiração ruidosa, Libby novamente ficou paralisada diante da visão de Dexter. Desta vez, contudo, a mente da menina reagiu mais rápido e a libertou daquele estado de transe no segundo seguinte.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI!? – a vozinha dela soou aguda, histérica e um pouco rouca depois de tantas lágrimas derramadas – EU NUNCA MAIS QUERO OLHAR PRA SUA CARA, DEXTER, NUNCA MAIS!!! SAI DAQUI!

Agora era simplesmente impossível olhar para Dexter e não enxergar o rosto dele se contorcendo de prazer por causa de Debby. Naquele momento o rapaz parecia apenas aflito e envergonhado, mas Liberty não conseguia mais "desver" o olhar perdido, as pálpebras pesadas ou o sorrisinho bobo de prazer. Era como se aquela imagem tivesse se congelado dentro da memória de Bloomfield. Normalmente a personalidade arredia de Liberty obrigava a menina a esconder os seus sentimentos e camuflar as suas fragilidades, mas naquela noite seria impossível fingir indiferença ou esconder o rosto vermelho e completamente manchado por lágrimas.

Portanto, não foi para se esconder que Liberty subiu correndo os degraus da varanda e entrou na casa das Sinclair como um furacão. A pressa da garota era tamanha que Libby nem se deu ao trabalho de fechar a porta, o que possibilitou que Thompson também entrasse na casa e seguisse os passos dela até o quarto. E Dexter parecia ainda mais desesperado a cada segundo que a respiração de Libby se tornava mais ruidosa e difícil.

- NÃO ME TOCA!!! – o grito de Liberty soou engasgado quando Dexter fez menção de se aproximar para ajudá-la.

Com as mãos trêmulas e os lábios já começando a adquirir um tom mais arroxeado, Liberty vasculhou as gavetas do criado-mudo até encontrar a bombinha com o broncodilatador. Depois de sacudir o frasco e usar o medicamento para as crises de asma, Bloomfield finalmente sentiu que o ar conseguia entrar novamente em seus pulmões. Mas a menina ainda estava pálida, exausta e ofegante quando se deixou cair sentada sobre a cama, com um olhar perdido e uma expressão chorosa.

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Até então Thompson pensava que a ex-namorada já tinha superado o término, que ela nunca tinha se envolvido tanto assim, que Libby não priorizava o amor dos dois e era indiferente a ele. Mas aquela definitivamente não era a reação de uma garota indiferente e que já não o amava mais. O choro convulsivo, a fuga, os gritos e a infelicidade refletida em cada centímetro do rosto de Liberty eram muito mais compatíveis com uma menina completamente apaixonada que tinha acabado de sofrer uma dolorosa desilusão.

Em nenhum momento Libby pensou em contar para Dex como Debby havia armado aquela emboscada ou que tudo aquilo tinha sido parte de uma provocação vulgar da outra garota. Até porque não era a atitude baixa de Debby que a incomodava. O que de fato deixava Libby tão arrasada era o comportamento de Thompson e a sensação de que o rapaz parecia muito mais satisfeito com Debby do que com ela.

- Nós terminamos há três semanas! – com um olhar arrasado, Libby encarou o rapaz que tinha seguido os passos dela até o quarto – TRÊS SEMANAS, DEXTER! Foi esse o tempo que você precisou para me esquecer??? Você se importa tão pouco assim com os meus sentimentos que decidiu comer aquela vadia na frente de todo mundo, sabendo que eu poderia ver ou que a fofoca poderia chegar aos meus ouvidos!? Nem por um momento você pensou no quanto isso poderia me machucar ou no quanto eu me sentiria humilhada!?

O discurso inflamado de Bloomfield não questionava o direito de Thompson se envolver com outra garota agora que ele estava solteiro. O que realmente incomodava e magoava Liberty era saber que aquilo tinha acontecido tão rápido e que Dexter tinha simplesmente se entregado aos seus desejos e protagonizado um escândalo sem parar para pensar no quanto aquela cena poderia abalar a ex-namorada. E mais soluços doloridos escaparam pela garganta de Libby no instante em que aquele detalhe retornou à memória dela.

- E VOCÊ TAMBÉM NÃO TINHA O DIREITO DE CONTAR PRA ELA ALGO TÃO ÍNTIMO E TÃO PESSOAL SOBRE MIM! EU CONFIEI EM VOCÊ, DEXTER! EU ME ENTREGUEI PRA VOCÊ! - a voz chorosa de Libby falhou e os lábios dela se curvaram num biquinho enquanto ela imaginava Dexter revelando para Debby que foi ele quem tirou a virgindade da novata, que Libby era inexperiente e não o saciava na cama - Isso deve ser uma piada pra vocês dois, né? Ela deve ter sufocado de tanto rir quando você contou pra ela! Isso foi a coisa mais podre, mais cruel e mais desprezível que já fizeram contra mim!

A acusação vaga e fora de contexto pareceu deixar Dexter bastante confuso. E o semblante perdido do rapaz deixava bem claro que ele não fazia ideia do que Bloomfield estava falando ou o que ele poderia ter feito para deixá-la tão ofendida. Mas antes que Thompson fizesse qualquer pergunta para tentar entender melhor o que se passava dentro da cabeça da ex-namorada, Liberty o interrompeu e o surpreendeu com um discurso derrotado que não escondia o quanto ela se sentia humilhada, menosprezada e descartável naquela história. Bloomfield normalmente escondia os seus sentimentos atrás de uma armadura e gostava de parecer forte e indiferente. Mas naquele momento a menina nem tentou disfarçar o quanto estava fragilizada.

- Por que você ficou comigo? Se ela é tão melhor do que eu, se você só precisou de poucos dias para voltar correndo pros braços dela, se ela te deixa tão louco e saciado, por que você me iludiu e me fez acreditar que existia algo especial entre a gente? Se eu não conhecesse você, eu até pensaria que tudo isso é o enredo de algum filme adolescente e que você só estava querendo ganhar alguma aposta idiota por conquistar a nerd do colégio! Por que você fez isso comigo, Dexter?

A maior crise e o término daquele relacionamento tiveram uma influência direta de Leonard Wooton. Mas seria injusto colocar toda a culpa na conta do rapaz. Até porque o maior erro viera de Libby no instante em que a menina pensou que teria que escolher entre a "família" e o namorado, e acabou descartando Dexter. Naquele dia, Thompson também se sentiu humilhado e pouco valorizado ao não ser colocado como prioridade na vida da namorada. Mas só agora Dexter perceberia que ele também havia cometido um erro de julgamento naquela história. Ao contrário do que o rapaz imaginava, Liberty não era indiferente a ele, não tinha sido fácil para a garota tomar a decisão de tirá-lo da sua vida e agora ela se arrependia amargamente pelo erro cometido no passado. E a maior prova do quanto tudo aquilo tinha sido difícil para Libby veio através do desabafo dolorido que ela deixou escapar.

- Foi por isso que eu disse que não poderia existir nem uma amizade entre a gente, que eu preferia me afastar de você. Eu sabia que o meu coração ficaria em frangalhos quando eu visse você com outra pessoa! Só que eu realmente pensei que eu teria mais tempo, que isso demoraria um POUQUINHO mais pra acontecer! Mas parece que você só estava esperando ficar livre de mim pra voltar pra ela! E nem tente dizer que essa noite não significou nada. Eu estava lá, Dexter. Eu vi tudo! Você parecia muito mais feliz e satisfeito com ela do que comigo!
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Mensagem por Hunter Timmons Sex maio 03, 2024 7:35 pm

Quando decidiu abandonar o trabalho no haras e sair da casa dos Timmons, Hunter sabia que estava se afundando ainda mais na lama do fundo do poço. Sem o dinheiro do pai e sem um bom advogado, o futuro que aguardava pelo rapaz não parecia ser muito promissor. Hunter sabia que corria o risco de ser condenado no processo das drogas e ir para a prisão, mas nem mesmo essa possibilidade foi suficiente para fazer o rapaz mudar de ideia. E a única explicação para o comportamento irresponsável de Timmons era que ele não se importava, que ele ainda preferia correr o risco de ser preso do que continuar vivendo como um refém do pai, com um trabalho que ele odiava e sem grandes perspectivas de mudanças no futuro.

E foi um sentimento semelhante a aquele que motivou Hunter a marcar o próprio corpo com a inicial de uma ex-namorada. Timmons não se importava com o fato dos dois não estarem mais juntos, ou se agora Emily o odiava ou se ela estava há um passo de voltar para os braços de Clifford. Para Hunter não fazia diferença se no futuro Emily e Chad se casariam, encheriam uma casa de filhos e se tornariam uma família perfeita para um comercial de margarina. Nada daquilo mudava os sentimentos DELE.

Timmons a amava e isso não mudaria. O amor dele não dependia da aprovação ou da reciprocidade de Emily. Independente de como a menina se sentisse com relação a ele, o coração de Hunter ainda continuaria saltitando por ela e Sinclair jamais deixaria de ser uma lembrança feliz. E era isso que aquela tatuagem simbolizava: o amor que ele sentia por ela e a felicidade que Timmons tinha experimentado na época em que os dois estavam juntos.

Não era uma homenagem para a namorada, Hunter tinha feito aquela tatuagem para si mesmo e não para Emily. O desenho não ficava num lugar escondido que sempre estaria coberto por uma roupa e isso mostrava que Timmons não pretendia guardar segredo ou nunca contar para ninguém sobre aquela tatuagem. Da mesma maneira como Hunter não se incomodava com os comentários e as fofocas sobre a nova vida mais humilde que ele vinha levando, o rapaz também não se importava nem um pouco com o que as outras pessoas iam dizer sobre uma tatuagem com a inicial de uma ex-namorada. Para ele era algo especial e significativo, e era só isso que importava.

Embora não tivesse a intenção de esconder a tatuagem, Hunter também não tinha planejado deixá-la no campo de visão de Emily naquela noite. Um abismo enorme havia surgido entre os dois e agora Timmons e Sinclair não ficavam mais tão próximos e praticamente não dividiam mais os mesmos espaços, então o rapaz imaginou que Emily não veria aquela tatuagem tão cedo. Mas, por ironia do destino, a ex-namorada acabou sendo a primeira pessoa a notar aquele detalhezinho diferente no corpo dele.

Não houve constrangimento por parte do rapaz com aquele “flagrante”. Hunter não tentou esconder a mão, não pareceu encurralado ou envergonhado e muito menos arrependido por ter feito aquela pequena loucura. As sobrancelhas dele apenas se arquearam num semblante um pouco impaciente, como se Emily estivesse fazendo perguntas tolas e óbvias demais. Mas ainda assim ele não se recusou a respondê-las.

- Você sabe que eu não preciso de permissão ou da autorização de ninguém para decidir o que fazer com o meu corpo, né? Eu fiz porque eu quis fazer, porque significa algo pra MIM. Você pode ser uma maluca obsessiva que quer ter o controle de tudo... – a cabeça de Hunter tombou na direção do gerador, se referindo ao estresse de Emily com aquele imprevisto – Mas aí vai uma novidade para você, Sinclair. Você não tem o direito de decidir como EU me sinto com tudo isso...

Nas últimas discussões do casalzinho, Emily acusou Hunter de ser mentiroso, manipulador, de ter se aproveitado dos sentimentos dela para conseguir uma vingança suja contra Clifford e de nunca tê-la amado de verdade. E, num daqueles embates, Timmons já havia corrigido a menina e dito que ela não tinha o direito de duvidar dos sentimentos dele ou de decidir o que estava dentro do seu coração. E era basicamente isso que Hunter repetia agora: Emily tinha todo o direito de se afastar dele e de arrancar aquele amor do seu próprio coração, mas ela não tinha o poder de fazer aquele sentimento morrer dentro do rapaz.

Como Emily ainda parecia muito afetada com a visão da tatuagem, Hunter se aproveitou do choque dela para puxar o seu celular para fora dos dedinhos da menina e enfiar o aparelho no bolso da calça jeans. E numa prova de que ainda existia um espírito vingativo dentro dele, Timmons devolveu para a menina a mesma resposta atravessada que ele havia recebido dela há poucos minutos.

- Relaxa, Sinclair, eu sei o que faço. – num gesto ainda mais audacioso, Hunter se inclinou para sussurrar aquela alfinetada perto do ouvido de Emily – E nem tudo é sobre você, sabia?

A intenção de Timmons era provocar a garota devolvendo a mesma resposta atrevida dada por Emily. Mas, mais uma vez, Hunter se viu caindo na própria armadilha quando, com aquela maior aproximação entre os dois, o perfume de Emily entrou pelas narinas dele e o deixou completamente inebriado. Era uma mistura insana de amor, desejo e saudade, algo tão intenso que parecia deixar Hunter desconectado da realidade.

Com o espaço apertado da salinha do maquinário, os dois obrigatoriamente ficavam mais próximos. E a maneira como os olhos de Hunter brilhavam enquanto deslizavam pelo corpo e pelo rostinho de Sinclair denunciavam que ele já estava completamente rendido e tinha sido arrastado por aquela mesma onda de sentimentos e emoções que os dois já conheciam tão bem.

E para a surpresa e a satisfação do rapaz, por uma fração de segundo ele viu o mesmo brilho se refletindo nas íris castanhas da ex-namorada. A foto e a tatuagem já tinham ajudado a amolecer o coração de Emily e derrubar várias barreiras que a garota havia construído ao redor de si mesma, mas foi aquela troca de olhares que terminou de nocautear Sinclair.

Tudo aconteceu muito rápido, mas por um breve momento Hunter achou que todos os problemas entre os dois se resolveriam, que Emily acabaria cedendo, que ela o perdoaria e eles voltariam a ser um casalzinho apaixonado. E não era algo impossível de acontecer, considerando o quanto os dois ainda se amavam.

Contudo, quando tudo parecia estar caminhando para que aquela noite terminasse bem, o som de passos nos fundos da lanchonete quebraram a magia daquele momento. Como se Emily estivesse acordando de um estado de transe, a menina piscou algumas vezes, segurou o ar dentro dos pulmões e deu um passo para trás, afastando-se de Timmons e deixando bem claro que aquela recaída não aconteceria.

Mesmo antes de ver o rosto da pessoa que se aproximava, Hunter já tinha amaldiçoado toda a próxima geração daquele intrometido infeliz. Então foi impossível para Timmons segurar uma risada ácida e sarcástica quando foi justamente o rosto de Chad Clifford que surgiu diante deles.

- Mas é claaaaro que é você... – ainda com uma expressão debochada, Hunter sacudiu de leve a cabeça, sem acreditar naquela grande ironia – Quem mais seria, afinal?

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Ignorando o sarcasmo de Timmons, Chad estava com uma expressão mais séria quando olhou de Hunter para Emily, fixando a sua atenção na menina ao se dirigir a ela.

- Você sumiu, Emy, eu fiquei preocupado.

- Ainda não mijou nos tornozelos dela, Clifford? É uma boa forma de marcar o território. Quer dizer, eu nunca tentei, mas parece dar certo para os cachorros.

- O que está acontecendo? O que vocês dois estão fazendo aqui?

Era óbvio demais que a organizadora do evento e o funcionário do estabelecimento tinham ido até a salinha do maquinário para acionar o gerador de energia em meio a aquele blecaute. Mas o olhar inseguro e desconfiado de Chad passava a impressão de que ele temia que aquilo pudesse ser algum tipo de recaída.

- Puta que o pariu, viu... – Hunter rolou os olhos com ainda mais impaciência diante daquela ceninha – De boa, Emily. Eu até entendo que você não queira ficar comigo, mas é sério que vai ficar com esse babaca controlador, obsessivo e ciumento? Eu não sei como você aguenta. Mas enfim, não tenho tempo pra essas merdas. Vou voltar pro trabalho enquanto você fica aí respondendo ao interrogatório do Clifford.

Timmons já tinha dado dois passos e saído da salinha quando deixou escapar aquela piadinha maldosa, já sabendo que aquilo seria suficiente para fazer Chad surtar ainda mais de ciúmes.

- Tchau, ruivinha. A gente se vê novamente esta noite, quando eu te visitar nos seus sonhos.
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Mensagem por Dexter Thompson Sáb maio 04, 2024 11:46 am

Dexter Thompson não era um rapaz maldoso, mentiroso e manipulador. Comparado com Hunter Timmons, Dex era um anjinho de coração puro. A intenção do rapaz nunca era ferir ou magoar alguém, nunca havia o desejo proposital de causar qualquer tipo de mal. Pelo contrário, Dexter estava sempre empenhado em ajudar os problemas de todos ao seu redor, muitas vezes esquecendo de si. Para zelar pela paz em casa, ele tinha aturado por muito tempo as exigências e o controle desproporcional do pai, tinha vivido no meio de um campo de guerra com a briga dos melhores amigos e continuava firme na missão de ajudar Liberty, mesmo que a menina nem desconfiasse.

A essência de Dexter era boa. O problema era que, por incontáveis vezes, ele se atrapalhava no que dizia ou nas suas atitudes. E se só as suas escolhas equivocadas já não fossem suficientes para causar um estrago enorme, as coisas atingiam proporções catastróficas quando Liberty assumia sozinha suas próprias conclusões através de interpretações nem sempre tão assertivas. E isso já tinha se tornado um grande problema entre os dois inúmeras vezes.

Quando seguiu Liberty pela casa, o olhar de Dexter estava atento e preocupado ao perceber que a menina não se sentia bem. Ele já estava péssimo, culpado e arrependido, mas tudo conseguiu ser deixado em segundo plano para garantir que Bloomfield ficaria bem. Só que isso não aconteceu nem mesmo depois que Libby usou a bombinha para respirar melhor.

O olhar perdido, o rosto inchado, lavado por lágrimas, aquele semblante desolado, a forma com que Liberty o encarava. Até algumas horas atrás, Dexter tinha certeza de que não tinha sido importante na vida da ex-namorada, que ela já tinha superado a história dos dois e virado a página do namoradinho bonitinho que havia tido no colégio para voltar a se concentrar no que realmente importava. Mas não era isso que Bloomfield mostrava naquela noite.

Arrasado e sabendo que não tinha como consertar o próprio erro, Dexter apenas apoiou as mãos na cintura e manteve o olhar para baixo enquanto Liberty explodia. Nem passava pela cabeça de Thompson se defender dizendo que ele estava solteiro e que não devia satisfação alguma para ninguém, muito menos para a garota que tinha terminado com ele. Dex podia ter um milhão de defeitos, mas ele não conseguia ser insensível com a garota que ele amava.

O único momento do discurso de Libby que o olhar do rapaz se ergueu foi quando a menina o acusou de compartilhar um segredo íntimo sobre ela com Debby. E se a cena não fosse tão intensa e delicada, seria cômico assistir o esforço de Thompson revirando toda a sua mente atrás de alguma explicação, do seu erro ou deslize que pudesse explicar aquela acusação de Bloomfield. Ele já se sentia tão culpado pela dor que estava provocando em Liberty que teve ainda mais certeza de que tinha feito algo terrível, mesmo que não fosse capaz de se lembrar.

Embora não estivesse chorando, os ombros caídos e o semblante derrotado de Dexter mostrava que ele estava igualmente envolvido e arrasado com os acontecimentos daquela noite. Como um cãozinho obediente que sabia que tinha feito algo errado, ele continuou calado enquanto Libby desabafava. Mas até mesmo a mente agitada e confusa de Dexter foi capaz de enxergar algo que ficou escancarado na sua frente quando Bloomfield concluiu o seu discurso.

O próprio Dexter já tinha acusado Liberty de ser insegura, principalmente em relação a Debby. Mas Thompson não achou que as coisas estivessem tão agravadas daquela maneira, que o tempo que os dois ficaram juntos ao menos tivesse mostrado para Bloomfield que ela não tinha motivos para se sentir tão inferior ou rejeitada.

Com os olhos castanhos refletindo a mesma dor que ela, Dexter franziu as sobrancelhas e a encarou por um longo tempo. Seu coração batia dolorido dentro do peito, mas ele conseguiu reunir coragem para começar a reunir as palavras que estavam entaladas no fundo da sua garganta.

- É, você estava lá, Liberty. Você estava lá e viu tudo aquilo. Viu mais do que deveria. Eu não deveria ter deixado as coisas irem tão longe, foi um erro e agora eu não posso mais voltar atrás e apagar o que aconteceu.

Apesar do ar derrotado e da voz um pouco rouca, até mesmo Dexter se impressionou com a firmeza das suas palavras. E ele nem piscou quando balançou a cabeça e ergueu uma das mãos para gesticular, por um instante parecendo com o Sr. Thompson quando estava usando seus argumentos mais sérios diante dos filhos.

