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- Vermont -

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Mensagem por Liberty Bloomfield Dom Abr 21, 2024 12:23 pm

Embora Liberty morasse em Vermont há pouco tempo, a verdade é que não existiam grandes segredos em uma cidadezinha como Colchester. Poucos moradores, todos se conheciam desde sempre e raramente acontecia algo surpreendente ou interessante. Consequentemente, o “esporte” preferido dos cidadãos de Colchester era fofocar sobre as vidas uns dos outros.

Todos sabiam que o dono da farmácia vendia medicamentos com receitas médicas adulteradas para os seus amigos mais próximos. Também não era um segredo que a esposa de um dos vereadores foi flagrada na cama com o motorista da família e que esse foi o motivo para a demissão do rapaz. Liberty nem conhecia aquelas pessoas direito, mas a nova moradora de Colchester também já tinha ouvido comentários bem maliciosos sobre a orientação sexual do reverendo, sobre os pequenos golpes que o dono do mercadinho aplicava em clientes desatentos e sobre o estranho sumiço da filha do prefeito, que teoricamente tinha saído de Colchester há dois anos para estudar num colégio interno e nunca mais pisou na cidade.

E a família Thompson também não escapou das línguas venenosas da população. De longe, Justin, Alma e os dois filhos pareciam tão perfeitos que poderiam encenar um comercial de margarina. Mas Libby já tinha ouvido alguns comentários não tão favoráveis sobre eles. Alma tinha uma certa fama de ser fútil, exibida, metida e irresponsável. Algumas pessoas mais maldosas também costumavam dizer que a Sra. Thompson nunca tinha superado a frustração por ter abandonado a carreira como cantora e perdido a fama. As fofocas sobre Justin diziam que o homem era extremamente rígido, controlador e obcecado por manter a máscara da família perfeita. Eric talvez fosse pequeno demais para despertar tanto interesse dos fofoqueiros de plantão, mas Dexter não conseguiu se livrar dos comentários.

É óbvio que um dos rapazes mais populares de Colchester não ficaria de fora das fofocas da cidade. A grande maioria da população comentava sobre o quanto o garotinho dos Thompson tinha crescido e se tornado um rapaz forte e atraente, ou sobre o quanto Dexter era educado e simpático com todos ao seu redor. Mas é claro que sempre havia alguém para soltar um comentário mais ácido sobre a inteligência (ou a falta dela) do rapaz. As piores fofocas sobre Dexter falavam sobre as notas ruins, sobre o esporte ser a única chance do rapaz ser aceito numa universidade ou sobre como Thompson gostava de variar o cardápio quando o assunto era garotas.

Contudo, em todo o tempo que Liberty vivia naquela cidadezinha, ela nunca havia escutado NADA sobre Dexter ser um rapaz problemático ou violento. Portanto, foi grande a surpresa de Bloomfield ao assistir o namorado explodindo daquela maneira e prensando Leonard Wooton contra uma das paredes do seu quarto. O choque fez com que Libby demorasse alguns segundos para reagir até pular para fora da cama para tentar apartar aquela briga.

Tanto Dexter quanto Leonard não eram rapazes absurdamente altos, mas ainda assim Libby era muito menor que os dois. Só que mesmo com aquela desvantagem, a menina não pensou duas vezes antes de tentar se enfiar entre o namorado e o irmão para colocar um fim naquela selvageria.

- VOCÊS FICARAM LOUCOS!? PAREM JÁ COM ISSO!!! SOLTA ELE, DEXTER!

Se aquela briga fosse adiante, seria difícil fazer uma aposta sobre o vencedor do duelo. Dexter até podia ser mais forte que o cunhado, mas Wooton era mais velho e certamente tinha muito mais “experiência” em problemas e confusões. Diferente de Thompson, Lenny cresceu numa metrópole, tinha uma fama de encrenqueiro e colecionava brigas no colégio, em festas e boates. O segundo filho de Jeff Wooton não parecia ser o tipo de rapaz que recuava ou fugia de confusões. Mas naquele dia Leonard abafou os seus piores instintos para manter a encenação diante da irmã.

Ao invés de explodir ou revidar o ataque de Dexter, Lenny preferiu assumir uma postura inocente. Além de fazer com que Thompson parecesse ainda mais violento, insano e agressivo, o comportamento chocado e indignado de Wooton combinava perfeitamente com alguém que não merecia receber acusações tão graves. E Leonard percebeu que aquela era mesmo uma boa jogada quando viu Liberty se voltar contra Dexter para defender o meio-irmão.

- Você ficou COMPLETAMENTE maluco, Dexter??? De onde você tirou isso???

- Eu te digo de onde ele tirou isso... – Lenny reforçou ainda mais o seu papel de vítima deslizando uma das mãos no pescoço, como se estivesse muito dolorido depois do ataque de Dexter – O bonitão aí já notou que eu não fui com a cara dele e agora vai inventar mil motivos para me tirar da sua vida, Libby. E quer saber, cara? Eu realmente não aprovo esse namoro. A minha irmãzinha é fantástica, ela merecia estar com um cara muito melhor que você! Você é só um perdedor que está vivendo o auge da sua vida no colégio, mas depois disso é só ladeira abaixo, cara! Já a Libby tem um futuro brilhante pela frente.

- Lenny! Já chega! Não piore as coisas!

- Eu só quero o melhor pra você e estou dizendo o que QUALQUER irmão diria, Libby! – ao notar que Liberty iria defender o namorado, Lenny foi assombrosamente inteligente e desarmou o discurso da irmã com uma jogada de mestre – Vamos fazer uma aposta? Eu aposto que o JJ não vai gostar desse sujeitinho e também vai dizer que você merecia coisa melhor, irmãzinha.

- O JJ...? – como um filhotinho indefeso caminhando diretamente para uma armadilha, Libby não percebeu que estava sendo manipulada – Você vai contar a ele? Sobre mim?

- O que? Mas é CLARO que eu vou! Eu só precisava te conhecer antes, Libby, ter certeza de que você era uma boa pessoa. Agora eu vou contar toda a verdade pro JJ e falar tudo sobre você. Tenho certeza de que ele também vai querer conhecer a nossa irmãzinha...

Além de ser manipulador, Leonard já tinha percebido que aquele era o ponto fraco de Liberty. O abandono do pai transformou Libby numa menina carente de afeto e de atenção e agora ela estava sedenta para ser amada, para fazer parte de uma família. Foi esse sentimento que fez Bloomfield ignorar todos os seus instintos e receber Lenny de braços abertos. E agora a menina mais uma vez estava sendo ludibriada pela promessa de que o filho mais velho dos Wooton também a aceitaria.

Ao ver a irmã sendo desarmada, Leonard conseguiu se conter e esconder um sorrisinho vitorioso, mas o brilho no olhar dele o denunciou. E quando ele virou o rosto na direção de Dexter e encarou o outro rapaz com uma expressão soberba, era evidente que Lenny estava se vangloriando por aquela vitória. Antes que Thompson tivesse uma nova explosão, Libby novamente interferiu. Foi a garota que pegou a mochila que Leonard havia deixado num canto do quarto e a entregou nas mãos do irmão.

- Acho melhor você ir, Lenny, continuamos esta conversa depois. Está chovendo e tem muita estrada daqui até Massachusetts. Dirija com cuidado e me mande uma mensagem para avisar que chegou bem, ok? – Libby completou enquanto tombava a cabeça na direção de Dexter para se referir ao namorado – Está tudo bem, eu vou conversar com ele. Eu sinto muito por isso, Lenny.

Ao se desculpar pelas atitudes de Dexter, Liberty deixou ainda mais claro que ela já havia escolhido ficar ao lado do irmão naquela batalha. Além de não conseguir pensar em nenhum motivo racional para que Lenny estivesse por trás do incidente da festa, Libby tinha sido muito bem manipulada e acreditava na inocência de Wooton. E a opinião dela não mudou nem mesmo quando Lenny ergueu o dedo do meio na direção de Thompson, despedindo-se do rapaz com um “vai se foder, bonitão”.

- Já chega! – Liberty se colocou na frente de Dexter e impediu que o rapaz fosse atrás de Lenny após o irmão sair do seu quarto – O que deu em você, Dexter? Por que está agindo como um brutamonte selvagem? Eu ainda não acredito que você atacou o meu irmão! Pior, você acusou o meu irmão de um crime sem ter nenhuma prova disso! Eu nunca vou te perdoar se o Lenny se afastar de mim e se eu perder a chance de ter um irmão por sua causa!

Numa magnífica inversão de jogo, Leonard Wooton tinha conseguido sair de cena como a grande vítima da situação. Isso transformava Dexter no cara violento e injusto que estava estragando um dos momentos mais felizes da vida da namorada com uma acusação totalmente descabida.

- De onde você tirou essa ideia absurda, Dexter??? Por que o Lenny faria algo assim? Por que ele viria até Colchester se não quisesse me conhecer e fazer parte da minha vida? Você não percebe que as suas acusações não fazem o MENOR sentido!?

Ao reconstruir as suas memórias sobre a festinha da piscina, Liberty não conseguia ignorar o fato de que uma das poucas coisas que ela tinha ingerido foi o “suco” preparado por Wooton. Mas isso ainda parecia ser uma evidência fraca demais e que não explicava os motivos que o irmão teria para tentar dopá-la. Era muito mais fácil e confortável pensar que a droga estava injetada num salgadinho ou que outra pessoa tinha se aproveitado de um momento de distração da garota para executar aquele ataque. Libby costumava se desligar da realidade quando estava muito envolvida num trabalho interessante, então não era tão absurdo assim pensar que alguém havia passado pela varanda e trocado os copos sem que ela percebesse.

- Eu sei que não foi o Tim! – Libby se adiantou antes que Dexter pudesse defender o amigo novamente – Eu sei que o Tim assumiu a culpa só pra me ajudar e eu não faço ideia de como vou pagar essa dívida com ele! Eu também quero saber quem é o verdadeiro culpado e inocentar o Tim, Dexter! Mas não dá pra sair por aí inventando histórias e culpando qualquer pessoa sem provas! Você sequer sabe dizer um único motivo racional pro Lenny ter feito isso!

Liberty Bloomfield não era uma ameaça contra os Wooton. Em dezessete anos, a garota nunca havia feito exigências ou ameaçado protagonizar um escândalo contra Jeff. E a própria Libby dissera a Lenny que ela não fazia questão da herança e nem queria nada do pai. Leonard simplesmente não tinha motivos para querer se livrar dela ou prejudicar a menina. Assim como ele também não parecia ter segundas intenções com aquela aproximação porque não havia exigido nada em troca. Pelo contrário, Lenny apenas repetia que queria recuperar o tempo perdido e agora dizia até que pretendia dividir aquela grande novidade com o irmão mais velho. Tudo levava a crer que Lenny só estava comovido e encantado em conhecer a irmã que ele até então desconhecia.

Mesmo ainda se sentindo fraca e dolorida, Libby continuou de pé na frente do namorado durante aquela conversa mais séria. Ao invés de uma camisola comum, Bloomfield mais uma vez usava a camiseta que o namorado lhe dera e estava com os pezinhos descalços depois de ter saltado da cama às pressas para separar a briga dos dois rapazes.

- A sua perseguição com o Lenny está passando dos limites, Dexter. Sim, eu sei que ele não tem sido o cara mais gentil do universo com você, mas talvez seja apenas uma implicância de irmão mais velho. Não foi o Lenny que me drogou porque ele não tinha motivos pra fazer isso, ele não ganharia NADA com isso. Mas eu consigo pensar em algumas pessoas que ficariam felizes em me ferrar ou em me ver sendo expulsa da MMU...

Dexter não havia escutado aquela parte da conversa entre os irmãos, mas não seria tão difícil assim concluir que Libby também tinha sido manipulada para acreditar naquela história. Ao falar sobre as suas suspeitas, Liberty sequer percebia que estava repetindo basicamente as mesmas palavras que ela ouviu da boca de Leonard Wooton.

- Alguns dos seus amigos não gostam muito de mim, não é? A maioria finge que me tolera pra não ter problemas com você, mas é fácil ver que eu não me encaixo tão bem no grupinho de vocês... – Libby fez uma pequena pausa antes de ser ainda mais específica naquela acusação – Especialmente as garotas. A Debby, por exemplo, ela não faz nem questão de esconder o quanto me odeia. Com certeza ela iria se beneficiar se alguma coisa ruim acontecesse comigo e se você voltasse pras garras dela novamente.
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Mensagem por Hunter Timmons Dom Abr 21, 2024 12:24 pm

Era uma ironia do destino que Hunter Timmons estivesse atrás das grades por um crime que ele não havia cometido. Nos últimos meses, Hunter estivera no centro de várias confusões em Colchester. Brigas, embriaguez, invasão de propriedades privadas. Todos os pequenos delitos que realmente foram cometidos por Hunter acabaram sendo abafados ou contornados com facilidade, mas desta vez o dinheiro dos Timmons e a tolerância do xerife Coleman não foram o suficiente contra uma acusação tão grave.

Agora ninguém mais conseguia dizer que tinha sido apenas uma travessura infantil ou uma aventura de um adolescente rebelde. Roubo, posse de drogas e uma menina menor de idade que teve que ser hospitalizada depois de uma overdose acidental. Ao assumir a culpa para salvar Liberty de uma expulsão no colégio, Hunter realmente pensou que só levaria uma bronca do xerife como das outras vezes em que foi pego em flagrante infringindo a lei. Mas agora o rapaz estava atrás das grades e o assunto havia se transformado em um processo judicial envolvendo advogados e juízes.

Em uma cidade onde quase nunca acontecia nada fora da rotina, a notícia sobre a prisão do único filho dos Timmons caiu como uma bomba entre os moradores, especialmente entre os mais fofoqueiros. Não se falava de outra coisa pelas ruas de Colchester e a fama de Hunter (que já não era das melhores) estava ainda pior. Talvez fosse exatamente pelos absurdos que todos estavam dizendo contra Timmons que Hilary agora era terminantemente contra o namoro de Emily com o rapaz. Afinal nenhuma mãe aprovaria o relacionamento da sua filha com um garoto tão problemático, viciado e agora com uma passagem pela polícia.

E Hilary não foi a única pessoa que se deixou envenenar pelas fofocas. Agora até Henry Timmons parecia acreditar que o filho era mesmo uma causa perdida, que não existia mais salvação para Hunter. Em todas as outras vezes que o rapaz se meteu em confusões, o Sr. Timmons tentou justificar o péssimo comportamento do filho e livrar Hunter de assumir as consequências pelos seus erros. Desta vez, contudo, nem mesmo Henry parecia estar se esforçando para ajudar o rapaz. Com todo o dinheiro dos Timmons, o pai de Hunter poderia contratar o melhor advogado do estado e conseguir uma fiança para libertar o filho em poucas horas. Mas todo o atraso do homem em tomar aquelas providências parecia ser um sinal de que, desta vez, Henry queria que Hunter fosse castigado, que ele sentisse o peso dos próprios erros e aprendesse uma lição.

Se dependesse apenas de Henry, Hunter passaria mais alguns dias atrás das grades. Então não foi o Sr. Timmons que estava por trás do advogado que chegou em Colchester naquela tarde com um comprovante de pagamento de fiança e uma ordem de soltura para o rapaz. Hunter ficou sinceramente surpreso quando o xerife Coleman destrancou a cela e explicou que ele podia ir, desde que não saísse do estado nos próximos dias.

O advogado que esperava por Hunter na recepção da delegacia era um rosto estranho para o rapaz. Mas Timmons conhecia bem o rostinho da bela moça ruiva que o acompanhava. Além de um terninho comportado, Claire usava sapatilhas de saltos baixos, os cabelos ruivos presos num coque e quase nenhuma maquiagem no rosto. Embora tivesse muitos traços em comum com Emily, a filha mais velha dos Sinclair tinha um estilo mais sóbrio e discreto quando comparada à irmã caçula.

- Claire??? O que está fazendo aqui?

- O meu pai estava ocupado, então ele pediu que eu viesse para garantir que tudo sairia conforme o planejado... – como aquela explicação não foi o suficiente para desfazer o semblante confuso de Hunter, a filha mais velha dos Sinclair completou – Foi ele que pagou a sua fiança, Timmons. E o advogado também. Como sempre, o papai está fazendo toooodas as vontades da princesinha da família.

Na breve visita ao apartamento de Bob Sinclair em Nova York, Hunter já tinha notado que ele estava longe de ganhar o troféu de pai do ano. Robert era distante, não demonstrava o menor interesse pela vida da filha caçula e nem se esforçava para ficar próximo de Emily. Mas o homem costumava usar o seu dinheiro para compensar todo aquele descaso e indiferença. E dessa vez não estava sendo diferente. O Sr. Sinclair estava gastando uma verdadeira fortuna para atender o desejo da caçula e tirar o namoradinho problemático de Emy da cadeia, mesmo sabendo que aquilo certamente desencadearia mais uma briga com Hilary.

- Dessa vez a Emily se superou nas tentativas desesperadas de chamar a atenção do papai... – Claire nem disfarçou o olhar de reprovação enquanto encarava Hunter de cima a baixo – Mas não posso dizer que estou surpresa com a escolha dela. Você combina muito mais com ela do que o Clifford. Até hoje eu não entendo como um garoto tão bonzinho e inteligente como ele se encantou por uma menina tão fútil e vazia como a Emily.

A guerra entre as irmãs Sinclair não era um segredo para ninguém. Podia ser até normal que existisse alguma rivalidade, inveja e ciúmes entre duas irmãs, mas a situação entre Claire e Emily já tinha ultrapassado todas as barreiras do aceitável. Hilary até tentava contornar a situação e não alimentar aquela rixa entre as meninas, mas Robert não parecia se importar tanto. Pelo contrário, em alguns momentos o pai parecia até encorajar aquela rivalidade, exaltando as qualidades de Claire numa tentativa de fazer Emily seguir alguns passos da irmã mais velha.

O olhar de Hunter se estreitou com a alfinetada de Claire. Como o resto do mundo, a filha mais velha dos Sinclair não parecia acreditar na sinceridade dos sentimentos de Emily e de Hunter e ela realmente achava que a irmã só tinha se envolvido com um rapazinho tão problemático para chamar a atenção do pai. Timmons sempre ficava irritado e furioso com insinuações como aquela, mas ele não estava na posição de declarar uma guerra contra as pessoas que o tiraram da prisão. Além disso, depois de tantos dias atrás das grades, Hunter não tinha mais forças ou energia para iniciar uma discussão.

- Diga ao seu pai que eu agradeço pela ajuda. Mas o meu pai vai devolver pra vocês o valor da fiança e também podemos assumir a partir de agora os honorários do advogado... – Hunter olhou brevemente para o advogado ao se referir a ele, mas logo voltou a atenção novamente para Claire – Eu imagino que isso seja difícil pra você, Claire, mas tenha o mínimo de decência e poupe a Emy desses comentários infelizes. Ela já passou por muita coisa nos últimos dias, a última coisa que ela precisa é lidar com a sua inveja e amargura.

- Inveja? Da Emily? – Claire chegou a tombar a cabeça para trás numa gargalhada debochada – Do que exatamente eu tenho inveja, Timmons? Das roupas vulgares dela? Do comportamento fútil? Do futuro profissional medíocre que ela vai ter? Ou do namoradinho viciado? Eu não tenho inveja da Emily. Eu tenho pena. E vergonha também, MUITA vergonha!

***

Um saquinho plástico transparente contendo os pertences do rapaz foi devolvido para Hunter antes que ele saísse da delegacia. Além da carteira e do celular, o rapaz também estava com as chaves da picape no bolso quando foi preso. Mas o carro já não estava mais no pátio da delegacia quando Hunter saiu do local e não era tão difícil assim imaginar que Henry havia mandado alguém rebocar o veículo de volta até a garagem dos Timmons. Como Hunter passou dias atrás das grades, a bateria do celular já tinha descarregado por completo e não existia sequer a possibilidade de ligar para alguém e pedir uma carona.

Numa cidadezinha onde todos se conheciam, não deveria ser tão difícil para Hunter bater na porta de algum morador ou entrar em um comércio e pedir para usar o telefone. Mas os olhares pouco amigáveis que ele recebeu enquanto andava pelas ruas de Colchester desmotivaram o rapaz a pedir aquele favor. A distância do haras dos Timmons até o centro da cidade não era tão grande para alguém que estava de carro, mas Hunter sabia que teria que enfrentar uma longa caminhada até o local. O fato de ter chovido muito nos dias anteriores também dava ao rapaz a certeza de que a estrada deveria estar pior que o normal, com a lama acumulada em vários pontos.

Mesmo com os medicamentos entregues por Emily na delegacia, Hunter ainda sentia o joelho latejar um pouco e aquela caminhada certamente arruinaria ainda mais a articulação machucada. Então foi um verdadeiro milagre ver um carro parar ao lado dele, o motorista abaixar o vidro e lhe oferecer uma carona.

Se fosse qualquer outra pessoa, Timmons não pensaria duas vezes antes de aceitar aquele favor com muita gratidão. Mas foi com um olhar de desconfiança que Hunter encarou Chad Clifford antes de sacudir a cabeça em negativa.

- Não. Prefiro ir andando.

Com passos mais lentos que o normal, Hunter continuou o seu caminho pela calçada, obrigando Chad a deslizar as rodas do carro pelo asfalto para acompanhá-lo.

- Não seja ridículo. Você está péssimo. E está mancando! Não seja tão orgulhoso, Timmons, é só uma carona. Isso não muda nada. Eu definitivamente não quero que voltemos a ser amigos.

Conhecendo tão bem a personalidade de Chad, não era tão difícil assim para Hunter acreditar que o rapaz estava deixando as mágoas de lado para fazer uma boa ação para alguém necessitado. Clifford era uma pessoa nobre e gentil, que seria capaz de fazer um gesto como aquele. Hunter, por outro lado, era orgulhoso, teimoso e rancoroso demais para dever um favor para um “inimigo”.

- Que bom, afinal não tem a menor chance disso acontecer. É melhor você dar o fora, Clifford. Acho que não vai ser nada bom pra você ser visto comigo...

- Eu sei que não foi você que dopou a Libby. – as palavras de Chad pegaram Hunter de surpresa e fizeram o rapaz interromper a caminhada para encarar novamente o motorista – Quer dizer, eu não duvido nada que você tenha coragem de roubar drogas do haras ou que esteja usando essas merdas. Mas eu acredito no Dex e ele me garantiu que você só assumiu a culpa pra ajudar a novata. Ponto pra você, Timmons. Eu realmente não achei que você pudesse ter uma atitude tão nobre. Ainda mais depois da emboscada imunda que você fez com a Emily...

Com os olhos estreitados, Hunter se inclinou na direção do carro e apoiou as duas mãos na lataria. Ao invés de se sentir intimidado com a aproximação dele, Chad parecia quase ansioso para ouvir a resposta do outro rapaz. Mas definitivamente não era aquilo que Clifford esperava escutar.

- Eu não fiz nada com a Emily. Eu entendo que você esteja com dificuldade para aceitar que perdeu uma garota perfeita como ela, Clifford, mas você precisa superar isso! Eu amo a Emily, ela me ama, nós estamos juntos e você não pode fazer nada pra mudar isso. Babaca.

Sem esperar por uma resposta, Hunter deu as costas a Chad e continuou o caminho, virando numa esquina de uma rua de mão única em que o carro do outro rapaz não conseguiria acompanhá-lo. No banco do motorista, Clifford fechou o semblante e soltou um suspiro pesado antes de sacudir a cabeça e puxar o celular para fora do bolso da camisa. O gravador aberto na tela indicava que toda aquela conversa com Timmons tinha sido registrada e Chad estava decepcionado por não ter conseguido uma confissão. Mas é claro que ele não pretendia desistir e estava disposto a cumprir a promessa de mostrar para Emily que a menina estava sendo enganada por Hunter.

- Eu ainda vou te pegar, Timmons...
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Mensagem por Emily Sinclair Dom Abr 21, 2024 10:59 pm

- Um advogado, Robert??? UMA FIANÇA??? E você nem se deu ao trabalho de me ligar para saber o que estava acontecendo??? Qual é o seu problema?

- Ela é minha filha também, Hilary! E se a Emily precisou me ligar para pedir ajuda, é porque claramente não confiava em você para fazer isso. Além do mais, eu não devo satisfação alguma para você do que faço ou deixo de fazer.

A voz do Sr. Sinclair ecoava apenas para os ouvidos de Hilary enquanto a mulher andava de um lado para o outro, furiosa e esbravejando através daquela ligação. Claire escutava apenas o que a mãe tinha a dizer, mas seu semblante tedioso mostrava que ela não estava sinceramente afetada ou curiosa com a briga dos dois.

- Sobre a sua vida pessoal, coooom certeza! Mas se o assunto envolve as MINHAS FILHAS, é sua obrigação me ligar, Robert! Você nem questionou a Emily quando ela falou sobre advogados, o namoradinho preso e uma fiança???

Houve uma hesitação enquanto Robert tentava esconder seu desconforto diante daquela falha, e a justificativa de que ele não sabia que era um namoradinho e que tinha deduzido ser apenas um amigo de Emily precisando de ajuda definitivamente não foi suficiente para Hilary.

- Um namoradinho acusado de roubar e usar drogas! Você tem noção disso, Bob? Que o cara que está saindo com a sua filha tem acesso a substâncias que poderiam deixá-la completamente dopada?

- Eu não imaginei que a coisa fosse tão grave...

- Claaaaro que não imaginou! Você não tem tempo para pensar na sua família quando está ocupado demais nas suas reuniões! Sempre foi assim! Por isso é minha responsabilidade cuidar da Emily, e eu estou tentando mantê-la longe das garras daquele delinquente!

- Você tem certeza que não está exagerando, Hilary? Você sabe como são os adolescentes, quanto mais se esforçar para manter os dois separados, mas a Emily vai brigar pelo contrário.

- Eu até vinha tentando aceitar e entender essa fase da Emy, Robert, mas agora não dá mais para fingir que nada está acontecendo. E se você não vai ajudar, não atrapalhe!!!

Hilary ainda estava ofegante quando desligou o celular, tentando acalmar as batidas aceleradas do coração. Devidamente acomodada e com um computador no colo, Claire continuou digitando um e-mail importante do trabalho como se todo aquele drama familiar não a afetasse.

- Você vai ficar para jantar, não é, querida? - Hilary tentou soar mais controlada para falar com a filha mais velha. - Eu não te vejo há semanas, Clary-Bear... E depois de tudo isso, acho que estou precisando de uma conversa madura, ou vou acabar enlouquecendo!

- Claro, mamãe. Mas preciso voltar para Nova York amanhã, no primeiro horário.