- Mas você não pode abrir a boca para dizer que eu estava mais feliz com a Debby, porque isso não é verdade. Não! - Dexter se apressou a interromper Liberty quando a menina ameaçou abrir a boca. - Agora é a minha vez de falar. Você está tão acostumada a sempre ter a razão de tudo, a dar a última palavra para tudo! Você acha que a sua mente brilhante é capaz de perceber TUDO, e que só a SUA versão é a verdade! É sempre assim, Libby, SEMPRE foi assim! Você já tinha um julgamento pronto sobre mim por causa de uma única coisa que eu tinha dito, e você continuou fazendo isso todo esse tempo! E você nem percebe o que está fazendo, mas continua fazendo, porque é só a sua verdade que importa! Pois quer saber uma novidade? Eu posso ser só um atleta burro com quem você se divertiu por um tempo, mas eu também tenho direito de dizer o que eu penso!

Como sempre acontecia quando Liberty e Dexter discutiam, as mãos dele logo estavam trêmulas e aquele sinal de fraqueza ficou em evidência quando o rapaz usou os dedos para massagear a têmpora enquanto respirava fundo. Depois de uma pequena pausa, Dex deixou seus passos seguirem até a janela, mas ao invés de se acomodar no banquinho acolchoado instalado ali, ele apenas apoiou as costas na parede e encarou Libby com um brilho de lamentação.

- Você quer saber por que eu fiquei com você? Parece que essa é a grande dúvida de Colchester nas últimas semanas, não é? Aliás, essa dúvida já chegou até Seattle e até os seus amigos se perguntam isso. “Por que? Ela só quer transar? Ele quer ganhar uma aposta? Sobre o que eles falam? Mas eles não combinam em nada! Ela é inteligente demais, ele é popular demais, eles não deveriam ficar juntos.” É isso, não é? É isso que todo mundo diz, é isso que você enxerga quando olha para nós dois: o rei do baile e a garota de Stanford.

Liberty já estava fragilizada, com a autoestima completamente enterrada, chorando, machucada, então parecia ser a pior estratégia do mundo enumerar todas aquelas coisas que os dois já tinham escutado de outras pessoas, fosse de forma direta ou através de cochichos e fofocas. Mas em nenhum momento Dexter disse que aquilo era a sua opinião própria.

- Ninguém nunca acreditou em nós dois, e a verdade é que nem você, Liberty. Mas eu? Eu nunca me apaixonei antes até te conhecer. Eu nunca soube o que era amar uma garota até você entrar na minha vida. Eu nem sabia que era possível ser completamente louco por alguém, desejar tanto uma pessoa, sentir o meu corpo e o meu coração entregues, saber que eu nunca me sentiria assim de novo por mais ninguém. Cacete, Liberty! Como você pode dizer que eu estava feliz com outra garota se eu só sei me sentir assim quando eu estou com você? - A cada nova frase, Dexter sentia os ânimos mais exaltados. Ele não estava brigando, mas as palavras mais aceleradas e a entonação agitada mostravam o quanto ele estava afetado com aquela conversa. - Eu fiquei com você porque eu me apaixonei pela garota incrível que eu vi por trás de toda essa sua armadura! Pela sua inteligência, pela sua história, pela sua risada, pelo tom da sua voz, pela forma com que você revira os olhos e tenta segurar o riso quando eu estou me esforçando para ser minimamente inteligente ao seu lado! Eu fiquei com você porque eu te acho LINDA, porque eu sou completamente obcecado pelo seu nariz arrebitado, pelo perfume dos seus cabelos, pela textura da sua boca, e puta que pariu, eu sou louco por cada milímetro do seu corpo, Liberty! Então não, isso não é um enredo de um filme de baixa produção feito só para aterrorizar adolescentes e cheios de clichês! Esse sou eu, completamente burro, cego e apaixonado por você! Foi por isso que eu fiquei com você!

No fim daquele longo discurso, Dexter estava ofegante de uma maneira que ele não ficava nem mesmo durante uma partida de futebol. Encostado contra a parede, ele respirou fundo algumas vezes e coçou os olhos fechados com as pontas dos dedos. E foi daquela maneira que ele deixou sua voz ecoar outra vez, já mais contida.

- Foram só três semanas, e eu fui um idiota por ter deixado as coisas irem tão longe essa noite, Liberty. Mas eu precisava de alguma coisa... Eu precisava de QUALQUER coisa para tentar me fazer parar de pensar em você, para não me sentir tão rejeitado e desprezado, para saber que alguém ainda se importava comigo.

Para um atleta tão bem preparado, Dexter não costumava se cansar tão fácil. Mas os acontecimentos daquela noite e aquela discussão tão acalorada tinha conseguido exaurir todas as suas forças, e sentindo as pernas fracas, ele deixou as costas deslizarem pela parede até escorregar e se sentar no cão. Com as pernas flexionadas, Dex apoiou seus braços sobre os joelhos, mas já não encarava mais Liberty para conseguir fazer aquela confissão.

- Pode me chamar de egocêntrico, egoísta, mimado, seja lá o que for... Talvez eu estivesse mesmo acostumado a ser o centro das atenções ou eu só estivesse me sentindo o pior cara do mundo por não ser bom o bastante para você. E a Debby estava lá, porque ela sempre está lá, e ela foi a única que conseguiu enxergar o quanto eu estava me sentindo sozinho. - Um sorriso amargurado surgiu nos seus lábios e ele deu de ombros, ainda sem encarar Libby. - Ela foi a única que notou que eu saí do time. Nem o Hunter, nem o Chad, ou a Emily. Nem você.

Os olhos castanhos finalmente deslizaram pelo quarto até a direção da garota sentada na beirada da cama. Como Liberty não tinha se dado ao trabalho de ligar as luzes, era apenas a claridade do luar que entrava pela janela ao lado de Dexter que conseguia iluminar o rostinho dela, mas era o suficiente para que os dois se encarassem sem piscar.

- A Debby é linda e nós dois nos damos bem. Mas é ridículo você dizer que eu sou mais feliz ou satisfeito com ela, porque ela não chega aos seus pés. Eu não chego aos seus pés. E você não tem ideia de como é difícil para nós, meros mortais, estar perto de você, sempre se esforçando para não parecer como um macaquinho de laboratório diante de um gênio. E o único motivo para eu estar com outra garota foi porque você não me quis mais, Liberty. Você me descartou, não deu o mínimo de valor para o que eu estava dizendo, no que eu estava sentindo. Você não me deu nem mesmo o beneficio da dúvida e me tratou como um namoradinho sem importância.

Dexter interrompeu o próprio discurso ao sentir a garganta queimando e a voz falhar. Seu queixo chegou a tremer e seu rosto se contorceu em uma careta de choro quando ele falou pela primeira vez sobre como tinha se sentido desvalorizado e menosprezado durante o fim daquele relacionamento. Mas Thompson puxou o ar com força e engoliu aquele choro, mostrando que não tornaria aquela conversa sobre o que ele tinha sentido, e sim sobre como Bloomfield se sentia. Mais uma vez, Dex estava priorizando outra pessoa ao invés de si próprio.

- Eu não sei o que foi que eu fiz de tão cruel e desprezível, porque eu nunca conversei com a Debby sobre você. Nada além de enumerar todos os motivos que eu sempre tive para ter me apaixonado por você. Mas sou sempre eu que ferro com tudo, querendo ou não, então seja lá o que for, eu sinto muito. Depois de hoje, depois que eu larguei a Debby e vim correndo até você, duvido que ela volte a ser um problema.
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Mensagem por Emily Sinclair Sáb maio 04, 2024 11:49 am

- O que foi isso? O que estava rolando aqui?

O coração de Emily estava disparado e a respiração ofegante. Ela sentia a temperatura mais elevada fazendo sua pele ferver, com aquele calor desenfreado subindo pelo pescoço e se espalhando pelo seu rosto. E por já estar tão acostumada com o efeito que Hunter tinha sobre ela, Emy sabia que aqueles eram os primeiros sinais de um intenso desejo. O problema é que, no instante em que Timmons se afastou, foi como receber um balde de água gelada sobre a cabeça.

Se lidar com aquela frustração já seria bastante difícil, tentar entender seus sentimentos e racionalizá-los enquanto reconhecia aquele tom enciumado e controlador de Clifford só deixou tudo ainda pior. Sinclar já não sabia mais se estava irritada com as provocações de Pamela, com a queda de energia, a falha do gerador, a confusão que Hunter causava dentro do seu coração ou a interrupção de Clifford. A única coisa que Emily não tinha dúvidas era que ela estava MUITO irritada.

- Acabou a luz e o maldito gerador estava sem combustível.

A resposta de Emily roou rabugenta enquanto ela marchava para fora do quartinho de máquinas, depois que Hunter já tinha sumido de vista. Não que ela devesse qualquer satisfação a Chad, mas em um velho hábito que ela tinha desenvolvido para saber lidar com um namorado ciumento, Emy sabia que era mais fácil dar alguma resposta do que ignorá-lo.

- É sério que foi só isso? - Chad soou impaciente quando apressou seus passos para seguir a ruiva. - Porque por um instante me pareceu que você estava prestes a cair na lábia do Timmons outra vez. Qual é, Emy! Depois de tudo o que aquele canalha te fez? Depois de tudo o que ele fez contra nós dois??? Eu preciso mesmo te lembrar que ele te usou, que transou com você na minha frente só para me atingir? Que ele mentiu e...

- NÃO, CHAD! - Emily girou sobre os saltos finos quando interrompeu os passos e se virou abruptamente para o ex-namorado. - Não, você não precisa me lembrar de nada disso, porque eu estava lá! Eu estava lá desde o começo! Então pare de agir como se eu fosse uma idiota incapaz de pensar sozinha!

A explosão de Emily era inteiramente voltada para Chad, mas um bom observador saberia apontar que o rapaz só estava no lugar errado e na hora errada, que o real problema da menina era uma soma de fatores e pessoas. Ela estava irritada com Pamela, com Hunter, com Chad, mas principalmente consigo mesma. Porque era desesperador ver o quanto ela ainda se rendia tão facilmente a um cara que tinha lhe enganado, mentido e usado seus sentimentos e o seu corpo. E como se tudo o que Timmons tinha feito ainda não fosse suficiente, ele não conseguia se controlar nem mesmo depois do fim daquele namoro.

Ao fazer a provocação infantil contra Clifford insinuando que a ex-namorada sonharia com ele, Hunter estava mostrando o quanto ele ainda queria atingir o seu rival usando Emy. E ela estava cansada de se entregar aos seus sentimentos só para ser arrastada de volta para o meio daquela confusão.

Só a lembrança do olhar intenso de Hunter já era capaz de arrastar Emy de volta para aquele desejo desenfreado, então era uma tortura se obrigar a assumir a razão, a reviver tudo o que tinha sofrido com o fim daquele relacionamento e como não existia nenhum futuro para ela e Timmons. Mas Emily precisava ser forte e racional, porque ela era a única capaz de proteger o próprio coração de uma nova decepção.

***

Com um ano de relacionamento, Emily já tinha participado de alguns eventos organizados na residência dos Clifford. Natal, Ação de Graças, alguns aniversários ou meros jantares. Lauren e Stuart Clifford também adoravam receber os amigos do filho em uma tarde de lanches, então também não tinham sido poucas as vezes que Emy tinha estado naquele mesmo quintal em um clima festivo. A diferença era que, naquela tarde, Sinclair era apenas uma convidada comum da aniversariante e não ocupava mais o papel de namorada de Chad.

Não era uma festa elegante ou cheia de frescuras, não havia decorações coloridas e nada chamativo. O Sr. Clifford tinha assumido a churrasqueira, havia uma grande mesa de madeira com tigelas de comida, um cooler de bebidas e alguns guarda-sóis espalhados para trazer mais conforto aos convidados. E praticamente eram todos adultos, casais ou separados, que regulavam de idade com a aniversariante. Havia um ou outro primo de Chad, duas crianças, mas ninguém da MMU além de Emy e o filho do casal Clifford.

Como o convite também tinha sido estendido para Hilary, Emily não teve como inventar nenhuma desculpa e fugir do evento daquela tarde. E a verdade era que, por mais complicada que tivesse ficado a sua relação com Chad e Hunter, ela ainda tinha um grande carinho pela antiga sogra. Enquanto Lauren nem escondia o quanto ainda desejava que Emily voltasse a fazer parte daquela família.

- Aaaah, mas que bom que vocês vieram! E não trouxe a sua sobrinha, Hills? Onde está a famosa Liberty?

- Eu não conseguiria arrastar a Libby para fora do quarto nem se fosse o meu aniversário, Lauren. A coitadinha está sempre com a cara enfiada no computador, estudando.

Com um sorriso largo, Hilary e Lauren se abraçaram e a mãe de Emily parabenizou a aniversariante e toda a recepção. A ruivinha também deu um longo abraço na Sra. Clifford e entregou um lindo suéter que mãe e filha tinham escolhido para o presente. Ao lado de Lauren, Chad logo se posicionou como o filho-troféu, o adolescente alto, bonito e bem educado que deixava os pais cheios de orgulho.

- Chaaad! Meu Deus, eu achei que vocês já teriam parado de crescer nessa fase, mas você parece ainda maior! E mais bonito! Quando foi a última vez que apareceu lá em casa? Eu não te vejo há séculos!

Da mesma maneira que Emily e Lauren tinham uma boa relação e que a sua ex-sogra não escondia o desejo de que ela voltasse para seu filho, Hilary também sempre aprovou Chad como o namorado de Emy. E esse sentimento só tinha se tornado ainda mais forte depois da “fase Hunter Timmons”, como se o último namorado da menina tivesse sido apenas um ato de rebeldia passageiro.

- Oi Sra. Sinclair, como vai?

- Que senhora? Está cansado de saber que meu nome é Hilary.

Com uma das mãos, Hilary apertou as bochechas de Chad como se ele fosse uma criancinha, mas o garoto não pareceu nada irritado ou incomodado com aquele gesto. Pelo contrário, sabendo muito bem como ser encantador, o rapaz pediu desculpas e rapidamente se corrigiu, chamando a mãe de Emily pelo primeiro nome.

- Ele está mesmo enorme, não está, Hills? Você não tem ideia do que é ter um filho desses dentro de casa. Se deixar, o Chad come até as paredes! Eu juro, faço compras para toda a semana e ele devora tudo em menos de dois dias!

- Atletas são assim mesmo, Lô. E você não tem do que reclamar, o Chad está cada dia mais lindo! Já é um homem!

- Pois eu digo o mesmo! A Emy está se tornando uma mulher linda. Não acha, querido?

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Com um sorriso derretido, mas ainda com uma postura bastante respeitosa, o olhar de Chad deslizou rapidamente por Emily antes de concordar com a mãe. E mesmo que não fosse uma garota tímida, que adorasse elogios e bajulações, Emy precisou se esforçar para disfarçar o incômodo com toda aquela conversa forçada.

- Vem, Hills! Eu quero te mostrar o prato lindo que eu fiz na última aula de cerâmica!

Como duas amiguinhas inseparáveis, Hilary e Lauren deram as mãos e se afastaram pelo quintal. Uma música tranquila ecoava através de uma caixa de som perto da entrada da cozinha e os convidados pareciam ocupados demais em suas conversas para se importarem com o casalzinho de ex-namorados.

- O que foi isso? Operação cupido? - Emy suspirou assim que as duas mulheres saíram do seu alcance.

- Eu não sei. Está dando certo? - Chad arqueou as sobrancelhas e daquela vez a menina não disfarçou tão bem o seu incômodo. - Ainda está chateado comigo pelo que rolou na noite do drive-in?

Apesar da interrupção com a queda de luz, o restante do evento tinha terminado de fluir muito bem. E aquela tinha sido a última vez que Emily tinha pisado no Pat's, evitando a todo custo qualquer novo encontro com Hunter. Cada vez ficava mais provado que ela ainda não conseguia confiar em si mesma se estivesse sozinha com Timmons, então tudo o que Emy precisava era se manter distante até ser capaz de dominar os próprios sentimentos, isso, é claro, deduzindo de que seria capaz de tal proeza algum dia.

- Depende. Você ainda vai agir como um ciumento obcecado e controlador?

Os ciúmes e as atitudes imaturas de Chad sempre tinham sido um grande problema naquele relacionamento, motivo para grandes brigas acaloradas. Só que os dois não estavam mais juntos, então fazia ainda menos sentido que Clifford surtasse. E era por saber que tinha errado na dose que o rapaz soltou um suspiro e balançou a cabeça.

- Eu só estava preocupado com você, Emy. Será que nós podemos conversar um pouco?

- Eu não posso demorar, Chad. Amanhã também é aniversário da Libby e eu preciso organizar tudo. - Sinclair rolou os olhos com um ar impaciente. - Claaaro que ela não quer uma festa, mas vou preparar um jantar em família.

- Eu prometo que vai ser rápido.

Depois de olhar rapidamente pelo quintal e flagrar Hilary e Lauren olhando na direção dos dois com uma curiosidade escancarada, Emy soltou um suspiro e concordou acompanhar Chad para fugir daqueles olhares e das insinuações escancaradas das duas mulheres.

A música que ecoava pelo quintal chegava abafada e quase imperceptível no segundo andar, principalmente depois que Chad encostou a porta do quarto. Já familiarizada com aquele ambiente, Emily atravessou o cômodo até a janela e analisou a movimentação da festinha de longe. Enquanto a menina se distraía, Clifford se aproximou alguns passos até parar diante dela, em uma distância curta demais para uma simples conversa.

- Eu acho que preciso começar pedindo desculpas, não é? Não foi a minha intenção te pressionar ou bancar o maluco obcecado, Emy. Eu sei que nós dois não estamos mais juntos, nós já tivemos essa conversa antes. Mas eu não consegui me controlar... Não é só ciúmes, Emy. A ideia daquele canalha te fazendo mal outra vez, te usando e tentando te manipular...! Acho que no fundo eu me sinto culpado por tudo o que aconteceu, porque toda essa história só começou porque eu aceitei a posição de capitão e irritei o Timmons.

No fim do seu namoro com Hunter, Emily tinha acusado o rapaz de ser ele quem tinha trazido Clifford para o relacionamento dos dois. E sem perceber, Chad cometia sempre o mesmo erro, porque bastava que ele e Emily começassem a conversar para o nome do seu rival sair da sua boca. Não importava o que Emily fizesse, um estava sempre lembrando do outro.

Mas dessa vez, mais do que essa percepção, Emily acabou sendo influenciada pela conversa de Chad. Porque aquilo era verdade, a sua história com Hunter só tinha existido por causa de uma estúpida posição no time de basquete. Ela tinha se apaixonado e se entregado a um cara que nunca teria ficado por ela se não fosse pelo desejo de vingança. E pela maneira que Clifford colocava, Timmons parecia mesmo um grande vilão e ela era a mocinha que poderia cair nas garras dele a qualquer momento.

No Pat's, logo após o blecaute, Emily tinha explodido e gritado que era capaz de pensar por si. Mas a grande verdade era que Timmons ainda tinha um poder tão grande sobre ela que Sinclair não tinha tanta certeza assim do seu autocontrole. E era muito indigesto continuar escutando que Timmons só tinha se aproximado dela por causa de Chad, enquanto seu coração ainda o desejava tanto.

- Não exagere, Chad. A culpa nunca foi sua. Quem mentiu e manipulou foi o Hunter, e quem acreditou em tudo o que ele dizia, foi eu. Mas eu já estou cansada de voltar nesse assunto, parece que estamos presos em loop. Não dá para deixar essa história morrer se continuar alimentando assim.

- Você tem razão. - Chad deu mais um passo, com o olhar preso em Emily, e quando a garota recuou, sentiu suas costas se chocarem contra a parede. - Eu só precisava falar nisso uma última vez para me desculpar. Mas o que eu realmente quero conversar é sobre nós dois, Emy.

- Chaaad, por favor! - Emy soltou um suspiro e tentou desviar do rapaz, mas dessa vez Clifford foi mais insistente ao segurá-la pelo pulso. Não havia uma força exagerada e nem movimentos grosseiros, mas ele foi firme o bastante para impedir que ela escapasse. - Nós já tivemos essa conversa!

- Não, não tivemos. Quando nós dois conversamos, você já tinha caído nas garras daquele mentiroso e manipulador. É claro que eu não ia ter chance, quando você achava que estava apaixonada por outro! Mas eu preciso que você me responda, Emy, eu preciso que você seja honesta comigo, mas mais ainda com você! Se não fosse a intervenção do Timmons, você teria me dado mais uma chance, não teria?

Chad já tinha feito aquela pergunta, e foi com uma entonação mais agitada que Emily repetiu as mesmas palavras do outro dia. A diferença era que, literalmente contra a parede, Sinclair já não soou tão firme quanto na primeira vez.

- Eu não sei!

- Você sabe, é claro que você sabe! Seja honesta, Emy, por favor!

- Eu já disse que não sei! Eu... Talvez, Chad! Talvez! Era o que a gente sabia fazer de melhor, não é? Brigar, separar e voltar! Então se eu sentia saudades? Talvez! Se eu acabaria voltando atrás? Talvez! Mas do que adianta falar sobre isso agora? As coisas mudaram!

- O que eu sinto por você não mudou. - Contagiado pela agitação de Emily, Chad também soou ansioso enquanto seu olhar dançava pelo rostinho dela. - Eu sei que não fui um namorado perfeito, que nós dois tínhamos problemas. Mas o que nós tivemos era real, Emy, era algo de verdade! Não era uma mentira ou uma vingança!

Com as mãos trêmulas, Chad soltou o pulso de Emily apenas para erguer seus dedos e segurar o rostinho da garota. Enquanto Clifford falava, tudo o que ela conseguia pensar ou sentir era uma saudade ainda mais sufocante de Hunter, mas ironicamente esse sentimento foi o que mais impulsionou o discurso de Chad. Ainda amar alguém que tinha lhe feito tanto mal trazia uma sensação de desespero, uma urgência em tentar se livrar daquele sentimento e recuperar o controle. E talvez, estando ao lado de outro cara, de alguém que estava se esforçando tanto para tê-la para si, fosse o que Emily tanto precisava para esquecer e superar Timmons.

Chad estava longe de ser um príncipe encantado, os ciúmes e as brigas que desgastavam o relacionamento provava isso. Mas ele sabia encenar aquele papel de bom moço com muita perfeição. E depois de ter tido seu coração destruído por alguém, a mente de Emily dizia que ela precisava exatamente de alguém assim. Alguém como Clifford.

- O que eu vivi com o Hunter pode não ter sido real, mas o que eu ainda sinto por ele, é.

Não foi para torturar, machucar ou irritar Chad que Emily foi tão direta. Ela só precisava fazer Clifford entender onde realmente estava se metendo e o que estava desejando para si, sem mentiras, sem rodeios. E o baque daquela confissão, mesmo depois de tudo que tinha mostrado para ela, fez com que Clifford se calasse por alguns segundos, claramente ferido. Por um instante, pareceu que ele finalmente desistiria, mas foi por enxergar algo de diferente na postura de Sinclair, por notar aquela discreta, minúscula e opaca luz no final do túnel, que Chad tomou fôlego para uma última tentativa.

- Brigar, terminar e voltar. Você disse que era o que a gente fazia de melhor, não é? Pois eu só preciso de mais uma chance, Emy. Uma chance. Eu prometo que vou te provar ser merecedor de estar ao seu lado, eu vou fazer você se esquecer dessa mancha, que tudo isso vai ser só uma fase superada e que eu posso te fazer feliz.

Era uma oferta tentadora demais. O coração de Emily poderia implorar por Hunter, mas a sua mente sabia que era exatamente daquilo que ela precisava. Superar, transformar aquele amor em uma simples fase que ficaria para trás, e mais importante de tudo, ser feliz. E se Chad estava dizendo que era capaz de tudo aquilo, o que Sinclair tinha a perder?

- Nós podemos ir devagar. - A esperança brilhou nos olhos de Chad ao ver que estava derrubando as barreiras da ex-namorada. - Vamos começar do zero. Só você e eu, Emy. Eu prometo que vou respeitar o seu tempo se você confiar em mim. Eu te amo e sei que nós dois podemos fazer isso dar certo.

O coração de Emy protestava, rebelde. Em uma batalha sangrenta, ele tentava lembrar a fotografia que Hunter ainda usava no celular, a tatuagem, as declarações de amor e principalmente o olhar derretido que ele tinha lançado a ela na noite de Halloween. Sinclair tinha motivos para acreditar nos sentimentos sinceros de Timmons. Mas daquela vez a sua mente venceu a batalha ao enumerar pontos muito mais marcantes e que pesavam naquela balança, na dor sofrida, nas mágoas, decepções, as mentiras, manipulações, o episódio da quadra e a noite que ela tinha passado em claro, esgotando todo o seu estoque de lágrimas.

Em uma batalha entre Hunter e Chad, o seu coração já tinha feito a escolha e não dava nenhum sinal de que mudaria de ideia. Mas na luta incansável da razão, as qualidades e os defeitos de Clifford saíram vencedores. E foi como se aceitasse uma derrota muito cansativa que Emily concordou com um movimento da cabeça.

Vencida pelo cansaço diante das insistências de Chad ou pelas mágoas acumuladas por Hunter. Independente do motivo, naquela tarde Clifford saiu vitorioso. E o brilho que se espalhou pelas íris azuis foi muito intenso. Sem perder tempo, os braços do rapaz rodearam a cintura de Emily e a boca dele procurou a dela em um beijo ansioso e carregado de saudade. Por mais familiar que aquele toque fosse, foi para Emy uma pequena amostra de que não seria tão fácil assim se entregar de novo a outra pessoa que não fosse Hunter Timmons.
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Mensagem por Hunter Timmons Sáb maio 04, 2024 5:22 pm

Emily Sinclair era atualmente a garota mais popular da MMU e, consequentemente, de Colchester. Linda, vaidosa, com os cabelos ruivos exóticos, os traços delicados e as curvas nos lugares certos, era seguro afirmar que Sinclair era o objeto de desejo de praticamente todos os rapazes. E tudo isso ainda se somava ao fato de Emily ocupar o cargo de capitã das líderes de torcida e estar à frente do comitê de festas. Até existiam outras garotas atraentes andando pelos corredores da MMU, mas meninas como Pamela ou Debby não chegavam nem perto de ameaçar o "reinado" de Sinclair porque Emily tinha o espírito de liderança que faltava nas outras. E agora, além de todas as qualidades e do lugar de destaque que Emily ocupava no colégio, ela ainda estava bem no centro da disputa entre dois dos rapazes mais atraentes e populares da cidade.

Deixando de lado as confusões, os planos de vingança e as brigas dos rapazes, que garota não gostaria de ter Chad Clifford e Hunter Timmons disponíveis no seu cardápio? Mesmo com todo o escândalo envolvendo aquele triângulo amoroso, várias meninas se corroíam de inveja de Sinclair. Chad era o protótipo de um príncipe romântico, apaixonado e determinado. Talvez ele fosse um pouco insistente demais, mas ainda assim era um cara que não se cansava de demonstrar o seu amor por Emily. Do outro lado, Hunter não era tão doce ou fácil de lidar, mas até esse detalhe parecia ser interessante. Era como se Sinclair pudesse escolher entre o mocinho apaixonado e o bad boy intenso e toda essa confusão acabou fazendo com que a popularidade de Sinclair crescesse ainda mais.

Admirada e invejada pelas garotas, desejada e disputada pelos rapazes. Não seria tanto exagero assim dizer que Emily era atualmente uma espécie de rainha em Colchester. Mas a grande verdade é que nem sempre aquele reinado tinha pertencido à Sinclair. E também era verdade que talvez Emily nunca tivesse chegado ao trono se a primeira rainha não tivesse perdido a sua coroa cerca de dois anos atrás.

Antes de Sinclair estar no foco das atenções, era outra menina que trazia para si todos os holofotes. Um ano mais velha do que Emily, a antiga rainha ocupava basicamente o mesmo lugar que agora pertencia à Sinclair. Linda, popular, capitã das líderes de torcida e disputada ferozmente pelos rapazes mais cobiçados do colégio. Nada parecia ser capaz de abalar o reinado de Eileen Parker, mas como várias grandes rainhas da história da humanidade, Eileen foi derrubada pela própria soberba e sucumbiu aos próprios erros.

Talvez a maior diferença entre Emily e Eileen era a personalidade da primeira rainha. Não que Sinclair fosse uma flor de candura, mas a ruiva costumava ser uma pessoa agradável, fácil de lidar, disciplinada e que evitava atritos com os colegas sempre que possível. Ao contrário dela, Eileen Parker era um verdadeiro furacão circulando pelos corredores da MMU. Não foram poucas as vezes que Eileen enfrentou os professores, desobedeceu às regras, protagonizou escândalos ou se envolveu em brigas. Mais do que admirada ou invejada, Parker costumava ser temida. E foi justamente numa daquelas explosões que a garota extrapolou todos os limites e acabou pagando muito caro por seus erros.

Tudo começou com uma discussão boba durante um ensaio da torcida, algo bem parecido com o que aconteceu quando Pamela interferiu na autoridade de Emily e mudou alguns detalhes na coreografia preparada pela capitã. Mesmo insatisfeita, Sinclair acabou concordando com a opinião da maioria e não quis transformar aquilo num grande problema. Mas, quando algo semelhante aconteceu com Eileen Parker, uma das colegas foi parar no hospital, com as duas pernas quebradas, um ombro deslocado e vários tufos de cabelos arrancados. Naquela época, uma Emy de quinze  anos já participava da torcida e a ruiva certamente se lembrava do momento em que a capitã completamente enfurecida invadiu o vestiário e atacou selvagemente a colega que ousou discordar dela.

Diferente dos outros delitos e indisciplinas cometidos por Eileen, desta vez uma agressão tão grave obviamente não poderia ser abafada. Nem mesmo levando em consideração que Eileen era a única filha do prefeito de Colchester. Os pais da menina agredida exigiram que o colégio tomasse providências e ameaçaram chamar a polícia. E para abafar um escândalo que poderia comprometer seriamente a sua vitória na reeleição, o prefeito Parker deu um jeito de "sumir" com a filha da cidade.

E foi exatamente isso que aconteceu. Num belo dia Eileen circulava pelos corredores como a rainha da MMU e no dia seguinte a garota sumiu sem deixar vestígios. As más línguas diziam que Eileen foi mandada para um colégio interno no Reino Unido, mas também havia quem dissesse que ela estava apenas escondida na casa de um tio em Burlington. Como a maioria das fofocas, a história foi crescendo até o ponto de certos moradores de Colchester jurarem ter visto Eileen num documentário da TV sobre psicopatas foragidos. Mas a única verdade inegável daquela história era que a filha do prefeito nunca mais pisou em Colchester e ninguém sabia ao certo qual foi o paradeiro de Eileen Parker.

Só depois que a rainha foi arrancada do seu trono, o espaço ficou livre para Emily Sinclair se destacar. E como a memória das pessoas era curta, dois anos foram suficientes para que quase ninguém mais falasse ou pensasse em Eileen. Mas ficou provado o quanto Parker tinha ficado marcada na história daquela cidadezinha quando a voz doce e suave da garota foi reconhecida sem que Hunter Timmons nem precisasse olhar na direção dela.

- Oi, eu vim pelo anúncio na internet... - a moça quebrou o silêncio, se dirigindo ao atendente que estava de costas para o balcão, secando uma pilha de copos - Mas desde quando você é fotógrafo, bebê?

- TÁ ME ZOAAAAAANDO! - Hunter já se virou com um enorme sorriso nos lábios depois de ter reconhecido aquela voz que não entrava em seus ouvidos há quase dois anos - CARAAAALHO! VOCÊ AINDA TÁ VIVA!

Absolutamente ninguém que olhasse para a mocinha do outro lado do balcão acreditaria na fama de Eileen Parker. Baixinha, magrinha, com os cabelos loiros, traços delicadinhos e grandes olhos azuis, Eileen passava a impressão de ser uma garota muito doce e comportada. Era bizarro pensar que ela tivera força para fazer um estrago tão grande numa colega, mas quem já tinha assistido de perto as explosões de Parker sabia que aquele arzinho angelical era apenas uma máscara.

- Viva, saudável e ainda mais sexy, bebê. Mas é verdade que eu passei tempo demais longe desse buraco de cidade e olha só a bagunça que vocês fizeram na ausência da rainha! Eu já tinha ouvido falar sobre o seu joelho e o basquete, mas o trabalho no Pat's me pegou de surpresa. E agora você é fotógrafo também? A sua vida estava bem melhor na época em que a gente dava uns amassos nos fundos da quadra, né?

Embora fosse um ano mais velha que Hunter, a diferença de idade nunca foi um obstáculo para que os dois se divertissem. Na época, Timmons ainda não havia sofrido o acidente e tinha uma personalidade muito mais leve e dócil. Mas as aventuras que ele se permitia viver com Eileen Parker já eram um indício de que Hunter não era tão bonzinho ou disciplinado. A diferença de idade parecia ainda mais insignificante agora que Hunter estava mais velho, mas Eileen continuava chamando-o de "bebê" e mantendo a piadinha interna que os dois tinham criado na época em que se divertiam juntos.

- Eu ouvi tanta merda sobre o seu paradeiro! Onde você estava, afinal? - Hunter ficou mais sério enquanto se apoiava no balcão para conversar com a menina - Qualquer resposta diferente de "Marte" ou "Idade Média" não será perdoada porque você poderia ter pelo menos mandado uma mensagem pra dizer que estava tudo bem!

- Reformatório. Sem celular, sem acesso à internet. Só me deixavam fazer ligações pra casa. Eu só consegui sair depois que fiz dezoito anos e me emancipei.

- O que? Tá falando sério??? O seu pai te enfiou num reformatório!?

- Tudo para não atrapalhar as eleições, bebê. Mas por que está tão chocado? Sou eu que estou chocada em saber que o seu pai não fez o mesmo com você depois de todas as merdas que você vem fazendo...

A resposta ácida de Eileen deixou Hunter sem argumentos porque ele não duvidava que Henry teria coragem de seguir a mesma ideia do prefeito e esconder num buraco o filho que estava tumultuando a sua vidinha perfeita. Um silêncio pesado se prolongou por alguns segundos, mas Timmons logo quebrou o clima com uma piadinha.

- Mas e aí...? - uma longa pausa foi feita antes que ele completasse já com um ar de deboche - O reformatório te consertou?

- O que você acha...? Dizem que um caso perdido reconhece o outro de longe, como um tubarão indo atrás de uma gota de sangue no oceano.

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Sem tirar um olhar significativo de Hunter, Eileen se inclinou para pegar uma das balinhas num pote sobre o balcão e a enfiou na boca num gesto provocante e sensual. Se aquela cena estivesse acontecendo alguns meses atrás, Timmons não tinha a menor dúvida de que se deixaria levar por aquela tentação e se uniria novamente a Eileen para matar as saudades dos velhos tempos. Intensa, inconsequente, explosiva. Parker parecia ser uma versão feminina do próprio Hunter e era tudo o que ele precisava para extravasar as suas frustrações e retomar os velhos (e péssimos) hábitos. Mas agora, depois de ter vivido a experiência de se apaixonar de verdade, nada mais parecia tão empolgante como antes. Era como se todos os instintos e desejos de Timmons agora estivessem focados apenas em Emily Sinclair.

- Eu estava falando sério sobre os seus serviços como fotógrafo… - Eileen se aproveitou do silêncio para retornar a aquele assunto - Eu sou modelo agora, sabia? Fiz um curso depois do reformatório, entrei numa agência e já fiz alguns comerciais. Estou precisando atualizar o meu currículo e renovar as fotos. Quando você pode?

- Vou ter uma folga no sábado. Até lá posso pensar nos cenários e figurinos que podemos usar. Você quer fotos temáticas ou algo mais casual? É pra alguma proposta de trabalho específica?

O discurso objetivo e profissional de Timmons mostrava claramente que ele não tinha qualquer tipo de segundas intenções com aquela sessão de fotos. Eileen, por outro lado, abriu um sorrisinho insinuante e nada inocente antes de erguer um ombro e dar uma resposta recheada de dupla interpretação.

- Você é o artista, bebê, você decide. Eu serei toda sua no sábado, topo fazer qualquer coisa que você mandar.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Sáb maio 04, 2024 5:30 pm

O discurso de Dexter poderia soar apenas como uma desculpa esfarrapada de um rapaz que queria justificar os próprios erros. “Eu não deveria ter deixado as coisas irem tão longe”, “Eu só fiz isso para tentar parar de pensar em você”, “Eu estava me sentindo sozinho, desprezado, e outra garota me deu a atenção que eu não recebi de você”, “Eu só fiquei com outra garota porque você não me quis”. Aquele era o script que a maioria dos homens seguia para tentar justificar um deslize ou uma traição. Um bom manipulador era capaz de moldar a situação até o ponto de fazer com que a mulher se sentisse culpada e responsável pelas atitudes reprováveis dele. Mas Libby já conhecia Dex bem o bastante para saber que ele não merecia o título de um canalha manipulador.

Thompson de fato havia cometido um erro grave naquela noite. No papel de um rapaz solteiro, Dexter não precisava da permissão de ninguém para se envolver ou transar com uma garota. Mas Thompson acabou errando quando assumiu os riscos de um escândalo e deixou aquilo acontecer num local público, onde qualquer um poderia ver ou até registrar aquele momento de intimidade. Mais do que simplesmente uma fofoca escandalosa circulando por Colchester, Dexter também não tinha pensado no quanto a ex-namorada poderia ficar abalada, ofendida e magoada. Independente se os dois não estavam mais juntos, o término ainda era recente demais e era óbvio que Libby não ficaria feliz em saber (muito menos ao ver) que Thompson já estava com outra garota em seus braços.

Só que Dexter não era a única pessoa ali que tinha cometido um erro grave e esse talvez fosse o único detalhe que equilibrasse um pouco a situação. Isso não amenizava ou anulava as escolhas erradas que Thompson tinha feito naquela noite, mas Liberty sabia que nada daquilo teria acontecido se ela não tivesse terminado o relacionamento com o rapaz. Como numa bola de neve, os erros vieram de todos os lados e foram se embolando e acumulando até se transformarem em algo enorme e destrutivo.

- Eu queria mesmo me sentir tão superior e especial como você acha que eu me sinto, Dexter…

Um sorriso amargo e totalmente sem emoção surgiu nos lábios de Bloomfield e ela sacudiu de leve a cabeça numa negativa. A voz de Libby ainda falhava depois dos soluços, dos gritos e da crise de asma, mas ainda assim a garota encontrou fôlego para continuar aquela conversa.

- Você realmente acha que eu me sinto superior, que eu não me importo com os “meros mortais”?  De onde eu conseguiria tirar toda essa autoestima que você acha que eu tenho? Eu posso até ser inteligente, mas você já parou pra olhar o outro lado da minha balança?

Desde que conheceu Libby e começou a se relacionar com a novata, Thompson se mostrou incomodado com o abismo intelectual que existia entre os dois. Da mesma forma como Liberty se alimentava de uma insegurança idiota com a sua aparência física, Dexter também não conseguia lidar bem com o fato de Libby ser tão mais inteligente do que ele. Mesmo que Bloomfield nunca tivesse demonstrado incômodo ou vergonha por estar com um cara que não era tão brilhante como ela, aquilo continuava sendo um problema para a autoestima do rapaz. Era ele que via Libby em cima de um pedestal, nunca foi a garota que se enxergou ou se comportou como se fosse superior a ele. E aquele desabafo de Liberty deixava bem claro que ela enxergava muito mais os próprios defeitos do que as suas qualidades.

- Eu não sou popular, não sou linda, confiante ou sensual… - mesmo sem citar novamente o nome de Debby, era evidente que Libby mais uma vez estava se comparando à líder de torcida - Eu não sou sociável, eu tenho dificuldades para lidar com os meus próprios sentimentos. Na minha vida inteira, eu tive tão poucos amigos que acho que conseguiria contá-los nos dedos de uma mão. E o problema vai muito além dos meus poucos amigos… O meu próprio pai não me quis, ele nunca se importou. E o meu irmão, além de não se importar, só se aproximou de mim pra me roubar. Então como você pode achar que eu me sinto superior a você ou a qualquer outra pessoa, Dexter? Eu não sou especial e eu definitivamente não sinto que estou acima de ninguém. Aliás, se eu fosse mesmo tão brilhante, eu não teria sido enganada e eu não teria cometido tantos erros e perdido você.

Depois de todas as terríveis emoções daquela noite, Liberty se sentia exausta. Sua garganta ardia pelo choro desesperado, seus pulmões ainda não pareciam satisfeitos com a quantidade de ar que chegava até eles e os olhos castanhos agora estavam tão inchados que já nem pareciam mais tão grandes como de costume. Não era um bom momento para uma conversa tão importante, mas ela e Dexter já tinham adiado aquilo por tempo demais.

Era evidente que aquelas falhas na comunicação estavam por trás de todos os problemas, brigas e desentendimentos entre os dois. Thompson acusava a ex-namorada de não ouvir ninguém e de tirar as suas próprias conclusões, mas ele também havia feito algo parecido quando simplesmente decidiu que Libby não o amava mais ou que ela nunca havia dado valor ao amor dos dois.

- Você nunca foi um “namoradinho sem importância” e é muito injusto que você diga isso depois de tudo o que passamos juntos. Eu derrubei muitas das minhas barreiras por você, por te amar! Um único erro não deveria anular todo o resto. Você disse que estava carente e a Debby te ofereceu a atenção que você precisava naquele momento. E foi a mesma coisa que o Leonard fez comigo. Ele me ofereceu algo que eu queria desesperadamente desde a infância! Um irmão, uma família, ser aceita, amada e valorizada pelos Wooton! Eu não escolhi o Leonard porque não te amava ou porque era mais fácil descartar você. Eu só estava confusa, iludida e fui manipulada. Agora eu enxergo isso e me arrependo amargamente por ter sido tão ingênua. Só que agora já é tarde demais.