- O seu antigo quarto está ocupado com a Libby, mas isso não será um problema! Eu consigo arrumar uma cama extra em quinze minutos.

O barulho da porta principal fez com que Hilary e Claire interrompessem a conversa. Um pouco distraída e com a mochila pendurada em apenas um dos ombros, Emily parou ao notar que a irmã mais velha estava em casa. A surpresa, entretanto, durou poucos segundos porque foi fácil para a caçula associar aquela “visita” com a ligação que tinha sido feita para Robert. E mesmo que a presença de Claire fosse um incômodo, aquilo significava que o pai tinha atendido ao seu desejo, então seus ombros rapidamente relaxaram.

- Bem que eu senti um cheiro de moda bibliotecária dos anos cinquenta lá da calçada, devia saber que era você.

- Não. - Hilary ergueu um dedo em riste e se colocou diante da filha mais velha antes que Claire pudesse retrucar. - Você não está no direito de fazer piadinhas aqui, Emily. É sério que envolveu o seu pai nessa história do Timmons?

- Ele resolveu? - Emy ignorou a bronca da mãe e lançou um olhar insistente na direção da irmã. - Resolveu, não é? Você não estaria aqui por outro motivo.

- Não me ignore, mocinha! Nós duas já conversamos sobre a situação com esse rapaz! Você está ficando irreconhecível, Emily! E agora está faltando as aulas também? - Hilary fez uma pausa para observar a reação da filha e Emy não conseguiu disfarçar a surpresa. - É, a escola me ligou! Você achou mesmo que ia perder o dia todo de aula e eu não saberia? Isso só prova como eu estava certa, esse garoto é uma péssima influência para você!

Como estava de costas para Claire, Hilary não notou o sorrisinho debochado da filha mais velha. Se brigar com a mãe já era bastante ruim, ter Claire assistindo a tudo de camarote e sustentando aquele ar vitorioso só fazia tudo se tornar ainda pior e mais intenso. Com um semblante fechado, Emily revidou.

- Como você saberia??? Você nem se deu ao trabalho de conversar com ele, de conhecer o Hunter! Está mais preocupada em julgá-lo!

- Não, Emily! Engano seu! Quem vai fazer isso é a justiça! A minha única preocupação é proteger a minha filha e evitar que você siga pelo mal caminho!

- Ou por um caminho pior do que você já seguia antes... - Claire alfinetou baixinho.

- Claaaro, porque nessa família, se não for o caminho da Claire, não é o caminho certo, não é???

- Não começa, Emily! O problema aqui não é a Claire, é...

- Eu! O problema aqui sempre sou eu! Quer saber? Que se dane! Você já formou a sua opinião sobre o Hunter e não tem nada que eu faça ou fale que vai mudar isso. Mas adivinha só, mãe: também não tem nada que você possa fazer ou dizer para mudar como eu me sinto, e eu amo o Hunter e vou continuar ao lado dele, porque sei quem ele realmente é!

Emy nem tinha tirado a mochila do ombro quando se virou novamente para a porta de entrada. E mesmo com Hilary esbravejando e chamando pelo seu nome, a caçula saiu de casa batendo a porta com força.

***

- Eu ouvi dizer que ele vai ser expulso...

- E não é para menos, né amiga? Ainda bem, porque se a MMU não tomasse providências, o meu pai ia me trocar de colégio! Já pensou, conviver com um viciado?

- É verdade que ele estava começando a vender as drogas dentro dos terrenos da MMU?

Emily até estava se esforçando para fingir que não escutava a conversa enquanto esperava pelo seu pedido. Sozinha no balcão aguardando pelos hambúrgueres e milk-shakes, as meninas da torcida que ocupavam uma mesa próxima não tinham notado a proximidade da capitã. Foi só depois que uma delas cutucou a amiga e apontou a ruiva que elas se entreolharam, preocupadas.

- O Tim não estava vendendo drogas, Fionna. - Emily até tentou sustentar um sorriso nos lábios, mas seus ombros tensos e a respiração pesada mostravam que ela estava irritada com tudo o que tinha escutado. - É sério, meninas... vocês são mais inteligentes do que isso Vão mesmo dar ouvidos a qualquer fofoca que rola por aí?

- Mas não é fofoca que ele vai ser expulso, o meu pai mesmo disse. - Fionna ergueu o queixo para soar mais convincente, mas só conseguiu parecer arrogante. - Olha, Emy, ninguém está te julgando por ter se envolvido com o Timmons. A gente entende, a Pam também não resistiu e todo mundo admite que ele é uma gracinha. Mas drogas? Isso já é pesado demais, né?

Emily tinha fama de ser mais dura com as garotas durante os treinos, mas ela era uma excelente capitã que também reconhecia os esforços e esbanjava elogios com as meninas. Então foi inédito e surpreendente assistir Sinclair destilando tanto desprezo e irritação naquele fim de tarde.

- Vocês são todas umas cabeças ocas incapazes de pensar sozinha! Se não sabem do que estão falando, é melhor ficarem de boca fechada! Aliás... Fechar a boca não seria nada mal para vocês, não é? Se continuarem comendo tudo isso, não vão sair da base da pirâmide nunca mais! E antes de pensarem em falar sobre o Tim outra vez, é melhor pensarem de novo. Eu ainda sou a capitã e detestaria ter que envolver a treinadora para uma ação disciplinar porque as meninas andam espalhando fofocas mentirosas por aí.

Emy estava quase espumando pela boca quando saiu do Pat's carregando uma sacola com sanduíches, batatas e bebidas. Aquele dia que parecia não ter fim só ficava mais longo e mais difícil depois da briga com Hilary, a visita de Claire e mais embates por causa das intermináveis fofocas envolvendo o nome de Hunter Timmons. E só parecia haver uma única saída para que Sinclair se sentisse melhor, mais calma e acolhida.

***

As batidas na porta soaram suaves, mas o silêncio na casa dos Timmons permitiu que Hunter notasse a presença da namorada. Com um sorriso tímido, Emily encarou o rapaz deitado sobre a cama, iluminado apenas pela luz fraca do abajur. Mesmo depois de ter tomado banho e trocado as roupas, Timmons estava abatido e com um semblante mais sério que o normal.

- Oi... Não tinha ninguém em casa. A sua empregada me deixou entrar.

A mochila de Emily escorregou por um dos seus ombros e ela se aproximou carregando a grande sacola de papel com o símbolo do Pat's. O cheiro de fritura e hambúrguer também já davam uma grande dica do que Sinclair tinha trazido com ela, mas a menina tentou usar um sorriso mais confiante ao balançar a comida com as pontas dos dedos.

- Trouxe o jantar. Você está com fome?

Era um alívio poder ver Hunter fora da delegacia, sem as grades de ferro e com uma aparência mais limpa. Mas a situação ainda era tão delicada que Emily não tinha se livrado por completo daquele peso no seu peito. E era terrível assistir Timmons passando por tantas acusações injustamente.

A sacola com a comida foi deixada de lado para que Emily pudesse enlaçar Hunter com seus braços em um abraço demorado. Com os olhos fechados, ela se deliciou com o perfume familiar por um longo tempo até voltar a erguer as pálpebras, se inclinando para trás até encará-lo.

- Se não for causar ainda mais problemas para você, eu posso passar a noite aqui? A Claire está lá em casa. - Emy franziu o nariz em uma caretinha, mas quando Hunter se remexeu na cama, ela observou a careta de dor que ele tentou disfarçar. - Ainda está doendo?

Orgulhoso, Timmons até tentou diminuir a importância daquela dor para um mero incômodo, mas Emily não se deixou enganar. Com a familiaridade de quem já tinha estado naquele quarto outras vezes, ela se levantou e revirou algumas gavetas até encontrar o que precisava. Com um tubinho de pomada anti-inflamatória, Emy voltou a se acomodar na beirada do colchão e usou as pontas dos dedos para espalhar o remédio com uma massagem suave na área inchada e dolorida do joelho de Hunter.

- Eu ainda não acredito que tudo isso está acontecendo, Tim. Mas pelo menos agora você está em casa... E eu sinto muito ter envolvido o meu pai nessa história, mas você precisava sair de lá o quanto antes. Aquele não era o seu lugar, você não fez nada de errado. - Sentada na ponta da cama, com uma das pernas de Hunter apoiada sobre seus joelhos e massageando o joelho dele, Emily lançou um olhar carinhoso na direção do namorado. - É verdade? Sobre a MMU? Eu não acredito que teriam a coragem de te expulsar. Nós precisamos resolver essa situação com o Wooton o quanto antes, Tim! Pela Libby, e principalmente por você. Essa cidade inteira vai engolir os desaforos que andam dizendo quando descobrirem a verdade!
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Mensagem por Dexter Thompson Seg Abr 22, 2024 2:09 pm

Era preciso ser um movimento muito delicado, discreto e certeiro. Mesmo com toda a sua popularidade, cercado de privilégios e de uma vida confortável, Dexter ainda tinha nascido e crescido em uma cidade pequena, muito diferente do contexto de onde Leonard Wooton tinha surgido. E em poucos dias pisando em Colchester, o meio irmão de Liberty já tinha mostrado que era uma pessoa perigosa, muito além de qualquer coisa que Dex poderia imaginar. Afinal, se ele tinha coragem de dopar alguém do próprio sangue, uma menina que poderia ter morrido de overdose, era óbvio que o rapaz era alguém que não estava ali para brincadeiras.

Se Lenny era mesmo tão perigoso e Dexter tinha total convicção disso, a delicadeza daquele plano era essencial. Wooton precisava ser deixado no escuro enquanto Thompson agia na ponta mais sensível: contar para Liberty toda a verdade. E não seria nada fácil. Dex não podia simplesmente ter empurrado tal responsabilidade para as mãos de outra pessoa, ele sabia que era sua obrigação enfrentar aquele problema e contar para Libby.

Em poucos segundos, a principal vantagem que eles tinham de esconder de Wooton que sabiam da verdade simplesmente desmoronou por um descontrole de Dexter. Thompson não era um rapaz explosivo, mas a impulsividade assumiu o controle por ver Lenny tão perto de Liberty depois de tudo o que tinha acontecido. Seus instintos gritaram que ele precisava agir e proteger a namorada das garras daquele rapaz cruel e perigoso e foi impossível para a mente de Dexter pensar em qualquer outra coisa.

Não era para ter sido no meio de uma briga, muito menos acusando Leonard daquela maneira. Mas em nenhum momento Dexter achou que contar a verdade para Liberty seria tão arriscado porque a garota não acreditaria dele. Essa possibilidade sequer passou pelos seus pensamentos, e não era por excesso de confiança. Bloomfield era uma garota inteligente e muito racional, que se agarrava aos fatos. Ele só precisaria traçar a linha do tempo para que Libby enxergasse o óbvio.

O que realmente preocupava Dexter era o medo de partir o coração da namorada. Depois de ter sido rejeitada pelo pai e ter crescido sem uma família grande e unida, Dex detestava a ideia de tirar de Liberty aquele fragmento de luz e amor que ela acreditava estar recebendo com a chegada de Leonard. O que Dex não calculou era que a carência da namorada era tão grande que estava sendo capaz de cegá-la.

O quarterback tinha um físico invejável e um desempenho acima da média quando estava em campo. Então era surpreendente assistir Dexter tão ofegante depois daquele descontrole, com os punhos cerrados, pronto para um novo ataque. O semblante furioso de Thompson só se transformou quando Liberty pediu desculpas ao irmão durante aquela despedida. Os olhos castanhos estavam arregalados e Dex nem disfarçava a incredulidade no que tinha acabado de escutar.

- Perseguição??? PERSEGUIÇÃO??? Liberty, você está escutando as palavras que estão saindo da sua boca? Você nem conhece esse cara!

Um dos braços de Dexter foi erguido e ele apontou na direção da porta por onde Leonard tinha saído. Era verdade que Thompson e Bloomfield só se conheciam há alguns meses e aquele ainda era um relacionamento novo, mas isso ainda parecia uma eternidade comparada aos poucos dias que Wooton tinha gastado em Colchester para ganhar a confiança da menina.

- Eu não estou com perseguição nenhuma! Eu só estava mantendo os meus pés no chão para entender o que esse cara veio fazer aqui! Porque é sério que você não acha nadinha suspeito um irmão brotar no seu colo DO NADA? Aaaah, e claro, já um digno merecedor do prêmio de irmão do ano!

O receio de Liberty com a chegada de Lenny na MMU tinha durado poucas horas, porque bastou um passeio de carro e uma conversa para que ela já estivesse convencida de que ele estava ali querendo conhecê-la e recuperar o tempo perdido.

Dexter estava agitado, falava alto e gesticulava bastante, mas quando escutou a acusação sobre Debby, o queixo dele despencou e um silêncio se arrastou porque ele foi incapaz de articular qualquer palavra enquanto processava aquele baque.

- A Debby? Você está falando sério, Liberty? Qual é! Você é mais inteligente do que isso! Tá, eu admito, a Debby não tem sido a pessoa mais gentil e receptiva do mundo, mas é sério que você acha que uma garota ia te dopar só porque já dormiu comigo? E de onde ela tiraria essa droga??? Eu sei que você ainda é nova por aqui, mas NUNCA teve nenhum caso parecido em Colchester, muito menos envolvendo uma garota como a Debby! Você não acha pelo menos curioso que isso tenha acontecido logo depois que o Wooton chegou na cidade?

Mesmo com as batidas pesadas e aceleradas do coração, Dexter tentou respirar fundo e deu alguns passos na direção da namorada. As mãos dele puxaram os dedinhos de Libby e até a forma com que as íris castanhas dançavam pelo olhar dela refletia a agitação que explodia dentro de Dex. Apesar de sentir que estava atropelando as palavras, Dex fez uma pausa para conseguir soar mais firme e controlado.

- Pensa, Libby! Pensa! Faz o que você sabe fazer de melhor! Lembra do que aconteceu na festa, em tudo o que você ingeriu antes do que aconteceu! Você estava sozinha na varanda, com o Eric, lembra? Se tivesse sido algo na comida, por que só você foi afetada? E o que foi que você bebeu? O Eric falou que tinha um pó branco no suco que o Leonard te deu!

Se os sentimentos de Bloomfield não estivessem atrapalhando a sua percepção, ela não teria como negar que Lenny era, no mínimo, o principal suspeito. Mesmo que ainda fosse necessário ter mais provas, Libby não teria como fugir do fato de que só tinha bebido o suco que veio das mãos de Wooton. O problema era que a menina estava tão cega que ainda preferia confiar e defender o meio irmão com unhas e dentes.

- Eu admito, eu não sei as motivações dele para fazer isso com você, mas é a ÚNICA explicação! Como você pode confiar tão cegamente em um cara que você conhece há poucos dias? A Debby nem chegou perto de você naquela festa, então deixe essa insegurança ridícula de lado, eu preciso que você enxergue a verdade! Eu estou falando, foi o Leonard! E se ele é capaz de fazer isso contra você, nós precisamos tomar muito cuidado, Libby.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Seg Abr 22, 2024 4:15 pm

- Insegurança??? Você realmente disse isso, Dexter??? Insegurança???

Se não fosse por aquela palavra, talvez Liberty não tivesse reagido tão mal ao discurso de Dexter. Mesmo que não concordasse com a hipótese defendida pelo namorado, Libby estava disposta a enumerar os seus argumentos favoráveis ao meio-irmão e ter uma conversa mais compreensiva e paciente para evitar uma nova briga com Thompson. Mas ver Dexter defendendo Debby com tanta convicção e a acusando de se sentir insegura foi a faísca que fez a menina explodir.

Num gesto abrupto, Libby puxou suas mãos para trás, desfazendo o contato com os dedos do namorado. E as íris castanhas da garota brilhavam de fúria enquanto ela usava o indicador para cutucar o peito de Dexter.

- Você realmente acha que eu acusaria uma garota de algo tão grave só porque eu estou “insegura”??? Eu não me sinto insegura ou intimidada por ela, Dexter! Se eu fosse uma ciumenta louca e obsessiva eu não teria deixado você sozinho na piscina com aquela piranha se oferecendo pra você num biquíni ridiculamente minúsculo! Eu só trouxe o nome da Debby pra esta conversa porque eu consigo enxergar um motivo pra ela querer me ferrar! Ao contrário de você, que insiste em acusar o meu irmão sem NENHUM argumento lógico pra sustentar a sua ideia!

Era uma sorte que mais ninguém estivesse no piso superior da casa das Sinclair naquele momento porque, mesmo que Liberty não estivesse gritando, a vozinha irritada dela certamente atravessaria as paredes do quarto.

- É só isso que você tem contra o Lenny? A opinião de uma criança??? Eu não sei o que o Eric acha que viu, mas não tinha nada naquele suco! O Lenny simplesmente não tem nenhum motivo pra me fazer mal!

Se Bloomfield conseguisse enxergar todo o cenário com frieza e racionalidade, é óbvio que ela perceberia que Leonard Wooton era o principal suspeito por trás da overdose. A própria Libby conhecia a má reputação do rapaz, todas as confusões envolvendo o nome de Lenny em Seattle e a fama de ser um filho rebelde e problemático. Mesmo sem uma motivação clara, tudo apontava para ele. Mas a carência cegava Liberty por completo e Lenny tinha conseguido iludir e manipular a irmã com um discursinho bonito sobre família.

Era bizarro ver que uma pessoa com a inteligência tão acima da média não conseguia ligar dois pontos e chegar numa conclusão óbvia. Se Dexter tivesse iniciado aquela conversa com mais cuidado, talvez ele tivesse alguma chance de contornar as barreiras da namorada e convencê-la. Mas depois de ter visto Thompson atacando Leonard e cuspindo aquelas acusações sem nenhum pudor, Liberty estava muito mais inclinada a ficar contra Dexter naquela batalha.

- Sabe o que eu acho, Dexter? Eu acho que é VOCÊ que está inseguro nesta história.

Num primeiro momento, a acusação de Liberty soou tão sem sentido aos ouvidos de Dexter que o rapaz contraiu o rosto com aquela familiar expressão de cãozinho confuso. Mas a explicação de Libby logo deixaria as coisas mais claras para o rapaz.

- Você está muito mal acostumado a ser sempre o cara mais popular, mais bonitão e mais paparicado desse buraco de cidade! Todos acham que você é o máximo, não é? Todos os garotos querem a sua amizade, todas as garotas disputam um lugar na sua cama! Você teve até que fazer uma “lista” pra organizar as suas transas!

Aquele último comentário veio acompanhado de um risinho sarcástico que mostrava claramente que Liberty ainda não tinha superado e esquecido a história com a tal lista de garotas.

- É natural que você se sinta intimidado e inseguro com a chegada de um cara como o Lenny! Atraente, universitário do MIT, mais rico do que você, mais inteligente do que você… Eu também imagino que você deva estar super incomodado porque o Lenny não quis entrar pro seu fã clube. Mas vamos ser sinceros, né? Ele tem motivos de sobra pra não gostar de você e pra não ficar te paparicando como toooodos em Colchester fazem! Só que isso não é motivo pra você se voltar contra o meu irmão e começar a inventar acusações absurdas contra ele!

Aproveitando que Dexter parecia chocado e sem palavras, Liberty completou aquele desabafo com uma entonação mais emotiva que deixava ainda mais claro o quanto Lenny havia manipulado os sentimentos dela.

- E não, eu não acho estranho que ele só tenha aparecido na minha vida agora! Ele não sabia que eu existia, Dexter! O Lenny e eu não tivemos a chance de sermos irmãos! E eu nunca vou te perdoar se ele se afastar de mim agora por sua culpa!
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Mensagem por Hunter Timmons Seg Abr 22, 2024 4:17 pm

- São só mais alguns meses até a formatura, querido. Talvez, se ele for para um colégio público…

- Você não ouviu o que eu disse, Fiona??? Com as notas vergonhosas dele e com o histórico de faltas, as chances do seu filho conseguir se formar este ano são mínimas! O diretor foi bem franco comigo depois de expulsá-lo da MMU! É burrice insistir em uma batalha perdida! Não vamos matriculá-lo em colégio nenhum! Acabou!

- As chances são mínimas, mas não são nulas! Se o Huntie se esforçar e for mais disciplinado…

O discurso de Fiona Timmons foi bruscamente interrompido por uma gargalhada maldosa e escandalosa do marido. A ideia de ver o filho mais disciplinado e levando os estudos a sério era uma grande piada para Henry. Depois que o Sr. Timmons foi chamado na MMU para ser comunicado sobre a expulsão do filho, Henry agora encarava Hunter como um caso perdido. A ideia de uma faculdade já tinha sido descartada há tempos, mas agora o Sr. Timmons não acreditava sequer que Hunter poderia concluir os seus estudos no colégio e receber um diploma básico.

Era uma conversa muito complicada para quaisquer pais. Desistir do futuro de um filho, deixar de ter esperanças e assumir uma falha tão grave era um processo doloroso para toda a família. Mas Fiona e Henry certamente evitariam ainda mais estragos se tivessem uma conversa delicada como aquela no quarto. Ao invés disso, o assunto estava sendo discutido na mesa de jantar, com Hunter sentado diante deles, assistindo de perto as posturas derrotadas e decepcionadas dos pais.

- Henry! - como o marido ainda estava rindo, Fiona teve que repreendê-lo - Vamos levar isso mais a sério! Não podemos simplesmente desistir. O Huntie precisa de um diploma do colégio!

- Não. Ele não precisa. - as risadas chegaram ao fim e o Sr. Timmons exibia um semblante mais duro quando encarou o filho - Ele precisaria de um diploma se ele fosse uma pessoa comum, que tivesse que sair por aí de porta em porta entregando currículos e disputando vagas de emprego. Mas olha só que sorte, Hunter. Você já tem um emprego garantido. E eu aposto que você vai ganhar muuuuito mais que todos os seus coleguinhas que vão gastar fortunas numa universidade.

Ao mencionar o “emprego garantido”, Henry estendeu os braços num gesto teatral. E ele obviamente não estava se referindo à sala de jantar dos Timmons, mas sim ao enorme haras onde a casa da família ficava localizada. Mesmo na época em que Hunter sonhava com uma carreira profissional no basquete, Henry nunca deixou de insinuar que o filho deveria se interessar mais pelos negócios da família. Então agora que o rapaz tinha perdido o basquete, a chance de ir para uma universidade e até um diploma escolar básico, aquele tinha passado a ser o único caminho que o Sr. Timmons enxergava para o futuro do filho.

- Não. - mesmo sentindo o clima cada vez mais pesado, Hunter ainda tentou defender a sua opinião - Vocês sabem que eu nunca quis isso. Eu não gosto e nem tenho vocação para a área empresarial. E eu detesto cavalos.

Aquela última frase foi a gota d’água para Henry. Já era ruim que Hunter não quisesse trabalhar no haras, mas o pai do rapaz se sentiu pessoalmente ofendido ao ouvir o filho criticando os cavalos que ele tanto adorava. O soco que o homem acertou na mesa fez os pratos saírem do lugar e Fiona se sobressaltou com o vozeirão do marido ecoando pela sala de estar.

- Os cavalos que você odeia pagaram todas as suas contas até hoje, moleque! E eu acho que você não entendeu. Isso não é uma oferta ou um pedido. Eu estou te avisando que a partir de amanhã você vai trabalhar no haras! Se não vai mais estudar, está na hora de virar homem, assumir as suas responsabilidades e se sustentar! Eu não vou continuar bancando os gastos de um vagabundo que não estuda e nem trabalha!

- Eu não estou me recusando a trabalhar! Se vocês dois se interessassem um pouquinho mais pela minha vida vocês saberiam que eu já tenho outra carreira em mente! Eu estou fazendo um curso de fotografia! É um curso sério e é ótimo! Muitas pessoas já saem de lá com contratos, o melhor aluno ganha uma vaga no Royal College of Art do Reino Unido!

A fotografia tinha se tornado a nova paixão de Hunter. Não parecia ser só uma aventura passageira porque o rapaz vinha mesmo se dedicando e estava a cada dia mais empolgado com o curso. É óbvio que Timmons ainda teria que trilhar um longo caminho até se consolidar numa carreira profissional estável, mas ele tinha tudo para ter sucesso naquela área. Tudo o que Hunter precisava naquele momento era da compreensão e do apoio dos pais. Mas não foi isso que o rapaz recebeu naquele dia.

- Um curso de fotografia??? - Henry bufou com um ar impaciente e irônico - Estamos falando sobre um emprego de verdade, Hunter! Primeiro você achou que seria um grande atleta! Agora mudou de ideia e quer ser um artista! Já passou da hora de você acordar pra realidade e parar com essas ilusões infantis e idiotas!

- Você não pode escolher a minha profissão, pai! É a MINHA vida, a MINHA carreira, o MEU futuro!

- Sim, você tem razão. Eu não posso escolher por você. Mas eu posso parar de bancar as suas aventuras, garoto. E é isso que vou fazer. A partir de agora você não ganha mais mesada. Você não vai ganhar mais NADA! Eu vou te ensinar a ser um homem! Se quiser um teto sobre a sua cabeça, comida na mesa e dinheiro no bolso, vai ter que trabalhar no haras e ganhar um salário! Se quiser continuar morando na minha casa e comendo a minha comida, vai ter que seguir as minhas regras!

- Henry! - Fiona estava com os olhos arregalados para o marido - Ele ainda tem dezessete anos! Não podemos simplesmente chutá-lo para fora de casa!

- Podemos sim. Pela lei ele já é um criminoso que está sendo processado e será julgado como um adulto. Ahhh! - Henry pareceu ainda mais vitorioso ao se lembrar daquele detalhe - Antes que você faça alguma besteira, rapaz, lembre-se que agora um dos seus gastos é com um processo judicial. Eu não vou pagar merda nenhuma pra você e eu duvido que o salariozinho de um fotógrafo consiga arcar com os honorários de um bom advogado. Se você não quer voltar pra trás das grades, sugiro que aceite o emprego no haras.

***

A discussão durante o jantar fez com que Hunter perdesse totalmente o apetite e deixasse o prato quase intocado para trás. Impulsivo como de costume, a vontade de Timmons era explodir, não tolerar as imposições do pai, sair de casa e assumir o controle da própria vida. E Hunter teria mesmo feito isso se não fosse por um pequeno detalhe: seria impossível pagar um bom advogado sem a ajuda do Sr. Timmons. E depois daqueles dias infernais na delegacia, Hunter não podia correr o risco de voltar para trás das grades.

O sonho de uma carreira na fotografia não seria abandonado por completo. Hunter continuaria participando dos módulos online do curso e tentaria uma autorização para sair do estado pelo menos uma vez por mês para as aulas presenciais. Mas agora o rapaz seria obrigado a intercalar aquele sonho com o trabalho no haras. E só a ideia de ter que trabalhar com os negócios do pai já era o suficiente para que Hunter se sentisse imensamente frustrado e infeliz.

Jogado na cama com uma postura derrotada, Hunter não conseguiu se empolgar nem mesmo com a visita da namorada. E foi ainda pior ouvir de Emily o quanto tudo aquilo também estava sendo difícil para ela.

- Eu já fui expulso do colégio, ruivinha. - Hunter percebeu o choque da namorada no instante em que as mãozinhas de Emily interromperam a massagem no joelho dele - E o diretor teve uma conversa pesada com o meu pai. Então agora ele decidiu que eu sou um caso perdido e não preciso de um diploma pra trabalhar no haras…

De todas as pessoas do mundo, talvez Emily fosse quem melhor entendesse o quanto tudo aquilo era frustrante para o namorado. Mas antes que a menina sugerisse que Hunter impusesse a sua vontade e não aceitasse as imposições do pai, o rapaz abriu todo o jogo com ela.

- Rolou uma chantagem do tipo: se você não fizer o que eu quero, vou te chutar pra fora e parar de pagar os advogados. Então até que esse maldito processo se resolva, eu sou um refém desse haras. Eu não posso voltar pra cadeia, Emy. E eu também faço questão de devolver cada centavo que o seu pai gastou comigo.

Mesmo sem tanto apetite, Hunter puxou o saquinho da lanchonete e roubou algumas batatinhas. E foi depois de um suspiro pesado que Timmons finalizou o desabafo num tom ainda mais pessimista.

- Eu não me arrependo de ter feito isso. O meu futuro já era mesmo uma causa perdida. A Libby merecia muito mais um diploma do que eu e estou feliz em poder ajudá-la. Mas eu não tenho a ilusão de que o Wooton será responsabilizado. Não vamos conseguir provar que foi ele, então o meu foco agora é só conseguir amenizar a minha pena. Talvez eu consiga converter essa merda toda em trabalho voluntário, sei lá… - Hunter fez uma caretinha enquanto levava uma das mãos até a nuca da garota - Eu sinto muito por ter te arrastado pra isso, Emy. A minha fama nessa cidade imbecil nunca esteve tão ruim. Eu vou entender se você quiser se afastar de mim.
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Mensagem por Emily Sinclair Qua Abr 24, 2024 2:58 pm

- Hunter Timmons! Eu achei que toda essa história fosse uma mentira!

O olhar estreito e o rostinho irritado de Emily passava mesmo a impressão de que ela estava furiosa e pronta para dar uma bronca no namorado. Sem se afastar, Emy cravou seu olhar nas íris cor de avelã e balançou a cabeça dramaticamente enquanto fazia uma pausa antes de se explicar, deixando claro a encenação exagerada.

- Você está mesmo usando drogas? Porque é a única explicação para sair tanta asneira da sua boca!

Era inédito assistir Hunter tão abatido daquela maneira. Emily estava mais acostumada a lidar com as explosões, o pavio curto, com o namorado acertando algum soco em algum objeto, qualquer coisa que demonstrasse a intensidade dos seus sentimentos. A apatia, o ar de derrota e a maneira como Timmons estava se entregando era muito mais preocupante e difícil de lidar. Mas Sinclair só precisou deixar que o seu coração falasse quando se arrastou mais alguns centímetros na beirada do colchão até encostar a testa contra a de Hunter.

- O que eu preciso fazer para você entender que não vou a lugar algum? E quem se importa com o que esse projeto de fim de mundo intitulado de Colchester pensa? Eles não te conhecem como eu, Tim... Eu amo você, e eu vou continuar ao seu lado até o fim desse pesadelo. Então você vai precisar se esforçar muito mais se quiser me ver longe.

Com os braços ao redor de Hunter, Emily acariciou de leve a nuca dele, arranhando com as pontinhas das unhas. Os olhos dela estavam fechados e o perfume familiar atingiu seus sentidos, permitindo que seus músculos tensos relaxassem um pouco. Os movimentos de Emy foram delicados ao inclinar um pouco o rosto e procurar os lábios de Timmons para um beijinho carinhoso. Não havia urgência e nem o desejo desenfreado. Era uma carícia leve, que tentava trazer um pouco de alívio para aquele momento difícil do rapaz.

Sem quebrar aquele contato e ainda de olhos fechados, Emily segurou o pacote com a comida e o empurrou para a mesinha de cabeceira. Tinha sobrado apenas o tubo da pomada anti-inflamatória no cantinho do colchão, que acabou escorregando e caindo sobre o tapete quando Sinclair deslizou para cima do colo de Hunter, com o cuidado de ficar fora da área sensível do joelho. Naquela posição, com alguns centímetros de vantagem, Emy segurou o rosto dele e finalmente interrompeu o beijo para encará-lo.

- Nunca mais diga que o seu futuro ou que você é uma causa perdida, Hunter. Isso não é verdade. Se você não acredita em si mesmo, eu acredito. O seu gesto para proteger a Liberty foi muito nobre, mas não foi justo, muito menos com você. Ela pode querer mais esse diploma, mas isso não significa que você mereça passar por tudo isso. Você é um cara incrível, inteligente e genial, principalmente quando consegue ser capaz de enxergar e aceitar os seus talentos. Eu não teria me apaixonado perdidamente por você se fosse diferente, sabia? Então eu sei do que estou falando.

Diferente de Hunter, Emily era mesmo capaz de enxergar as inúmeras qualidades do rapaz. Timmons não era o aluno mais dedicado apenas por escolha, por ter se perdido em meio a uma dor tão profunda depois de ter perdido o basquete. E no instante em que se deu uma chance, ele foi capaz de encontrar uma nova paixão, um talento escondido e igualmente grandioso e genial através da fotografia. Enquanto Colchester e até mesmo os pais dele enxergavam apenas os problemas e a rebeldia, Emy tinha enxergado por trás daquele muro que era apenas sustentado para que Hunter se protegesse. E ela tinha se apaixonado por tudo o que tinha conhecido.

- Esqueça o dinheiro do meu pai, Tim. Você acha mesmo que eu estou preocupada com isso? Se faz tanta questão assim, então é só converter o valor da grana e me cobrir de presentes. Meu pai vai ficar feliz, eu também e pronto.

Emy abriu um sorrisinho leve e divertido ao fazer aquela piadinha na intenção de amenizar o clima, mas o carinho no seu olhar mostrava que ela ainda entendia a delicadeza do momento e da conversa. Com as mãos acariciando os cabelos escuros do namorado, o sorriso divertido se tornou mais doce, se refletindo nas íris castanhas.

- É até meio sexy ter um namorado com uma fama tão ruim, sabia? Mas seja qual for a sua versão, eu sempre vou amar você, Hunter Timmons. E eu sempre vou estar aqui, não importa o que as outras pessoas pensem ou digam.

Depois de mais um beijo carinhoso e demorado, Emily deslizou para o lado até conseguir se apertar ao lado de Hunter na cama. Com o rosto repousado no ombro dele e uma mão apoiada sobre o peito de Timmons, Emy ergueu um pouco o queixo apenas para conseguir encará-lo.

- Eu sei que não vai ser fácil, mas lembre-se de que a sua situação no haras é só temporária. Nós vamos sair dessa, Tim... Até lá, apenas tente manter a cabeça no lugar, está bem? Sei que é difícil para você, e quando você achar que vai perder o controle, segure a minha mão. Eu prometo que não vou te abandonar.
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Mensagem por Dexter Thompson Qua Abr 24, 2024 4:23 pm

Não era a primeira vez que uma palavra errada, uma expressão mal colocada e a forma de falar de Dexter transformava uma conversa em uma briga. Algumas das discussões mais acaloradas e de desentendimentos entre Thompson e Bloomfield tinham acontecido exatamente porque ele tinha se expressado mal ou que a interpretação de Liberty tinha seguido por uma direção completamente diferente do que ele tinha tentado falar.

Naquela tarde, entretanto, não houve nenhuma falha de entendimento por parte de Liberty. Dexter tinha mesmo dito, com todas as letras, que a única motivação para a namorada acusar Debby de um crime tão grave era por causa da insegurança que sentia. E isso não fugia muito do que Thompson realmente pensava. Porque se Liberty analisasse a situação com mais frieza, o motivo de Debby até existia, mas era fútil e pequeno demais comparado com a ordem dos acontecimentos e principalmente os fatos.

Uma única palavra foi capaz de mudar todo o foco daquela conversa, e mesmo assistindo Liberty ficando cada vez mais reativa, Dexter nem cogitou se desculpar. Era inacreditável que Bloomfield estivesse mesmo tão cega que ainda continuasse defendendo o irmão.

- Argumento lógico??? Quer argumento lógico maior do que ter sido apenas ele quem te serviu uma bebida durante toda a festa??? Não é possível que você não esteja mesmo enxergando isso, Libby!

Chamar a namorada pelo apelido era um sinal de que, apesar da irritação por causa daquela discussão, Dexter não estava chateado diretamente com ela. Era apenas frustrante não conseguir abrir a cabeça de Bloomfield e enfiar aquela verdade dentro da cabeça dela, mas a maior preocupação de Dex ainda era cuidar e proteger Libby de tudo o que tinha acontecendo e do risco que ela continuaria correndo se insistisse em conviver com Leonard Wooton.

O único momento que Dexter se mostrou incomodado foi escutar Liberty se referir a Eric como “uma criança”. Tecnicamente não havia nada de errado com aquelas palavras, porque o Thompson caçula era mesmo uma criança. Mas qualquer um em Colchester que conhecesse Eric de perto sabia que o garotinho era muito inteligente para a idade. E da forma que Bloomfield colocava, invalidando por completo o relato do garotinho, causou uma onda de irritação dentro dele.

- A opinião de uma criança que esteve do seu lado o tempo inteiro e viu o que aconteceu! Aliás, VOCÊ também viu! Só que você está tão cega por causa do seu “irmãozinho querido” que prefere negar o ÓBVIO!

Não seria com gritos que Dexter conseguiria convencer Liberty, mas depois de já ter tido seus ânimos alterados por causa da briga com Leonard, era impossível para ele frear suas emoções. E a cereja do bolo veio quando Bloomfield o acusou de ser inseguro, fazendo as comparações sobre como Wooton era superior a ele. Atraente, mais rico, mais inteligente. E Libby tocou mesmo em uma ferida sensível ao mencionar a capacidade intelectual do namorado.

Ao se sentir ofendido, Dexter não explodiu como Liberty. Pelo contrário, aquelas palavras tiveram o poder de fazê-lo se calar por um longo tempo enquanto sua boca se abria e seu olhar se prendia na namorada com um semblante incrédulo. Por fim, quando ele fechou a boca e apertou os lábios em um sorriso amargo, Dex desviou o olhar para a janela do quarto enquanto balançava a cabeça em um sinal de derrota.

- Claro, o meu problema com o seu irmãozinho é porque ele não está me bajulando. Porque é esse o meu problema, não é? - Dexter estava com o olhar mais duro quando as íris castanhas voltaram a encarar a namorada e ele apontou para o próprio peito. - Eu tenho essa necessidade absurda de ser o centro das atenções o tempo inteiro, de escutar todo mundo dizendo o quanto eu sou incrível, gostoso e maravilhoso. Mas você não sacou que eu faço isso para tentar compensar a minha inteligência desprivilegiada, Liberty? Afinal, TODO mundo é mais inteligente do que eu, até o “Lenny”, não é?

Dexter fez uma nova pausa para conseguir respirar fundo, e havia um pequeno tremor nas suas mãos quando ele levou os dedos para pressionar as pálpebras fechadas enquanto aproveitava aquele tempo para se recuperar. Thompson até conseguiu acalmar um pouco as batidas do seu coração e raciocinar o bastante para deixar o sarcasmo de lado, mas ele ainda estava com o semblante duro quando baixou a mão e prendeu seu olhar em Bloomfield.

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- Acorda, Liberty! Você é mais inteligente do que isso! Cadê o seu senso crítico? Use a sua cabeça, abre os olhos e deixe de ser tão ingênua para acreditar em tudo que o Wooton diz! Você está parecendo uma marionete nas mãos dele! - O peito de Dexter subia e descia com sua respiração pesada, e mesmo no meio daquela discussão e de tantas coisas pesadas sendo ditas, ele ainda reforçou qual era sua real preocupação. - Se ele é o super irmão, então por que se afastaria de você, só por causa de mim? O Tim já se ferrou para proteger você, e você está perocupada com o que o Wooton vai pensar? Pois quer saber, quem não aprova essa palhaçada sou eu! Eu não vou deixar você se afundar sozinha, caindo como um patinho tolo na armadilha desse cara! Se você não consegue enxergar o óbvio, eu vou ter que resolver isso sozinho! Nem que eu chute aquele filho da puta para fora de Colchester de uma vez por todas!
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Mensagem por Hunter Timmons Qua Abr 24, 2024 9:08 pm

A maior parte dos lucros no haras Timmons vinha da venda de cavalos e de embriões geneticamente selecionados. Os leilões aconteciam apenas duas vezes por ano e atraíam pessoas do país inteiro e até alguns estrangeiros. Mas isso não significava que não havia muito trabalho a ser feito nos meses de intervalo entre os leilões.

Henry Timmons tinha dezenas de funcionários que o ajudavam a cuidar dos animais. Veterinários, tratadores, adestradores, isso sem contar os empregados que cuidavam da limpeza e da estrutura do haras e os contadores que se responsabilizavam pela parte mais burocrática do negócio. Também não era raro que surgissem turistas interessados em passar o dia no local, fazer um passeio a cavalo ou tirar fotos com os filhotes.

Havia sempre muito movimento no local e muito trabalho a ser feito, então Hunter não fazia ideia de qual tarefa seria dada a ele. Mas, pela lógica, se Henry queria que o filho algum dia assumisse o lugar dele nos negócios, o mais óbvio era pensar que o emprego de Hunter seria no escritório. Era o tipo de trabalho chato e tedioso que não deixava o rapaz nem um pouco entusiasmado, mas ainda assim parecia melhor do que ir para os estábulos e lidar diretamente com os animais.

Como Hunter imaginava que iria passar o dia inteiro afundado numa cadeira, vendo tabelas de números e lidando com a papelada do haras, o rapaz escolheu roupas comuns para usar naquele primeiro dia. Para evitar ainda mais atritos com o pai, Hunter acordou bem cedo, tomou um banho e já estava pronto para trabalhar quando chegou à sala de jantar de mãos dadas com Emily Sinclair.

Ao contrário da família da garota, os Timmons não tinham motivos para reprovar aquele relacionamento. Emily era uma mocinha excelente, bonita, estudiosa e educada. As más línguas de Colchester até poderiam acusar a menina de ser um pouco fútil, mas aquele pequeno defeito chegava a ser ridículo quando comparado à péssima fama de Hunter. Como a grande maioria dos moradores daquela cidadezinha, Henry e Fiona também não entendiam o que Emily via num rapaz tão problemático quanto Hunter. Então, naquela manhã, os pais do rapaz a encararam com mais surpresa do que reprovação.

- Oh. Oi, querida... – Fiona foi a primeira a reagir depois do “bom dia” do casalzinho – Eu não sabia que você estava aqui. Junte-se a nós, vou pegar uma xícara para você tomar o seu café.

- Na verdade nós já estamos de saída, mãe. Eu vou dar uma carona pra Emily até o colégio e já estamos um pouco atrasados. – Hunter completou antes mesmo que o pai tivesse a chance de reclamar – Eu vou voltar a tempo para o trabalho, pai. Já estou pronto.

- Neste caso eu vou separar um lanchinho pra vocês comerem no caminho!

A Sra. Timmons se levantou da mesa e praticamente correu na direção da cozinha. E foi só depois de ser deixado sozinho com os dois jovens que Henry deslizou os olhos de cima a baixo pela imagem do filho e entortou os lábios num sorrisinho debochado.

- Está pronto...? Assim? Você pretende usar isso pra trabalhar no haras?

Não havia nada errado nas roupas escolhidas por Hunter. A calça jeans, embora fosse uma escolha mais casual, era nova e caía com perfeição no corpo do rapaz. Por cima de uma camiseta lisa, Hunter usava uma camisa xadrez de mangas compridas dobradas até os cotovelos. Os tênis também eram novos, num modelo mais esportivo, mas ainda assim uma escolha normal para um rapaz jovem.

Como Emily e Hunter pareceram igualmente confusos com a reprovação do Sr. Timmons, o homem rolou os olhos antes de explicar o motivo para o seu estranhamento.

- Você vai mesmo pisar nos estábulos usando tênis brancos e uma calça novinha? Então tá bom, você que sabe...

- Estábulos? Eu achei que iria te ajudar no escritório. Você sempre disse que queria que eu me interessasse mais pelos negócios.

- Exatamente. Eu quero que você se interesse e que valorize os negócios da família. Por isso você vai começar do primeiro degrau, Hunter. Vai ajudar a cuidar dos cavalos, a alimentá-los, dar banho, limpar as fezes. Se você for bonzinho, imagino que em breve será promovido e poderá ajudar no adestramento ou na inseminação. Quanto ao escritório... – o sorrisinho de Henry se tornou ainda mais irônico – É o último degrau da sua escalada. Você só vai pro escritório depois que passar por toooodo esse processo e mudar a sua opinião tão negativa sobre o haras e os nossos cavalos.

Era um castigo. O semblante de satisfação no rosto de Henry não escondia que o homem estava fazendo aquilo para punir o filho, tanto por causa do último escândalo quanto pelo comentário de Hunter sobre odiar os cavalos. Como Emily ainda estava de mãos dadas com o namorado, ela perceberia a fúria que Hunter tentava conter pela maneira mais firme como ele agarrou a mãozinha dela.

Em outras circunstâncias, Hunter teria explodido naquele exato momento. Não havia nada errado ou humilhante no trabalho de cuidar dos animais, mas o que deixava Timmons ofendido era ver que o pai estava fazendo aquilo apenas para provocá-lo, para testá-lo, para puni-lo. A vontade de Hunter era mandar Henry para o inferno e sair daquela casa de uma vez por todas. Mas com dezessete anos, sem um diploma, sem um emprego e tendo que arcar com os custos de um processo judicial, Hunter não tinha muita escolha senão aceitar as imposições do pai.

- Então eu nunca vou pro escritório. – apesar da entonação mais contida, o rapaz não conseguiu conter um certo tom de desafio – Porque muito antes de chegar no “último degrau” eu pretendo resolver todas as minhas pendências e dar o fora daqui. Isso é provisório, eu não vou ser refém desse haras pra sempre.

- Aaaah, é! Eu já estava quase me esquecendo de que agora o seu graaande sonho é ganhar a vida tirando fotos. – uma risada sarcástica ecoou pela sala de jantar – Eu já achava um futuro no basquete uma coisa ridícula, mas pelo menos você teria alguma chance de ser um atleta rico e bem sucedido. Como artista você vai morrer de fome, Hunter. E sabe qual é a primeira coisa que você vai perder quando o dinheiro acabar...? – sem nenhuma cerimônia, o dedo indicador de Henry apontou para Emily Sinclair – Ou você acha que uma garota como ela vai abrir mão de uma vida fácil e luxuosa? A sua namoradinha com certeza vai procurar um cara que consiga bancar uma vidinha de madame pra ela.

Assim como quase todos os moradores de Colchester, Henry Timmons também tinha uma certa fama que corria pelas línguas venenosas da cidade. Dono de um dos negócios mais lucrativos do estado, Henry era uma pessoa arrogante que colocava o dinheiro e os seus cavalos a frente de qualquer coisa. E aquele comentário indelicado e machista sobre Emily só reforçava ainda mais a soberba do Sr. Timmons.

- O senhor está errado sobre mim e está ainda mais errado sobre a Emily. Mas não vamos perder tempo discutindo isso. – apesar da entonação dura, Hunter manteve a calma principalmente porque não queria dar ao pai o gostinho da vitória de conseguir irritá-lo – Eu vou levá-la até o colégio e em alguns minutos estarei nos estábulos.

Como Fiona retornava para a sala de jantar com um embrulho nas mãos, Hunter apenas puxou o lanchinho preparado pela mãe e não rendeu mais aquela discussão. Não era do feitio de Hunter aceitar tão facilmente uma derrota, mas ele sabia que não tinha como fugir daquele destino. Enquanto não se livrasse do processo judicial e do risco de voltar para a cadeia, Timmons precisava cumprir as ordens e aceitar as imposições do pai.

***

Uma sombra cobriu o rosto de Hunter durante todo o trajeto do haras até o estacionamento da MMU. O humor abalado do rapaz até poderia ser resultado da discussão com o pai e do tipo de trabalho que Henry o obrigaria a fazer no haras. Mas a grande verdade é que existia outra razão para que Hunter se sentisse tão incomodado.

Era irritante e revoltante demais que ninguém acreditasse naquele relacionamento. Sempre que Hunter e Emily estavam juntos, alguém surgia com desconfianças ou com teorias sobre os motivos para aquela união. Chad, Pamela e até Dexter acusavam Timmons de só estar com Emily por vingança contra o ex-namorado da ruiva. Com Sinclair, por outro lado, as insinuações eram diferentes. Hilary e Claire diziam que Emily só estava com Hunter para chamar a atenção. As amigas de Emy insinuavam que aquilo era só uma aventura e uma atração passageira por um bad boy. E agora até o Sr. Timmons questionava os sentimentos da menina e dava a entender que Emily tinha algum tipo de interesse com aquele namoro.

Ninguém parecia acreditar na explicação mais fácil e mais óbvia: os dois se amavam de verdade e queriam ficar juntos. Mas ao mesmo tempo em que ficava furioso e irritado com todas aquelas desconfianças, Hunter também se sentia invadido por um desejo insano de mostrar que todos estavam errados e que o relacionamento com Sinclair sobreviveria a todos aqueles obstáculos.

- Acho melhor você descer aqui, ruivinha... – a picape parou numa das vagas mais aos fundos do estacionamento – Eu vou dar um tempo por aqui e, depois que soar a sirene, vou entrar rapidinho pra pegar o meu histórico na diretoria e esvaziar o meu armário.

Era muito constrangedor para Timmons retornar ao colégio depois de ter sido expulso. E como ele queria evitar ainda mais perguntas e comentários, seria mais fácil entrar na MMU depois que todos os alunos já estivessem dentro das salas. Antes de sair do carro, Emily se despediu do namorado com um beijo mais longo e Hunter prometeu que ligaria no fim do dia para contar como tinha sido o trabalho no haras.

Do estacionamento foi possível ouvir a sirene anunciando o início da primeira aula do dia. Hunter ainda esperou alguns minutos para entrar e foi um alívio encontrar os corredores vazios. A parada na diretoria foi breve e o rapaz também só precisou de poucos minutos para esvaziar o armário. E Timmons já estava novamente no estacionamento e prestes a sair da MMU sem ser visto por nenhum dos antigos colegas quando alguém gritou o nome dele.

Chegando atrasado, Kendall tinha acabado de sair do carro e agora andava na direção de Hunter, então Timmons não teve muito como fugir da situação. Ao ver a pasta com o histórico escolar nas mãos dele, Kendall bufou com irritação.

- É verdade, então? Te chutaram da MMU?

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- Pois é. O lance da festa da piscina pegou mal demais... – Hunter sacudiu a cabeça em negativa e tentou soar com naturalidade, como se aquilo não o abalasse tanto quanto deveria – Mas vamos ser sinceros, né, Ken? Eu iria reprovar mesmo. Essa expulsão só me ajudou a economizar tempo e energia.

- Foi só por causa do lance da festa?

- “Só...?” – Hunter fez uma caretinha de estranhamento – Foi uma merda bem grave, Ken. A novata quase morreu.

- É, eu sei. Não foi isso que eu quis dizer... – Kendall fez uma pausa, deslizou os olhos ao redor e só depois completou numa entonação mais baixa – Eu só estava me perguntando se o diretor também não tinha descoberto sobre a sua aventurazinha na quadra naquela noite...

Não era preciso que Kendall entrasse em detalhes para Hunter entender a que o rapaz estava se referindo, já que aquele incidente tinha se tornado uma fofoca poderosa pelos corredores do colégio. Mas ainda assim Timmons tentou se fazer de desentendido para colocar logo um fim naquele assunto delicado.

- Eu não sei o que foi que te disseram, Ken, mas não foi nada demais.

- Ah, fala sério, Tim! “Nada demais”? Você e uma líder de torcida transando como animais no meio da quadra do colégio!? E, por favor, né? Não se faça de inocente comigo. Vai mesmo tentar me convencer que o Capitão Otário pegou vocês dois no flagra por “acidente”? Se eu me lembro bem, toda essa merda rolou naquele dia em que você me pediu pra mandar o Clifford ir pra quadra às nove da noite.

- Shhh! Kendall!

Com os olhos arregalados, Hunter virou a cabeça de um lado para o outro no estacionamento, não enxergando mais ninguém no meio dos veículos estacionados. Timmons preferia não tocar mais naquele assunto, mas é claro que Kendall insistiu em saber mais detalhes sobre o plano do colega.

- Relaxa, cara, você pode confiar em mim, eu vou guardar o seu segredo. Eu odeio aquele otário tanto quanto você. E já que eu meio que fui indiretamente um cúmplice do seu plano, eu acho que tenho o direito de saber! Você planejou tudo, né?

- Não exatamente... – apesar da negativa, o risinho sacana de Hunter indicava que ele não pretendia mais fugir daquela confissão – No plano original, era pro babaca do Clifford flagrar só um beijo ou uns amassos. Mas eu perdi o controle da situação, cara. Você não imagina o quanto é fácil perder a cabeça com a Emily nos braços. Ela também se deixou levar e aí rolou a transa. Nem se eu tivesse calculado cada minuto teria sido uma sincronia tão perfeita. Aquele otário pisou na quadra no exato instante em que ela estava agarrada em mim, cavalgando e gemendo loucamente. Eu só tive o trabalho de pedir a ela pra dizer que me amava, só pra cravar ainda mais fundo a punhalada nas costas daquele traidor.

A risada maldosa de Kendall ecoou pelo estacionamento vazio enquanto ele tentava imaginar aquela cena. Sedento por mais detalhes daquela fofoca, o rapaz não deixou que Hunter fosse embora sem antes soterrá-lo de perguntas.

- Você é foda demais, Tim! De onde veio essa ideia, cara!? Eu já imaginava que esse seu lance com a Sinclair fosse uma vingança, mas você foi ainda mais filho da puta do que eu imaginava! Se vingar do Clifford e comer a Sinclair na mesma tacada!? Isso sim é uma jogada de mestre! A única coisa que me deixou surpreso foi a Sinclair cair na sua lábia. Achei que ela fosse mais esperta. Deve ter sido bem difícil fazê-la ceder, né?