Assim como Bloomfield não pretendia lutar para recuperar o software roubado, ela também já tinha dado a batalha por Dexter como perdida. Além de Thompson ter ficado muito ofendido com o término do namoro, Libby teve ainda mais certeza de que o rapaz não iria querê-la de volta porque ele já vinha se reaproximando de Debby e parecia estar bem satisfeito com a líder de torcida.

E se antes já era difícil visualizar uma reconciliação, depois daquela noite Libby achava ainda mais improvável encontrar um caminho de volta para os braços de Thompson. Mesmo com Dexter dizendo que não amava Debby, que ele ainda pensava em Libby e nunca havia se apaixonado por nenhuma outra menina além dela, era difícil para Bloomfield acreditar nele ou arrancar da sua memória a ceninha asquerosa que ela assistiu naquela noite.

- Eu errei, eu te magoei e eu te perdi. Mas em nenhum momento eu disse que não te amava mais. Você tem todo o direito de ficar com a Debby ou com qualquer outra, mas tente fazer isso de um jeito que não me machuque ainda mais, Dexter. Porque o que aconteceu hoje, o que eu vi hoje… - Libby teve que fazer uma pequena pausa para desfazer um nó apertado na garganta - Aquilo doeu demais e eu acho que nunca vou conseguir superar ou esquecer a dor e a humilhação que eu estou sentindo agora. Eu nunca mais vou conseguir olhar pra você sem me lembrar daquela cena, sem reviver aquele trauma. Aliás, a minha mente continua revivendo aquela merda em looping neste exato momento, então eu agradeceria muito se você fosse embora. Eu quero ficar sozinha.

No fim das contas, não havia nada a mais para ser dito e tudo parecia esclarecido finalmente. Liberty admitiu que estava arrependida por ter feito a escolha errada e perdido o namorado que ela amava. Thompson também admitiu que tinha sido errado se deixar levar pelos desejos e se expor daquela maneira depois de um término tão recente. Os dois estavam arrependidos, os dois ainda se amavam. Mas isso não anulava as mágoas que eles tinham causado um no outro. Dexter continuava se sentindo menosprezado por Libby enquanto a menina também não parecia ser capaz de superar os últimos acontecimentos.

Bloomfield imaginou que já tinha secado todo o seu estoque de lágrimas naquela noite, mas bastou que Dexter saísse da casa das Sinclair para que um novo nó se formasse na garganta da menina. Embora Liberty estivesse acostumada a ser sempre objetiva e racional, naquele momento era simplesmente impossível lidar com aquele turbilhão de emoções. A saudade se misturava com a culpa e era temperada pelo arrependimento. E como se já não bastasse tudo isso, agora Libby tinha também que lidar com uma boa dose de insegurança, ciúmes e nojo depois de ter assistido o ex-namorado em uma situação tão íntima e intensa com outra menina.

E Liberty se sentiu ainda mais sozinha e infeliz quando se encolheu na própria cama, abraçou um dos travesseiros e se rendeu novamente à vontade de chorar. Pelo cronograma dela, Libby precisava dormir bem porque o dia seguinte estava lotado de tarefas que precisavam ser cumpridas. Mas, ignorando a sua própria obsessão pelo cronograma perfeito, naquela noite Liberty apenas se permitiu sofrer e derramar todas as lágrimas que ainda lhe restavam.

***

- Feliz aniversário.

Com uma velinha espetada na massa, Hunter Timmons tirou um cupcake da bandeja e o colocou em cima da mesa ocupada por Liberty no Pat’s. Surpresa com o gesto atencioso do amigo e principalmente por Timmons ter se lembrado daquela data, Libby abriu um sorrisinho e não resistiu à tentação de fazer aquela piadinha.

- Ooolha! Alguém recebeu o primeiro salário ou você tá roubando a vitrine de doces da Sra. Patmore?

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- Nem uma coisa nem outra. - Timmons sorriu enquanto se sentava em frente à aniversariante - Já estava há três dias na vitrine, então hoje era pra gente jogar no lixo. Mas relaaaaxa! Eu cheirei e não parece estar azedo, deve ser seguro comer.

Os grandes olhos de Liberty pareceram ainda maiores quando ela encarou o amigo com um semblante surpreso e horrorizado. Hunter ainda manteve a encenação por mais dois segundos antes de denunciar a piadinha com uma gargalhada.

- Ridículo! Mas eu não duvido que você seria capaz de fazer algo assim! - Liberty rolou os olhos e o sorriso dela se tornou mais doce depois de uma mordida no bolinho - Obrigada. Foi o único presente que eu ganhei hoje…

Foi a vez de Hunter ficar surpreso com a revelação da amiga. Já era fim de tarde. Isso significava que Liberty tinha acordado, saído de casa, ficado o dia todo no colégio e só agora alguém parecia ter se lembrado que aquele era um dia especial pra ela. E quando Timmons pareceu indignado com aquela situação, Liberty se colocou logo na defensiva.

- Tudo bem! Sério! Eu disse que não queria nada especial hoje. A minha mãe já me mandou uma mensagem e a tia Hilary saiu cedo pra trabalhar, mas ela falou que vai fazer um jantar especial. A Emy também não deve ter se esquecido. É que ela não dormiu em casa essa noite e foi um dia bem tumultuado no colégio com provas e…

- A Emy não dormiu em casa?

Liberty só notou o tamanho da gafe que ela tinha cometido quando notou o brilho sumindo dos olhos de Timmons. Numa cidade tão pequena como Colchester, é claro que já circulavam alguns comentários sobre uma reaproximação entre Emily Sinclair e Chad Clifford. Mas Bloomfield tinha acabado de confirmar algo que Hunter apenas desconfiava até aquele momento.

- Eu sinto muito, Tim… - como era tarde demais para engolir de volta aquelas palavras, Libby apenas lançou um olhar de pesar para o amigo - De verdade. Pode apostar que eu sei como é difícil lidar com isso. Mais uma vez estamos juntos no fundo do poço, hm?

Diferente de Libby, Hunter não tinha visto com seus próprios olhos a garota que ele amava se satisfazendo nos braços de outro cara, mas ainda assim os dois amigos estavam em uma situação bem parecida.

Apesar de desconfortável e infeliz, Hunter não explodiu e nem reagiu de forma agressiva ou sarcástica. Ele parecia apenas derrotado quando soltou um suspiro e tentou se recompor depois daquele grande baque.

- Tudo bem. Eu ia descobrir de qualquer forma. A escolha é dela, sempre foi… - os olhos cor de avelã deslizaram rapidamente pela tatuagem que marcava a pele da mão dele - No fim das contas ela merecia um cara melhor que nós dois. Mas se é isso que ela quer, que seja…

- Tá falando sério? “Que seja?” É assim que você vai reagir? Sem gritos, sem ameaças, sem estourar a cara de ninguém? Pra onde foi o Dark Tim?

- O que eu posso fazer se ela não me quer? Eu não posso obrigar a Emy a voltar pra mim, novata. Eu sou responsável pelos meus sentimentos, não pelos dela…

- Puta merda, Tim! Você tá me assustando real agora com toda essa maturidade e serenidade!

- Você vai se sentir melhor se eu disser que cuspo no suco do Clifford e passo o meu pau no hambúrguer dele todas as vezes que ele vem aqui?

A gargalhada de Liberty ecoou pela lanchonete e atraiu a atenção das pessoas mais próximas. E pelo risinho sacana de Hunter era difícil saber se o rapaz estava falando sério ou se era só mais uma piadinha.

- Bem melhor! Esse sim é o Tim que eu conheço!
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Mensagem por Emily Sinclair Dom maio 05, 2024 10:19 pm

Chad Clifford tinha usado um argumento que tinha penetrado na mente de Emily e coçado o seu cérebro até causar uma ferida. Se Hunter Timmons nunca tivesse entrado naquela história, se ele nunca tivesse decidido usar a ex-namorada do amigo como a principal chave do seu plano de vingança, era muito provável que a menina já tivesse voltado para os braços de Chad há muito mais tempo.

Aquela era a dinâmica que Chad e Emily conheciam muito bem. Como um príncipe encantado, Clifford parecia o melhor namorado do mundo, até surgir uma pequena crise que se transformava em uma verdadeira catástrofe. Brigas, discussões, ciúmes, insegurança e uma separação, que Emy sempre jurava que seria definitiva. Até que o rapaz reassumisse o papel de um cara apaixonado que faria qualquer esforço para reconquistá-la, Emily cedia e os dois voltavam.

Hunter tinha surgido exatamente no meio de uma das crises do casalzinho, e Emily seria hipócrita se dissesse que nunca tinha cogitado voltar para Chad, que ainda não existiam sentimentos ou uma possibilidade de reatarem. E no final, tinha sido exatamente esse o script protagonizado pelo casalzinho, porque mais uma vez Sinclair estava nos braços de Clifford.

Só que havia uma gigantesca mudança que transformava aquela experiência em algo muito diferente de todas as outras vezes. Porque ao se aproveitar daquela brecha e usar Emily na sua vingança, Hunter tinha entrado no coração da garota de uma forma permanente. E agora, não importava o quanto Emy se esforçasse, ela não sentia a mesma intensidade, desejo ou amor por Chad, não importava o quanto o rapaz se esforçasse. Mesmo que Clifford merecesse o prêmio de rapaz mais esforçado e insistente de Colchester.

Com Hunter, tudo tinha sido diferente. Ele não era aquele príncipe encantado com flores na mão, com jantares românticos, o cara que abria a porta do carro, que dançava uma música marcante. Timmons não tinha precisado incorporar o cara perfeito para fazer com que Emily se apaixonasse. E era uma grande injustiça do universo que os sentimentos de Sinclair fossem ainda mais intensos e poderosos por alguém que não parecia ter o mesmo esforço para conquistá-la.

Apesar dos problemas, Chad era um bom namorado, Emily se sentia feliz, apaixonada e se deliciava com os toques dele. Mas as lembranças do que tinha vivido ao lado de Clifford se tornaram pequenas demais quando comparadas ao que ela conheceu nos braços de Hunter. O poder de Timmons era capaz de turvar a sua mente, de fazer o restante do mundo evaporar. Emily se sentia como um carro em alta velocidade que ela não conseguia controlar, só que ao mesmo tempo em que era assustador, a menina queria acelerar mais e mais, sentir aquela adrenalina, a felicidade, a intensidade que era estar com Hunter.

Em poucos dias de namoro, Emily teve a coragem de marcar a própria pele com a inicial de Hunter, tamanha era a certeza do que sentia por ele. Poderia ser aquele ápice da paixão inicial, mas Emy sentia que era diferente. Não importava o que acontecesse, Timmons sempre teria sido a sua lembrança mais intensa, apaixonante e incrível, tão insana quanto sair de órbita apenas levitando. Como Emy costumava dizer, Hunter a tinha por inteiro na palma das mãos. E agora, depois de ter descoberto a verdade, ela se sentia uma tola por ter se entregado tanto, porque agora ainda parecia impossível tirar Timmons dos seus pensamentos ou do seu coração.

Daquela vez, quando concordou em voltar para os braços de Chad, Emy não estava balançada ou rendendo aos velhos sentimentos. Era uma tentativa desesperada de poder arrancar Hunter do seu coração, de mostrar para si mesma que ela era capaz de superar o que os dois tinham vivido e dar valor ao único rapaz que nunca tinha desistido dela. Racionalmente, Clifford era a melhor escolha. O problema era que sua mente não tinha conseguido convencer o seu corpo e muito menos o seu coração.

Os beijos de Chad eram familiares, Emily já sabia a sequência de toques, onde ele deslizaria a mão, o momento em que Clifford desceria os lábios para o seu pescoço, o exato instante em que ele ergueria a cabeça para procurar seu olhar e declarar que a amava. Não que fosse uma relação previsível e chata, mas era a velha conexão que existia entre os dois. Só que agora, não importava como Chad a beijasse ou tocasse, ao invés de arrepios e desejo, era apenas um grande desconforto, como se estivesse forçando duas peças de quebra-cabeça diferentes tentando se encaixar.

- Eu venci. Eu fui o melhor e eu venci.

O ar convencido de Chad acabou arrancando uma risada forçada de Emily e ela rolou os olhos diante daquela postura arrogante. Um bom observador notaria o verdadeiro significado que Clifford queria empregar naquelas palavras, mas Emy preferiu fingir que ele estava mesmo falando apenas sobre o jogo de basquete que o time da MMU tinha vencido naquela noite.

- Eu sei, eu estava lá. E não foi uma vitória de lavada, capitão. Foi por pouco!

- E daí? Vitória é vitória. No final, eu fui o vencedor, não é?

O olhar de Chad enquanto o rapaz se arrastava pela beirada do colchão para alcançar os dedinhos da namorada que acabava de sair do banheiro era quase uma súplica para que ela concordasse de que ele era o melhor, que ele era o vencedor. E mais uma vez, Emy precisou se esforçar para fingir que não entendia o que Clifford realmente queria dizer. Porque já era um trabalho exaustivo não pensar em Hunter o tempo inteiro, então a última coisa que ela precisava era que Chad continuasse trazendo o nome de outro rapaz para um momento dos dois.

- Você quer dizer que o time foi o vencedor, né? Você não jogou sozinho.

Foi possível notar uma pontada de decepção no semblante de Chad. Intimamente, Clifford queria escutar Emily reforçando que ele era o melhor, que ele tinha vencido, como se precisasse daquela afirmação para se sentir superior a Hunter Timmons. Não bastava ter convencido Emily, não bastava tê-la em seus braços. Poderia não ser uma vingança declarada, e talvez Chad nem estivesse fazendo aquilo de forma consciente, mas sua velha insegurança queria mostrar para todos que ele tinha vencido aquela guerra contra Hunter.

- Não, mas eu estava particularmente inspirado. - Ele assumiu um ar mais sério e terminou de puxar a namorada para o seu colo. - Aliás, eu estava muuuito inspirado.

Ao concordar em dar mais uma chance para Clifford, Sinclair disse que eles precisavam ir com calma. Ela precisava de mais tempo para conseguir se readaptar, de tentar resgatar os velhos sentimentos por Chad enquanto superava as memórias de Hunter. Mas Chad sentia que precisava agarrar aquela oportunidade com as duas mãos e não correr o risco de Emy mudar de ideia.

Sentada sobre o colo do rapaz, Emily correspondeu ao beijo enquanto afundava suas mãos nos cabelos loiros. E Chad provavelmente se lembraria da provocação de Hunter ao perceber que não havia a mesma velha intensidade e desejo do passado. Os gestos de Emy não eram distantes ou frígidos, mas pareciam um pouco mecânicos, sem o poder dos sentimentos do passado. Ao invés de desanimar, Clifford sabia que sentia o suficiente pelos dois, para conseguir arrastar Emily para o mesmo clima que o envolvia e convencê-la de que daria certo.

- Eu senti tanto a sua falta, Emy. Tanto. - Os olhos azuis brilhavam quando Chad interrompeu o beijo e tombou a cabeça para trás, para conseguir olhar na direção da menina. - Você é tão perfeita. E é toda minha.

Sufocado pela saudade, o corpo de Chad já dava todos os sinais de que estava ansioso e cheio de desejo. E Emily percebeu a mudança no ritmo dos beijos e dos toques em seu corpo, como Clifford pareceu mais exigente ao segurá-la pelo quadril ou procurando brechas através das suas roupas. Só que não importava o que o rapaz fizesse, não conseguia nascer dentro de Emy nem uma pontinha de excitação. Pelo contrário, enquanto as mãos dele passeavam pelo seu corpo, tudo o que a mente de Sinclair conseguia repetir era que a textura dos lábios dele era diferente de Hunter, que o perfume de Chad não era tão gostoso quanto o de Timmons, que o sabor dele não despertava nela o mesmo interesse que o outro rapaz.

- Chad... Nós combinamos de ir mais devagar, lembra?

- Eu sei, eu sei. Nós não precisamos fazer nada, Emy... Eu só estou dizendo que estou com saudades de você. Você não sentiu saudades de mim?

Uma das mãos de Chad tocou os cabelos ruivos e acariciou o rosto de Emily enquanto ele esperava por uma resposta. E se fosse completamente honesta, Emy diria que não. Ao lado de Hunter, Chad nunca tinha passado pelos seus pensamentos, pelo menos não daquela maneira. Sinclair se sentia terrível por ter se apaixonado por um amigo do seu ex-namorado, e odiava a guerra entre os dois rapazes, mas ela nunca tinha sentido saudades de estar ao lado de Chad.

Se Emily fosse sincera, ela não estaria só estragando o clima. Era óbvio que aquilo desencadearia uma crise, que Chad começaria a surtar e os dois acabariam discutindo. Então foi mais fácil repetir uma velha tática do passado para evitar um conflito. Ao invés de uma resposta direta, a menina forçou um sorriso e tomou a iniciativa de um beijo, só para ter a desculpa de não ter que dizer nada.

Não era exatamente o que Chad queria ou precisava, mas ele se deu por satisfeito ao sentir que Emily estava retribuindo aos seus beijos. Só que Clifford conhecia Sinclair bem demais para saber que aqueles toques e beijos estavam discretos e mecânicos demais. Emy sabia ser uma garota intensa, divertida, atrevida e sexy na intimidade. No passado, ela já tinha surpreendido o namorado com lingeries provocantes, performances animadas e brincadeiras divertidas. Então Chad tinha plena consciência de que Emy não estava completamente entregue ao momento, e nem por isso desistiu.

Em um impulso, Chad ergueu o próprio corpo e girou Emily até conseguir deitar a menina de costas na sua cama. Em um instante ele puxou a camisa pelo pescoço antes de voltar a se deitar sobre ela, retomando um beijo ansioso e apressado. Era óbvio que não faltava desejo em Clifford, ou empenho em tentar trazer Emy para aquele momento, mas não importava o quanto aqueles toques e beijos deslizassem pelo seu corpo, ou o brilho das íris azuis a cada declaração de amor. Cada célula dentro de Sinclair parecia já ter declarado uma derrota.

Era revoltante que Hunter Timmons, o cara que tinha mentido, manipulado, brincado com os seus sentimentos e usado o seu corpo durante uma vingança fosse capaz de estar tão profundo no seu coração que até em um momento como aquele a mente de Emily insistia em trazê-lo para seus pensamentos. E era ainda mais injusto que Chad estivesse se esforçando tanto para ser perfeito e não conseguisse despertar nada da garota em seus braços.

Mesmo se sentindo incomodada, Emily também tentou. E não foi falta de esforço. As mãos dela se agarravam aos cabelos loiros, os lábios dela retribuíam os movimentos acelerados comandados por Chad, mas tudo era mecânico e sem sentimentos.

- Você é a garota mais incrível que eu já conheci, Emy. A mais linda e perfeita. Eu prometo que nunca vou deixar você se esquecer disso.

As palavras de Chad vieram acompanhadas de um olhar penetrante. E mergulhada nas íris azuis, por um instante Emily conseguiu um resultado em todo o seu esforço. Clifford era um rapaz bonito e ela já tinha estado nos braços dele outras vezes, então quando Sinclair iniciou o beijo seguinte, ela até conseguiu sentir seu corpo mais quente e disposto. Não era a mesma paixão ou excitação do passado, e nem de longe se comparava com o que ela sentia por Hunter. Mas era o bastante para tentarem. Só que um único detalhe conseguiu jogar um balde de água fria sobre aquela discreta chama que tentava ganhar força.

Para facilitar o gesto do rapaz, Emy ergueu o tronco quando ele puxou sua camisa por cima da cabeça. O tronco dela ficou exposto, vestindo apenas um sutiã rendado. E Chad repetiu sua performance do passado quando abriu um sorrisinho deliciado antes de se inclinar na direção do colo de Emily. Os beijos deixavam um traço vermelho sobre a pele clarinha dela, mas a forma com que Sinclair fechou bem os olhos e tombou a cabeça para trás mostrava que ela estava se entregando. Por isso a menina ficou tão confusa quando os toques de Clifford pararam de repente.

Um pouco ofegante, Emy ergueu as pálpebras já sustentando um olhar confuso. Chad estava pálido e tinha sua atenção fixa no corpo dela, mas não exibia aquele mesmo desejo ou admiração de segundos antes. Pelo contrário, o choque parecia ter transformado o humor de Clifford. E Emily só precisou de um segundo para se lembrar da inicial de Hunter que agora marcava sua pele.

Um silêncio mortal se instalou sobre o quarto. Não havia suspiros, declarações, nem mesmo o som do colchão cedendo sob os movimentos dos dois. Uma eternidade parecia se passar sem que Chad conseguisse reagir, e Emily também foi incapaz de abrir a boca. Em um estalar de dedos, era como se Hunter Timmons estivesse naquele mesmo cômodo que os dois, atrapalhando tudo.