- Que nada! Foi fácil pra caralho! No começo eu também achei que seria difícil enganá-la e bancar o bobão apaixonadinho, mas em poucos dias já tinha rolado uma conexão bizarra entre a gente, já estávamos trocando juras de amor e...

- Ela abriu as pernas pra você... – Kendall completou com um risinho malicioso – E você fodeu com ela. No sentido figurado e no literal também!

- Tá, eu admito que só me aproximei dela pra ferrar o Clifford. Ele tirou de mim o meu maior sonho, era justo devolver a punhalada e tirar dele algo igualmente valioso. Eu não queria só comer a Sinclair, eu queria ela caída aos meus pés, completamente apaixonada. Eu queria que ela ficasse tão louca por mim que nunca mais quisesse voltar pra um babaca perdedor como o Clifford. O problema foi que eu não imaginei que também acabaria me apaixonando por ela...

- Ah, para, né?

- É sério, cara. Foi logo no comecinho. Eu caí na mesma armadilha e me apaixonei de verdade por ela. No fim das contas, tudo isso foi a melhor coisa que já me aconteceu porque agora eu tenho a Emily...

Aquelas últimas frases mudavam completamente o tom do discurso de Timmons e revelavam os verdadeiros sentimentos dele pela namorada. Mas seria muito fácil cortar aquela última parte do discurso de uma gravação.

Sentado no banco do motorista e protegido pelos vidros escuros do carro, Chad Clifford segurava o celular bem próximo ao vidro. As vozes de Hunter e Kendall eram captadas com perfeição pelo aparelho, então Clifford tinha agora em suas mãos uma grande arma que derrubaria Hunter e que poderia dar a ele a vitória naquela guerrinha contra o ex-amigo.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Qua Abr 24, 2024 9:26 pm

Dos três filhos de Jeff Wooton, Liberty ironicamente era a que mais se parecia com o pai. Mesmo que a menina tivesse crescido longe dele, a genética havia falado mais alto. Enquanto JJ e Lenny herdaram os traços da mãe, com os cabelos num tom mais claro e os olhos esverdeados, a caçula nasceu com os mesmos cabelos escuros e olhos castanhos do pai. E aquelas semelhanças iam muito além da aparência física.

Assim como o pai biológico, Libby também era brilhante, tinha uma inteligência muito acima da média e uma aptidão surreal para o mundo da tecnologia. Mesmo sem nunca ter visto o pai trabalhando, Liberty acabou desenvolvendo um sistema de trabalho e habilidades muito parecidas com as de Jeff. O próprio Lenny comparou a concentração inabalável da meia-irmã com a maneira como o pai costumava se desconectar da realidade quando estava envolvido com algum projeto importante.

Das qualidades de Jeff Wooton, Libby havia herdado a inteligência, o raciocínio apurado, a disciplina e a determinação. O problema foi que alguns defeitos bem graves do pai pareciam ter vindo naquele mesmo pacotinho genético. Exatamente como o Sr. Wooton, Liberty era uma pessoa fechada, arredia e orgulhosa, que sempre tentava ser autossuficiente e que não costumava reagir bem ao ser contrariada.

Como os dois eram tão inteligentes, nem Liberty e nem Jeff gostavam de ouvir que estavam errados. Aliás, a maneira como o pai tratava Libby era um grande exemplo de como o Sr. Wooton costumava se esquivar dos seus erros e não assumir as suas falhas.

E foi algo semelhante a isso que aconteceu naquele dia. Ao invés de ouvir os argumentos de Dexter e tentar enxergar as coisas sob a ótica do namorado, Liberty simplesmente decidiu que ele estava errado. Porque, afinal, essa era a única maneira dela estar certa. E Libby queria desesperadamente estar certa sobre Leonard Wooton e sobre tudo o que o meio-irmão tinha dito e prometido a ela nos últimos dias.

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- Como é??? – o rostinho de Liberty mesclava ironia e incredulidade enquanto ela encarava o namorado – Como assim, você vai chutar o meu irmão pra fora de Colchester? Mas que merda é essa, Dexter? Que poder você acha que tem pra decidir quem pode entrar ou sair da cidade? Eu sei que todos aqui te acham o máximo, mas a sua crença na própria popularidade já está tomando ares megalomaníacos!

Não era a primeira vez que Dexter e Liberty discutiam de forma mais acalorada. Mas, diferente da briga provocada pela listinha dos rapazes, desta vez ninguém parecia arrependido ou disposto a ceder. Bloomfield não queria admitir que Dexter poderia estar certo sobre o caráter de Lenny ao mesmo tempo em que Thompson também não estava nem um pouco disposto a ceder, deixar aquele assunto de lado e erguer uma bandeira de paz.

Quando os dois discutiram por causa da lista, Libby preferiu se afastar, esfriar a cabeça e adiar a conversa para um momento em que os dois estivessem mais calmos. Foi uma atitude inteligente, que evitou uma crise maior entre o casalzinho ou até um término.

Desta vez, contudo, Liberty não seguiu pelo mesmo caminho da sensatez. Como era evidente que Dexter não iria ceder, a garota deixou que seus defeitos falassem mais alto e tomou uma atitude bem semelhante a de Jeff Wooton. Ao invés de enxergar os seus deslizes, aceitar que ela poderia estar errada e tentar corrigir os seus erros da melhor maneira, Libby se enfiou atrás de uma armadura e optou por fugir daquela situação.

- Eu não preciso da sua ajuda e muito menos da sua aprovação. Não preciso que você e nem ninguém cuide de mim! Eu sou inteligente o bastante para ter a minha própria opinião e para tomar as minhas decisões sozinha, Dexter. O fato de estarmos juntos não te dá o direito de interferir na minha vida desse jeito! Eu já fiz a minha escolha e, se você não consegue aceitar isso, eu só vejo uma solução para esse dilema. Entre você e a chance de ter uma família, eu não vou escolher ficar com você. – como era extremamente difícil finalizar aquele desabafo, Libby precisou de uma pequena pausa para reunir coragem de ir adiante – Então acabou. Eu estou decretando o fim deste namoro. E dessa vez não tem tempo e nem reconciliação. É a minha decisão final.

Por dentro, Liberty se sentia completamente despedaçada ao dizer cada uma daquelas palavras. Mesmo com tanto esforço para soar firme, era notável que a voz da garota tinha falhado em vários momentos durante aquele desabafo. O amor que Libby sentia por Dexter era verdadeiro, ela não tinha a menor dúvida de que era feliz nos braços dele e que Thompson lhe fazia bem.

Mas, ao mesmo tempo, o orgulho (e a carência) de Bloomfield não permitiam que a garota enxergasse a possibilidade de estar errada e nem que ela lidasse com a postura opositora do namorado. Se Dexter não estava disposto a concordar com ela em um assunto tão importante quanto a família de Libby, para a garota realmente não havia nenhuma maneira de contornar aquele obstáculo e continuar ao lado dele.

- É isso, você já pode ir embora. Se você e a Emy precisarem de ajuda pra inocentar o Tim, podem contar comigo. Desde que isso não inclua teorias absurdas contra o meu irmão, é claro. Mas esse é o único contato que eu quero ter com você a partir de agora, Dexter. Não somos mais amigos, muito menos namorados.
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Mensagem por Dexter Thompson Qui Abr 25, 2024 5:04 pm

A vida de Dexter sempre tinha sido estável, organizada e previsível. Não era da personalidade de Thompson ser tão metódico, mas ele obedecia o planejamento de treinos e dietas e sempre tinha sido muito disciplinado quando se tratava sobre esportes. Mas seria mentira dizer que era aquela vida mais certinha que tinha impedido que Dex se apaixonasse. Mesmo que não caísse na tentação do álcool como a maioria dos colegas, ele ainda frequentava a maioria das festinhas da MMU e sabia muito bem como administrar sua popularidade.

Não tinham sido poucas as garotas que tinham passado pelos seus braços. Dex nunca tinha iludido ou feito promessas a nenhuma delas, mas também seria mentira dizer que ele não gostava da atenção que recebia ou da facilidade em ter ao seu lado qualquer garota que desejasse. Era divertido, delicioso e o rapaz sabia aproveitar muito bem os momentos íntimos ao lado de uma bela moça.

Mas foi apenas quando Liberty Bloomfield chegou em Colchester que tudo mudou. Diferente de tudo o que ele estava acostumado, a novata tinha despertado inicialmente apenas a curiosidade e a admiração com sua personalidade e história de vida. Mas quanto mais tempo gastava ao lado de Libby, quanto mais a conhecia, mais Dexter se via envolvido por ela.

A mente ágil e brilhante de Liberty era provavelmente o ponto mais forte e que se destacava na sua personalidade, algo que qualquer um notava com facilidade. E Dexter ficava impressionado com a inteligência da namorada. Talvez fosse o seu jeitinho mais arredio e durão que impedia as pessoas de enxergarem outra característica que, para Dexter, era tão marcante e óbvio quanto seu alto QI: Libby era uma garota linda.

Bloomfield não precisava ter os cabelos loiros e esvoaçantes e nem usar as roupas curtas e decotadas de uma líder de torcida. Sem precisar fazer nenhum esforço para chamar atenção, Liberty era dona de uma beleza natural, delicada e que muitas garotas não eram capazes de ter, mesmo que se esforçassem muito. A pele clarinha e impecável, sem nenhuma falha, os traços delicados do seu rosto, o formato dos lábios ou a pontinha do nariz arrebitado. Dexter se perdia no delicioso perfume dos cabelos macios e adorava enfiar seus dedos entre os fios castanhos. E como qualquer adolescente, Thompson era incapaz de ignorar o efeito que Libby despertava no seu corpo quando dava mais atenção ao quadril arredondado e perfeito.

A inteligência, a história, a aparência. Tudo em Liberty tinham encantado Dexter desde o começo, conquistando o coração do quarterback mais cobiçado de toda Colchester. E a prova de como Thompson estava completamente apaixonado era como ele se deliciava pelo sorriso de Libby, pela sua voz, como ria sozinho ao se lembrar da forma como ela arqueava uma das sobrancelhas e apertava os lábios quando tentava frear algum comentário mais ácido.

O coração de Dexter estava completamente entregue a Libby. Por ela, Thompson tinha se esquecido da existência de qualquer outra garota, enxergava seus dias com mais ânimo e era perfeitamente capaz de construir um futuro nos seus pensamentos, com a certeza de que queria Liberty ao seu lado para sempre.

Por saber que aquele sentimento dentro dele era único, especial e que jamais sentiria nada igual por outra pessoa, Dexter queria que aquele relacionamento desse certo, mesmo com todas as diferenças que existiam entre ele e Bloomfield. Se fechasse os olhos, Thompson era até capaz de enxergar alguns anos a frente, ele e Libby juntos, com a menina usando um terninho e chegando de alguma grande empresa de tecnologia que ela trabalhava enquanto ele preparava um delicioso jantar, onde conversariam e passariam horas tagarelando sobre o dia e terminariam na cama, se amando da maneira apaixonada que já conheciam muito bem.

Não havia dúvidas sobre o que Dexter sentia e o que ele queria. Por causa daquele sentimento, ele sabia que precisava cuidar de Libby, protegê-la de coisas que a menina estava se recusando a enxergar e admitir. E como Dex não tinha dúvidas de que Leonard era uma ameaça, ele se sentia na obrigação de fazer tudo o que estivesse ao seu alcance, mesmo que isso significasse contrariar a namorada.

Que Dexter e Liberty eram tão diferentes, ninguém duvidava. Havia apostas de que aquele relacionamento não teria futuro, que Bloomfield só queria relaxar e se divertir nos braços de um atleta burro e bonitão. E claro, havia quem ainda não entendesse o que Thompson tinha visto em uma garota “comum” como Libby. Todos aqueles comentários vinham sendo ignorados por Dex, por causa do peso e da intensidade dos seus sentimentos. Então, para ele, escutar que Liberty colocaria Wooton em primeiro lugar, foi como um soco na boca do estômago.

Liberty nunca tinha conhecido o pai, era uma garota carente com um grande buraco na sua base familiar. Era óbvio que ela estava completamente cega e iludida por causa da influência de Leonard. Mas o que Dexter escutou naquele momento foi que ela simplesmente não se importava e não o amava tanto assim. Que se os sentimentos dos dois fossem colocado em uma balança, o coração de Thompson afundaria muito mais um dos lados, enquanto Bloomfield não tinha se entregue e nem se envolvido na mesma intensidade.

Toda a irritação de Dexter evaporou, a adrenalina desapareceu e o baque fez com que ele quase perdesse o equilíbrio enquanto encarava Liberty completamente mudo. Os olhos castanhos refletiam uma imensa decepção. E mesmo que existisse a voz da razão tentando lhe explicar que Libby só estava carente e iludida por causa do meio irmão, Dex não conseguiu ignorar ou impedir quando seu coração se partiu por completo.

- Entendi.

Dexter se surpreendeu ao sentir o nó na garganta tão intenso que fez a voz falhar. Sua tentativa de manter uma postura firme, com uma das mãos apoiada no quadril e o semblante mais duro, foi completamente comprometida por causa daquele deslize, então ele se obrigou a pigarrear e esperar mais alguns segundos até se sentir no controle outra vez.

Além de não priorizar Dexter, de não escutá-lo, de não dar nem mesmo o benefício da dúvida, era a forma com que Liberty conduzia aquele término que deixava tudo ainda pior. Era como se Bloomfield fosse a adulta, a única voz da razão, quem tinha o real direito de dizer o que poderia existir entre eles, enquanto Dex era o mero coadjuvante que precisava obedecer e ficar nas sombras porque não havia espaço suficiente para ele.

- Eu entendi que você está cega, que não quer aceitar o que está bem na sua frente porque está desesperada para ter um maldito irmão. Mas quer saber, Liberty? Você já tinha uma família. Você estava construindo uma família bem aqui, comigo, com os seus amigos! E você prefere abrir mão de alguém que realmente se importa com você só porque está desesperada pela aceitação de um Wooton!

Com o fim daquele relacionamento, Dexter não deveria mais se sentir responsável por Liberty. Ela estava fazendo a escolha dela, então Bloomfield também precisaria arcar com as consequências. Só que mesmo de coração partido, rejeitado e humilhado, Thompson ainda temia pelo bem-estar dela e do risco que Libby continuaria vivendo com Leonard por perto.

- Eu só espero que você consiga abrir os seus olhos antes que aquele desgraçado acabe com você. Mas quem sou eu, né? Você sabe muito bem se virar sozinha, então boa sorte para se levantar da lama depois que ele te esmagar como um inseto.

***

Dexter nunca tinha namorado antes de Liberty. Consequentemente, ele nunca tinha lidado com o término de um relacionamento antes. E Thompson não estava preparado para enfrentar tudo o que inundou seu peito depois de sair da casa das Sinclair, escutando o “decreto” da agora ex-namorada.

Thompson não era o aluno mais aplicado, mas depois do fim daquele namoro, se concentrar até mesmo nas tarefas mais simples tinha se tornado impossível. Bastava poucos minutos para que sua mente já começasse a vagar e o arrastasse novamente para o momento do término, das palavras e do olhar de Bloomfield.

A única maneira que Dexter conseguiu encontrar para lidar com a situação foi tentar empurrar para o fundo do peito qualquer sentimento que envolvesse Liberty, fosse positivo ou negativo. Só que esse esforço estava afetando seriamente o humor de Thompson. Mesmo com a notícia que rapidamente se espalhou sobre a separação de Dex e Libby, o semblante carrancudo do rapaz acabava afastando qualquer possibilidade de uma garota tentar se aproximar dele

A saudade era sufocante, mas ela ainda conseguia ser ofuscada pela decepção e mágoa que Dexter sentia sempre que se lembrava de como Liberty tinha lhe descartado com tanta facilidade. E para tentar não ser consumido por tais pensamentos, o rapaz se esforçou para se concentrar na única coisa que ainda importava: provar a inocência de Timmons.

Liberty tinha garantido que ajudaria os amigos em tal tarefa, mas mesmo com o fim daquele namoro, Dex enxergava que a inocência do amigo só poderia ser provada quando mostrassem quem era o verdadeiro culpado. O que significava mostrar quem Leonard Wooton realmente era. Mesmo que isso não significasse que ele e Liberty ficariam juntos outra vez, Dexter não podia simplesmente cruzar os braços e deixar que a garota que ele ainda amava fosse atacada por Wooton.

Depois de tocar a campainha, Dexter enfiou as mãos no bolso e sustentou aquele semblante carrancudo que agora o acompanhava todo o tempo. Um tempo um pouco mais longo do que o normal passou até que a imagem esbaforida de Emily surgisse do outro lado da porta. E a julgar pelo batom borrado e as roupas amarrotadas, era fácil deduzir o motivo da demora.

- Dex??? O que está fazendo aqui?

- Ahn. Porque combinamos?

Dexter ignorou o semblante perdido da amiga enquanto passava por ela para entrar na casa. Alguns dias já tinham se passado desde o fim do namoro, mas pisar naquele lugar era o mesmo que voltar no tempo e ser sugado pela intensidade de tristeza e dor como se Dex estivesse vivendo tudo outra vez.

- Você está adiantado. - Emily ainda puxou o celular para confirmar a hora enquanto fechava a porta. - Você não tinha treino de futebol agora?

Era um milagre que a MMU inteira ainda não estivesse falando sobre o afastamento do capitão e quarterback do time, mas os alunos ainda estavam concentrados demais nas fofocas envolvendo a expulsão de Timmons e o fim do namoro entre Dex e Libby. Além do mais, o treinador vinha dizendo para o restante dos jogadores que Dex estava apenas se recuperando de um resfriado e logo voltaria para a rotina, porque ele tinha esperanças de que Thompson mudasse de ideia sobre a sua saída.

- A Liberty esta aí? - Dexter ignorou a pergunta da ruiva enquanto lançava um olhar na direção das escadas, ao mesmo tempo em que Hunter descia os degraus.

- Não, ela disse que ia aproveitar que a MMU estaria vazia para fazer alguns testes no laboratório de robótica.

O combinado era que os quatro jovens se reunissem na casa de Emily enquanto a mãe da menina não estava e passariam a tarde de sábado discutindo as ideias que poderiam ajudar a inocentar Timmons. Como Libby era a única que ainda se recusava a admitir quem era o verdadeiro culpado, Dexter preferiu chegar algumas horas mais cedo para conversar com os amigos sobre estratégias que pudessem realmente ajudar.

Os três se reuniam na cozinha das Sinclair, ao redor da mesa redonda onde Hilary e as meninas costumavam tomar café da manhã. Enquanto Emily servia um suco para os rapazes, Dexter mantinha a postura mais séria enquanto olhava para os amigos.

- Eu ainda não acredito que a Libby está negando o óbvio. - Emy soou chateada enquanto se colocava de pé do outro lado da mesa.

- Não adianta mais discutir isso, Emy.

Sinclair não tinha aceitado muito bem a reação da prima e o fim do namoro de Libby e Dexter, principalmente por enxergar a ajuda da garota como essencial para desmascarar Leonard e ajudar Hunter. Mas Dex já se sentia exausto de voltar a tocar naquele assunto.

- Mas se nem a Libby estiver do nosso lado, como vamos provar a inocência do Tim? Ela foi a vítima, Dex! Se a Libby insistir em proteger o Wooton, ninguém vai nos dar ouvidos.

- Uma coisa de cada vez, Emy. O Wooton apareceu em Colchester como uma bomba, ninguém esperava por ele e é óbvio que o cara está em vantagem. Para começarmos, vamos precisar igualar nossas armas.

- E como você pretende fazer isso?

- Repetindo os mesmos passos dele. O Wooton, antes de vir para Colchester, revirou a vida da Liberty. Ele sabia quem ela era, onde estudava, com quem morava, as suas notas, conquistas... Tudo. Então o nosso principal dever de casa é fazer o mesmo. Nós precisamos conhecer o nosso inimigo. Eu duvido que essa tenha sido a primeira vez que o Wooton tenta dopar alguém.

- Tá, mas isso ainda não vai fazer a Libby acreditar na gente.

O som de passos obrigou os três a se calarem e eles viraram a cabeça ao mesmo tempo quando Liberty surgiu na porta da cozinha. O coração de Dexter deu um solavanco no peito quando seu olhar se encontrou com o da ex-namorada, mas logo aquele sentimento gostoso deu lugar a nova mágoa que agora o acompanhava.

- Oi Libby. - Emily forçou um sorriso para a prima. - O Dex acabou chegando um pouquinho mais cedo, a gente ia começar agora a nossa reunião.

- É. - Dexter concordou, mas logo desviou o olhar de Bloomfield para encarar Hunter e Emily. - Como eu estava dizendo, nós podemos começar olhando os vídeos e fotos do dia da festa. Todo mundo estava com o celular para todos os lados, talvez alguém tenha registrado alguma coisa.

A maneira com que Dexter rapidamente mudou o foco da conversa e evitou o nome de Leonard mostrava que ele não pretendia transformar aquela reunião em uma guerra com novas discussões. Mas o fato de estar reunido com os demais procurando pistas não significava que ele tinha mudado de ideia sobre Lenny.

- Você é a garota da tecnologia aqui, Libby... - Emy tentou trazer a prima mais para perto da conversa. - Alguma forma mais rápida de fazermos essa varredura?
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Mensagem por Emily Sinclair Qui Abr 25, 2024 6:47 pm

As mãos de Hunter não tinham pressa enquanto deslizavam pela cintura fina e exposta da namorada, mas seus dedos pressionavam a pele com desejo e intensidade enquanto as bocas continuavam unidas em um beijo apaixonado. Como Emily estava acomodada por cima do namorado, os cabelos ruivos caíam como uma cortina ao redor do seu rosto e ela precisava vez ou outra deslizar os dedos pelos fios vermelhos para que eles não atrapalhassem os toques e carícias.

Hilary certamente teria um surto se descobrisse que a filha tinha trazido Timmons novamente para dentro daquela casa, e Emily talvez nunca mais pisasse na calçada se a mãe flagrasse aquela cena mais quente. Mas Emy não podia simplesmente ignorar o milagre que era ter aquela casa só para si por algumas horas. Com Hunter precisando seguir a carga horária de trabalho do haras e sem mais frequentar a MMU, os dois não tinham mais tanto tempo e oportunidade para ficarem juntos como antes.

Os dois ainda se falavam todos os dias pelo telefone e Timmons surpreendia a namorada vez ou outra na saída das aulas. No final de semana, Emy estava sempre pendurada no pescoço de Hunter, enfiada na cama do rapaz ou no banco da picape. E como sempre acontecia quando os dois tinham alguns minutos de privacidade, bastavam alguns toques para que os beijos se tornassem mais quentes e cheios de desejo.

Emily e Hunter ainda estavam tentando se adaptar com a nova rotina, a ignorar os comentários e olhares sempre que andavam pelas ruas de Colchester ou que iam fazer algum lanche no Pat's. E Sinclair não tinha desistido de tentar provar a inocência do namorado, além de estar sempre persente para escutá-lo desabafar sobre o trabalho, o desânimo daquela fase e tudo o que ele vinha sentindo com a pressão do pai ou as preocupações com o futuro.

Naquela tarde, Hunter tinha chegado um pouco mais cedo do horário combinado com os amigos. E os dois já tinham passado um tempo longo conversando e trocando confidências até terem se rendido aos toques apaixonados. Aquela dinâmica só mostrava como os comentários e as opiniões das outras pessoas eram divergentes do que realmente acontecia entre os dois, porque Emy e Hunter pareciam ter o relacionamento perfeito e ideal, onde podiam conversar, rir, desabafar, confiar um no outro e ainda ter uma química impossível de ser ignorada.

Usando apenas a saia e o sutiã, Emily deslizou por cima do namorado enquanto descia uma trilha de beijos pelo peito também exposto de Hunter. E já familiarizado com aqueles gestos, Timmons se acomodou melhor sobre o colchão enquanto a namorada abria o botão e o zíper da calça dele. Um sorrisinho travesso brincou nos lábios de Sinclair e ela trocou um rápido olhar com ele antes de iniciar aquela carícia mais íntima, mas Hunter mal tinha começado a se deliciar quando o som da campainha interrompeu os dois.

Hilary não tocaria a campainha da própria casa e a mãe só tinha previsão de retornar da boutique no final do dia. Liberty também tinha as chaves, então era pouco provável que fosse a prima chegando. Mas independente de quem fosse, Emily e Hunter demonstraram a mesma frustração quando foram obrigados a interromper o momento e se vestirem.

- Eu prometo continuar isso depois. Só tente não assassinar ninguém. - Depois de enfiar a camisa sobre a cabeça, Emily se inclinou para depositar um beijo sobre os lábios de Hunter, e apesar do sorrisinho divertido, seu olhar brilhava com tanto carinho. - Não faça esse biquinho, depois tem muuuito mais. E depois. E depois... Eu já disse, você não vai se livrar de mim tão fácil assim, Tim.

***

Emily e Hunter não queriam ter sido interrompidos por Dexter em um momento de intimidade, mas mesmo com aquela frustração, não foi difícil para ela mergulhar de cabeça na reunião agendada entre os amigos para aquele dia. Por mais que Timmons não tivesse esperanças de se inocentar e estivesse torcendo apenas por uma redução da pena, Emily e Dexter não tinham desistido.

Para Thompson, além de precisar ajudar o amigo, ele tinha urgência em abrir os olhos de Liberty e se livrar do perigo que era ter Leonard Wooton por perto. E Emy também sabia que precisava proteger a prima, mas ao menos naquele momento, Libby parecia muito mais segura do que Hunter. Enquanto Wooton estava há quilômetros de distância, Hunter estava lidando com um processo, com a pressão do pai e com um trabalho que ele odiava. Tudo injustamente. Emily queria desesperadamente que o namorado tivesse novamente a sua liberdade, o seu nome limpo e a sua reputação (ao menos o pouco que ainda restava) recuperada.

Não era fácil precisar administrar os estudos, os treinos da torcida, os preparativos para os eventos de Halloween, a perseguição de Hilary e ainda precisar bancar a detetive em busca de provas para inocentar o namorado. Para piorar, o encontro daquela tarde não tinha tanto um ar leve ou a cara de um momento de lazer. Mesmo rodeada de amigos, o clima entre Libby e Dexter conseguia tornar tudo ao redor mais delicado.