- Chad... - Emy tentou chamar com um sussurro depois de perceber que o rapaz não conseguiria reagir sozinho. - Chad!

Para obrigar Clifford a desviar o olhar daquela tatuagem, Emily segurou o rosto dele e o virou até que os dois estivessem se encarando. A respiração de Chad estava mais pesada e Emy quase podia ler a mente dele, implorando que ela dissesse que aquilo não significava nada, que tinha sido um erro, que ela estava com ele agora e Timmons tinha ficado no passado. Chad até poderia ser um cara inseguro e imaturo, mas qualquer outro rapaz no seu lugar também não ficaria nada confortável em ver a pele da garota que ele amava marcada por causa de outra pessoa.

Conhecendo bem o ex-namorado, Emily sabia que aquilo era o suficiente para o apocalipse. Ciumento e inseguro, era óbvio que Clifford perderia a cabeça. Aquela noite já estava completamente arruinada, o pouco desejo que tinha surgido em Emy já tinha evaporado e agora, mais do que nunca, era óbvio que nem ela e nem Chad conseguiam parar de pensar em Hunter.

- É melhor eu ir para casa.

Emy chegou a se inclinar para levantar, mas o rapaz finalmente reagiu. O pulso dela foi segurado rapidamente e Chad, apesar de ainda transtornado, conseguiu soar firme ao negar com a cabeça.

- Não. Aquele desgraçado já tirou demais de nós dois, Emy. Eu não vou perder mais uma única noite com você por causa dele. - Era notável o esforço que ele fazia para não deixar seu olhar voltar na direção da tatuagem. - Isso não significa nada. Você é minha agora.

Nos momentos apaixonados e carinhosos, Emily e Hunter costumavam usar aquelas mesmas palavras, prometendo que eram apenas um do outro. Mas vindo da boca de Chad, a entonação possessiva soava quase perigosa e exigente.

Quando Clifford retomou o beijo, Emily sentiu que o ritmo estava diferente. Ainda era acelerado e ansioso, mas parecia ter algo mais, algo como raiva. Hunter poderia não estar ali de verdade, mas Chad estava vivendo uma competição silenciosa com o outro rapaz, querendo a todo custo vencer, ter a garota para si e mostrar que podia ser melhor.

Sinclair tinha ficado arrasada ao descobrir que tinha sido usada por uma vingança, que estava no meio de dois rapazes que só queriam se atingir e ás vezes nem pareciam se importar de verdade com o que ela pensava ou sentia. Então aquela atitude de Chad só conseguiu deixá-la ainda mais incomodada, porque era óbvio que ele não estava fazendo nada daquilo para satisfazê-la ou reconquistá-la. Poderia ter até começado assim, com a paciência e a insistência de Clifford. Mas naquele instante, algo dentro de Chad só se importava em vencer de Hunter. E vencer significava ter Emily em seus braços.

Se Emily estivesse com a cabeça no lugar, se conseguisse ser mais justa e racional, ela teria interrompido quando Chad continuou a arrancar as roupas naquele ritmo mais frenético. Ela já estava farta de ser usada, era hora de dar um basta. Não havia amor ou desejo por Chad, então não fazia sentido deixar que aquilo continuasse só por causa do ego de Clifford. Mas assim como ele, Emily também precisava ir até o fim por causa de Timmons. Porque daquela forma, ela estava tentando desesperadamente mostrar a Hunter que ele não tinha criado as raízes tão profundas no seu coração, que ele não era tão especial assim.

Emy nem questionou e até compreendeu quando Chad a virou de costas para que os corpos se unissem sem que ele precisasse olhar para a tatuagem. Enquanto Clifford tentava se sentir melhor, vencedor e vingado, Emily queria tentar esquecer Hunter. E no final, os dois falharam miseravelmente.

***

- Eu não posso me atrasar, ainda preciso passar para comprar as últimas coisas para o jantar da Libby.

A voz de Emily ecoava abafada, vindo do banheiro. O vapor do banho quente preenchia todo o cômodo, mesmo com a porta entreaberta. E a menina já estava vestida, com os cabelos molhados, quando voltou para o quarto, com o objetivo de pegar suas coisas e ir embora. Apesar da tragédia da noite anterior, ela e Chad não tinham conversado sobre o que tinha acontecido, então os dois estavam forçando uma manhã normal. Só que Emy estancou e seu semblante se transformou ao encontrar Clifford sentada na beirada do colchão, segurando o seu celular.

- O que você está fazendo?

Ao escutar os passos de Sinclair, Chad até tinha tentado bloquear o aparelho e jogá-lo de volta para o lado, mas era tarde demais. Nem mesmo seu semblante de inocência conseguiu convencer, mas Clifford tentou desconversar.

- Estava vibrando sem parar, achei que pudesse ser algo importante. - Apesar de forçar a entonação casual, Chad não conseguiu conter em si aquele velho ciúme, disfarçado muito mal de curiosidade. - Aliás, por que o Martínez está te mandando tantas mensagens? Eu não sabia que vocês eram amigos.

- Nós não somos. - Emily não se deixou enganar nem por um segundo enquanto avançava até a cama e puxava o celular para guardá-lo na mochila. - É para o aniversário da Liberty.

- Como assim? - Chad abraçou uma almofada enquanto assistia a garota andando pelo quarto, recolhendo seus pertences. - Eu achei que fosse um lance só de família... Você, sua mãe e ela.

- É o que eu quero que a Libby acredite. Mas as coisas não estão sendo muito fáceis para ela, então pensei em tentar animá-la um pouco. E não, eu não vou cometer o mesmo erro da primeira festa, a coitada foi arrastada! Mas eu organizei uma coisinha, não poderia deixar passar esse dia em branco.

- Ahn. Tá legal. - Chad ainda soou confuso com aquela novidade. - Eu fiquei de ajudar o meu pai a guardar a decoração de Halloween, mas acho que consigo terminar tudo cedo. Que horas vai ser?

Emily estava de costas para Chad, fechando a sua mochila, então o rapaz não notou o semblante desconfortável da garota. Mesmo assim, ele era capaz de enxergar os ombros tensos, e quando Sinclair se virou para encará-lo, foi a vez dela usar uma falsa entonação casual.

- É uma festa para a Libby, Chad. São para os amigos dela. Eu espero que você entenda.

- Entender o que? - Ele estreitou os olhos por alguns segundos até compreender. - O que? Eu não estou convidado? Qual é, Emily! Nós dois estamos juntos, todo casal comparece nos eventos juntos! E eu nem tenho nada contra a novata, vai ser legal!

- Chad, essa noite não é sobre mim e nem sobre você. É sobre a Liberty. Eu não vou estragar o aniversário da minha prima.

- Por que estragaria? - Uma pausa foi feita até que Clifford conseguisse chegar sozinho na resposta que Emily não queria dar. E a transformação do seu humor mostrava que ele tinha acertado na sua teoria. - Você está de sacanagem, né? O Timmons??? Porra, Emily! Você não pode estar falando sério que vai DE NOVO escolher aquele filho da puta e me deixar de lado! Eu não vou aceitar isso!

- Eu não estou pedindo para você aceitar nada! Que saco, Chad! Você acabou de escutar o que eu disse??? Isso não é sobre nós dois, é a noite da Libby! Você e o Hunter parecem dois cães com raiva rosnando por um pedaço de osso sempre que estão por perto, acha mesmo que eu vou correr o risco de vocês se atracarem de novo e acabar com o aniversário da minha prima?

- Para começo de conversa, foi ELE quem me atacou, não o contrário! - Chad se colocou de pé, e dessa vez Emily tinha certeza que a voz alterada do rapaz ultrapassava a barreira da porta e das paredes, então seria questão de tempo até o Sr. e a Sra. Clifford perceberem que o casal discutia. - E se você está tão preocupada assim, é só deixar aquele desgraçado de fora! Você precisa me escolher, Emily!

- Eu já te escolhi! Eu já estou com você, eu estou aqui, não estou? - Como nos velhos tempos, Emily também não economizou na entonação irritada e explosiva. - Você acha que vai ser divertido para mim??? Que eu vou adorar sentar ao lado daquele mentiroso manipulador a noite toda? Se dependesse de mim, eu nunca mais olharia na cara do Hunter! Mas a Liberty é amiga dele e ESSA NOITE É SOBRE ELA!

- Aaaaah, claro! Você quer mesmo que eu acredite que você não está usando isso como desculpa para ficar perto do Timmons? Que não gosta mais dele? Você tem uma maldita tatuagem na sua pele, marcada como um daqueles cavalos fedorentos da família dele!

Na noite anterior, Chad tinha evitado falar sobre a tatuagem, olhar naquela direção e até tocar em qualquer proximidade de onde Emily carregava o “H” marcado sobre a pele. Mas era óbvio que em algum momento aquele assunto explodiria. Só que a forma com que Clifford falou, como a comparava com um cavalo, fez com que Emily se sentisse ainda mais humilhada pelo que continuava sentindo por Timmons.

- Vai se ferrar, Chad.

- Emily! - Chad bufou feroz quando a garota puxou a mochila e passou pelos ombros. - Emily, eu estou falando com você! Você não vai sair daqui e me ignorar assim!

Quando Emily passou próxima ao rapaz para alcançar a porta, Chad a segurou pelo pulso com uma força além do necessário. Os dedos dele marcavam sua pele, mas ao invés de se sentir ameaçada, a garota estreitou o olhar furioso.

- Me solta!

- Eu estou fazendo de tudo, Emily. TUDO! Mas eu não vou ficar de braços cruzados enquanto você passa a noite se divertindo com o cretino do Timmons!

- ME SOLTA, CHAD!

- Ele te usou, te manipulou, mentiu! Ele te comeu bem na minha frente só para me atingir! É sério que é esse tipo de cara que você gosta?

- Você está me machucando! Se você não me soltar AGORA, essa vai ser a última vez que vai tocar em mim! Ou em qualquer outra coisa, porque eu juro que arranco a sua mão fora!

Com a hesitação de apenas um segundo, Chad afrouxou os dedos e soltou Emily. Mas ele ainda parecia transtornado e indomável quando esfregou o rosto em um gesto irritado, sem conter o tom de voz enquanto esbravejava.

- Você não percebe o quanto isso é humilhante, Emily?

- E você não percebe o quanto isso é doentio, Chad? Eu sei que é uma situação de merda, mas você também não consegue entender que eu não estou fazendo isso porque quero! Pelo contrário, eu faria qualquer coisa para não ter que lidar com ele! Mas a Liberty já tem poucos amigos em Colchester, ela já passou por muita merda para um de vocês estragar a noite dela!

- Chad, querido? Emily? Está tudo bem aí?

As batidas na porta soaram fortes e foi possível ver a maçaneta girar quando a Sra. Clifford tentou entrar no quarto, mas o encontrou trancado. Aquela era uma discussão que não teria solução, Emily e Chad continuariam gritando um com o outro, sem cederem. Então Sinclair agarrou com as duas mãos a oportunidade de fugir dali. Já com a mochila nas costas, ela destrancou a porta e apenas murmurou um pedido de desculpas para Lauren antes de descer apressada as escadas.

***

O carro de Emily estava parado há quase trinta minutos, mas ela ainda se sentia incapaz de se mover e sair de trás do volante. Com a respiração pesada, os músculos doendo pela tensão e o celular vibrando incessantemente com as tentativas de Chad de falar com ela. Mas ignorando o rapaz, Emy tentava reunir coragem para sair do carro e entrar no Pat's para encarar Hunter.

Era verdade que Emily preferia não ter Hunter sob o teto da sua casa naquela noite, jantando na sua mesa, transitando pela sua sala. Era verdade que, se pudesse, Sinclair jamais olharia para ele outra vez. Mas não era só por raiva, decepção ou mágoa, era porque Emy temia fraquejar e se render aos sentimentos que insistiam em sobreviver dentro de si. Também era verdade que ela só estava incluindo Timmons na lista de convidados para a festinha surpresa porque ele era um dos poucos amigos que Liberty tinha. Mas isso não anulava o fato de que, intimamente, também existia uma pequena e abafada chama de desejo de estar perto dele, e era nesse ponto que Emily não conseguia admitir para si mesma.

Sabendo que não poderia passar o dia inteiro parada naquele estacionamento, Emily respirou fundo e saiu do carro, carregando apenas o chaveiro de pompom cor de rosa. Mas ao invés de entrar na lanchonete, a menina deu a volta pelo lado de fora até chegar nos fundos do estabelecimento. E não foi coincidência que, dois minutos depois, ela assistiu Timmons saindo pela porta dos fundos carregando um grande saco de lixo.

- Oi.

Emily estava há uma distância segura, mas isso não impediu que seu coração desse um forte salto dentro do peito quando Hunter interrompeu os passos e se virou para encará-la. Falar com ele em um local isolado era mais seguro para evitar fofocas, mas Emy sabia que precisava se policiar e não chegar perto demais. E para tentar minimizar qualquer risco de se sentir tola, humilhada, ou pior, tentada, ela pigarreou e tentou ser objetiva.

- Hoje é aniversário da Liberty e eu estou organizando uma pequena surpresa para ela. Não é uma festa, é claro... - Emy rolou os olhos por um instante, mas não perdeu o foco. - Ela acha que vai ser só um jantar com a minha mãe e eu, mas eu já combinei com o Dex que ele levaria um bolo e o Martínez também vai. Eu imaginei que ela pudesse ficar feliz se você também estivesse lá.

Alguns dias atrás, Sinclair tinha ficado irritada só de cogitar que pudesse estar brotando algo além de amizade entre Timmons e Bloomfield. Mas Emily estava mesmo se esforçando para deixar Hunter para trás, além de querer que aquela noite fosse especial para Libby, então ela tentava ao máximo abafar suas opiniões e sentimentos.

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- Eu sei que nós dois não estamos no nosso melhor momento, com a permissão de abusar do eufemismo aqui. Mas essa noite não é sobre mim, você ou o Chad. Eu quero que a Libby se sinta acolhida, que ela veja que tem uma família de verdade aqui e que está conseguindo construir um lar em Colchester. É por ela e só por ela. Então... Se você quiser, vai ser uma surpresa. O Dex e o Martínez vão esperar nos fundos, perto da entrada da cozinha, e eu vou deixar tudo pronto para as vinte horas.
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Mensagem por Dexter Thompson Seg maio 06, 2024 1:15 am

Aquela noite tinha sido um completo desastre. Tudo o que Dexter tinha em mente quando saiu de casa, era ter algumas horas leves e divertidas ao lado de Debby, tentar esquecer seus problemas e seus sofrimentos. Pela primeira vez em um bom tempo, Thompson estava deixando de lado os dramas dos amigos e até o seu empenho no problema de Liberty Bloomfield. Era para ser apenas uma única noite de diversão e sem preocupações. E por uma sequência de fatores infelizes, tudo tinha ido por água abaixo.

O simples encontro com Libby no Pat's, antes dos filmes, já teria sido suficiente para abalar parte da confiança de Dexter. Mas ainda teria sido mais fácil tolerar, se não fosse pelo desastroso flagrante da ex-namorada em uma cena muito íntima dele com outra garota. Dex poderia ter esperado até o dia seguinte para tentar conversar com Liberty, que ela estivesse mais calma. Era óbvio que os ânimos alterados daquela forma acabaria transformando qualquer diálogo em algo mais emotivo e dramático, mas era impossível para Thompson dar as costas para o sofrimento estampado de Liberty.

Dexter não conseguiria simplesmente ir para casa e esperar até o dia seguinte ou a próxima oportunidade de falar com Liberty. E mesmo sabendo que estava agindo como um canalha com Debby, a sua prioridade era a garota que ele amava. Então não importava se tudo seria mais difícil se ele insistisse em ter a conversa naquela mesma noite, ele precisava procurar Libby, precisava tentar falar qualquer coisa que diminuísse o sofrimento dela. Só que Dex duvidava que tivesse conseguido.

Ele estava emotivo. Ela estava machucada. A autoestima de Liberty estava destruída porque ela não se sentia bonita, popular ou boa o bastante para Dexter. E ironicamente, o mesmo acontecia com Thompson, que não se sentia inteligente, interessante ou bom o bastante para uma garota como Bloomfield. Dexter e Liberty se amavam, e contrariando todas as expectativas externas, eles tinham se conectado de uma forma surpreendente, rara e maravilhosa. Não importava o quão diferente eles fossem, aquele tipo de sentimento tão difícil de encontrar, que muitos acreditavam existir só em livros e filmes, tinha acontecido com eles. Mas os dois não estavam conseguindo ouvir seus corações porque suas confianças estavam abaladas demais.

Era uma catástrofe e depois de tudo o que Dexter tinha falado, ele tinha escutado com todas as letras Liberty dizer que nunca esqueceria o que tinha acontecido naquela noite. Consequentemente, não parecia mais haver esperanças para um futuro entre os dois. Era o fim. Então não fazia sentido que Thompson se sentisse esperançoso ou com suas energias recarregadas, mas foi exatamente dessa forma que ele deixou a casa das Sinclair naquela noite.

Até algumas horas atrás, quando se deixou levar pela carência e voltou para os braços de Debby, Dexter só tinha deixado as coisas tão longe porque tinha certeza que Liberty não o amava, que ele tinha sido descartado da vida dela sem qualquer importância, que era só um namoradinho com quem ela tinha se distraído momentaneamente até voltar a cair na real. Mas quando Bloomfield disse que era injusto que ele pensasse dessa maneira, que ela o amava de verdade, foi como enxergar um gigantesco farol no final do túnel.

Naquela noite, Dexter já tinha dito tudo o que podia e sentia. Não tinha como insistir. E a verdade era que ele também precisava de um tempo antes de dar o passo seguinte. Mas ao invés de derrotado, infeliz e amargurado, Dex já sustentava uma postura mais confiante quando caminhou para sair do quarto de Libby, parando no último passo, ainda na porta.

- Também é injusto você dizer que fui mais feliz ou fiquei mais satisfeito com outra garota, Liberty. Você sempre foi e sempre vai ser a única que eu já fui capaz de amar. E você tem razão, você pode não se enxergar no pedestal em que eu te coloquei... Mas se você tivesse o mínimo vislumbre do que eu vejo quando olho para você... Você nunca duvidaria de si mesma, do quanto eu te acho linda e perfeita.

Sem querer alongar aquela noite e sabendo que Libby também precisava descansar e processar tudo o que tinha acontecido ali, Dexter apenas sustentou o olhar por mais dois segundos antes de dar as costas e ir embora.

***

- Então... Essa é Colchester, han? Interessante.

- Diz aí, como é enxergar sem uma nuvem de poluição na sua frente? Irado, né?

Com um largo sorriso, Dexter se antecipou para puxar a mochila de JJ enquanto o rapaz saía do carro, lançando um olhar curioso ao redor. Para quem tinha uma vida agitada em uma cidade grande como Seattle, era mesmo um grande choque cultural se deparar com a cidadezinha pequena e pacata.

O ar era mais limpo e puro, as construções eram antigas e simpáticas, sem grandes prédios ou arranha-céus. Poucos carros passavam pelas ruas e os pedestres ou comerciantes não demonstravam nenhum tipo de pressa. E JJ nem conseguiu esconder uma caretinha de surpresa ao ver que, no pequeno espaço até a lanchonete, pelo menos umas três pessoas acenaram, falando com Thompson pelo seu primeiro nome.

- Você é meio popular por aqui?

- Nada, todo mundo conhece todo mundo desde que nasce. - Dexter deu de ombros, e ele não estava forçando uma falsa modéstia. - Vem, nós podemos comer alguma coisa aqui antes de ir.

Os dois mal tinham se acomodado em uma das mesas e Dexter nem esperou por algum atendimento, já perguntando ansioso para o rapaz a sua frente.

- E aí? Você trouxe? Conseguiu?

- É claro que eu trouxe. Aqui está.

JJ se inclinou para o lado, onde tinha deixado uma grande sacola, e depois a empurrou para as mãos de Dexter. Apesar do peso da caixa que ficava no interior, o rapaz rapidamente a puxou para o seu colo e avaliou o conteúdo com um sorriso satisfeito.

- É dos bons mesmo, né? Eu vou embrulhar antes de irmos. E vou te pagar todas as prestações, sem atrasos!

- Se é dos bons? - JJ rolou os olhos. - Última geração, melhor memória, processador, placa de vídeo, com luz de led no teclado, tela sensível... A NASA poderia usar um desses. E pode ter certeza que você vai me pagar. Mesmo com desconto de funcionário, essa belezura aí custou uma fortuna.

- Eu não me importo. - Os olhos de Dexter brilhavam de empolgação. - A Libby merece. E precisa! Você precisa ver a carroça que ela chama de computador! Ela apelidou de Dumbledore, porque...