As discussões continuaram durante toda a tarde e já estava anoitecendo quando Emily pediu uma pizza para todos dividirem. Era como pisar em ovos estar no mesmo ambiente que Libby e evitar falar no nome de Leonardo Wooton, e a verdade era que Emy se sentia frustrada e até um pouco irritada com a prima por causa daquela situação. Sinclair precisava que Bloomfield se empenhasse de verdade e ajudasse com a teoria mais óbvia, porque a ajuda dela seria essencial para desmascarar Lenny e inocentar Hunter. Mas a ruiva vinha tentando domar aqueles sentimentos para que eles não perdessem a pouca contribuição que Bloomfield ainda estava disposta a dar.

- Eu acho que depois do que rolou, uma festa de aniversário está fora de cogitação, né? - Emy resmungou depois que eles fizeram uma pausa para se servir com a pizza, e como Hunter pareceu um pouco perdido, ela se explicou com um dar de ombros. - Aniversário da Libby! Está chegando, né? Talvez a gente pudesse sair para acampar... Eu estou organizando um drive-in no estacionamento do clube com filmes de terror para a noite de Halloween, mas se todo mundo animar, eu posso tentar planejar alguma coisa.

Dexter já tinha escutado de Lenny que o aniversário de Liberty estava chegando, e era óbvio que a prima dela também saberia sobre aquela data. Mas com o clima pesado que tinha ficado entre eles, era óbvio que Thompson não pretendia se envolver em nenhuma comemoração.

- O que exatamente você está planejando para o Halloween? - Dex ignorou propositalmente a menção do aniversário da ex-namorada. - Garotas Malvadas não se encaixa como filme de terror, você sabe, né?

- Não seja ridículo, Dex. - Emily rolou os olhos, mas respondeu com bom humor. - Todo mundo sabe que Garotas Malvadas é um filme de profunda inspiração.

Emy tinha acabado de empurrar um guardanapo para cima do prato vazio quando a campainha tocou. Uma ruguinha surgiu entre as suas sobrancelhas e ela consultou a hora. Apesar de já estar escuro lá fora, Hilary ainda levaria um tempo para fechar a boutique e passar no mercado, então foi só por ter certeza que não era a mãe que a garota se afastou dos amigos para ir atender a porta.

- Chad?

De maneira inconsciente, Emily rapidamente olhou por cima do ombro, temendo que Hunter estivesse por perto logo que reconheceu Clifford. O ex-namorado estava parado com as mãos enfiadas nos bolsos e uma postura tensa e receosa quando ergueu o rosto para encará-la, e ainda foi hesitando que ele abriu a boca.

- Ahn. Oi Emy. Eu posso falar com você um instante?

Tudo o que Chad Clifford mais tinha desejado nas últimas semanas era poder desmascarar Hunter para Sinclair. Mas o rapaz já estava em posse da gravação onde Timmons admitia todos os seus erros há dias, se questionando se realmente deveria fazer aquilo. Uma parte de Chad queria fazer o ex-amigo sofrer e perder tudo. Só que depois de ter escutado todas as coisas pesadas que Hunter tinha dito para Kendall, Clifford sabia que Emily sofreria. E tinha sido o sofrimento dela que tinha feito com que ele refletisse e adiasse por mais alguns dias até tomar aquela decisão.

O que motivou Chad a ir até o final daquela história era a certeza de que Emily merecia saber a verdade. Mas Clifford não foi tão nobre assim ao editar os segundos finais da gravação. Mesmo que se preocupasse com Emy, agora era a vez de Chad querer que a ex-namorada nunca mais desse uma chance a Timmons outra vez. Ele se vingaria de Hunter, mostraria para todo mundo quem ele realmente era, mas não podia deixar nenhuma brecha para que Sinclair o perdoasse.

- Não é um bom momento, Chad. - Emy cruzou os braços, claramente tensa em ter Hunter e Chad tão próximos. - O Tim está aqui, o Dex também...

Depois que Clifford tinha se arrastado tantas vezes atrás dela atrás de uma nova chance, era mais óbvio concluir que ele estava ali para uma nova conversa e tentativa de fazer a garota mudar de ideia. Mas o olhar que Chad lançou por cima do ombro de Emily mostrava o quanto ele se sentia magoado por, mais uma vez, ser excluído daquele grupo que já tinha pertencido no passado.

- É importante, Emy. Por favor.

- Chad? O que houve? O que você está fazendo aqui?

A voz de Dexter fez Emily fechar os olhos sem nem mesmo precisar se virar, porque ela podia sentir que Hunter estava junto do melhor amigo. E foi ainda com a postura tensa que Sinclair deu um passo para o lado, abrindo mais a porta enquanto se virava para Dexter, Liberty e Hunter.

- Eu preciso falar com a Emily. A sós.

- Nem fodendo.

Uma crise já tinha se instalado entre Hunter e Chad quando os dois se encontraram na festinha na casa dos Thompson. Mas a tensão parecia ainda pior sob o teto das Sinclair, como se fosse uma briga de território. A última coisa que Emily queria era assistir uma nova explosão de Timmons ou precisar mais uma vez mediar uma briga dos dois.

- Eu juro que é importante, Emy. - Clifford ignorou o olhar mortal de Timmons e estava assombrosamente sério quando encarou a ex-namorada. - Você precisa ver o que eu tenho para te mostrar. Eu não teria vindo até aqui se não fosse tão importante assim, eu juro.

Diferente de outras vezes, Chad não tinha uma postura desafiadora. Pelo contrário, ele parecia um pouco torturado, mas igualmente decidido a seguir com seu plano. O instinto de Emy já dizia que ela precisava dar uma chance, mas ao mesmo tempo ela não estava disposta a comprar uma briga com o namorado

- Como eu disse, esse não é o melhor momento, Chad... Mas se é tão importante assim, você pode falar na frente deles. Eu não tenho nada para esconder do meu namorado.

A mão de Chad tremia quando ele esfregou o rosto, em um gesto frustrado. Aquela era a carta da sua grande vitória, que colocaria um fim no duelo e o tornaria vencedor da briga contra o perigoso Hunter Timmons. Mas não era só por medo de acabar apanhando de Hunter que ele não queria transformar aquilo em um pequeno circo. Chad também queria tentar proteger ou minimizar o impacto que causaria em Emily com o que estava prestes a revelar. Só que Sinclair não estava disposta a dar o braço a torcer, e isso só mostrava o quanto ela estava cega e afetada pelo “efeito Timmons”.

- Está bem. Se você realmente quer assim. - Chad respirou fundo e pousou seu olhar na ruiva. - Eu sempre te disse que não acreditava nesse interesse súbito do Timmons por você, não é? Ele nunca falou de você, nunca sequer olhou para você até nós dois brigarmos. Eu tinha CERTEZA que isso tudo era um plano dele para me atingir, Emily.

- Ai não, de novo isso? - Emily soltou um suspiro cansado. - É sério, Chad! Já chega! Eu não quero mais escutar você falando essas mentiras sobre o Tim, nem se metendo no meu namoro ou...

- Eu tenho como provar. - Chad engoliu em seco diante do silêncio que caiu sobre a sala, e se aproveitando daquele baque que impediu uma reação, de Hunter, ele sacou o celular do bolso. - Aqui está a prova, Emy. Eu estava certo o tempo todo, o Timmons não está nem aí para você! Ele só fez tudo isso para me atingir, para te tirar de mim e me fazer pagar por ter assumido a vaga de capitão do time de basquete.

- Do que você está falando? - Emy não pareceu chocada, apenas confusa diante do celular estendido.

- É isso aqui que o seu “namorado perfeito e apaixonado” anda falando sobre você por aí.

Com o vídeo aparecendo na tela do celular, Chad deu o play antes de empurrar o aparelho para as mãos de Emily. A imagem era ruim, tremida e um pouco embaçada atrás do cantinho do vidro do carro. Vez ou outra a câmera pegava o perfil de Hunter ou de Kendall enquanto os dois rapazes conversavam, mas Dexter, Liberty e Hunter não precisavam do vídeo para o que realmente importava. E o áudio estava muito mais limpo e claro, ecoando por toda a sala das Sinclair.

- Eu cheguei atrasado para a aula de química na segunda-feira. Estava saindo do carro quando deixei a minha carteira cair no assoalho. Eu me abaixei para pegar e quando estava prestes a descer, comecei a escutar a conversa dos dois.

Chad explicou a origem do vídeo tremido e desfocado enquanto Emily tentava desvendar aquelas imagens. Mas quando a conversa entre os dois rapazes começou a fluir, ela não precisou tentar interpretar nada, porque tudo começou a ficar óbvio e cristalino.

Emily já tinha perguntado com todas as letras se o namorado tinha armado aquele flagra na quadra de basquete, mas Hunter tinha reagido com tamanha ofensa que a menina se sentiu culpada e arrependida por ter tocado no assunto. E quando a conversa entre os dois começou exatamente sobre aquele momento, Emy já tinha todos os motivos do mundo para estar furiosa e decepcionada com Timmons.

Uma ruguinha se formou entre as sobrancelhas ruivas e Emy fechou o semblante ao escutar a maneira que Hunter falava sobre o plano, sobre como tinha marcado o horário exato para que Clifford aparecesse e flagrasse a ex-namorada em seus braços. As lembranças voltaram como uma enxurrada e Emy reviveu cada instante daquela noite, com Timmons a puxando para um beijo intenso, a maneira insistente que ele conduziu e pediu para que ela realizasse aquela “fantasia”.

Naquela noite, Emily tinha se sentido sexy, atraente e empolgada ao ceder para aquela pequena aventura. Mas agora a menina se sentia usada e com raiva ao notar que só tinha sido manipulada, desde o primeiro toque até a declaração de amor que Hunter tinha pedido que ela entoasse. Enquanto Emy suspirava e sorria apaixonada, Timmons só tinha pensado na sua vingança, a expondo de uma maneira imunda e cruel.

Só de ter planejado aquele flagra, Hunter já tinha cavado a própria cova. E escutar o rapaz falando dela com aquelas palavras vulgares para Kendall só fez Emy se sentir ainda mais vulgar e usada. “Cavalgando”, “Gemendo”, “Aquele otário”, “Cravar mais fundo a punhalada”. Nada daquela noite tinha sido sobre ela e Hunter, mas sobre uma vingança nojenta.

Com a respiração pesada, Emily era incapaz de desviar o olhar das imagens borradas, atenta a cada uma das falas que ecoava. E quando Hunter tentou intervir, foi Dexter que o impediu, ao mesmo tempo que Emy recuava um passo apenas para garantir que o namorado não iria lhe interromper.

Sabendo que o pior ainda estava por vir, Chad prendeu seu olhar em Emily e estudou a reação da menina, mas como nunca tinha sido seu objetivo machucar a ex-namorada, o rapaz acabou deslizando as íris claras para o chão, deixando que o vídeo terminasse de falar por si só.

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E se Emily achou que o flagra tinha sido o único erro do namorado, seu mundo terminou de desmoronar quando Timmons admitiu que tudo aquilo tinha sido um plano desde o início. Hunter não tinha se envolvido com ela, se apaixonado e aproveitado aquele relacionamento para afetar Clifford. Desde o primeiro instante, tudo o que os dois tinham vivido tinha sido uma mentira, com o único objetivo de se vingar de Chad.

A raiva que Emily sentia se dissipou e se transformou apenas em humilhação, vergonha e decepção. Sinclair nunca tinha se sentido tão burra, usada e descartável como naquele momento. Seu estômago estava embrulhado e ela temia que fosse acabar vomitando a qualquer momento, mas quando o vídeo chegou ao fim, antes que Timmons fizesse a declaração de que tinha caído na própria armadilha e também se apaixonado, as mãos de Emy tremiam e ela respirava com dificuldade até ter coragem de erguer a cabeça e procurar por Hunter.

A mão que Dexter usava para impedir que o amigo avançasse na sua direção não teria força nenhuma para impedir o rapaz, mas o golpe de Chad tinha sido certeiro e travado Hunter ao expor toda a verdade daquela maneira incontestável. E talvez, o olhar partido de Emy tivesse sido o golpe final que impediu Timmons de reagir com sua típica explosão.

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- Foi tudo um plano. - Emily sentiu um esforço sobrenatural para conseguir entoar poucas palavras, e esse esforço se refletiu na respiração ainda mais ofegante. - Todo mundo estava certo esse tempo todo. Foi tudo um plano, você planejou... Meu Deus!

Apesar dos lábios de Emily terem se curvado em um sorriso, não havia humor ou felicidade naquele gesto. E a forma com que as íris castanhas brilhavam com uma fina camada de lágrimas só provava como ela estava tão profundamente magoada quando ergueu as duas mãos e cobriu a boca, precisando de alguns segundos para processar aquela rasteira.

- Uma vingança por causa de basquete? - Emily virou o rosto para encarar Hunter e Chad. - É isso que eu sou para vocês dois??? Uma droga de uma vingança por causa de um esporte idiota???

- Eu não fiz nada, Emily! Sou tão vítima aqui nessa história quanto você!

- Aaaah, é??? Então você também foi “fácil para caralho” e “abriu as pernas” porque acreditou nessa farsa de bobão apaixonado???

O objetivo de Hunter sempre tinha sido atingir Chad, roubando a garota por quem ele ainda era apaixonado. Mas se fossem colocar na balança as vítimas daquele plano, era óbvio que Sinclair tinha sido muito mais afetada.

- O basquete era mesmo tão importante assim para você, né? - Emily voltou a encarar Hunter, e não havia nem sombra do carinho, da paixão ou do afeto de antes, porque era como se ela o enxergasse pela primeira vez e não o conhecesse mais. - E por isso você queria algo do “mesmo nível” para atingir o Chad. É muito bom saber que além de fácil, eu também fui rebaixada a um jogo idiota de basquete! É esse o valor que eu tenho!

- Emy, se você quiser, eu posso...

- FORA! - Emily ignorou Dexter quando empurrou o celular contra o peito de Chad e marchou até a porta, escancarando-a. E para não deixar dúvidas de que estava falando com Hunter, a garota cravou o olhar nele enquanto apontava para a varanda. - Eu não sei que tipo de cara perturbado você é, Timmons, mas você já conseguiu a sua vingança, já fodeu com todo mundo, então some daqui! Eu já não tenho mais utilidade para você, então ao menos me dê um pingo de dignidade e decência para não precisar mais olhar na sua cara!
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Mensagem por Hunter Timmons Qui Abr 25, 2024 9:34 pm

Hunter Timmons tinha total consciência de que ele não merecia estar com uma garota como Emily Sinclair. Além de ser um rapaz problemático e com vários traumas do passado atormentando o seu presente, Hunter tinha graves falhas de caráter. Vingativo, manipulador e um tanto egocêntrico, Timmons costumava agir como uma avalanche que arrastava tudo e todos no seu caminho. Diferente de Chad Clifford, Hunter não era uma pessoa nobre e bondosa, que se importava com os outros e se esforçava para não magoar ninguém. Só que o que Timmons fez com Emily Sinclair ultrapassava todas as barreiras da falta de caráter.

A principal razão para Hunter não merecer uma garota como Sinclair era o fato daquele relacionamento ter começado pelos motivos errados, com mentiras graves e uma manipulação doentia dos sentimentos da menina. Diferente do que Emily imaginava, o amor entre os dois não havia brotado por acaso. Timmons tinha manipulado a situação e mexido com várias peças daquele jogo para conseguir fazer com que a ex-namorada de Clifford se derretesse por ele.

Independente da sinceridade do amor que ele sentia por Emily agora, Hunter não podia negar que ele tinha manipulado a garota e que no começo daquele relacionamento a maior motivação dele era um plano de vingança contra Chad. Mas aquela era uma culpa que Timmons não pretendia dividir com ninguém, muito menos com a namorada. Sinclair simplesmente não precisava saber a verdade, não fazia sentido que Hunter a magoasse e manchasse a história dos dois com aquela revelação podre. Eles se amavam de verdade, estavam felizes juntos e era isso o que mais importava agora.

Uma grande mancha sujava o início daquele relacionamento e é claro que Hunter se sentia culpado. Mas Timmons agora estava disposto a equilibrar as coisas e se esforçar ao máximo para ser o namorado que Sinclair merecia. Não havia nenhuma maneira de mudar o passado, mas Hunter podia compensar os seus erros no presente e no futuro. E era isso que o rapaz vinha fazendo nas últimas semanas.

Nenhum morador de Colchester parecia enxergar a sinceridade dos sentimentos de Timmons porque era mesmo difícil acreditar naquela grande mudança. Ninguém nunca imaginou que o bad boy mais problemático da cidade algum dia seria um namorado tão atencioso, carinhoso e fiel como ele vinha sendo com Emily. A relação até poderia ter começado de uma mentira, mas agora era inegável que Hunter estava se esforçando de verdade para que Sinclair fosse feliz ao seu lado. Timmons queria corrigir os erros do passado, ele queria merecer uma garota como Emily. E provavelmente Sinclair nunca descobriria a verdade e as coisas teriam continuado a dar certo entre o casalzinho se não fosse pela interferência de Chad Clifford.

Logo que ouviu a sua própria voz vinda do celular de Clifford, Hunter já sabia como aquela cena terminaria. E certamente foi o choque e o desespero que o deixaram completamente sem reação. A sensação de Timmons era que ele tinha passado dias e dias construindo um enorme castelo de areia, e agora Chad era um vendaval que conseguiria arruinar todo o seu precioso trabalho em poucos minutos.

Simplesmente não havia nada que Hunter pudesse dizer para se defender. Afinal era verdade que Emily só havia entrado na vida dele por causa de um plano de vingança, que o principal objetivo de Timmons era provocar Chad e roubar a ex-namorada do amigo. E também não havia nada que Hunter pudesse fazer para amenizar o impacto das palavras grosseiras e vulgares que ele tinha usado naquela conversa com Kendall.

Era para ser só uma conversa idiota entre rapazes imaturos, o tipo de coisa que eles falavam quando estavam numa festinha ou no vestiário depois de um jogo. A intenção de Hunter não era ferir ou ofender ninguém, muito menos a namorada por quem ele estava perdidamente apaixonado. Mas foi só depois de ouvir a própria voz e de ver a expressão infeliz e decepcionada no rostinho de Emily que o rapaz se deu conta do quanto tudo aquilo soava machista e desrespeitoso.

A maior prova do quanto Hunter havia mudado e de que agora Emily era a sua maior prioridade veio quando ele não explodiu. Se o foco dele ainda estivesse na vingança contra Chad, aquele seria o momento em que Timmons avançaria contra Clifford e tentaria equilibrar novamente aquela batalha com seus punhos. Mas, contrariando todas as expectativas, Hunter sequer olhou na direção do outro rapaz e estava totalmente concentrado em Emily quando ergueu as mãos e deu um passo na direção da menina.

- Calma, Emy! Vamos conversar com calma! Não foi assim que as coisas aconteceram! Você tem que me dar uma chance de me explicar e de dar a minha versão dos fatos!

- Nós acabamos de ouvir a sua versão, Timmons... – Clifford sacudiu o próprio celular, se referindo à versão da história que Hunter compartilhara com Kendall – Desta vez não sou eu que estou dizendo. Foi VOCÊ que confessou que tudo não passou de um plano de vingança.

Mesmo com aquela nova alfinetada de Chad, Hunter continuou ignorando o rapaz porque naquele momento a maior prioridade dele era tirar aquela dor de dentro do coração de Emily. Timmons não podia mudar o passado e nem engolir as palavras vulgares que ele dissera, mas Sinclair precisava ao menos acreditar na parte mais importante de toda aquela história.

Como era evidente que Emily não aceitaria nenhum toque dele naquele momento, Timmons só ergueu a mão para segurar a maçaneta e fechar a porta que a garota havia aberto para expulsá-lo da casa das Sinclair.

- Não foi um plano de vingança. Quer dizer, beeem no começo talvez tenha sido, mas deixou de ser quando eu me apaixonei por você! – as íris cor de avelã deslizavam pelo rostinho de Emily de forma desesperada – Eu me apaixonei de verdade, Emily. Eu nunca menti em nenhuma das vezes que eu disse que te amo ou o quanto você é especial pra mim! Você não pode estar mesmo acreditando que tudo o que vivemos juntos foi uma mentira, ruivinha! Por que eu ainda estaria com você se fosse só uma vingança???

No começo daquela noite, o clima estava pesado por causa do rompimento e da briga de Dexter e Liberty. Mas era impressionante como o jogo havia se invertido e agora era o casalzinho apaixonado que protagonizava uma crise ainda maior. A situação de Emily e Hunter estava tão tensa e delicada que até Libby e Dex pareciam ter se unido para tentar amenizar um pouco o estrago daquela tragédia.

- Por que você não vai embora, Tim? – Liberty estava visivelmente angustiada com a fragilidade da prima quando se aproximou e envolveu os ombros de Emily com seus braços – Acho que não é um bom momento para uma conversa. A Emy não está bem.

- Eu não vou embora enquanto ela não me ouvir e não acreditar em mim! Emily, por favor! Por favor, ruivinha! Eu mereço uma chance de me explicar depois de tudo o que passamos juntos!

- Você vai mesmo dar mais uma chance pra esse cara te enrolar, Emily? – Chad mais uma vez interferiu naquela conversa – Acho que já ficou bem claro o quanto ele é bom de lábia e manipulador. Você vai mesmo deixar que ele te engane novamente com meia dúzia de palavras bonitinhas?

Como se só agora tivesse notado que Chad continuava na casa das Sinclair, Hunter estreitou o olhar e se virou na direção do ex-namorado de Emily. Mesmo se sentindo um pouco intimidado por aquela expressão nada amigável, Clifford ergueu o queixo e sustentou o olhar de Hunter.

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- Cadê o resto?

Como as palavras de Timmons não fizeram muito sentido para nenhuma das pessoas ali presentes, o rapaz fechou ainda mais o semblante e ergueu a voz num tom mais irritado enquanto se explicava.

- Cadê a PORRA do resto do vídeo, Clifford??? Você vai mesmo dizer que parou de gravar justamente na hora em que eu disse pro Kendall que me apaixonei de verdade pela Emy? Que ela foi a MELHOR coisa que já me aconteceu???

- Acabou, Timmons. Você perdeu, seu grande filho da puta. Eu disse que ia provar que estava certo e que você não vale nada, e aqui está a prova! Você já pode parar de atuar porque esse papel de “bobão apaixonado” não cola mais!

Por ter se focado inicialmente em Emily, Hunter conseguiu ignorar o ódio que ele sentia por Chad. Mas agora aquele sentimento brotou com uma força ainda mais avassaladora. Por conhecer tão bem o melhor amigo, Dexter já parecia estar esperando por uma explosão. Mas nem mesmo isso fez com que Thompson conseguisse conter o furacão Timmons.

Dexter até tentou se colocar na frente de Chad para tentar separar a briga quando viu Hunter avançando na direção do outro rapaz, mas tudo o que Thompson conseguiu foi ficar bem no meio daquela explosão. Liberty deixou escapar um gritinho desesperado quando um dos socos acabou atingindo o nariz de Dexter e fez o rapaz cambalear para o lado, abrindo espaço para que os punhos de Hunter chegassem até Chad.

Não existia uma diferença física tão relevante entre os dois rapazes. Hunter e Chad eram altos, os dois tinham um físico de atleta e os braços musculosos. Mas foram os pequenos detalhes que fizeram com que aquela briga fosse completamente desproporcional. Além de Timmons estar mais habituado a se meter em brigas e confusões, a fúria e a adrenalina dele eram surreais naquela noite. Clifford até tentou se defender e revidar os golpes, mas um potente soco na boca praticamente nocauteou o rapaz e deu toda a vantagem para Hunter.

Ignorando os gritos desesperados das meninas e os braços de Dexter que tentavam puxá-lo para longe de Chad, Hunter se aproveitou que o rapaz estava tonto e cuspindo uma quantidade absurda de sangue no tapete clarinho de Hilary para jogá-lo no chão e afundar os joelhos no peito dele. E, para quem assistia a sequência de socos que Timmons acertava no rosto já desfigurado do ex-amigo, era difícil saber se Clifford sairia vivo daquela pancadaria.

Foi com muito esforço (e levando vários golpes) que Dexter conseguiu finalmente puxar Hunter para trás. Com o rosto inchado e cuspindo uma mistura de sangue com dentes quebrados, Chad continuou caído no chão da sala. Como Emily não tinha a menor condição de assumir as rédeas daquela situação, foi Liberty que se adiantou alguns passos e puxou para si aquela responsabilidade.

- JÁ CHEGA!!! MAS QUE MERDA! PAREM COM ISSO! VOCÊ VAI SAIR DESTA CASA AGORA, HUNTER! – antes que o rapaz pudesse se negar a obedecê-la, Libby foi ainda mais direta nos seus argumentos – A polícia só está querendo mais um motivozinho pra te enfiar atrás das grades de novo, então é melhor você dar o fora antes que eu mesma chame o xerife! Quanto a você... – Liberty fez uma caretinha ao olhar para Chad caído no chão – Talvez seja melhor você levá-lo pra casa, Dexter. Ou para o hospital. Vão embora, todos vocês! Eu vou ficar aqui e cuidar da Emily...
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Mensagem por Liberty Bloomfield Qui Abr 25, 2024 10:35 pm

Ao se despedir da irmã em Colchester, Leonard Wooton alegou que precisava voltar ao MIT porque não poderia perder mais aulas. Só que aquela foi só mais uma das tantas mentiras que Liberty ouviu da boca do meio-irmão. Ao invés de retornar para as suas obrigações da faculdade, Lenny agora estava do outro lado do país, bem distante de Massachusetts.

A sede da Microsoft em Seattle era condizente com a grandiosidade da empresa. Ao invés de um simples prédio comercial, existia um enorme campus que abrigava todos os setores da empresa, desde os departamentos de produção até as divisões de pesquisa e também a parte empresarial e o marketing daquela marca tão importante.

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O escritório de Jeff Wooton ficava no último andar da construção mais aos fundos do conglomerado. Leonard já estivera ali várias vezes e era o filho do CEO da empresa, mas nem isso evitou que o rapaz passasse quase duas horas afundado num sofá da sala de espera até receber autorização para entrar na sala do Sr. Wooton.

- Você sabe que eu não recebo visitas sem horário marcado, Leonard. O que você aprontou agora?

Foi com aquela abordagem seca que Lenny foi recebido pelo pai naquela tarde. Não houve um cumprimento, um abraço ou um comentário sobre como Jeff estava com saudades do filho que agora morava do outro lado do país. Como de costume, o Sr. Wooton estava frustrado por ter que modificar a sua agenda de última hora para encaixar aquela visitinha surpresa do caçula.

Sentado numa cadeira diante do pai, o filho mais velho de Jeff teve uma postura diferente com a chegada do irmão. Com um sorriso mais gentil, Jeffrey Junior indicou a cadeira ao seu lado num convite mudo para que Leonard se sentasse. O primogênito dos Wooton não era um grande gênio como o pai, mas JJ estava prestes a conseguir um diploma da Caltech e era um rapaz disciplinado, então o pai havia aberto para ele as portas para um estágio na Microsoft e agora ele acompanhava de perto o trabalho do Sr. Wooton.

- Ignore o mau humor dele, Lenny. Você sabe como o papai fica irritado com mudanças no cronograma. Mas não se preocupe, não tem nada tão importante agendado para hoje. Que tal almoçarmos juntos?

- Bom, neste caso eu diria que acabou de surgir algo muito importante na sua agenda hoje, pai. Eu quero te mostrar uma coisa...

Normalmente as visitas inesperadas de Leonard vinham acompanhadas por problemas. O caçula sempre queria mais dinheiro ou precisava de ajuda depois de se meter em alguma briga ou confusão. Naquela tarde, porém, Jeff e JJ ficaram visivelmente surpresos quando viram Leonard puxar um laptop moderno para fora da mochila e colocá-lo sobre a mesa do pai. A tela do computador exibia o layout de um programa e Lenny abriu um sorrisinho convencido enquanto se explicava.

- Ainda não finalizei o projeto e tenho que corrigir alguns bugs. Mas eu não consegui segurar a ansiedade e tinha que mostrar pra vocês. Quero saber o que vocês acham!

Como Jeff Wooton não moveu nem um único músculo, foi JJ que tomou a iniciativa de puxar o laptop do irmão para mais perto. Mesmo sem grandes explicações por parte de Leonard, o filho mais velho dos Wooton só precisou acionar alguns comandos na tela para entender do que se tratava o novo programa em fase de desenvolvimento. Já existiam ferramentas semelhantes no mercado, mas o que mais impressionava naquele projeto era a rapidez das conversões e o fato de interagir com diferentes plataformas e incluir praticamente todos os formatos de mídia existentes.

- É um conversor de formato de mídias... – JJ fez uma pequena pausa antes de abrir um sorriso e completar numa entonação mais empolgada enquanto olhava do pai para o irmão – O mais completo e mais rápido que eu já vi! Caramba! Ele converte vídeos e fotos diretamente das redes sociais, sem necessidade de download!

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- E também permite edições da mídia original. – Lenny ainda ostentava um arzinho presunçoso ao apontar a tela – Com essa ferramenta aqui do lado é possível mesclar, dar zoom ou unir dois arquivos simultaneamente.

- Você precisa ver isso, pai! – sem esconder a animação, JJ empurrou o laptop até deixar a tela virada na direção de Jeff Wooton.

Com um terno elegante feito sob medida, uma gravata perfeitamente alinhada, os cabelos castanhos milimetricamente penteados com uma camada de gel e usando um par de óculos com lentes redondas, Jeff realmente se parecia com um empresário importante. Mas não foi como o CEO de uma grande empresa que Wooton agiu naquele momento. Muito menos como um pai orgulhoso. Ele era um gênio da tecnologia em ação ao puxar o computador para avaliar mais de perto o projeto trazido por Leonard.

Uma grande ansiedade brotou no semblante de Lenny enquanto ele assistia o pai analisando o projeto. Acostumado a receber apenas broncas e críticas, o caçula dos Wooton estava ansioso para receber pela primeira vez a admiração do pai. E Lenny não tinha dúvidas de que aquele novo programa seria promissor até mesmo aos olhos de um gênio como Jeff. Afinal tinha sido de uma mente tão genial quanto a dele que surgiu aquele projeto.

Lenny esperava do pai uma reação tão empolgada como a de JJ. E o Sr. Wooton realmente pareceu surpreso e admirado ao testar o programa. Como Jeff habitualmente fazia quando se interessava por algum projeto, o homem se desligou da realidade por um bom tempo. Longos minutos já tinham se passado quando Wooton ergueu os olhos castanhos e encarou o filho mais novo por trás das lentes dos óculos.

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- Impressionante... – a cabeça de Jeff balançou e ele moveu os lábios num discreto sorriso ao fazer aqueles elogios – Muito bom mesmo.

O peito de Lenny se estufou numa postura orgulhosa e soberba. E o rapaz ainda estava se deliciando com aquela inédita aprovação do pai quando Jeff Wooton despejou um balde de água gelada sobre a cabeça dele.

- Quem é o responsável?

- Como assim...? – sentado diante do pai, Lenny se remexeu de maneira desconfortável na cadeira – Eu sou o responsável. A ideia foi minha e eu fiz toda a programação, pai.

- Não, não foi você.

- É CLARO QUE FUI EU!

A postura irritada e defensiva de Leonard só deixou ainda mais claro para o Sr. Wooton que o rapaz estava mentindo. Com uma calma anormal para uma situação tão delicada, Jeff puxou a tela do laptop até fechá-la e usou as pontas dos dedos para empurrar o computador de volta para o filho caçula.

- Não, não foi você. – Jeff repetiu calmamente e fez uma pequena pausa antes de ser ainda mais direto com o filho – Eu te conheço há quase vinte anos, Leonard. Eu sei que você não tem criatividade, inteligência e muito menos disciplina pra criar algo assim. De quem você pegou esse projeto? Comprou de algum colega do MIT?

- O PROJETO É MEU! – o soco sobre a mesa só reforçou ainda mais o descontrole do rapaz – VOCÊ É INCAPAZ DE RECONHECER AS MINHAS QUALIDADES E ME DAR O MÉRITO QUE EU MEREÇO! EU ESTOU FARTO DESSE SEU AR DE SUPERIORIDADE! EU SEI QUE VOCÊ NÃO É TÃO PERFEITO COMO GOSTA DE FINGIR, SR. WOOTON! EU CONHEÇO OS SEUS PODRES!

A explosão de Leonard fez JJ arregalar os olhos. E o semblante perdido do primogênito deixava bem claro que ele não fazia ideia do que o caçula estava falando. Jeff, por outro lado, realinhou os ombros e pareceu um tanto intimidado com as insinuações do filho. Afinal Jeff tinha mesmo um grande podre que arruinaria completamente a postura centrada e responsável que ele sustentava diante do resto do mundo.

- Do que você está falando, Leonard?

A única coisa que Lenny precisava fazer era abrir a boca e jogar o nome de Liberty Bloomfield como uma cartada certeira que faria o pai ficar completamente encurralado. E o nome da meia-irmã chegou a fazer a língua de Leonard coçar com o desejo de derrotar o pai. Mas, no último segundo, o rapaz se conteve. Lenny podia não ter a mente brilhante de Jeff e Libby, mas ele era um rapaz esperto e manipulador. Ele sabia que seria suspeito mencionar a irmã logo depois de aparecer com aquele projeto. Se Lenny queria mesmo continuar sustentando a mentira sobre ser a mente por trás do novo programa, o mais sensato era não mencionar a existência de Liberty.

- Vamos nos acalmar, ok? – JJ aproveitou o silêncio pesado da sala para agir como um apaziguador – Se o projeto é seu, Lenny, meus parabéns. É mesmo brilhante! Você deveria finalizar logo e registrar uma patente o mais rápido possível.

- Ele veio pedir ajuda porque não consegue finalizar sozinho, não é, Leonard? – Jeff soou ainda mais irônico naquela alfinetada – É estranho que você tenha construído algo tãããão impressionante, com um código tão complexo, e agora não consiga resolver bugs tão bobos...

- Eu estou passando por uma fase péssima na faculdade... – como era difícil demais enganar Jeff, Lenny se virou para o irmão e tentou se concentrar apenas em JJ – As provas se acumularam e eu confesso que perdi muito tempo com esse projeto, preciso correr atrás do prejuízo se não quiser perder o ano. Então eu pensei em deixar essa parte do projeto com você, JJ. Você finaliza o programa, corrige os bugs e faz os ajustes finais do layout. Se você me ajudar, eu divido os créditos com você e podemos registrar a patente juntos.

Era uma proposta absurdamente generosa. Jeffrey Junior teria um trabalho muito menor para fazer aqueles últimos ajustes e era estranho que Lenny estivesse disposto a dividir os créditos igualmente com o irmão depois de (teoricamente) ter feito tanto esforço para desenvolver aquele programa. Mas a grande verdade é que, além de não ter tido nenhum trabalho com aquele projeto, Lenny não sabia o que fazer para finalizá-lo. O Sr. Wooton não estava errado ao dizer que o caçula não tinha inteligência para algo tão brilhante.

- Oi...? Sério? Você está mesmo disposto a incluir o meu nome no projeto?

- Sim. Se você terminar o trabalho, vamos dividir todos os lucros meio a meio, JJ. Se preferir podemos até fazer um acordo formal, um contrato, sei lá... Você topa?

Diferente de Leonard, JJ não tinha nada de rebelde. Pelo contrário, o primogênito talvez fosse até muito submisso ao pai, tanto que JJ buscou pelo olhar do Sr. Wooton antes de tomar uma decisão. Ainda com um ar de descrença, Jeff deu de ombros e não quis se envolver naquela história. Até porque ele conseguia sentir de longe o cheiro de mais uma encrenca do caçula.

- A escolha é sua, Junior. Eu só te digo uma coisa: essa ideia não veio do Leonard.

- Você não vai me meter nas suas confusões, não é, Lenny?

- Eu já disse que não tem confusão nenhuma, JJ! – Leonard entornou os lábios num sorriso ao notar que o irmão estava prestes a ceder – Junte-se a mim, vamos finalizar esse projeto juntos e calar a boca do papai. Ele nunca mais vai poder insinuar que nós dois não somos tão geniais quanto ele! E só porque você não acreditou em mim, pai, não vai rolar nenhuma oferta especial pra Microsoft. Se não quiser que a gente venda a ideia pra Apple, você vai ter que esvaziar os seus bolsos, meu velho!

***

Sem jamais imaginar que o seu maior projeto tinha sido a principal pauta de uma discussão dos Wooton naquele dia, Liberty agora estava totalmente concentrada em sua nova vida em Colchester. Além dos estudos e do cronograma rígido de atividades que a menina se obrigava a seguir, agora Libby também vinha arrumando tempo na sua agenda para ajudar os amigos a provarem a inocência de Hunter.

Além de saber que Timmons era inocente, Bloomfield também queria descobrir a verdade porque era a única maneira de afastar da sua mente os fantasmas que Dexter tinha conseguido empurrar para dentro dela. Liberty jamais admitiria isso, mas o seu subconsciente tinha absorvido as palavras e as teorias do ex-namorado. E agora era como se Libby quisesse provar para si mesma que Leonard era inocente e que ela podia confiar nos sentimentos e em todas as promessas do irmão.

O que Liberty não imaginava era que a reuniãozinha daquela noite seria interrompida por um capítulo muito importante da novela Chad-Emily-Hunter. Bloomfield seria eternamente grata a Timmons pelo sacrifício que o amigo fizera para salvá-la de uma expulsão no colégio, mas isso não mudava o fato de que Hunter havia cometido um erro MUITO grave contra Emily. E é claro que Libby não pensou duas vezes antes de se colocar ao lado da prima no meio daquela guerra.

A garganta de Liberty ainda estava seca e dolorida depois de tanta gritaria e de passar as últimas horas no quarto de Emily, tentando consolar a prima. Já era madrugada quando Sinclair acabou sendo dominada pela exaustão e caiu num sono agitado. Sem fazer barulho, Liberty passou rapidamente pela cozinha apenas para preparar um chazinho de cramberry e a bebida estava na caneca que ela segurava quando entrou no próprio quarto.

A sombra de uma silhueta masculina perto da janela fez Libby se sobressaltar, mas a garota só precisou de dois segundos para reconhecer o ex-namorado. A única luz aceso no quarto vinha da lâmpada do abajur, mas Libby manteve as demais luzes apagadas para não chamar a atenção da tia caso Hilary passasse pelo corredor.

E quando a primeira pergunta de Dexter foi sobre Emily, Bloomfield percebeu que Thompson não estava ali para falar sobre os dois ou para tentar uma reconciliação. A maior preocupação dele era com o estado da amiga depois de toda aquela cena lamentável.

- O que você acha? Ela está péssima. Se engasgou com os soluços até cair no sono. Eu só não mato o Timmons com as minhas próprias mãos porque eu devo muito a ele! – exausta, Libby usou a mão livre para coçar os olhos enquanto se sentava na pontinha da cama – E o Chad? Ele vai prestar queixa? Eu consegui enganar a tia Hils dizendo que o sangue no tapete foi um frasco de catchup que tombou enquanto a gente comia pizza. Mas ela vai saber que eu menti se o Chad abrir o bico pra polícia...

Era difícil para Liberty equilibrar todas as emoções que ela sentia naquele dia. Além do seu próprio drama com o ex-namorado, agora ela precisava lidar também com os problemas dos amigos. Como prima e amiga de Emily, Libby queria que Hunter pagasse muito caro por tudo o que fizera e pelo sofrimento da menina. Mas como uma amiga que tinha sido salva por um gesto nobre de Timmons, Bloomfield não conseguia desejar que o rapaz voltasse para a cadeia.

- Eu sei que foi um dia longo, mas posso te mostrar uma coisa antes de você ir? Parte de mim quer que o Tim apodreça no inferno, mas eu ainda acho injusto que ele pague por um crime que não cometeu, então não vou abandonar o nosso projeto de inocentá-lo. E achei um vídeo da festa que é no mínimo suspeito...

Depois que Dexter concordou em ver o tal vídeo, Libby repetiu o ritual de plugar o cabo de energia do notebook na tomada e esperar o aparelho ligar. Como era um laptop antigo e o silêncio já estava se tornando constrangedor, Liberty explicou enquanto eles esperavam o notebook iniciar por completo.

- Pode não ser nada, mas talvez seja uma pista. E depois do que rolou com o Hunter você tem que admitir que o Kendall não é lá uma pessoa muito confiável ou admirável. Um story que a Pamela postou sobre a festa mostra o Kendall ao fundo. E eu tive a impressão de que ele estava enfiando algo estranho na boca, talvez um comprimido. É, isso não prova nada, eu sei. Mas pode ser uma dica de quem levou drogas pra dentro da sua casa...

O vídeo postado por Pamela já tinha desaparecido na barra de atualizações do Instagram. Mas era aí que entravam as habilidades de Liberty. Os dedinhos ágeis da menina digitaram um código no perfil da colega que permitiu que ela tivesse acesso a todas as publicações antigas de Pamela. E diante do olhar surpreso de Dexter, Bloomfield se colocou na defensiva.

- Eu sei o que você pensa sobre usar as minhas habilidades pra quebrar as regras e violar a privacidade das pessoas. Mas você quer inocentar o Tim ou não? Veja isso...

O vídeo postado por Pamela tinha poucos segundos e era basicamente a menina fazendo poses e biquinhos na piscina dos Thompson. De fato Kendall aparecia no plano de fundo da cena e enfiava alguma coisa na boca, mas a qualidade da imagem não permitia dizer se era um comprimido ou simplesmente um dos salgadinhos da festa.

- Eu vou ampliar e melhorar a imagem pra você ver com mais clareza. O programa que eu estou desenvolvendo vai ajudar, peraí...

A página com o perfil de Pamela foi minimizada e Liberty procurou por uma pasta na área de trabalho. Com dois cliques, a pasta se abriu normalmente. Mas, para a imensa surpresa de Libby, não havia nenhum arquivo ali dentro.

- Mas que merda é essa???

Liberty fechou a pasta e repetiu o processo na esperança que fosse algum erro do sistema, mas a pasta continuou vazia. Também não havia sinal do programa na lixeira e Bloomfield não o encontrou perdido em nenhum outro lugar do notebook ao fazer uma busca na barra de pesquisas.

- Sumiu! O meu programa sumiu! Como foi que isso aconteceu???

O desespero de Libby só não era maior porque a garota obviamente também havia salvado todo o seu trabalho na nuvem, mas ela ainda queria entender como aquela pasta estava vazia. Não parecia ser um vírus ou um erro do sistema porque todos os outros programas e arquivos estavam rodando normalmente. Isso significava que provavelmente alguém havia deletado o conteúdo da pasta. E só uma pessoa além de Liberty tinha tocado naquele notebook nos últimos dias.

A respiração mais pesada da menina denunciou que a mente dela estava encaixando aquela última peça. Ainda não era uma acusação direta, mas a expressão atormentada de Liberty mostrava claramente que, desta vez, ela não conseguiria fechar os olhos e ignorar o principal suspeito por trás de mais aquele “incidente”.

- O Lenny pegou o meu notebook e ficou com ele enquanto eu estava internada...
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Mensagem por Emily Sinclair Sex Abr 26, 2024 3:35 pm

Foi a exaustão provocada pelas lágrimas que acabou envolvendo Emily em um sono agitado. Mas aquele breve descanso não durou muitas horas e ainda estava escuro quando a menina ergueu as pálpebras para encarar o quarto escuro. Por um instante, enquanto a mente lenta de Emy trabalhava para se recordar dos últimos acontecimentos e ainda se perguntava se tinha sido um pesadelo ou realidade, ela até conseguiu experimentar uma sensação de paz e tranquilidade, apenas para ser invadida por uma grande dor quando tudo voltou aos seus pensamentos.

Já não havia mais como chorar e Sinclair se sentia esgotada, como se tivesse acabado com todo seu estoque de lágrimas. Mas isso não aliviava em nada o que ela estava sentindo. Deitada de lado na cama, os olhos escuros encaravam a parede formada por sombras da noite enquanto suas lembranças insistiam em lhe torturar com as recordações de tudo o que tinha escutado da gravação feita por Chad Clifford.

Um plano vingativo desde o início. Desde o primeiro passo executado por Hunter, cada gesto ou cada fala tinha sido calculado com o objetivo de manipular os sentimentos e a aproximação com Emily Sinclair. A história que Emy acreditava ter vivido, aquela paixão, a conexão que ela jurava existir, tudo tinha sido uma farsa. As qualidades de Hunter que ela enchia a boca para declarar, a maneira como Emy tinha certeza de que o conhecia melhor do que todos ao seu redor, que ela era capaz de enxergar além do rapaz problemático que todos viam, tudo aquilo tinha sido uma grande mentira. No final, tinha sido mesmo tolice achar que ela era a única pessoa a ter uma opinião verdadeira sobre Timmons enquanto a cidade inteira, o pai e até os melhores amigos dele sabiam quem ele realmente era.

Emily se sentia humilhada. Ela tinha entregado o seu coração e mergulhado por completo em uma história que, no final, tinha vivido sozinha. Enquanto seus olhos brilhavam e ela se declarava para Hunter, a única coisa que ele se importava era com uma vingança idiota. E saber que tudo aquilo tinha começado por causa de uma estúpida posição em um time de basquete só fazia com que Sinclair se sentisse ainda menor, diminuída a um nada, a algo totalmente sem importância na vida de alguém que ela amava.

Enquanto as horas passavam e o dia começava a nascer, Emily repassou na sua cabeça todos os seus momentos com Hunter. As lembranças felizes e apaixonadas agora eram analisadas com uma visão mais crítica e dura. O beijo que ele tinha tentado roubar na festa de Libby, os olhares, as confissões que Hunter fazia sobre si mesmo, muito provavelmente com a intenção de fazer Emily se sentir ligada a ele. Cada briga, cada conflito com Chad, cada vez que Timmons se fazia de vítima ou colocava o ex-namorado de Sinclair como o grande vilão, apenas com o objetivo de arrancá-lo do coração dela. Tudo tinha sido pensado e executado com uma frieza assustadora.

Toda aquela história era vergonhosa e fazia Emily se sentir burra, diminuída e desvalorizada. Mas sem sombra de dúvidas, uma das lembranças mais dolorosas era a da transa flagrada por Clifford. A forma com que Hunter descreveu aquela cena para Kendall era uma perfeita amostra de como aquele relacionamento tinha sido uma grande mentira. Enquanto Emy se entregava a um momento de intimidade e vulnerabilidade, acreditando estar segura nos braços do rapaz que amava, Hunter se aproveitava para se vingar e humilhar o velho amigo. Emy estava exposta, nua e completamente envolvida, entregando seu corpo e os seus sentimentos através dos toques e das declarações. Ciente da presença de Clifford, Hunter não só não tinha interrompido o ato, como ainda manipulou a garota para declarar que o amava, não por si, mas para os ouvidos do ex-namorado.

O estômago de Emy estava embrulhado e o dia parecia amanhecer diferente. Era como se o mundo tivesse se tornado um lugar mais duro e realista depois daquela revelação, onde ela não estava protegida, mas exposta a qualquer um que desejasse lhe fazer mal.

Foi um milagre que Emily conseguisse se arrastar até o banheiro, e mesmo afundada na água quente da banheira, a menina ainda sustentou aquele semblante abatido, pálido e com o olhar perdido, remoendo o próprio sofrimento. Porque apesar de toda aquela dor, os seus sentimentos por Hunter não tinham desaparecido em um estalar de dedos. O amor ainda estava lá, o problema era que ele era direcionado para alguém que não existia mais, porque quando pensava no ex-namorado, a visão que Emy tinha de Timmons era completamente diferente do rapaz por quem ela tinha se apaixonado.

Emy sabia que Hutner era um rapaz traumatizado, explosivo, com o temperamento forte e uma personalidade difícil quando se envolveu com ele. Os dois se conheciam desde sempre, então Emy sabia que a má fama de Timmons pela cidade não era completamente em vão. Só que Sinclair acreditava que existia muito mais por trás daquela máscara de bad boy. Um rapaz carinhoso, fiel, atencioso, apaixonado, que ainda era capaz de atitudes nobres e admiráveis, que estava apenas ferido e tentando se curar das dores do passado. Por acreditar tanto nessa versão de Hunter, Emily tinha se apaixonado.

O problema era que, agora, tudo o que Emily enxergava era mesmo um rapaz frio, manipulador e egoísta, que não se importava com mais ninguém além dos próprios sentimentos. Hunter sequer estava mais no time de basquete quando Chad assumiu a vaga de capitão, e ao invés de parabenizar o amigo, as dores dele criaram uma guerra desnecessária. Uma guerra que Timmons queria tanto ganhar, não importava por cima de quem precisasse passar. E Emy era apenas um peão do seu exército, na linha de frente, sem ter noção do que estava acontecendo no campo de batalha.

A água já estava fria e o sol já tinha firmado do lado de fora quando batidas soaram na porta. Abraçada aos joelhos, Emily sequer se deu ao trabalho de autorizar a entrada da mãe, o que não impediu Hilary de enfiar a cabeça para se certificar de que estava tudo bem.

- Ainda não está pronta, Emy? Vai se atrasar! - Um segundo depois, Hilary notou a apatia da filha e uma ruguinha de preocupação surgiu. - O que houve? O que aconteceu, querida?

- Nada. Eu só estou com muita dor de cabeça. Não consigo ir para a MMU hoje. Tudo bem?

Nos últimos dias, a relação entre Hilary e Emily tinha ficado ainda mais complicada. Não era raro que as duas começassem a gritar e esbravejar uma com a outra. Mas a Sra. Sinclair nem hesitou ao deixar todas aquelas brigas de lado ao notar que a filha não estava bem. E claro que ela não acreditou que aquilo era apenas uma dor de cabeça, mas Hilary sabia que sua relação com Emy estava frágil demais para insistir em uma conversa naquele momento.

- Eu vou trazer um remedinho para você. Posso pedir para a minha gerente abrir a boutique hoje e ficar com você, querida.

- Não precisa. Eu só quero ficar sozinha um pouco. Até o remédio fazer efeito.

O olhar de Hilary ainda era de preocupação, mas conhecendo a personalidade da caçula, ela sabia que Emily ainda precisaria de um tempo para cogitar conversar sobre o que quer que fosse. E claro que, como a mulher experiente que era, Hilary só precisava somar dois mais dois para deduzir que a “dor de cabeça” da filha atendia pelo nome de Hunter Timmons.

A casa já estava completamente silenciosa quando Emily se levantou da banheira e procurou por uma toalha. E ela estava quase voltando para o quarto quando seu reflexo no espelho chamou sua atenção. A tatuagem gravada na sua pele era só mais uma terrível e grotesca lembrança do quão ingênua e burra Emily tinha sido. E a maneira bruta com que a menina esfregou a própria pele até deixar a região vermelha mostrava o quanto ela queria se livrar daquela marca, da mesma maneira que queria tirar Timmons do seu coração.

Antes que a mãe saísse para trabalhar, ela ainda deixou o analgésico e uma caneca de chá na cabeceira da cama de Emily. E a menina parecia apenas uma sombra de si mesma quando se envolveu em um roupão e sentou na beirada da cama, ignorando o medicamento. O celular foi puxado para perto e não foi nenhuma surpresa encontrar as mensagens e ligações perdidas de Hunter. Mas ao invés de retornar, xingar ou simplesmente ignorar o rapaz, Emily gastou alguns minutos bloqueando Timmons de todas as maneiras tecnológicas possíveis. Hunter não conseguiria mais ligar para o seu número, enviar mensagens, nem entrar em contato através de nenhuma rede social e até o e-mail tinha sido bloqueado.

Era um alívio saber que ao menos nos corredores da MMU ela não seria obrigada a vê-lo outra vez, já que Timmons tinha sido expulso. Mas em uma cidade pequena como Colchester, Emy sabia que não poderia evitar aquele encontro para sempre.

***

Não era a primeira vez que Emily entrava naquele quarto. Ela já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha rolado na cama de Chad ou de quanto tempo tinha passado dentro daquele cômodo, acompanhando o rapaz. Mas diferente do passado, os dois mantinham uma distância respeitosa quando Sinclair se acomodou na cadeira de estudos enquanto Clifford permaneceu deitado, ainda se recuperando depois da forte agressão sofrida.

- Você foi ao médico?

- Sim. Um nariz quebrado, algumas reparações dentárias, uma dor filha da puta para comer e beber e mais meia dúzia de medicamentos. - Chad tombou a cabeça para a mesinha de cabeceira onde os frascos de remédios estavam separados. - Eu deveria mandar a conta para o desgraçado do Timmons, mas não contei para os meus pais que foi ele. Eles ainda estão tentando me pressionar para contar a verdade.

- E por que você não contou? - Até a voz de Emy soava mais fraca e derrotada, como se ela tivesse perdido o brilho próprio.

- Eu não sei... - Chad fez uma pausa e estudou a garota antes de responder. - Não sabia se era isso que você queria que eu fizesse. Sei que as coisas já estão bem difíceis para você, não queria piorar ainda mais.

- Isso é entre vocês dois, Chad. A decisão é só sua. Eu não vou mais me meter nessa história, foi um erro desde o começo. - Emily soltou um longo suspiro e só então retomou a palavra. - Foi por isso que eu vim até aqui. Eu te devo um pedido de desculpas.