A cabeça de JJ tombou para trás e ele gargalhou, entendendo o apelido escolhido por Bloomfield antes mesmo que Dexter o explicasse. E aquilo até poderia parecer apenas a coincidência de dois nerds que pensavam iguais, mas intimamente Dex apostou as suas fichas que a genética estava contribuindo para aquela “coincidência”.

- Velho e caduco, claro! Mas que ainda deve carregar tesouros e ser capaz de derrotar bruxos das trevas.

- Vocês, nerds, são bem esquisitos, sabia?

Dexter franziu o nariz com a piadinha, mas JJ não pareceu nada ofendido. Desde o encontro dos dois na Caltech, eles vinham trocando mensagens ou ligações todos os dias, por muitas vezes. Claro que a maior parte do tempo estavam falando sobre JJ, o roubo do Software e o processo para conseguir devolver os direitos de Liberty. Mas era inegável que os dois rapazes estavam mais próximos, que trocavam piadinhas, alfinetadas e era divertido, mesmo que fossem tão diferentes. Era como poder conversar, rir e implicar com Liberty, sem a parte do amor intenso e da paixão desenfreada.

- Tá, você me deixa vir até essa cidadezinha para conhecer a responsável pelo código que o meu irmão roubou, não me conta que eu estou indo logo para o aniversário dela e eu que sou esquisito? Você devia ter falado, Dexter! Eu poderia vir outra data!

A iniciativa de ir até Colchester naquele final de semana tinha partido de JJ, mas Dexter agarrou a oportunidade com unhas e dentes. Porque mais do que um computador de última geração que ele pagaria por longas prestações usando a sua mesada, Dexter queria um presente ainda mais especial para Libby: a família, ou o irmão que ela tanto sonhava. Depois de ter conversado tanto com JJ, Dex sentia que o conhecia e poderia colocar a mão no fogo de que o irmão mais velho de Lenny era bem diferente dele.

Só havia um detalhe naquele “presente” de aniversário. Em nenhum momento Dexter cogitou contar para JJ que existia um laço biológico entre ele e Liberty. Além de não querer assustar o rapaz, Dex precisava ver como um Wooton realmente se sentiria ao lado de Libby, sem as complicações de genética, mentiras de um pai frio e indiferente ou brigas de herança. Dexter queria ter certeza que JJ conhecesse a verdadeira Liberty, sem todo o peso de uma filha rejeitada. Porque ele tinha certeza que se isso acontecesse, seria impossível para o rapaz resistir ao talento e o carisma da irmã.

- Relaxa, você veio no momento perfeito. A Emily, prima da Liberty, organizou uma pequena surpresa.

- Então, se você foi convidado para a festa e ainda está levando o penetra, isso significa que vocês dois voltaram?

- Não. Aliás, ela jura que nunca mais quer me ver na frente dela. - A naturalidade da resposta de Dexter fez JJ tombar a cabeça em confusão, o que obrigou Thompson a se explicar. - Eu pisei feio na bola. Saí com outra garota e... Bom... Resumidamente, a Libby flagrou nós dois transando.

- Como é que é??? - JJ se endireitou no banco e chegou mais para frente, como se precisasse diminuir a distância para escutar melhor. - A Liberty te viu com outra garota? No ato? Em pleno coito? E você ainda vai aparecer na festa de aniversário dela?

- É. Porque depois disso, ela admitiu que me ama. - O sorriso de Dexter mostrava o quão convencido ele estava de que tudo daria certo. - E agora que eu sei disso, eu vou fazer o que tiver que ser feito para ter a minha garota de volta. Funcionou para o Cliff. Bom, exceto pelo detalhe de que ao invés dele ser flagrado com outra garota, foi ele que flagrou a garota com outro cara.

- Hein?

O olhar perdido de JJ tornava aquela cena ainda mais cômica diante do semblante tranquilo e tagarela de Dexter. Era hilário assistir um cara tão inteligente como Jeffrey Junior se esforçando para entender aquela novela dramática.

- O Cliff. É meu amigo. Ele pegou a ex-namorada dele com o meu outro amigo, o Tim. Enfim, a história é longa demais e muito enrolada, então vamos focar no meu problema. O Cliff conseguiu a Emy de volta, então eu também vou conseguir a Libby de volta.

- Caaaara. Eu sempre escutei que a poluição fazia mal para a saúde, mas acho que o ar puro consegue causar outros tipos de efeitos colaterais. A galera aqui de Colchester não sabe brincar, né?

- Você não faz ideia, JJ. - O sorriso largo de Dexter ainda foi sustentado por alguns segundos antes que ele assumisse um ar mais sério. - Mas eu não estou brincando. Eu vou reconquistar a Libby, nem que seja a última cosia que eu faça.

***

- Shhhhhhiiii! Fiquem calados! A Libby acabou de subir para se arrumar, mas ainda pode escutar vocês pela janela!

Já conhecendo o jeitinho bravo e irritadiço que Emily assumia nos seus eventos, Dexter nem se abalou quando a ruiva se aproximou na escuridão dos fundos da casa das Sinclair, já trazendo um olhar ameaçador.

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- A gente tá de boca calada, Emy. Tipo, literalmente de boca calada. Estamos conversando por mensagens nos últimos dez minutos.

Para provar que o rapaz estava dizendo a verdade, JJ ergueu a tela do celular e mostrou a aba de conversas com Dexter e alguns balões que tinham se agrupado nos últimos minutos que os dois rapazes aguardavam na escuridão e em silêncio.

- Quem é você mesmo? - Emily estreitou os olhos, tentando resgatar aquele rosto da memória, mas logo abanou com desinteresse. - Deixa para lá, eu não tenho tempo para lidar com penetras agora. Você trouxe o bolo, Dex?

Na intenção de evitar uma nova bronca por “falar demais”, Dexter apenas apontou para a mesinha que Emily tinha montado no quintal. As luzes estavam apagadas, mas havia holofotes já devidamente instalados que iluminaria aquele ponto decorado com um painel de flores e o bolo feito por Thompson.

- O que é isso? - Emily respirou fundo e parecia prestes a surtar. - Nós combinamos que o bolo seria verde.

- Mas é verde! - Dexter se defendeu, recebendo um beliscão no braço por ter aberto a boca. - Aieee, mas é verde, droga!

- Não, isso é verde primavera, nós combinamos com o verde cristal! São coisas completamente diferentes! Uuuuurg, agora já é tarde demais, isso vai ter que servir!

- Heey, “isso” deu um trabalhão, sabia? Bolos não é a minha especialidade, mas eu caprichei.

O bolo realmente estava delicado e bonito. Não era um tamanho exagerado, já que seria uma comemoração para poucas pessoas, mas além de ter se preocupado com a textura úmida da massa, dos recheios de chocolate e menta que Libby amava, Dex também tinha feito uma cobertura delicada e bonita, com uma pasta açucarada verde e delicadas flores espalhadas por toda a superfície.

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- É bom mesmo, porque eu fiquei sabendo do que aconteceu no Drive-In. Sabe de uma coisa, Dex? Você ficaria surpreso de quantos resultados aparecem em uma simples pesquisa no Google sobre “como arrancar um pênis sem sujar as unhas”. E não, não é conteúdo pornográfico.

JJ abriu a boca em choque, mas discretamente puxou o celular e estava prestes a abrir a aba de pesquisa por pura curiosidade quando Dexter notou o que ele estava fazendo. Thompson até tinha se sentido intimidado e afetado ao escutar que Libby tinha compartilhado com a prima sobre o que tinha acontecido na noite de Halloween, mas ele logo se distraiu acertando um tapa no novo amigo para que ele abandonasse aquela pesquisa perigosa.

- A Libby subiu para se arrumar, o que significa que nós temos menos de vinte minutos para arrumar tudo. Sério, chega a ser ridículo quão pouco tempo ela usa para se vestir. A minha mãe está terminando de montar a mesa do jantar e quando a Libby descer, eu vou pedir para ela vir aqui fora ver se tem algum problema com o termostato, porque coincidentemente o painel quebrou e está dizendo que a temperatura lá dentro está digna de um inverno nos Alpes, sendo que eu deixei o aquecedor no máximo.

- Sério? Você vai pedir para ela verificar um termostato no dia do aniversário?

- Dexter, de onde você tirou essa coisinha? - Emily ignorou a pergunta de JJ enquanto apontava para ele com o polegar, mas por fim rolou os olhos e explicou. - Qualquer probleminha tecnológico por aqui, é a Libby que resolve. Ela está acostumada. Outro dia a nossa geladeira smart começou a surtar e colocar sorvete na lista todos os dias, sendo que eu já tinha acabado de abastecer o freezer. E adivinha só? A Libby rapidinho resolveu!

Sem nem desconfiar que a prima na verdade tinha feito uma redução no estoque de sorvetes e simplesmente reabastecido depois, Emily achava que a menina só tinha sido prestativa e gentil. Mas Dexter sabia que aquela desculpa funcionaria, porque não era raro que todos pedissem algum tipo de ajuda para Libby quando o assunto era tecnologia.

- Eu vou entrar, vocês esperem em suas posições. Quando ela abrir a porta, é só apertar esse botão. - Emily puxou do bolsinho do vestido um pequeno controle-remoto. - Ele vai ligar os holofotes. E esse aqui vai ligar a lareira elétrica.

Como estava uma noite mais fria, Emily tinha organizado cadeiras externas e confortáveis ao redor da lareira de pedra que ficava nos fundos do quintal. Além de contribuir para a temperatura para que os convidados aproveitassem a área externa, também traria um clima mais bonito e agradável. Os holofotes, além de iluminar a decoração e o bolo, tornaria o quintal mais claro, e consequentemente daria uma bela vista do lago que ficava nos fundos da casa.

- E esse último é só para depois do parabéns. A mãe da Libby já ligou e as duas falaram por videoconferência, mas ela e alguns amigos de Seattle gravaram uns depoimentos que eu vou mostrar para a Libby no telão.

- Oi! Eu estou atrasado?

A voz que ecoou atrás deles fez Dexter se virar prontamente, e não deveria ser uma grande surpresa encontrar Martínez ali, já que ele era um dos poucos amigos que Liberty tinha. Mas Thompson não conseguiu disfarçar bem o incômodo de ver o rapaz ali, que certamente seria muito mais bem recebido do que ele próprio.

- Menos de vinte minutos. - Emily consultou o relógio. - Eu vou entrar e vocês esperam aqui. Aaah, Martínez? Você trouxe as bebidas?

O recém-chegado ergueu um pequeno cooler que trazia consigo e Emily ergueu o polegar em aprovação.

- É sério que você delegou tarefa até para o Martínez? A Libby nem bebe!

- A bebida é para mim. Eu estou prestes a passar as próximas horas na presença do meu ex-namorado, Dex. No instante em que a minha mãe for dormir, nós vamos beber!

- Você acha que a Emy não vai se importar? - Dex perguntou em um tom mais baixo, tentando cuidar para que Michael não escutasse. - Por eu estar aqui?

- Bom, se ela se importar e decidir te afogar no lago, eu prometo que organizo um belo funeral.

O olhar ansioso de Dexter se transformou em uma careta irritada diante do humor ácido da amiga, e Emily nem precisava dizer muito para declarar que estava do lado da prima naquela história. Mas Thompson estava disposto a não deixar nada daquilo abalar o seu humor e a sua determinação.

- E façam silêncio! - Emily deu uma última bronca antes de voltar para o interior da casa, para garantir os últimos preparativos antes da chegada de Liberty.
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Mensagem por Hunter Timmons Seg maio 06, 2024 12:45 pm

Hunter Timmons não era o tipo de cara que tinha “amigas” próximas. Ou talvez o mais certo seria dizer que Hunter já tivera algumas amigas com quem ele até gostava de conversar, sair e se divertir, como Pamela ou Eileen. Mas nunca era “só” isso. Sempre havia algum tipo de segundas intenções e as aventuras sempre acabavam se tornando mais íntimas e provocantes em algum momento. Então a experiência que Timmons construía agora com Liberty Bloomfield era algo completamente inédito para o rapaz.
 
Diferente do que a insegurança de Libby repetia dentro da cabecinha dela, Hunter não via nenhum problema na aparência da novata. Mesmo sem fazer muito esforço, Libby era uma garota bonita. O rostinho delicado, o narizinho arrebitado e os olhos grandes e expressivos se encaixavam bem. E as curvas do decote e dos quadris da novata faziam com que Timmons compreendesse perfeitamente os motivos para Dexter ter ficado tão atraído por ela.
 
Então não era por Hunter achar Bloomfield feia ou pouco atraente que o desejo de sempre não brotou dentro dele. É claro que o interesse de Dexter por Libby e o fato de Hunter já estar apaixonado pela prima da novata foram barreiras poderosas que impediram que Timmons se sentisse atraído por Bloomfield. Mas a maior explicação para a mudança no comportamento de Hunter era muito mais nobre do que isso: Libby tinha se tornado uma excelente amiga que estendeu a mão para ele num momento em que todos o abandonaram. E agora Timmons não queria e nem podia fazer nada que pudesse estragar a única coisa boa que tinha lhe restado ao fim daquela história.
 
Embora não tivesse nenhuma experiência com aquele tipo de amizade sincera, pura e desinteressada, Hunter até que vinha se saindo bem. Como Liberty também vinha se sentindo muito sozinha e infeliz, os dois naturalmente uniram forças para enfrentarem juntos aquela tempestade. No papel de um bom amigo que queria que Libby se sentisse mais leve e especial no dia do próprio aniversário, Timmons nem deveria pensar duas vezes antes de aceitar o convite para a festinha. Mas o fato daquele convite estar vindo da boca de Emily obrigou Hunter a ponderar um pouco mais antes de aceitar a proposta.
 
- Você convidou o Dex? Tem certeza de que é uma boa ideia?
 
Ignorando o quanto a simples proximidade de Emily o deixava afetado e com as emoções afloradas, Hunter tentou se concentrar no trabalho e na conversa focada em Liberty. Sem olhar na direção da ex-namorada, Timmons caminhou até a grande caçamba de lixo nos fundos da lanchonete e arremessou o saco no interior dela.
 
A pergunta sobre Dexter poderia soar estranha (e suspeita) aos ouvidos de Emily. Se Pamela estivesse certa sobre a fofoca maldosa que dizia que Bloomfield era a próxima vítima na lista de Hunter, fazia todo o sentido pensar que o rapaz preferiria manter o ex-namorado de Libby afastado dela. Mas antes que Emily pudesse fazer perguntas ou chegar a qualquer conclusão equivocada, Timmons se virou para ela com um semblante mais sério.
 
- Depois do que rolou, a Libby ainda está muito magoada e envergonhada. Ela me disse que não está nem conseguindo olhar pro Dex, então não sei mesmo se seria legal convidá-lo pro aniversário dela.
 
É claro que Sinclair sabia que o namoro de Dex e Libby tinha chegado ao fim, mas ela também tinha certeza de que o casalzinho ainda se amava. A ruiva também notou o quanto Libby estava abatida e arrasada nos últimos dias, e Bloomfield acabou compartilhando com Emy mais detalhes do ocorrido na noite de Halloween. Sinclair conhecia toda a história sobre o fim do romance da prima, então não foi por isso que ela pareceu completamente perdida com o discurso de Hunter. O que realmente deixou Emily muito surpresa foi perceber que Timmons também sabia muitos detalhes daquela história.
 
- O lance com a Debby... – Hunter tentou explicar ao notar o olhar perdido da ex-namorada – A Libby também me contou que ela pegou o Dex transando com a Debby aqui no estacionamento. Agora ela está arrasada, insegura e constrangida. Ela chegou a cogitar a ideia de voltar para Seattle. Não foi fácil convencê-la a continuar aqui.
 
Aquela parte de um possível retorno para Seattle era algo que nem Emily tinha escutado da prima. E Liberty não teria tido aquela conversa tão profunda com Hunter se estivesse rolando somente um climinha de pegação entre os dois. Aquele era o tipo de desabafo que só um bom amigo ouviria. E Libby tinha confiado mais em Hunter do que na própria Emily para compartilhar aquela dor, o que reforçava ainda mais o quão forte era a amizade que vinha nascendo entre os dois.
 
Cada centímetro do rosto de Emily refletia o choque que ela sentia com toda aquela história. O fato de Liberty ter desabafado com Hunter já deixava Emily muito surpresa, mas era ainda mais bizarro ver que o rapaz tinha sido um bom ouvinte e um bom conselheiro para a amiga. Por já conhecê-la tão bem, Timmons enxergou nos olhos castanhos da ex-namorada quais eram as desconfianças dela. E ao invés de se sentir irritado ou ofendido, Hunter apenas franziu de leve as sobrancelhas e abriu um breve sorrisinho irônico.
 
- O que exatamente você achou que estava rolando nas vezes em que ela veio aqui conversar comigo? Ah, claaaro. Você provavelmente achou que eu estava fazendo alguma merda, usando a Libby pra me vingar de você ou querendo ganhar logo o troféu de maior talarico de Colchester...
 
Hunter sabia que Emily tinha os seus motivos para sempre esperar o pior dele. Depois de tudo o que Timmons fizera e da maneira como ele usou Sinclair numa vingança fria e cruel, não seria tão absurdo assim pensar que o rapaz poderia fazer algo semelhante contra Bloomfield. Mas Hunter soou sério e totalmente sincero ao explicar a sua relação com a novata.
 
- Eu sei que a minha palavra já não basta e que você não acredita em mais nada que venha de mim. Mas a verdade é que a Libby e eu somos só amigos. Aliás, ela foi uma das únicas coisas boas que me restou, então você pode apostar que eu não vou fazer nada pra estragar isso. Eu vou na festinha... – Hunter fez uma pequena pausa e repetiu o hábito de usar as mesmas palavras escolhidas por Emily – Por ela e só por ela.
 
A ideia de se enfiar na casa das Sinclair e assistir de camarote o novo casalzinho de Colchester seria uma tortura para Timmons. O rapaz já até conseguia imaginar o sorrisinho vitorioso de Chad, as insinuações maldosas e o quanto ele forçaria a barra para que Hunter ficasse incomodado e enciumado ao ver Emily nos braços dele. Então era mesmo apenas por causa de Liberty que Hunter estava disposto a se enfiar naquele inferno. Era óbvio que a amiga precisaria ainda mais de apoio caso Dexter resolvesse mesmo aparecer naquela noite.
 
Até então, Hunter tinha certeza de que Chad Clifford também seria um dos convidados para o jantarzinho daquela noite. Mesmo que Chad não fosse tão próximo de Liberty, ele agora estava com Emily e era a ruiva que organizava aquela comemoração. Mas uma ruguinha de confusão surgiu entre os olhos de Timmons quando Sinclair mencionou que já tinha combinado tudo com “Dex” e “Martínez”.
 
Hunter não ousou fazer perguntas e nem permitiu que seu coração alimentasse mais esperanças, mas foi impossível conter uma certa onda de animação com a mera possibilidade de Emily ter deixado Clifford de fora da pequena lista de convidados daquela noite.
 
***
 
- Será que a Libby vai gostar disso? A Sinclair exagerou um pouco, né? – em meio à penumbra do quintal das Sinclair, a voz de Martínez soou num sussurro preocupado – A Libby repetiu várias vezes que não queria uma festa!
 
Os outros três rapazes ali presentes só perceberam que mais um convidado da festinha tinha acabado de chegar ao quintal das Sinclair quando a voz de Timmons soou às costas deles.

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- Não que eu queira defender a Sinclair, mas na minha humilde opinião ela não quebrou nenhuma regra, Martínez. – Hunter sacudiu de leve a cabeça e abriu um sorrisinho mais sacana ao fazer aquela piadinha – Eu já estive em vááááárias festas, então acredite em mim: isso aqui não é uma festa!
 
Sem música alta, sem joguinhos animados, com pouquíssimos convidados. Era evidente que Emily tinha se esforçado para atender às preferências da prima, mas sem deixar passar em branco aquela data especial. E exatamente como Sinclair havia dito mais cedo, aquela noite era sobre Bloomfield e cada detalhe da comemoração tinha sido cuidadosamente escolhido pensando em Libby. Além de organizar um evento mais discreto, Emily havia convidado apenas as pessoas que Liberty gostaria de ter por perto naquele dia. E, para a imensa satisfação de Hunter, isso não incluía Chad Clifford.
 
Não que a simples ausência de Chad desse qualquer tipo de esperança para Timmons, mas já era um grande alívio pensar que ele poderia se divertir naquela noite sem o risco de olhar para o lado e flagrar Emily aos beijos com o novo (ou antigo) namorado. E era justamente aquele alívio que fazia Hunter se sentir mais leve e sorridente naquela noite.
 
Sem o uniforme e o avental do Pat’s, naquela noite Timmons se parecia apenas com um jovem comum que pretendia se divertir com os amigos. Além da calça jeans e um par de tênis, Hunter usava uma camisa preta de botões mais alinhadinha, com as mangas dobradas até os cotovelos. Era mesmo uma sorte que Chad não estivesse ali, porque o rapaz fatalmente notaria (e faria mais um grande drama) com a tatuagem que marcava a mão esquerda de Timmons.
 
Mesmo que Hunter não ostentasse mais o dinheiro dos Timmons, não circulasse por Colchester com a sua picape nova e fosse agora motivo de deboche e fofoca dos moradores da cidade, era evidente que ele não havia perdido por completo o seu velho charme. O desenho da boca de Hunter já era ridiculamente perfeito, mas o rapaz conseguia se destacar ainda mais com aquele sorrisinho torto e sacana. Os dois botões abertos na gola da camisa exibiam uma tentadora brecha do peitoral dele. E o perfume almiscarado que a pele de Hunter exalava era simplesmente delicioso.
 
Na época do namoro, Emily costumava dizer que só o perfume de Timmons já conseguia deixar as pernas dela bambas. E Hunter estaria mentindo se dissesse que não havia se lembrado das palavras da ex-namorada quando decidiu borrifar um pouco mais do perfume no pescoço naquela noite. Liberty era a principal motivação para Hunter estar ali, mas o rapaz não conseguia ignorar as batidas mais aceleradas do próprio coração com a expectativa de passar as próximas horas perto de Sinclair, ouvindo a voz e admirando o rostinho bonito da ex-namorada.

- Shhhhiiiiu! Falem mais baixo! A ruivinha maluca já deu uma bronca na gente, e olha que o Dex e eu estávamos calados!

- Relaxa, ela sempre fica meio surtada e malvadinha quando organiza algum evento. É sexy pra cacete! - Hunter fez uma longa pausa até perceber aquele pequeno “detalhe” - Aliás, quem diabos é você?

A boca de JJ chegou a se abrir para que o rapaz se apresentasse, mas o som de passos se aproximando do quintal obrigaram os convidados a mergulharem no silêncio para não estragarem a surpresa.

Mesmo na escuridão foi possível reconhecer facilmente as silhuetas das duas meninas. Alguns passos a frente, Libby era a figura mais baixinha e com os cabelos mais curtinhos. E logo atrás da aniversariante vinha uma garota mais alta, com os cabelos esvoaçantes, uma postura mais altiva e as curvas que Hunter já conhecia muito bem.

Todo o quintal se iluminou quando Dexter acionou os holofotes apertando o botão do controle remoto e os poucos convidados daquela festinha gritaram “SURPRESA” num só coro. E até podia ser verdade que Liberty era a grande estrela da noite e que tudo giraria ao redor da aniversariante. Mas a maneira como os olhares de Hunter e Emily se buscaram deixava bem claro que ainda existia um poderoso magnetismo que insistia em unir os dois.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Seg maio 06, 2024 1:23 pm

Em uma cidade tão pequena como Colchester, seria impossível evitar ter qualquer tipo de contato com alguém. Sempre existia a chance de sair pelas ruas da cidade e se deparar com um rosto conhecido no supermercado, na padaria ou na fila de um banco ou de uma farmácia. E o caso de Liberty era ainda mais complicado porque não seria apenas uma coincidência ou uma obra do acaso que a colocaria no caminho das pessoas que ela queria evitar. Como Libby poderia fugir de Dexter ou de Debby se os três frequentavam o mesmo colégio, estavam no mesmo ano e tinham várias aulas em comum?
 
Era simplesmente impossível fugir daquele constrangimento, evitar mais uma dose de humilhação ou arrancar aquela ceninha indigesta da memória. Sempre que os caminhos deles se cruzassem, sempre que Libby ouvisse a voz de Thompson conversando com os amigos ou uma risada de Debby ecoando pelo refeitório, ela seria novamente transportada para a noite de Halloween.
 
A única maneira de Liberty se afastar daquele pesadelo seria pedir uma transferência, sair da MMU e retornar para Seattle, mas isso foi algo que a parte mais sensata e analítica da mente de Bloomfield não permitiu que ela fizesse. Libby não podia perder a sua única chance de realizar o sonho de um dia entrar em Princeton, então só restava a opção de respirar fundo todos os dias, engolir a seco a tristeza e a humilhação e continuar cumprindo o seu velho cronograma.
 
Não era muito difícil sair do caminho de Debby. As duas meninas não eram amigas e não tinham nada em comum. No refeitório, Debby geralmente dividia a mesa com as outras meninas da torcida e ela costumava passar boa parte do seu tempo livre na quadra ou nos ensaios. Nas poucas aulas que as duas tinham em comum, Liberty também não precisava se preocupar muito com Debby porque a loirinha costumava se sentar nos fundos, junto com os demais alunos que não davam tanta importância assim ao colégio.
 
O maior problema era Dexter. Era muito mais difícil evitar Thompson porque os dois tinham amigos em comum, dividiam o mesmo espaço no laboratório de tecnologia avançada e já conheciam muito bem as rotinas um do outro. Dexter sabia em quais horários a ex-namorada costumava ir para a biblioteca e os dias dos treinos de cross country. Embora Thompson não estivesse mais no time de futebol, Libby também se lembrava dos horários que Dexter gostava de ir para a academia ou os dias em que era o rapaz que buscava o irmãozinho na escola. Aliás, na época do namoro os dois tinham organizado e encaixado os seus horários para que eles sempre conseguissem uma brecha para se encontrarem. Só que isso acabou se transformando em um grande problema agora que os dois estavam separados e Liberty queria ao máximo evitá-lo.
 
O treino de cross country terminava justamente no horário em que Eric saía da escola. Liberty também tinha reservado um horário na sala de robótica que coincidia com o fim da aula de Economia que Dexter fazia para conseguir créditos extras. Então não era nada raro (e nem coincidência) que os caminhos dos dois se cruzassem pelos corredores. E em todas as vezes que aquilo acontecia, a reação de Libby era exatamente a mesma.
 
Diferente da época do namoro em que os dois se aproveitavam daqueles encontros para trocarem beijos ou conversarem, agora Liberty sempre desviava o olhar e passava direto por Dexter. Certamente não era a atitude mais madura ou educada, mas foi a única maneira que Bloomfield encontrou para blindar o seu coração e evitar mais sofrimento. Porque agora só de olhar para o rosto do ex-namorado a garota já era arrastada de volta para as lembranças do estacionamento do Pat’s, então evitar o contato visual com Dexter era uma tentativa desesperada de se defender daquela tortura e da dor que aquela lembrança provocava nela.
 
Aquele parecia ser o fim da história de amor dos dois. Se agora Liberty não conseguia sequer olhar para o rapaz, era muito improvável pensar que algum dia os dois se entenderiam e voltariam para os braços um do outro. A única coisa que ainda poderia salvar aquele relacionamento era a poderosa carta que Dexter vinha escondendo na manga naquelas últimas semanas.
 
Jeffrey Wooton Junior era um grande plot twist que bagunçaria por completo a situação do casalzinho e o coração de Liberty. JJ representava não só o irmão e a família que a menina tanto desejava, como também era uma grande prova de que Dexter nunca havia desistido da ex-namorada. Mesmo na época em que Libby imaginava que Thompson já estava envolvido com Debby, o ex-namorado continuava pensando nela e estava totalmente empenhado num plano para recuperar o software roubado.
 
E Thompson tinha feito tudo aquilo sozinho. Nem Emily, nem Chad, nem Hunter e muito menos Liberty faziam ideia de que Dexter tinha ido atrás dos Wooton para tentar ajudar a ex-namorada. Muito menos eles podiam imaginar que os dois rapazes já tinham se aproximado tanto ao ponto de surgir uma sincera amizade entre eles.
 
Depois dos últimos acontecimentos, Bloomfield não esperava que Dexter fosse convidado e muito menos que ele tivesse a audácia de comparecer ao aniversário dela. Mas a surpresa da garota seria ainda maior ao ver o ex-namorado na casa das Sinclair acompanhado por um membro da família Wooton.

O pedido para checar o termostato àquela hora da noite soou um pouco estranho, mas Liberty nem desconfiou das reais intenções da prima. Portanto, Bloomfield definitivamente não esperava pelo grito de “SURPRESA” dos convidados e nem pelo quintal todo decorado para uma festinha. O susto de Libby foi tão grande que ela chegou a dar um pulinho para trás quando as luzes se acenderam subitamente. Com o coração acelerado pela adrenalina, Liberty apoiou uma das mãos no peito e estreitou de leve os olhos para a prima.

- É claro que você não conseguiu resistir à tentação de dar uma festa, não é, Emy??? Eu deveria imaginar que…

A visão de Dexter Thompson no meio dos poucos convidados já foi o suficiente para fazer Liberty perder o raciocínio e se calar abruptamente. Mas aquele impacto ainda foi pequeno demais perto do solavanco que o coração de Libby deu dentro do peito ao reconhecer o rapaz de pé ao lado de Thompson.
 
Assim como aconteceu quando Leonard Wooton cruzou o caminho da irmã pela primeira vez, Liberty ficou travada, tensa e em completo estado de choque ao reconhecer a fisionomia do irmão mais velho. Assim como Lenny, ela também só conhecia JJ através de fotos, mas em nenhum momento Libby pareceu ter dúvidas de quem era aquele rapaz. Além da surpresa em ver JJ em Colchester, Liberty também sentiu um arrepio ao se lembrar de Leonard, das mentiras e de todo o mal que o irmão lhe fizera. Por isso a menina estava tensa e até um pouco aflita quando olhou do meio-irmão para o ex-namorado, parecendo completamente perdida naquela história.
 
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- O que está acontecendo aqui?
 
Nada naquela noite estava acontecendo como Liberty imaginava. A aniversariante esperava apenas por um cardápio especial no jantar e pelas companhias da prima e da tia. O fato de Emily ter incluído mais pessoas naquela comemoração já fazia com que aquilo começasse a se parecer com a festinha que Bloomfield deixou bem claro que não desejava. Mas aquela noite se tornou ainda mais estranha e desconfortável para Bloomfield com a chegada daqueles dois rostos que a menina definitivamente não esperava (e nem desejava) ver naquele momento.
 
- O que “ele” está fazendo aqui, Dexter? – apesar da pergunta ter sido dirigida à Thompson, os olhos de Libby estavam fixos em Jeffrey com uma expressão tensa e desconfiada.

- Eu disse que era uma ideia ruim, cara… - JJ sussurrou para Dexter, mas o silêncio fez com que a voz dele ecoasse por todo o quintal - Você deve ser a Liberty, né? E pela sua cara acho que você sabe quem eu sou. Eu sinto muito, eu disse pro Dex que seria melhor vir outro dia. Depois do que o Lenny fez, acho que temos que conversar e esclarecer as coisas com mais calma.

- Oooopa! Oooooopa! Oooooooooopaaaaaaa! Como é que é??? - a postura de Hunter se transformou e ele encarou JJ com os olhos perigosamente estreitados - O “Lenny” que você acabou de mencionar é o filho da puta do Wooton? Quem é você, afinal? Você conhece aquele merdinha??? É amigo dele? Veio aqui pra sacanear ainda mais com a Libby??? Porque aquele desgraçado sumiu no mundo, mas eu ainda estou com a mão coçando pra dar umas porradas nele! E eu não vejo problema nenhum em transferir pra sua cara os socos que o Wooton merece!
 
Era irônico e injusto que Liberty tivesse dado um voto de confiança para Leonard Wooton e não fizesse a mesma coisa por JJ. Mas foi justamente por ter cometido um erro de julgamento tão grave com Lenny que agora a garota não conseguia confiar no outro filho dos Wooton e nem se iludir com a possibilidade de JJ estar ali com a melhor das intenções. Mas havia uma diferença muito significativa entre as duas situações: Dexter.
 
Desde o primeiro contato com Lenny, Dex se sentiu apreensivo e não acreditou tão facilmente na história ou nas boas intenções do rapaz. Enquanto Liberty estava completamente cega e iludida pela chance de finalmente ter um irmão em sua vida, Dexter tentou alertá-la várias vezes sobre o comportamento suspeito de Leonard. Era difícil saber se Thompson tinha um sexto sentido apurado ou se ele simplesmente possuía a habilidade de enxergar as pessoas, o fato era que Dexter nunca gostou de Leonard Wooton.
 
Mas a postura de Thompson era totalmente diferente com JJ. Claramente já existia uma certa amizade e cumplicidade entre os dois. E Dexter jamais arrastaria um Wooton para Colchester e o colocaria em frente à Liberty se não confiasse nele. Bloomfield ainda não fazia ideia do que estava acontecendo ali ou de onde tinha brotado aquela improvável amizade entre os dois rapazes. Mas desta vez Libby mostrou que havia aprendido uma importante lição com os seus erros. Desta vez ela não ignoraria ou descartaria tão rapidamente a opinião de Dexter.
 
- Podemos conversar, Dexter? – ainda com os ombros tensos e os olhos arregalados, Libby ignorou a explosão de Hunter e desviou a atenção de JJ até se focar em Thompson – Em particular. Agora.

- Não! Peraí, cara!!! - os olhos de JJ quase saltaram para fora do rosto dele quando Dex deu o primeiro passo para seguir Libby - O grandão ali acabou de me ameaçar, porra! Não me deixa aqui sozinho!

- Mantenha o Tim sob controle… - Libby delegou aquela missão quase impossível para Emily - Eu tenho que entender o que está havendo, então ninguém vai bater em ninguém até eu voltar.

- Como assim, “até eu voltar”??? - como um típico nerd, JJ realmente parecia amedrontado com a possibilidade de apanhar de um cara que, apesar de mais novo, era bem maior do que ele - Deeeeeex!!! Não me deixa aqui!!!
 
Já era novembro e Vermont sofria uma considerável queda nas temperaturas no fim do outono, principalmente no período noturno. Então não seria nada confortável levar Dexter até a varanda. Com Hilary transitando pela sala e pela cozinha, também não seria possível ter uma conversa privada no primeiro andar da casa. Quando Liberty começou a subir as escadas que levavam ao segundo andar, Dexter provavelmente já imaginava que a garota estava conduzindo-o para o quarto.
 
Na última vez que os dois estiveram no quarto da menina, o clima entre eles não poderia estar pior. Liberty estava aos prantos depois de flagrar o ex-namorado com outra garota, Dexter também estava aflito e chateado com toda a situação e a conversa não tinha terminado nada bem. Não que o clima daquela noite estivesse muito mais leve ou tranquilo, mas pelo menos não havia lágrimas e nem tantas acusações quando Libby fechou a porta logo depois que Thompson entrou no cômodo.

O vestidinho com uma estampa xadrez tinha cores discretas. A meia grossa que Liberty usava por baixo da peça era preta e ajudaria a menina a se aquecer naquela noite mais fria de Vermont. As botas baixinhas não contribuíam em nada para aumentar a estatura dela e, exceto por um brilho rosado nos lábios, Libby não usava nenhuma maquiagem. Emily tinha implicado com o fato da prima só precisar de poucos minutos para se arrumar, mas a verdade é que aquilo não comprometia em nada a aparência da aniversariante. E Bloomfield ficava ainda mais adorável com as bochechas coradas pelas emoções daquela noite.
 
- O que diabos Jeffrey Wooton Junior está fazendo aqui!? Ele sabe quem sou eu? Ele sabe o que o Leonard fez comigo? Desde quando você conhece ele? E por que vocês dois parecem ser tão amiguinhos??? – para alguém tão inteligente e que gostava de estar sempre no controle da situação, naquele momento Libby estava tão perdida e confusa que nem ela mesma se reconhecia – É tudo tão bizarro que eu nem sei por onde começar! Talvez seja melhor você começar então.
 
Era evidente que Liberty estava com as emoções muito afloradas e que ela ainda não sabia como interpretar aquela “visita” e muito menos como se sentir com a presença do irmão. Mas, ao mesmo tempo, já era possível notar que a chegada de JJ a Colchester estava provocando profundas mudanças na atual dinâmica do ex-casal de namorados.

Até algumas horas atrás, Liberty estava evitando até ter contato visual com Dexter. Agora, além de ter partido dela a iniciativa de uma conversa, Libby parecia MUITO interessada em ouvir o que Thompson tinha a dizer.
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Mensagem por Emily Sinclair Seg maio 06, 2024 4:52 pm

- Aaahn, Emy, querida... Você não acha que talvez esse vestido seja um pouquinho curto demais?

Menos de cinco minutos tinham se passado desde que Liberty também tinha questionado a prima se ela não tinha se arrumado “um pouquinho demais” para um jantar que aconteceria dentro de casa, apenas na companhia da família, para poder estar enfiada na própria cama em algumas horas. Por mais que todos soubessem que Emily era uma garota vaidosa e que estava sempre bem arrumada, ela não precisava ter se preocupado tanto com a maquiagem, a escolha do vestido, em escovar os cabelos ou até mesmo em usar saltos. Mas quando ela se juntou a mãe e a prima na sala, Emy parecia pronta para sair para uma festinha animada com as amigas.

- Hm? - Ela fingiu um ar desinteressado no comentário da mãe. - Aaaai, mãe, não começa a ser careta, né? Sabe qual é o problema de vocês duas? Achar que a gente só precisa se arrumar para outras pessoas. Ou melhor, para os homens. A gente precisa se arrumar para nós mesmas, para olhar no espelho com satisfação e pensar “uau, eu estou gostosa, hein?”.

Era um discurso bastante confiante e compatível com a personalidade de Emy. Então Hilary e Liberty não pareceram notar que havia uma boa dose de hipocrisia no discurso dela, porque mesmo que Emy se esforçasse para negar até de si mesma, o fato era que a imagem de Hunter Timmons tinha aparecido algumas vezes nos seus pensamentos enquanto ela se vestia naquela noite.

Talvez fosse só um sentimento egoísta e imaturo de uma ex-namorada que queria mostrar tudo o que o cara tinha perdido. Ou Emily quisesse avaliar até onde o rapaz conseguiria ser indiferente. Ou talvez fosse até uma forma de tentar provar para si mesma que era ela quem conseguiria ser indiferente, que o desastre da noite anterior não tinha significado nada e que ela era perfeitamente capaz de agir com naturalidade mesmo se Timmons estivesse por perto.

Durante todo o dia, Emily tinha ficado ocupada com a sua típica lista de tarefas para os preparativos da festinha surpresa. Mesmo que não fosse um evento grande, Sinclair queria que tudo fosse perfeito, e tinha dado trabalho editar os vídeos que os amigos de Liberty tinham enviado de Seattle, ou conseguir instalar as luzinhas e montar a decoração na área externa sem que a prima notasse. E claro, mesmo que o jantar fosse responsabilidade de Hilary, as bebidas de Michael e o bolo de Dexter, Sinclair tinha monitorado tudo de perto.

Com tantos afazeres, não tinha sido proposital que Emily tinha ignorado as infinitas mensagens e ligações de Clifford no seu telefone durante todo o dia. Para que o rapaz não surtasse ainda mais, Sinclair tinha retornado o telefonema enquanto se arrumava para aquela noite, mas a conversa tinha sido breve e Emy mais uma vez insistiu que estava fazendo tudo aquilo por causa de Liberty. Ao invés de gritos e novas ofensas, Chad tinha mudado sua tática ao soar arrependido e até carente, mas a insegurança dele continuou óbvia demais quando, mesmo depois do fim da ligação, novas mensagens começaram a se acumular no telefone de Emy.

Se sentindo sufocada, como se estivesse novamente presa naquela cama em que ela não conseguia retribuir o que Chad tanto queria, Emily desligou o aparelho como se isso pudesse livrá-la daquela ansiedade por pelo menos algumas horas, porque naquela noite ela tinha prometido que se concentraria apenas em Liberty.

- Vocês não acham que está calor demais aqui dentro? - Emy se abanou para dar início a sua encenação logo que Liberty se acomodou em uma das poltronas com o celular na mão. - Eu sei que é seu aniversário, Libby, mas será que você não pode dar uma olhadinha naquele maldito termostato? Aposto que aquela coisa velha quebrou outra vez! Nós vamos acabar cozinhando junto com a torta de cebola da mamãe!
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Com cautela, Emily contornou o sofá e observou a reação da prima. E apesar da caretinha desconfiada, Liberty abandonou o celular para atender ao pedido da prima. E com um olhar estreito junto com um gesto das mãos, Emy abanou para que Hilary também fizesse a sua parte no teatrinho.

- Aaah, você é um anjo, querida! E o jantar não vai demorar para ficar pronto, então não demorem!

Diferente da parte interna da casa, Emily imediatamente sentiu a queda de temperatura quando pisou no quintal. Não estava um frio congelante e ela não teria uma hipotermia só por usar um vestido mais curto, mas a pele de Sinclair rapidamente se arrepiou com o ar mais fresco. E por um instante, ela não soube se o problema era só o frio da noite ou a troca de olhares com o ex-namorado.

- Hmmmm?? Festa? Que festa? - Emily se fingiu de inocente logo depois que Liberty foi surpreendida pelos amigos, e sem nem desconfiar, acabou repetindo as mesmas palavras de Timmons. - Querida, isso aqui não é uma festa.