Naquele drama envolvendo Hunter-Emily-Chad, com o histórico de idas e vindas no relacionamento de Sinclair e Clifford, até mesmo Timmons já tinha acusado a namorada de que ela voltaria correndo para os braços do ex-namorado se quisesse. E depois de todas as descobertas, era mesmo esperado que Emy estivesse envergonhada, mas isso não significava que ela estava disposta a reatar o namoro com Chad. Para se envolver com Hunter, Emy já tinha garantido que não tinha mais sentimentos pelo ex-namorado, e não era a nova decepção que mudava isso. A única coisa que tinha mudado naquela equação era sua situação com Hunter, não com Chad.

Mesmo assim, Emily sentia que devia mesmo um pedido de desculpas a Clifford. Além de ter se envolvido com um amigo dele, de não ter acreditado nas suas acusações, Emy ainda precisava agradecer o rapaz por não ter desistido de provar a ela sobre quem Hunter realmente era. Não importava se as intenções de Clifford tinham sido nobres pensando apenas em Emily ou se ele tinha interesses muito pessoais e ainda se vingaria de Timmons com a verdade.

- O erro foi meu, desde o começo. Eu não deveria ter me envolvido com o Hunter, sabendo que vocês dois eram amigos. Eu sempre soube que isso não tinha como acabar bem, mas...
Emy fez uma pausa quando o nó na sua garganta ficou mais intenso e ela apertou os lábios enquanto engolia em seco, balançando a cabeça com um ar envergonhado. A garota vaidosa de sempre estava ofuscada por uma visão mais simples naquele dia. Sem maquiagem, com os cabelos ruivos soltos, sem nenhum ânimo. Por sorte, ela e Clifford tinham seus motivos para não ir para a MMU naquele dia, então era apenas o ex-namorado que testemunhava aquele ar de derrota.

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- Eu me apaixonei por ele, Chad. Nada do que eu fiz foi para te magoar. E eu fui uma idiota, caí como um patinho burro e inocente na lábia do Timmons, quando deveria ter escutado tudo o que você tentava me dizer.

- A culpa não foi sua, Emy. - O olhar de Chad passeou pelo rostinho da ex-namorada, e mesmo com o rosto ferido e inchado, ainda era possível ver como ele estava sério. - Eu não vou mentir, doeu para caramba ver vocês dois juntos. Mas eu sempre soube que isso tinha sido armado pelo Timmons...

- Eu me sentia péssima achando que estava no meio da briga de vocês dois. - Emy abriu um sorriso amargo ao fazer aquela confissão. - Mas é muito mais humilhante saber que, na verdade, eu nem fazia diferença. Foi tudo por causa do basquete.

- Não foi por causa do basquete para mim, Emy. Tá, eu queria mesmo provar que o Timmons estava mentindo. Mas o gostinho da vitória se perdeu quando eu vi o quanto você ficou arrasada. - Um silêncio se instalou pelo quarto e foi Chad quem o quebrou depois de um tempo. - Olhe só para nós dois... O efeito de destruição do Timmons. É o que ele faz, Emy. Ele passa como um rolo compressor por cima de quem quer que seja, sem se importar com o estrago que está causando.

O desejo de Emily era nunca mais precisar olhar para Hunter outra vez. Era vergonhoso, humilhante e ainda doía demais pensar em tudo o que tinha acontecido. Mas não aliviava em nada sentar ali e ficar falando sobre o ex-namorado. Pelo contrário, aquilo só fazia o coração de Sinclair ficar ainda mais pesado.

- Eu não vim para falar dele, Chad. Eu vim para me desculpar, dizer que deveria ter acreditado em você e que errei. Eu sinto muito por tudo.

Para reafirmar que sua visita não tinha qualquer intenção de levantar um novo plano de vingança contra Timmons ou mostrar o menor desejo de uma reconciliação, Emily se colocou de pé e puxou a sua bolsa para um dos ombros. Mas antes que a menina chegasse até a porta, a voz de Clifford a chamou mais uma vez.

- Emy... Se não fosse pelo Timmons, por tudo o que ele mentiu e toda a situação que ele manipulou... Você acha que nós dois teríamos voltado?

Aquela era uma pergunta impossível de ser respondida. Antes de Hunter entrar na sua vida daquela maneira avassaladora, Emily ainda nutria sentimentos por Chad e estava lutando para não repetir o velho ciclo daquele relacionamento de idas e vindas. No instante em que se apaixonou por Timmons, ficou muito mais fácil para Emy virar a página sobre a história de Clifford e sequer cogitar uma recaída.

- Eu não sei. - Emy soou sincera, ainda segurando a maçaneta da porta. - Mas isso não faz mais diferença agora, Chad. Eu só quero colocar a minha cabeça no lugar e contar os dias para sair dessa cidade de uma vez por todas.

***

A vida de Emily costumava ser agitada e cheia de compromissos, então foi uma surpresa ver a garota negligenciando todas as suas responsabilidades pelos dias seguintes. Depois de faltar as aulas por dois dias, mesmo retornando para a MMU, Emy não se concentrava nas aulas, não comparecia nas reuniões do comitê de festas e eventos e chegou a faltar os treinos das líderes de torcida.

Não havia interesse ou humor dentro dela para nenhuma atividade e Emy não trazia mais o sorriso largo ou a tagarelice típica enquanto andava pelos corredores com um semblante abatido e derrotado. Naquele dia, ao invés de simplesmente ignorar o treino da torcida, Sinclair enviou uma mensagem para o restante do time avisando que o horário seria remarcado para o dia seguinte, torcendo intimamente para que ela conseguisse cumprir aquela responsabilidade.

Ao invés de passar as horas seguintes tentando recuperar os trabalhos atrasados, Emily deixou a MMU e passou no Pat's para comprar o que seria o jantar daquela noite. Notando o estado da filha, Hilary tinha dito que chegaria mais cedo e queria fazer uma noite de filmes com a filha e a sobrinha, e mesmo sabendo que não teria apetite para comer nada, Sinclair foi buscar toda a encomenda feita pela mãe.

As sacolas pesadas estavam sendo carregadas por uma mão e Emy tentava digitar apenas com a outra para avisar para a mãe que já estava voltando para casa. Não houve nenhuma piadinha sobre a quantidade de calorias ou sobre como Sinclair largaria tudo aquilo para comer uma salada. Simples e direta, Emy apenas enviou a mensagem e estava prestes a enfiar o celular no bolso traseiro da calça jeans quando notou aquele carro familiar parado no estacionamento da lanchonete. Encostado na lataria e parecendo já esperar por ela, Timmons rapidamente se mexeu ao reconhecer os cabelos ruivos.

A primeira reação de Emy foi congelar seus passos. O desejo de fugir era grande, mas para conseguir chegar até o ponto de táxi, ela precisaria passar diante da picape de Timmons. Então, a única estratégia era fingir que tinha restado um pingo de dignidade, fazendo de conta que não queria desmoronar ali mesmo e assumindo um semblante mais duro.

- O Chad não está aqui, então pode poupar o teatro. - Depois de retomar seus passos, Emily manteve o ritmo para passar direto por Hunter. - Aliás, como você sabia que eu estaria aqui? Colocou algum chip para me rastrear? Porque se a Libby abriu a boca para falar no meu nome na sua frente, ela acaba de se tornar uma nerd morta. Por que você não se junta a ela, Timmons? É só todo mundo se fingir de morto e me deixar em paz.
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Mensagem por Hunter Timmons Sex Abr 26, 2024 10:27 pm

As noites em uma cidadezinha como Colchester geralmente eram calmas e silenciosas. Além do pio de uma coruja pousada numa das árvores próximas ao lago, o único som que era possível ouvir vinha dos passos pesados do rapaz amassando o gramado ao fundo da residência das Sinclair. Com uma expressão dura e atormentada, Hunter só parou de andar quando chegou diante da casa.

Todas as luzes dos cômodos daquele lado da construção estavam apagadas, num claro indício de que as moradoras deveriam estar dormindo. Mas nem isso fez com que Timmons desistisse da ideia que o levou até ali naquela noite. Depois de já ter invadido o quarto de Emily tantas vezes, Hunter já sabia até em quais pedras ele deveria se apoiar para uma escalada mais segura até a janela do quarto da menina. Mas Timmons só tinha dado o primeiro impulso quando uma voz soando às costas dele fez o rapaz se sobressaltar de susto.

- Puta merda, Timmons! Você só pode estar querendo bater algum recorde, né? Não é possível que alguém faça tanta merda assim!

Com o coração disparado e com os dois pés de volta ao chão, Hunter espalmou uma das mãos no meio do peito e tentou se recompor depois daquele susto.

- De onde você surgiu, novata??? Parece uma assombração vagando pela madrugada afora!

- Eu não conseguia dormir, então fiz um chá e estava tomando um pouco de ar fresco nos fundos da casa. – usando uma camisola e enrolada num robe, Libby tinha deixado a sua caneca de chá na mesinha de metal do quintal, há poucos passos dali – Uma feliz coincidência, ou talvez eu seja apenas um instrumento que o destino está usando para evitar que você faça mais essa grande cagada!

Os olhos castanhos de Liberty se ergueram na direção da janela que dava acesso ao quarto de Emily, claramente se referindo ao erro que Hunter estava prestes a cometer naquela noite. Sem se deixar contagiar pela sensatez da amiga, Timmons não parecia ter mudado de ideia sobre invadir o quarto de Sinclair. No fundo Hunter até sabia que não deveria estar se arriscando tanto já tendo uma passagem pela polícia e um processo judicial em andamento, mas ele simplesmente não conseguia mais se conter. A sensação de Hunter era que ele enlouqueceria se não tivesse mais uma chance de conversar com Emily e dizer tudo o que estava entalado dentro dele.

- Eu preciso falar com ela, Liberty. Eu tenho muito a dizer e ela precisa me ouvir! Só que a Emy não atende as minhas ligações e bloqueou as minhas mensagens!

- Se ela não quer falar com você pelo celular, como você acha que ela vai reagir se você invadir o quarto dela no meio da madrugada, Tim!? Eu não sei como o Chad não te denunciou por agressão, mas você deveria agradecer por esse milagre e não brincar mais com a sorte! Você quer voltar pra cadeia por invasão de domicílio???

Uma parte de Hunter queria acreditar que Emily jamais chamaria a polícia para fazer uma acusação contra ele. Mas depois dos últimos acontecimentos e da maneira como Sinclair se sentia magoada, ferida e humilhada, era mesmo difícil tentar prever qual reação ela teria. Só que até mesmo um retorno para a cadeia parecia um preço baixo a ser pago em troca de uma chance de falar novamente com Emily.

- Eu preciso falar com ela, Liberty. Se esse é o único jeito, que seja!

Bloomfield deixou escapar um palavrão quando Hunter deu as costas a ela e reiniciou a sua subida pela parede de pedras do quintal. Como Liberty se sentia culpada e responsável por toda a confusão envolvendo Hunter e a polícia, a garota também se sentiu na obrigação de interferir naquela cena antes que a situação do rapaz se complicasse ainda mais. Num gesto hilário, Libby se agarrou nas pernas de Hunter para dificultar os movimentos do rapaz e para atrapalhar a escalada dele pela parede.

- Hey! Sua doida! – Hunter tentou sacudir a perna como se quisesse se livrar de um cachorrinho mordendo o seu calcanhar – Me solta, Libby!

- Não! Não vou deixar você se ferrar ainda mais com a polícia! E nem ferrar ainda mais a cabeça da minha prima! Você não acha que já fez a Emy sofrer o bastante!?

Aquele último comentário atingiu Hunter em cheio e fez o rapaz perder as forças e também boa parte da sua determinação. Com um ar derrotado, Timmons parou de lutar contra as mãozinhas de Liberty e se deixou puxar até estar novamente com os pés no gramado. Era terrível saber que Emily estava sofrendo ou imaginar a menina chorando. Mas era uma sensação ainda pior ter a certeza de que ele era o único culpado pela dor que Sinclair sentia.

- Eu nunca quis que ela sofresse, Liberty. Eu sei que ninguém nessa maldita cidade acredita em mim. Agora nem mesmo a Emy acredita em mim! Mas eu amo a Emily. Eu sou louco por ela! A Emy foi a melhor coisa que já me aconteceu e eu estou completamente perdido e infeliz sem ela!

Bloomfield era uma pessoa naturalmente desconfiada e, depois de ter sido enganada por Leonard Wooton, a novata tinha ainda mais motivos para não acreditar mais no melhor das pessoas. Mas a sinceridade nas palavras e na expressão atormentada de Timmons era tão sufocante que não deixava muitas brechas para desconfianças. Hunter realmente amava Emily, mesmo que aquele sentimento tivesse nascido de um jeito bizarro, manipulador e sombrio.

Além de acreditar no amigo, Liberty também sentiu compaixão ao notar como Hunter estava sofrendo. O rapaz de fato parecia completamente desorientado e disposto a fazer uma grande loucura naquela noite. E até a aparência de Timmons refletia o quanto ele estava abalado com tudo o que havia acontecido e com o afastamento de Emily.

Poucos dias tinham se passado desde que a gravação feita por Clifford chegou às mãos de Emily e desencadeou o término do namoro da moça. Mas era notável que Hunter já tinha perdido peso e exibia olheiras profundas mesmo num intervalo de tempo tão curto. Sem conseguir comer, dormir ou se concentrar em qualquer outro assunto, Timmons estava abatido, ansioso e infeliz. Definitivamente aquela história não o abalaria tanto se Hunter fosse mesmo um grande cretino que só tinha usado Emily como um objeto de vingança.

E como se não bastasse a dor e a culpa que Timmons sentia, agora ele também estava sozinho. Toda a cidade havia virado as costas para Hunter depois do incidente com as drogas e a prisão. Ele não podia contar com o apoio e o afeto nem mesmo dos pais. Emily, Dexter e Liberty foram as únicas pessoas que o acolheram depois daquele escândalo, mas, após a gravação de Chad vir à tona, Hunter tinha perdido a namorada e Thompson também estava decepcionado demais com ele. E Libby sentiu o coração se apertando dentro do peito ao imaginar Timmons completamente sozinho num momento tão difícil como aquele.

- Antes de qualquer coisa, você precisa colocar a sua cabeça no lugar! Você tem dormido, Tim? Comeu alguma coisa nas últimas horas? – Liberty deu uma fungadinha antes de contrair o rosto numa breve careta – Qual foi a última vez que você tomou banho?

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- Não enche o saco, novata... Isso é culpa daqueles malditos cavalos fedidos! O meu pai está me obrigando a passar o dia todo nos estábulos!

- Mais uma razão pra você tomar banho, né!? – Liberty respirou fundo e assumiu um ar mais suave e compreensivo ao dar aquele conselho – Eu já entendi que você precisa falar com a Emily e não vou tentar fazer você desistir dessa ideia, Tim. Mas não faça isso agora. Não assim, no meio da madrugada, invadindo o quarto dela e com cheiro de cavalo! Zero chances disso terminar bem! Por que você não a procura amanhã depois do colégio? Esfrie a cabeça, planeje com cuidado o que vai dizer e não desperdice essa chance, Tim. Algo me diz que vai ser a sua única chance de fazer a Emy te ouvir...

***

Hunter continuava sem apetite e não tinha dormido mais que duas horas na última noite. Mas pelo menos ele havia seguido o conselho de Bloomfield sobre tomar um banho e colocar roupas limpas. O rosto dele continuava abatido e as roupas mais folgadas denunciavam que o rapaz tinha perdido peso, mas ao menos Timmons estava com uma aparência melhor quando o seu caminho finalmente se cruzou com o de Emily naquele fim de tarde.

Era normal que o coração de Hunter reagisse com um salto sempre que Sinclair entrava no seu campo de visão, mas naquele dia o impacto tinha sido ainda mais forte. Além de sentir uma saudade sufocante da namorada, Hunter estava sendo consumido pela culpa por ter estragado tudo e pela ansiedade de colocar logo um fim naquela dolorosa crise.

Embora já esperasse por uma reação negativa de Emily, Timmons sentiu um nó na garganta ao notar o comportamento distante e magoado da garota. Acostumado a arrancar risadas, declarações de amor ou suspiros da namorada, era terrível ver que agora aquela era a nova dinâmica entre os dois. Antes Emily se jogava nos braços dele e queria passar o maior tempo possível ao seu lado, mas agora a garota não parecia tolerar sequer a ideia de uma breve conversa. A postura de Sinclair o deixava ainda mais arrasado, mas Hunter sabia que não era a hora de se abater ou recuar. Como Liberty dissera, aquela poderia ser a única chance de Timmons e ele não podia desperdiçá-la.

E foi justamente por saber que cada minuto era valioso que Hunter não quis perder tempo. Apesar de respeitar o espaço imposto pela garota, Timmons seguiu os passos dela e foi direto ao ponto, sem qualquer tipo de rodeio.

- Naquela noite, aqui mesmo no Pat’s, quando nos encontramos e você me levou pro kart... – Hunter sentiu o coração se comprimir dentro do peito, mas ainda assim reuniu coragem para fazer aquela confissão – Foi naquela noite que eu decidi que iria usar você pra me vingar do Clifford.

Coincidentemente (ou ironicamente), naquela tarde Hunter e Emily estavam no mesmo lugar onde tudo havia começado. O choque daquela revelação foi tão grande que Sinclair interrompeu seus passos e inconscientemente os olhos dela buscaram pelo exato ponto do estacionamento onde ela havia esperado por Timmons para que os dois saíssem juntos da lanchonete na noite do kart.

Se Hunter só tinha mesmo uma chance de fazer Emily ouvi-lo, parecia uma loucura e uma grande burrice iniciar aquele discurso confessando a sua culpa. Só que Timmons não estava agindo impulsivamente ou tagarelando sem pensar. Se ele queria mesmo provar para Emily que estava mudado, era a hora de abrir o jogo, falar toda a verdade e parar de se fazer de vítima e de manipular os sentimentos dela.

- Eu tinha acabado de brigar com o Clifford. Eu estava com MUITA raiva, estava magoado e infeliz. E naquela noite eu realmente achei que merecia uma vingança, que eu tinha o direito de devolver pra ele toda a dor que ele estava provocando em mim. E sim, você parecia ser a melhor maneira de atingir esse objetivo. Eu me aproveitei da sua amizade, usei você, manipulei a situação toda...

Como Emily continuava parada e sem reação diante daquela confissão tão direta, Timmons deu mais alguns passos, contornou a garota e se colocou em frente a ela para que os dois se encarassem. Era ainda mais difícil fazer aquela confissão diante do olhar magoado de Emily, então Hunter precisou de mais uma pequena pausa antes de reencontrar fôlego para continuar o seu discurso.

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- Eu queria te dizer qual foi o exato momento em que as coisas mudaram, mas a verdade é que não houve um momento específico, Emy. A cada vez que a gente se encontrava, sempre que conversávamos, eu me sentia mais próximo e mais ligado a você. Quando eu me dei conta, eu já não estava mais fazendo aquilo só porque era parte de um plano. Eu queria ficar perto de você porque eu gostava da sua companhia, porque eu me sentia feliz quando estávamos juntos. Como eu nunca tinha me apaixonado antes, eu acho que demorei demais até entender o que estava rolando. E foi bem assustador quando eu percebi que eu tinha caído na minha própria armadilha, que você também tinha derrubado as minhas barreiras e entrado no meu coração.

Depois de ter alcançado o sucesso naquele plano e separado Chad e Emily, Timmons deveria estar se sentindo vitorioso. Se tudo aquilo fosse só uma vingança, Hunter não teria motivos para ir atrás de Sinclair e para dizer tudo aquilo à menina. E se ele ainda quisesse enganá-la ou manipular os sentimentos dela, Timmons com certeza não estaria sendo tão sincero e revelando as partes mais podres daquela história.

- Eu também queria dizer que me apaixonar por você fez com que eu me tornasse um cara melhor e deixasse de lado o plano de vingança, mas isso não seria verdade. Esses dois sentimentos coexistiram dentro de mim por um bom tempo. Ao mesmo tempo em que eu te amava e queria passar o resto da vida ao seu lado, eu ainda queria me vingar do Clifford. Era como aquele ditado, “unir o útil ao agradável”. Eu queria ficar com você e a vingança era um brinde que vinha nesse mesmo pacote. Foi nesse contexto que rolou aquele lance na quadra.

A lembrança do flagrante de Chad e de tudo o que havia acontecido naquela noite fez Hunter contrair o rosto numa careta de reprovação. Aquele certamente era o maior arrependimento de Timmons em toda aquela história, a sua jogada mais suja e mais cruel.

- Não era pra gente ter ido tão longe, Emily, eu perdi o controle da situação. Eu só queria que o Clifford descobrisse que a gente estava junto, eu nunca quis te expor daquela forma. Mas mesmo que o plano não estivesse se desenrolando da maneira como eu imaginei, eu não quis perder a chance de concluir logo aquela vingança. Eu deixei rolar, principalmente porque eu queria vencer logo aquela guerra idiota pra poder me concentrar só em você, em nós dois. E foi o que aconteceu. Depois daquela noite, o desejo de vingança sumiu, eu já nem pensava mais nisso. Eu só queria você. Eu estava feliz como nunca pensei que pudesse ser.

Boa parte de todas aquelas explicações já tinham sido ditas nas mensagens que Emily bloqueara, mas agora Hunter estava até feliz por ter tido a chance de dizer tudo aquilo olhando nas íris da menina. Afinal nenhuma mensagem permitiria que Sinclair visse a sinceridade que agora se refletia nos olhos cor de avelã do rapaz.

- Os últimos dias foram um inferno. Ficar longe de você é desesperador, Emy. Mas pelo menos eu tive tempo de sobra para pensar em tudo o que eu fiz. E foi depois dessa reflexão toda que eu resolvi ser sincero e abrir todo o jogo, sem mais mentiras ou encenações. E sabe qual é a maior verdade em toda essa história...? – Timmons fez uma longa pausa antes de completar – Eu não me arrependo de ter arquitetado esse plano de vingança. Se eu voltasse no tempo, eu faria a mesma coisa de novo.

Se Liberty estivesse ali, aquele seria o momento em que a novata explodiria e sacudiria Hunter pela gola da camisa, perguntando se ele era louco por estragar a sua única chance de falar com Emily. Porque parecia mesmo uma grande tolice admitir diante de Sinclair que, mesmo depois de pensar muito no assunto, Hunter ainda não estava arrependido pelos erros graves cometidos contra a menina.

- Sabe por quê? – Timmons explicou diante do olhar ainda mais incrédulo da garota – Porque nada disso teria acontecido se eu não odiasse o Clifford ou se eu não quisesse me vingar dele. Eu nunca teria me aproximado de você, eu provavelmente teria respeitado aquela lista idiota e jamais abriria as portas do meu coração pra você, Emily. E te amar e ser amado por você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida de merda.
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Mensagem por Dexter Thompson Sáb Abr 27, 2024 3:41 pm

Não era apenas uma “panelinha” ou um “grupinho fechado”. Dexter, Hunter e Chad sempre tinham sido amigos, com verdadeiro sentimento fraternal. Dex enxergava nos dois rapazes uma família. Eles se conheciam, tinham estado lado a lado nos melhores e piores momentos de suas vidas e sabiam enumerar de olhos fechados as qualidades e defeitos de cada um. Por conhecer tão bem os dois, Dex também se juntou ao volumoso número de pessoas que questionou a sinceridade dos sentimentos de Timmons quando o rapaz se declarou apaixonado por Emily Sinclair.

O timing era ridiculamente suspeito e a rapidez com que tudo aconteceu só reforçava a ideia de que Hunter parecia estar se aproveitando da proximidade com a ruiva para atingir Chad. Mas com o passar do tempo, vendo de perto como Timmons agia, olhava e se derretia por Emily, Thompson começou a acreditar que tinha errado no seu julgamento e que o casalzinho parecia mesmo feliz. Contrariando os argumentos mais lógicos, Hunter e Emy estavam apaixonados de verdade.

Mesmo diante das dúvidas iniciais, Dexter jamais imaginou que Hunter pudesse ter ido tão baixo e jogado tão sujo. E quando a realidade explodiu na sala das Sinclair naquela noite, Thompson se sentiu decepcionado, frustrado, infeliz e perdido. Mais uma vez, ele se via no meio do furacão provocado por Timmons e Clifford, e mesmo que estivesse escancarado quem era o verdadeiro “vilão”, Dex não se sentia no direito de assumir apenas um dos lados para si.

Hunter tinha errado. Era um erro vergonhoso, imundo e inaceitável. Ele tinha usado uma garota inocente no meio de um plano de vingança e feito tudo aquilo para atingir Chad. E Thompson não podia ignorar que poderia ser ele no lugar de Clifford, se a irritação e o foco de Timmons algum dia tivesse se virado para ele. Simplesmente não dava para defender Hunter. Mas o coração de Dex também se via incapaz de dar as costas ou apontar o dedo no nariz de Timmons.

Naquela noite, mesmo que não estivesse assumindo um dos lados como certo ou errado, era óbvio que Clifford era quem mais precisava da sua ajuda. Foi Dexter quem esteve ao lado de Chad ao dar entrada na emergência e ele também não ousou abrir a boca ou questionar ao escutar a versão de Clifford de que tinha apenas caído de uma grande altura ao tentar limpar as calhas de casa para que o médico não chamasse o policial e consequentemente não existisse uma queixa formal.

Depois que Chad foi atendido, Dexter levou o amigo para casa. E apesar de ainda existir a preocupação com Timmons, Dex sabia que existiam outras pessoas naquele momento que precisavam de maior atenção ou cuidado, e foi por isso que ele retornou para a casa das Sinclair. Além de Hunter precisar de um tempo para se acalmar e pensar em tudo o que tinha acontecido, Dexter estava sinceramente preocupado com a reação de Emily.

Para evitar ficar transitando pela casa com o risco de ser flagrado por Hilary, e ainda respeitando a privacidade de Emily, foi no quarto de Liberty que Dexter aguardou. E ele ainda carregava um semblante preocupado quando a menina garantiu que a prima já tinha adormecido.

- Eu não acredito que isso está mesmo acontecendo... Quer dizer, eu sempre soube dos defeitos do Hunter e também estranhei a aproximação dele com a Emy, mas isso tudo vai muito além do que eu poderia prever.

O clima entre Dexter e Liberty não estava dos melhores desde o término do namoro. Bloomfield tinha deixado claro que os dois não seriam nem mesmo amigos, mas Dex não conseguiu frear dentro de si aquela necessidade de desabafar sobre a relação complicada de estar no meio de Timmons e Clifford.