Emily tinha cuidado de cada detalhe para que aquela noite fosse especial para Bloomfield. Não poderia ser um evento grande, agitado ou badalado demais para que Libby não se sentisse desconfortável. A lista de convidados reduzida trazia apenas pessoas que eram importantes para ela. O cardápio, o sabor do bolo, os presentes. Tudo tinha sido pensado para Liberty. Então Sinclair não imaginou que o único detalhe não controlado, a presença de um “penetra”, poderia bagunçar tudo tão rapidamente.

Se tivesse que apostar, Emy diria que talvez a participação de Dexter pudesse ser o ponto mais sensível e imprevisível daquela noite, porque era a única variável que ela tinha insistido em manter, contrariando os sentimentos e desejos da prima. Como alguém que tinha se decepcionado profundamente com um cara, Sinclair sabia o que era desejar nunca mais estar no mesmo ambiente que ele, mas Emily também conhecia Thompson a sua vida inteira e sabia que Liberty era especial para ele. O relacionamento dos dois poderia ter sido breve, mas tinha sido sincero, raro e intenso, algo que ela não acreditava que poderia ser descartado com tanta facilidade, mesmo enterrado sob tanta mágoa.

- Eu não sabia, eu juro que não sabia. - A animação e até a postura mandona de Emily se transformaram quando ela percebeu o clima do quintal se transformando por causa do “amigo” de Dexter. - Eu não teria deixado esse cara aqui se desconfiasse que ele era amigo do Wooton, Libby.

Uma única noite de paz, felicidade e diversão. Era só isso que Emily queria para a prima. Rejeitada pelo pai, com dificuldades financeiras a sua vida inteira, se esforçando muito além do que o dobro da maioria das pessoas para conseguir garantir um futuro melhor, ainda com alguns problemas de adaptação em Colchester e todo o drama envolvendo Dexter Thompson, Emy queria que Libby pudesse esquecer todos os problemas por uma única noite e se sentir especial rodeada de pessoas que queriam o seu bem. Então havia uma gigantesca onda de culpa pesando nos ombros de Sinclair ao ver que a surpresa mal tinha começado e tudo já parecia prestes a desmoronar.

Apesar da ruguinha de preocupação que se sustentou entre as suas sobrancelhas enquanto Emily assistia Liberty e Dexter sumindo no interior da casa, ela prontamente atendeu as ordens da prima. Depois de respirar fundo, Sinclair reuniu coragem para cuidar das responsabilidades que agora estavam na sua mão. E ela já estava muito mais firme quando marchou até Hunter Timmons, que ainda sustentava um olhar perigoso e ameaçador contra JJ.

Além dos holofotes que estavam voltados para a mesinha decorada e a lareira de pedra já ligada, Emily tinha instalado alguns cordões de luzinhas amarelas sobre a área onde os jovens ficariam sentados depois do jantar. Era uma decoração simples e fofa, mas que se destacava apenas naquele canto do amplo quintal, então Emily só precisou arrastar Hunter alguns passos para longe de JJ para que eles ficassem mais encobertos pelas sombras. Os dois ainda estavam próximos e visíveis pelos outros dois convidados, mas aquela distância permitia que Sinclair falasse apenas para o ex-namorado.

- Quer parar, Hunter? Hunter! Pare, olhe para mim!

Como Timmons ainda sustentava um olhar duro por cima do ombro dela, Emily precisou ser mais direta e ergueu uma das mãos para segurá-lo pelo rosto, obrigando o rapaz a voltar sua atenção para ela. O fato de estar tão perto de Hunter e de tocá-lo novamente despertou dentro de Sinclair um calor ainda mais intenso do que ela sentia dentro de casa, com o aquecedor ligado. E foi impossível não lembrar da noite anterior e de todo o esforço de Clifford, completamente em vão.

- A minha mãe está dentro de casa, e a Liberty já disse que não é para você atacar ninguém! E eu não quero sangue espalhado no meu quintal! - Emy respirou fundo e afastou sua mão do rosto de Hunter, a apoiando na própria cintura como uma desculpa para não tocá-lo outra vez. - Eu também adoraria enfiar a minha mão na cara daquele Wooton desgraçado, mas tente conter o viking que existe dentro de você, tá legal?

Foi só depois de ter certeza que Timmons não voaria no pescoço de ninguém, Emily voltou para a área mais iluminada, fingindo não notar os olhares ameaçadores que ainda eram lançados na direção do outro rapaz. Michael já tinha se acomodado em uma das cadeiras ao redor da lareira e o convidado de Dexter estava sozinho em um sofá. Quando Hunter se sentou estrategicamente do outro lado dele, Emily rapidamente se acomodou no braço da cadeira que o ex-namorado ocupava. No passado, era natural que Sinclair estivesse sempre grudada ou pendurada no pescoço do namorado, mas naquela noite aquela escolha foi apenas para conseguir tentar conter Timmons.

- Então? Quem é você, como conhece o ladrãozinho, mentiroso do Wooton e o que está fazendo aqui? É bom começar a responder rápido e sim, necessariamente nessa ordem.

Embora não sustentasse o olhar ameaçador e perigoso de Hunter, Emily também tinha uma postura intimidante. Mesmo que a ruiva a sua frente fosse linda, cheia de curvas e com as pernas dobradas sob um vestidinho curto, JJ engoliu em seco como se estivesse diante de um torturador e sequer cogitou olhar para qualquer outro ponto que não fosse o olhar de Sinclair e Timmons.

- Eu me chamo Jeffrey Wooton Junior, ou JJ. Eu conheço o Lenny porque, bom, ele é meu irmão. E eu vim até aqui porque queria conhecer a Liberty.

Michael Martínez era o único que continuava sentado em uma postura relaxada, com o cotovelo apoiado no braço da cadeira e olhando ao seu redor como se estivesse assistindo a algum programa de televisão um tanto confuso e entediante. Mas Hunter e Emily imediatamente abandonaram as posturas mais intimidantes para assumir um ar surpreso e chocante ao escutar que estavam diante de um outro Wooton que vinha até Colchester para conhecer Libby.

Timmons foi o primeiro a conseguir reagir e Emily chegou a sentir o corpo dele se inclinando para frente, mas antes que o rapaz pudesse se levantar e avançar até JJ, a menina rapidamente passou uma das mãos pelo ombro dele e o puxou de volta. Daquela vez, os dedos de Sinclair continuaram apoiados e bem firmes sobre o rapaz, em um recado mudo de que era para ele permanecer sentado.

- Você também é um Wooton?

JJ se remexeu desconfortável, mas pigarreou e tentou soar mais calmo, mesmo que se sentisse acuado. E daquela vez ele preferiu sustentar o olhar com a garota, já que Emy parecia muito mais aberta a uma conversa do que o “grandão” ao seu lado.

- Eu disse para o Dexter que não era uma boa ideia ter vindo até aqui hoje, eu não sabia que seria aniversário dela.

- Aliás, como é que você conhece o Dex?

- Bom, depois que o Lenny foi embora daqui com o software da amiga de vocês, o Dexter estava decidido a ir atrás do meu irmão e resolver tudo da maneira dele, mas por sorte acabou encontrando comigo primeiro. Olha, eu juro que não sabia o que o Lenny tinha aprontado aqui! Quando ele chegou em Seattle apresentando o projeto, até acreditei que ele tivesse desenvolvido aquilo, mesmo que o meu pai não tivesse comprado a mentira nem por um segundo. E mesmo depois que o Dexter contou a versão dele, eu não tive certeza, então rodei alguns testes, contratei uma equipe para analisar o código e me convenci de que aquilo não era mesmo do Lenny.

A lareira de pedra era a única coisa que separava JJ de Hunter e Emily, mas o fogo baixo permitia que eles se encarassem de frente. Claro que não dava para acreditar nas palavras de um Wooton depois do que tinham visto Leonard fazer, mas a peça ali que não se encaixava era a participação de Dexter. Diferente de Lenny, JJ não tinha simplesmente brotado em Colchester do dia para a noite. Ele tinha sido trazido e logo por alguém que amava Bloomfield.

- E você quer mesmo que a gente acredite que você vai ficar contra o seu irmãozinho só para ajudar a Libby? Quer mesmo que a gente caia nessa conversa de que veio até aqui só porque quer conhecê-la.

- Eu não vou passar a mão na cabeça do meu irmão e aceitar um crime. - JJ soou mais sério e mais firme com aquelas palavras. - Não importa o quanto eu ame o Lenny, eu jamais concordaria com uma coisa dessas. Depois de tudo o que ele aprontou, vir até Colchester e falar com a Liberty pessoalmente, atualizá-la sobre todo o processo era o mínimo que eu devia fazer.

Os dedos que seguravam o ombro de Hunter com força afrouxaram e Emily deixou sua mão escorregar até apoiar no outro braço do rapaz, mais próximo ao seu corpo. Daquela vez, Sinclair não estava tentando impedir que Timmons cometesse uma loucura, e o gesto foi de maneira inconsciente enquanto ela continuava focada em JJ.

- Eu não sei no que o Dexter estava pensando, mas não acho que seja uma boa ideia você ficar aqui. A Libby não precisa de nenhum Wooton.

- Olha, eu juro que nunca quis causar nenhum estresse. Eu sei que hoje era para ser uma noite mais íntima e familiar para a Liberty, então eu não sei por que o Dex insistiu nessa ideia. Mas eu gostaria de falar com a amiga de vocês em outra oportunidade. É sério, eu fiquei muito impressionado com o trabalho da Liberty. Não sei como o Lenny veio parar em Colchester, mas seja lá como for, ele acertou no radar de talentos e genialidade.

- Espera... Você não sabe o que o seu irmão veio fazer em Colchester?

Talvez Timmons estivesse irritado demais para notar aquelas pequenas pontas soltas. A insistência de Dexter em trazer um Wooton logo na noite de aniversário de Liberty, como JJ parecia admirado apenas com o trabalho da garota e curioso em conhecê-la apenas porque se sentia culpado e ao mesmo tempo impressionado. Não tinha nenhum discurso de que ele também merecia conhecer a irmã, que aquilo era um problema de família, que ele queria resolver tudo por ser sua responsabilidade. Não tinha nenhuma tentativa de ameaçar, comprar ou intimidar Liberty. Os Wooton já tinham o software dela, então não fazia sentido que JJ estivesse em Colchester, perdendo seu tempo com uma garota que não teria forças para lutar judicialmente contra eles.

- Não. Eu nunca entendi e pretendo confrontá-lo quando tudo isso for resolvido, mas antes de lidar com o Lenny, eu precisava falar com a verdadeira criadora do programa.

A boquinha de Emily se entreabriu enquanto aquela peça se encaixava na sua mente. Como sua mão já segurava o braço de Hunter, Sinclair só precisou se inclinar um pouco e deixou seus dedos deslizarem pelo peito dele apenas para conseguir manter o equilíbrio enquanto procurava o ouvido do rapaz para sussurrar em segredo.

- Ele não sabe. O Dexter não contou para ele quem a Libby realmente é.
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Mensagem por Dexter Thompson Seg maio 06, 2024 5:53 pm

- Achei que a gente fosse começar com “parabéns” e te dar o seu presente. Não? Tá legal, entendi.

Diferente da menina, Dexter parecia bastante relaxado e despreocupado quando entrou no quarto da aniversariante e deslizou o olhar pelo cômodo sem pressa antes de se acomodar na beirada da cama. Enquanto Hunter e Emily intimidavam Wooton no quintal e Liberty obviamente tinha toneladas de perguntas, Dex agia como se não tivesse feito nada demais, como se fosse um detalhe bobo que tivesse comparecido na casa das Sinclair naquela noite acompanhado de um dos irmãos (que ela não conhecia) da ex-namorada.

- Aaah, você vai deixar eu falar? - Dex apontou para o próprio peito e não conseguiu segurar aquela brincadeira. - É que eu estava até curtindo te ver perdidinha assim, parecia que você estava me imitando em uma das aulas de tecnologia avançada. Mas beleza, por onde você quer que eu comece?

A última vez que Dexter tinha estado naquele quarto, ele e Liberty tinham lidado com uma conversa intensa, delicada e carregada de emoções. E a julgar pela forma com que Bloomfield continuava lhe evitando, era óbvio que a menina não tinha mudado de ideia e que ainda se sentia incomodada com a sua presença, ou mais precisamente com as lembranças da noite de Halloween. Então não fazia muito sentido que Dex estivesse tão relaxado naquela noite.

- É, aquele é Jeffrey Wooton Junior. E ele é meu convidado.

Deixando um pouco a irreverência de lado, Dexter assumiu um ar mais sério ao entrar no lado mais sincero da conversa. E seu olhar estava preso em Liberty quando ele começou a dar algumas das respostas que a garota tanto implorava para receber.

- Sim, ele sabe o que o Leonard fez. A droga na festa, o roubo do software, como desapareceu de Colchester sem deixar nenhuma pista. O que ele não sabe é como o irmãozinho dele veio parar nessa cidade no fim do mundo e conseguiu descobrir uma pequena gênia da tecnologia, e essa parte eu fingi ser um completo ignorante, porque não, ele não sabe quem você é.

Não contar toda a verdade para JJ talvez fosse um ato desonesto com a amizade que os dois vinham construindo, mas a prioridade de Dexter sempre tinha sido Liberty e isso não tinha mudado. Preservar a identidade da menina, mais exposição e mais escândalos era o que mais importava. Se Dexter tivesse que apelar naquela batalha contra os Wooton e envolver a mídia, a situação até poderia ser diferente, mas JJ tinha conseguido ganhar a sua confiança o bastante para que ele tentasse resolver as coisas de outra maneira. Mas isso não significava que ele estava pronto para colocar Libby em uma posição que poderia sofrer outra vez.

Além do mais, Dexter precisava que JJ conhecesse Liberty livre de qualquer preconceito ou preocupação envolvendo as mentiras do pai ou o laço biológico. Se JJ fosse como Thompson vinha julgando ser, ele não lidaria com aquela novidade como um oportunista, mas com o choque de quem realmente tinha perdido muitos anos da vida de uma irmã que ele nem sabia que existia.

Como Libby continuou calada, com os braços cruzados e um olharzinho confuso tentando acompanhar o que o ex-namorado dizia, Dexter se colocou de pé e caminhou pelo quarto até parar próximo da janela. Emily tinha tomado o cuidado de organizar a comemoração em um ponto estratégico do quintal que Bloomfield não conseguiria ver do seu quarto, então a única visão dali era o lago escuro e a pouca iluminação que agora vinha dos holofotes, das pequenas luzinhas e da lareira.

Assim como Timmons, Thompson também tinha se preocupado com a própria aparência pensando na ex-namorada. Dexter não precisava se esforçar muito para ficar atraente, mas era possível notar que ele tinha se empenhado um pouco mais. Os cabelos escuros brilhavam com uma fina camada de gel, domando os cachos normalmente mais rebeldes. A calça jeans era escura e combinava com a camisa de botões. As mangas continuavam esticadas até seus pulsos, mas o calor da casa das Sinclair o obrigou a abrir alguns botões, deixando visível a regata branca mais justa que ele usava por baixo. Com os braços cruzados e agora em uma distância maior da ex-namroada, Dexter a encarou antes de continuar as explicações.

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- Pouco tempo depois que o Leonard foi embora, eu fui até a Caltech atrás dele. Sei lá, Libby, eu não tinha um plano muito bem definido na minha cabeça, você sabe que pensar não é a minha melhor qualidade e eu acabo agindo por impulso. Mas eu precisava fazer QUALQUER coisa. Ficar sentado, de braços cruzados, sabendo que aquele desgraçado tinha te roubado, te dopado e ainda sairia ileso não era uma opção. Eu estava disposto a fazer o que fosse preciso, nem que isso significasse arrastar a cara do Wooton no asfalto de lá até aqui. - Dex pareceu um pouco sem graça com aquela confissão mais violenta e ergueu um dos ombros antes de completar. - O que quer dizer que eu tive muita sorte por ter encontrado o JJ ao invés do Leonard.

Sorte, destino, acaso. Qualquer que fosse a explicação, Dexter ainda agradecia todos os dias por ter esbarrado acidentalmente com JJ naquela tarde. Mesmo com suas desconfianças, o tempo vinha mostrando que Jeffrey Junior era muito diferente de Leonard e Dex não se arrependia de ter ido até lá tentar ajudar a ex-namorada.

- Eu amo você, Liberty. Eu já te disse que nunca conheci uma garota como você antes e você sempre vai ser a única na minha vida. Não importava se nós dois não estávamos mais juntos ou se não tinha mais nenhum futuro para a gente. Eu não ia ficar de braços cruzados deixando que alguém pisasse em você dessa maneira.

O problema que Liberty e Dexter enfrentavam agora era muito diferente do que tinha envolvido o término. Lenny tinha dado o pontapé inicial para o fim daquele relacionamento, mas agora a crise envolvendo Debby parecia manchar ainda mais o amor que Bloonfield sentia por ele. Mas Thompson não estava disposto a usar meias palavras e nem estava tentando manipular os sentimentos de Libby. Ele só estava sendo sincero. Por ela, ele enfrentaria o que quer que fosse, sem se importar com as consequências ou retribuições.

- O JJ e eu passamos a conversar todos os dias, ele rodou uma dezena de testes, contratou equipes para ver que eu estava falando a verdade e já envolveu até os advogados, porque o filho da puta do Leonard já deu entrada em uma patente. Mas ele não falou nada com o irmão e nós dois temos feito tudo em sigilo até então, porque antes de fazer qualquer coisa, ele queria te conhecer. - Dexter cruzou os braços e franziu a testa ao chegar naquele ponto mais delicado da conversa. - Eu não quero que você se machuque de novo, Liberty. Não quero que você se iluda só para se decepcionar outra vez, que você ache que consiga ter uma família só para ser rejeitada. Mas não foi só por isso que eu não contei para o JJ sobre quem você realmente é. Porque eu queria que vocês dois tivessem uma chance de se conhecer sem o peso do sobrenome Wooton, sem toda essa merda e drama. Aliás, ele nem te conhece pessoalmente e já admira muito o seu trabalho, então eu tenho certeza que ele também vai admirar quem você é.

Os passos de Dexter foram lentos sobre as tábuas de madeira no chão do quarto e ele só parou de caminhar quando se colocou diante dela. Para tentar conter aquele formigamento nas suas mãos que imploravam por um toque, Thompson continuou de braços cruzados, mas o perfume familiar de Liberty foi suficiente para nocauteá-lo e trazer um brilho diferente para as íris castanhas.

- Eu sei que deveria ter falado com você primeiro, que deveria ter ao menos te consultado ou que poderia ter escolhido outro momento para trazer o JJ. Mas você tem a terrível mania de sempre ser a dona da última palavra... - Apesar de rolar os olhos, Dexter abriu um sorrisinho derretido ao descrever aquele traço da personalidade da garota. - Eu confio nele, Libby. Jamais teria ido tão longe, jamais teria deixado ele chegar perto de você se não confiasse. Se você ainda quiser, nós dois podemos ir embora agora mesmo. Mas eu acho que você poderia ao menos dar uma chance e conversar com ele. O JJ tem se empenhado muito em resolver o roubo do seu programa.

JJ era quem estava por trás dos advogados, dos testes, de todo o esforço para conseguir cercar Leonard da melhor maneira possível. Mas era mentira dizer que o empenho vinha apenas de Wooton. Afinal, era Dexter quem tinha largado tudo para trás para ir até Caltech disposto a enfrentar um cara perigoso como Lenny. Era Dexter quem tinha renunciado a própria vida para conseguir usar todo o seu tempo livre para ajudar Liberty. Era ele quem a amava tão loucamente que faria tudo outra vez, mesmo com a certeza de que os dois não ficariam juntos.

- A Emily queria que você tivesse uma noite especial, cercada de pessoas que se importam com você, de quem realmente te enxerga como uma família. E o JJ pode não saber disso, mas eu sei que as coisas com ele podem ser diferentes. Não estou falando isso só porque ele é meu amigo, o cara é mesmo gente boa, mesmo para um nerd!

Com aquele desejo crescente explodindo no seu peito, Dexter finalmente venceu as próprias barreiras e fez um movimento arriscado ao erguer uma das mãos para tocar os cabelos escuros e lisos de Liberty. As pontas dos seus dedos roçaram de leve o rostinho dela ao colocar os fios castanhos atrás da orelha e o polegar de Dex brincou com o lóbulo da orelha dela.

- Eu sei que não é fácil para você dar segundas chances, que a vida já te mostrou várias vezes que não vale a pena e que as pessoas sempre acabam te machucando. Mas se a minha palavra ainda vale alguma coisa, Libby... Eu não acho que você vai se arrepender dessa vez. Essa noite, você está cercada apenas de pessoas que querem o seu bem e que te amam.
Dexter Thompson
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