Com os ombros caídos e o semblante ainda carregado de preocupação, Dex se acomodou melhor quando Liberty disse que queria mostrar uma pequena descoberta sobre a investigação que eles estavam fazendo em fotos e vídeos da festa. E foi difícil para Thompson conter uma caretinha incrédula e até um pouco irritada quando Libby mostrou que suas suspeitas eram voltadas para Kendall. Aquilo só mostrava como os dois continuavam exatamente nas mesmas posições e pensamentos que tinham levado o fim do relacionamento.

Foi apenas para evitar uma nova crise depois de um dia já bastante tumultuado que Dexter mordeu a língua e engoliu qualquer comentário sobre quem realmente deveriam estar investigando, mesmo que sua postura ao manter os braços cruzados, um biquinho nos lábios e a testa franzida já falassem por si só o que ele realmente pensava.

Mudo, Dexter assistiu Liberty revirando as fotos e os arquivos no computador, mas quando o comportamento dela mudou para um mais tenso ao não encontrar o próprio programa. Uma ruguinha surgiu entre as suas sobrancelhas e ele se inclinou para frente, também procurando por qualquer ícone que pudesse indicar o que Libby procurava. E quando a menina trouxe o nome de Leonard Wooton para aquele quarto, em uma acusação velada, Dex prendeu o ar e buscou o olhar dela com angústia e preocupação.

A única falha de Thompson ao levantar a acusação contra Lenny era a incapacidade de descrever a motivação do outro rapaz para dopar a própria irmã. A palavra de Eric, a sequência dos fatos, todo aquele cenário suspeito com a chegada de Wooton a Colchester. Tudo aquilo já tinha sido suficiente para convencê-lo da verdade. Mas ele não tinha conseguido fazer Liberty aceitar, porque a mente inocente de Dex não conseguia pensar em um motivo real e palpável. Mas Bloomfield tinha chegado naquela resposta sozinha.

Um rapaz mais arrogante, orgulhoso ou minimamente vaidoso se aproveitaria daquela grande reviravolta para saborear uma deliciosa vitória. Ele tinha razão. Libby tinha lhe acusado de ser burro, declarado que ele não era uma prioridade na vida dela e preferido ignorar os fatos para defender Leonard. Humilhado, desprezado e magoado, Dexter tinha tudo para agarrar aquela mudança das peças no tabuleiro para tripudiar de Libby, mostrar o quanto ela tinha sido injusta, cega e inocente. Mas não houve nem mesmo um “eu te disse”.

Dexter não estava feliz por estar certo. Pelo contrário, ele ainda preferia estar imensamente errado sobre Wooton do que ver aquela decepção estampada no olhar de Bloomfield. Traída, enganada, manipulada por alguém que ela tinha depositado todas as suas fichas de que era confiável, de que queria se aproximar dela porque se importava com ela de verdade. Mais uma vez, um Wooton a desprezava, e Dex queria muito ser capaz de enfiar a mão no peito de Liberty e tirar aquele sofrimento dela. Mas ele não tinha esse poder.

- Você tem certeza? Não está em outro lugar? Esse computador é velho, Libby... Não pode ter outra explicação?

A prova de que Dexter não estava interessado apenas em ganhar uma discussão e provar que estava certo foi como ele ainda tentou argumentar, não para defender Leonard, mas para proteger Liberty. E como não havia nenhuma outra explicação, ninguém mais conseguia fugir da realidade.

- Então foi isso. - Dexter respirou fundo enquanto as peças se encaixavam com perfeição. - O que aconteceu na festa, ele só precisava de uma distração. Desgraçado!

Irritado e agitado, Dex se esqueceu por um instante de que já estava tarde e que ele poderia acordar Emily ou Hilary. Ao se colocar de pé, Dexter passou a andar de um lado para o outro, passando a mão pelos cabelos em um gesto ansioso. Alguns dias atrás, Libby e Dexter tinham estado naquele mesmo cômodo, discutindo o mesmo assunto. E isso tinha resultado no fim do relacionamento dos dois, além de uma nova coleção de mágoas. E embora ainda estivesse ferido e não conseguisse esquecer tudo o que tinha escutado de Libby, a forma com que Dex agiu mostrava que ele ainda a amava e se preocupava com ela.

- Ele poderia ter matado você, tudo por causa de um arquivo de computador?! Que tipo de gente faz isso? Que tipo de gente...

Dexter ainda iria completar sobre quem era capaz de calcular um plano tão frio e perigoso contra a própria irmã, mas o olhar derrotado e triste de Liberty o fez se calar. Era óbvio que a menina não Eu precisava daquele tipo de comportamento naquele momento. O que Bloomfield precisava, era algo que Dexter não poderia lhe dar: o irmão, a família que ela tinha sonhado a vida inteira, e que Leonard tinha acabado de provar que nunca teria.

- Eu sinto muito, Liberty. - De pé, Dexter cruzou os braços e soou sincero ao encarar a ex-namorada. - Eu não queria estar certo sobre isso. Mas pelo menos você já tinha registrado a patente, isso pode nos ajudar de alguma forma a provar a inocência do Tim, não é? - O queixo dele caiu ao escutar Bloomfield dizer que não tinha cuidado daquela etapa burocrática. - Como assim? Quer dizer que o Wooton está com o seu trabalho quase inteiramente pronto, servido de bandeja e ainda pode registrar como se fosse dele?

Aquele era o pior dos cenários. Ia muito além de provar a inocência de Timmons ou de proteger Liberty. Leonard tinha ido até Colchester e em poucos dias tinha conseguido instalar o caos, dopado a meia irmã e roubado o principal trabalho que ela tinha em mãos. Sem grande esforço, Wooton sairia levando a melhor e deixando seu rastro imundo para trás, sem se importar com o estrago que tinha causado.

As mãos de Dexter voltaram a deslizar pelos seus cabelos e ele deixou os braços levemente erguidos enquanto precisava de alguns minutos para conseguir acalmar os pensamentos, mas como era impossível tentar raciocinar no meio daquela agitação, o rapaz se concentrou na única coisa que estava ao seu alcance. Foi sem segundas intenções e com um sentimento puro que Thompson puxou Liberty para seus braços, a envolvendo de forma protetora e carinhosa, como se daquela forma pudesse mostrar a ela que a menina não estava sozinha.

***

Haveria um jogo de futebol naquele final de semana, o que significava que a MMU em peso já se encontrava em polvorosa com os preparativos e a torcida para o próprio time, que dessa vez jogaria em casa. Já era de se esperar que Dexter não conseguisse ser um grande destaque depois de perder tantos treinos, mas o treinador certamente o colocaria alguns minutos em campo se o rapaz ao menos se desse ao trabalho de comparecer para a partida.

Justin Thompson teria um gigantesco surto quando descobrisse que o filho sequer tinha pisado na escola naquele final de semana, mas Dexter estava há quilômetros de distância de Colchester, com preocupações muito mais urgentes e importantes. Porque não importava se ele e Liberty estavam separados, ou que a menina não tivesse demonstrado nenhum arrependimento com tudo o que tinha dito e até mesmo aquela pontada de mágoa que Dex tentava não alimentar, por não ter sido priorizado por ela. Dexter não tinha ido até Massachussetts como parte de um plano mirabolante de reconquistar a ex-namorada. Era o certo e ele amava e se importava com Libby demais para abandoná-la naquele momento de tamanha fragilidade.

Não havia dentro de Dex nenhuma mínima esperança de resolver aquele problema com um diálogo. Leonard Wooton não era o tipo que se sensibilizaria com uma historinha triste e muito menos se importaria com a irmã que ele tinha traído, dopado e roubado. Mas talvez Thompson pudesse repetir os passos de Chad e gravar alguma confissão, ou ao menos gastaria todos os seus esforços em uma guerra judicial. Qualquer que fosse o caminho necessário a ser enfrentado, Dexter estava pronto.

O campus da Caltech era enorme e o clima era um pouco diferente da MMU. Ali não parecia existir tanta divisão de grupinhos, os jovens andavam apressados para suas aulas e mesmo os que gastavam algum tempo livre na área externa, traziam computadores modernos, iPads ou livros, reunidos em grupos de discussão.

Com o drama vivido entre Hunter, Emily e Chad, ou querendo poupar Liberty, ninguém tinha acompanhado Dexter naquela pequena viagem. Então o rapaz gastou um pouco mais de tempo conhecendo a área ou conversando com algumas pessoas para colher informações. Mesmo que ainda não fosse um universitário, não era nada difícil para Thompson se misturar aos demais jovens enquanto carregava uma mochila em um dos ombros. E como o sobrenome Wooton era conhecido, apenas algumas horas tinham passado até Dex encontrar o prédio e o dormitório ocupado por Leonard.

Lenny provavelmente quase não ficava naquele quarto, ocupado demais com festas e farra, mas já era um milagre que o rapaz não tivesse abandonado o campus para ter seu próprio lugar. De qualquer forma, aquele era o melhor caminho para que Dex desse o primeiro passo.

Os corredores não estavam tão movimentados, mas diante de cada porta havia o sobrenome dos ocupantes de cada um dos quartos. Em cada uma das portas, dois sobrenomes estavam listados, então a plaquinha que trazia exclusivamente o sobrenome “Wooton” já foi o bastante para chamar a atenção de Dexter. Lenny podia muito bem ter seu próprio apartamento para dar festas e se divertir, mas o privilégio de ter um quarto só seu em um lugar onde as regras eram as mesmas para todas já mostrava que o rapaz gostava de se sentir superior e aproveitar os benefícios e influência do seu nome.

Dex quase passou direto da plaquinha, mas deu um passo atrás quando conseguiu ler o nome “Wooton”. Para sua surpresa, a porta estava aberta e havia um rapaz sentado diante de uma escrivaninha, mas não era Leonard. Usando os nós dos dedos, Thompson anunciou sua chegada, chamando a atenção do rapaz bem vestido que estava sentado diante de um computador.

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- Com licença. Oi? Esse aqui é o quarto do Leonard, não é?

- Oi! - O rapaz se virou e se colocou de pé para receber o recém-chegado com educação. - Ah, sim, mas o Lenny ainda não voltou.

- Você é o colega de quarto dele?

Não havia nenhum outro nome na porta do quarto, e na parte interna, Dex notaria facilmente que o espaço amplo só existia porque uma segunda cama tinha sido retirada. Havia uma pequena copa acoplada ao lado, mas todo o ambiente era diferente dos demais dormitórios por onde Thompson tinha passado.

- Ah, não. O Lenny não tem colega de quarto. - O rapaz rolou os olhos, mas trazia um sorriso relaxado nos lábios. Ao invés de se apresentar, ele franziu a testa e observou o recém-chegado com curiosidade. - Quem é você, mesmo? Acho que não escutei o seu nome.


- É porque eu não disse. - Dexter não costumava ser arrogante ou mal-humorado, mas ele estava sério e sem tempo para cordialidades. - Olha, eu preciso muito falar com o Leonard. Você sabe se ele ao menos vai demorar?

- Não deveria. Nós dois temos uma reunião importante e o Lenny sabe que não pode se atrasar. Eu ainda preciso voltar para Seattle hoje.

- Seattle? - Dexter franziu as sobrancelhas e dessa vez gastou um pouco mais de tempo analisando o rapaz. Mais velho, bem vestido, ele não parecia mais um dos universitários da Caltech. - Que tipo de reunião você tem com o Leonard?

- Eu acho que isso não te diz respeito, não é? - JJ tombou a cabeça de lado, mas não soou agressivo ou irritado. - Você não me disse nem o seu nome.

Ignorando o rapaz por um instante, o olhar de Dexter deslizou por cima do ombro até se prender no notebook aberto sobre a escrivaninha. E por ter visto aquela mesma tela dezenas de vezes, ele não teve a menor dificuldade em reconhecer o software desenvolvido por Liberty.

- Como você conseguiu isso? - Dexter esticou o braço e apontou para a tela do computador. - É por causa disso que eu vim falar com o desgraçado do Wooton! Se ele não der as caras aqui agora mesmo e resolver isso, é bom que ele esteja preparado para uma guerra! Eu estou pouco me fodendo para quem ele é ou o papaizinho dele! Eu não vou deixar que aquele filho da puta apareça do nada para roubar o trabalho de outra pessoa!


Para JJ, Dexter era um completo estranho, um rosto desconhecido e sem um nome associado, que tinha surgido pela primeira vez na sua frente, falando coisas desconexas sobre o seu irmão. Só que tinha uma coisa no discurso de Thompson que chamou sua atenção. Enquanto JJ tinha ficado impressionado com o software apresentado pelo caçula, Jeffrey não tinha hesitado nem por um segundo ao afirmar que aquele trabalho não era do seu filho. Mais do que conhecer o caráter e a inteligência de Leonard, o Sr. Wooton era um gênio da tecnologia e sabia muito bem reconhecer a assinatura de um desenvolvedor, da forma com que desenhava seus algoritmos ou que escrevia seus códigos.

- Do que você está falando? - JJ não soou perdido, mas um tanto assustado enquanto sua mente chegava rapidamente até as conclusões óbvias. - Isso é do Lenny, é um projeto nosso.

- Não é, não. Ele roubou isso!

O olhar incrédulo de JJ se prendeu em Dexter por alguns instantes, não porque ele estava duvidando da versão do rapaz. Era injusto dar tanta credibilidade a um estranho que tinha acabado de cruzar o seu caminho do que confiar no próprio irmão, mas o histórico de Leonard e principalmente a reação do pai serviam como motivos mais do que suficientes para que JJ tivesse ao menos o pé atrás. E antes de tomar qualquer decisão, JJ precisava entender melhor aquela história.

- Esse trabalho é seu? Quer dizer, você e o Lenny fizeram juntos?

- Não. - Dexter cruzou os braços e tinha um olhar duro quando respondeu. - Ele roubou da minha namorada. Quer dizer, ex-namorada. Enfim, não é dele! E é bom que vocês saibam que eu não tenho medo de enfrentar quem quer que seja, nem mesmo um Wooton baixo e sujo, nem o dinheiro ou o poder de vocês! Eu vou lutar pelo que é certo!

Diferente da explosão de Dexter, JJ fechou os olhos por um bom tempo e levou as mãos para esfregar o rosto. Abalado e com os pensamentos agitados, o rapaz cambaleou até se sentar na beirada da cama. Atrás dos dedos dele, Dex conseguiu notar um sorriso amargo e infeliz.

- Puta merda, Lenny... O papai tinha razão! Você e as suas confusões!

Com um olhar desconfiado, Dexter permaneceu em silêncio enquanto escutava o rapaz falando sozinho. E ele ainda não tinha aberto a boca quando JJ puxou o celular do bolso e fez uma ligação. O coração de Dex chegou a falhar uma batida, mas como ele tinha acabado de confessar, estava mesmo disposto a enfrentar qualquer guerra para fazer a coisa certa.

- Oi, Lenny. Olha... Não, não se preocupe, não precisa ter pressa. Escuta, eu tive um imprevisto, tenho que voltar para Seattle agora. Mas podemos voltar para falar do projeto depois. É, você conhece o papai, quando as coisas precisam ser feitas do jeito dele, não tem milagre que resolva. Eu volto em outra oportunidade para conversarmos, está bem?

De braços cruzados e em silêncio, Dexter permaneceu atento até o fim da ligação. E ele estava ainda mais sério quando o outro rapaz guardou o celular e se colocou de pé.

- Você também é um Wooton, não é?

- Jeffrey Junior. - O rapaz esticou o braço para que Dexter apertasse sua mão em um gesto formal. - O Lenny não vai voltar tão cedo. Mas por que nós dois não saímos para tomar um café, você me diz o seu nome e a gente conversa sobre o crime que o meu irmão cometeu.

Jeffrey tinha abandonado a própria filha e nunca tinha voltado para procurar saber sobre ela. Leonard tinha surgido em Colchester, dopado a irmã e roubado um trabalho dela. Dexter não tinha nenhum motivo para confiar em JJ, e pelo histórico dos Wooton, não seria nenhuma surpresa que o rapaz estivesse armando alguma emboscara para terminar de enterrar aquele roubo e dar uma nova rasteira.

- Você disse que quer fazer a coisa certa, não disse? - JJ insistiu ao ver que Dexter não ergueu a mão para apertar a sua. - Eu também quero, rapaz. Mas para começar, eu preciso entender o que aconteceu. Se esse trabalho realmente não for do meu irmão e você tiver como provar, eu não vou compactuar com um crime. O que meu pai sempre nos ensinou é que a genialidade e o trabalho duro são muito mais importantes do que qualquer outra coisa. E nenhum de nós deveria enterrar o sobrenome dos Wooton com um escândalo de plágio ou roubo. Você vai ou não vai me dizer o seu nome?

Ainda existia uma sombra de receio quando Dexter esticou o braço. Ele sabia que ainda precisava ser extremamente cauteloso em cada movimento das peças do tabuleiro se estivesse lidando com um Wooton, mas Dex estava disposto a enfrentar o que fosse para defender Liberty.

- Thompson. Dexter Thompson.

- Bom, Thompson... - JJ se aproximou até a escrivaninha, fechou o notebook e o enfiou em uma mochila. - Vamos tomar um café e você me conta sobre o que o meu irmão aprontou agora contra a sua namorada ou ex-namorada.
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Mensagem por Emily Sinclair Sáb Abr 27, 2024 4:19 pm

Não tinha mais como Emily ter alguma dúvida do que Hunter tinha feito. Não tinha como defender ou se fingir ignorante depois de ter escutado toda a gravação feita por Chad. Era incontestável que Timmons tinha se aproximado dela com base em um plano de vingança contra o velho amigo, onde uma posição no time de basquete era mais importante do que os sentimentos dela. Depois de ter passado dias refletindo sobre tudo o que tinha acontecido, não havia um mínimo espaço para que Emy acreditasse em um milagre de que talvez a história não fosse tão cruel assim.

Mas nem toda a certeza dentro de Sinclair lhe preparou para escutar Hunter admitindo com todas as letras os detalhes do que os dois tinham vivido. Na noite do kart, quando Emy só pensava em ajudar um amigo a reencontrar a paixão pela vida e um novo talento, os sentimentos e os pensamentos de Timmons não eram tão nobres assim.

Emy sentiu seu coração se apertando da mesma maneira como dias atrás, como se estivesse se partindo todo outra vez. E ela não conseguia olhar na direção de Hunter enquanto escutava tudo o que o rapaz tinha a dizer. Mas quando Timmons declarou com todas as letras que faria tudo outra vez, as íris castanhas finalmente deslizaram pelo estacionamento até se prenderem nele, com incredulidade e mágoa.

O que Hunter estava dizendo era que ele tinha errado, que era culpado de todas as acusações feitas por Chad e que nem estava arrependido. Mas que por trás de toda aquela podridão, ainda existia a sinceridade dos seus sentimentos, que ele tinha se apaixonado de verdade e caído na própria armadilha, que agora a amava e queria continuar ao lado dela, independente do plano. O problema era que aquilo não fazia a menor diferença na história dos dois ou nos sentimentos de Emily.

Mesmo depois que ele terminou o longo discurso, Emily continuou calada, com o olhar preso nele, respirando com dificuldade. Seus olhos estavam úmidos, mas dessa vez ela não chorava. Mas assim como tinha acontecido na noite onde Chad tinha revelado tudo, era possível notar o peito dela subindo de maneira mais pesada. E o nó queimava na sua garganta quando Sinclair tentou assumir a palavra.

- Eu te perguntei. Eu olhei no fundo dos seus olhos e eu perguntei se existia alguma possibilidade de você ter provocado aquele flagra do Chad na quadra. E o que você fez, Hunter? Você me fez sentir como se fosse uma maluca por estar sugerindo algo tão imundo assim, se fez de vítima, do grande inocente da história. Você mentiu para mim, não só nesse dia, como desde o começo de tudo! Como você espera que eu acredite em qualquer coisa que sai da sua boca agora?

O queixo de Emily tremeu e ela precisou fazer uma pausa para não cair no choro. Já era suficientemente humilhante tudo o que Hunter tinha feito, a maneira que tinha usado seus sentimentos, o seu amor e até mesmo o seu corpo por causa de uma vingança. Ela não queria dar a ele o gostinho de ver o quanto se sentia pequena e desprezada.

- Não seja hipócrita, você não teve tempo para refletir e decidiu abrir o jogo. Você simplesmente não teve escolha! Porque se você tivesse, eu ainda estaria sendo enganada, iludida e manipulada! Então não venha agir como um bom samaritano arrependido que quer ser sincero comigo, você só não tem mais como fugir.

As mãos de Emy tremiam de leve e para tentar disfarçar, ela trocou a sacola de comida de uma mão para outra. Seu olhar deslizou pelo estacionamento escuro e a cabeça dela balançou em reprovação antes de apontar mais falhas nas declarações de Timmons.

- Eu me apaixonei por você. Eu me entreguei a você por inteiro, Hunter. Eu marquei o meu próprio corpo para mostrar o quanto eu te amei, e sabe o que é pior? Essa maldita tatuagem não é nada comparada com a forma com que você entrou no meu coração e na minha vida! Então não venha me dizer que você me ama, que eu sou importante, porque é óbvio o quanto nós dois sentimos coisas completamente diferentes! Eu me apaixonei por você, eu vivi essa história por nós dois, mas você não foi capaz de fazer o mesmo por mim, simplesmente porque o que quer que você sentisse por mim não era o bastante contra essa vingança idiota!

Falar sobre o quanto ela tinha se entregado ou aquele amor arrebatador que tinha surgido dentro de si, e principalmente deixar claro o quanto Emily sentia que seu sentimento não se equilibrava com o de Hunter finalmente fez com que uma lágrima descesse pelo seu rosto. A voz mais embargada obrigou Sinclair a fazer uma nova pausa, mas dessa vez ela encarava Hunter de frente, para que ele não tivesse como fugir da verdade.

- Você se lembra do que disse para mim, em Burlington? Na noite em que nós dois decidimos ficar juntos? Você disse que não tinha espaço para uma terceira pessoa entre nós, mas foi você quem arrastou o Chad para o meio desse relacionamento, Hunter! Foi você que colocou a vingança dele acima do que eu sentia por você! Foi você quem não me amou o bastante, se é que você realmente me amou! Eu entendo que você tenha ficado com raiva e eu até seria capaz de perdoar a ideia de uma vingança, mas não foi só na noite do kart. Você tomou essa decisão e continuou tomando essa decisão TODOS OS DIAS em que nós dois ficamos juntos!

A escolha de usar Emily em uma vingança, de roubar de Clifford algo que ele amava, até tinha surgido no impulso de uma briga acalorada. Mas Timmons continuou sustentando aquele plano durante semanas, insistindo no mesmo erro, ignorando tudo o que ele e Emily vinham construindo juntos.

- O que aconteceu naquela quadra é um resumo de TUDO o que nós dois vivemos. Eu fui uma idiota que não enxerguei o que estava na minha frente. Eu me entreguei a você, eu só tinha olhos para você, ter você comigo era só o que eu queria, Hunter! Então por que eu não fui o bastante? Eu estava nos seus braços, eu estava nua e entregue, completamente fragilizada, eu só pensava em você, mas você ainda estava obcecado pelo Clifford! Você ignorou o que eu sentia, você não pensou em mim! Então como você pode ter coragem de dizer que faria tudo outra vez?

O rostinho de Emily já estava contorcido em um chorinho sofrido e ela precisou usar a mão livre para secar as lágrimas. Era ainda mais humilhante cometer aquela falha, mas Sinclair não conseguia ser forte com o coração completamente destruído. Mesmo que isso significasse gastar suas últimas migalhas de dignidade, mesmo que no fundo ainda existisse a possibilidade de Timmons estar brincando com os sentimentos dela, Emy precisava colocar para fora o que estava pensando e sentindo.

Depois de fungar, Emily apertou os lábios vermelhos e engoliu parte daquele choro para conseguir colocar logo um fim no seu discurso, para dizer tudo o que precisava e tentar se reerguer.

- Isso só mostra a pouca fé que você tinha em nós dois, porque você não acredita que a gente teria sido capaz de encontrar o caminho um para o outro de alguma outra maneira. Você prefere acreditar que era necessário sair destruindo tudo ao seu redor para ter o que você queria, fosse atingir o Chad ou ficar comigo. E isso só mostra o quanto você é egoísta, Hunter, e o quanto você não aprendeu com todo o mal que causou.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Sáb Abr 27, 2024 5:42 pm

Ligações não atendidas, mensagens bloqueadas, e-mails não respondidos. Se ainda restasse alguma dúvida no coração de Liberty, o sumiço de Leonard Wooton daria à garota a resposta que ela mais temia: Lenny não queria uma irmã, nada que ele dissera era verdade, ele tinha as piores intenções quando pisou em Colchester e iludiu Libby com promessas e com um falso afeto.

Liberty se voltou contra os amigos e arruinou o seu relacionamento com Dexter para defender um meio-irmão que, no fim das contas, merecia cada uma das críticas e acusações que foram feitas contra ele. Era como se todos tivessem a capacidade de enxergar a verdadeira face de Leonard, menos ela. Dona de uma mente tão brilhante e sempre com um rendimento tão acima da média, Bloomfield definitivamente não costumava se sentir tola ou ingênua. Mas, depois de perceber o que Lenny havia feito e a facilidade que ele tivera para enganá-la, Liberty se sentia a pessoa mais burra de todo o universo.

Tinha sido mesmo uma grande tolice acreditar que um Wooton a receberia de braços abertos em sua vida. Se nem o próprio pai nunca fez o menor esforço para participar da vida dela, era óbvio que um meio-irmão não pensaria de forma diferente. E quando Libby colocava na balança a péssima fama de Leonard, ela se sentia ainda mais idiota por ter acreditado nas boas intenções dele.

Agora era fácil ver que Lenny não a admirava, que ele não estava disposto a recuperar o tempo perdido e a dar um espaço na sua vida para a filha bastarda de Jeff. Tudo não tinha passado de um plano, um golpe muito bem articulado. E, além de ter caído naquela armadilha como um filhotinho indefeso, Libby havia perdido muito mais do que simplesmente a ilusão de fazer parte de uma família.

O sumiço dos arquivos no computador de Liberty já dava uma valiosa pista sobre qual seria a próxima ação de Leonard Wooton. O trabalho mais brilhante e mais promissor de Libby estava agora nas mãos de um impostor. E Libby nem precisou correr atrás daquela informação para saber que Lenny agiria rápido e que o meio-irmão provavelmente já teria registrado aquele trabalho com o seu próprio nome.

Ainda existia uma pequena chance de provar a verdade, mas para isso Liberty sabia que teria que mergulhar numa batalha judicial, contratar advogados, ir atrás de testemunhas e armar um grande escândalo. E, depois de conhecer a irmã, Leonard sabia que aquele não era o tipo de exposição que a garota estava disposta a enfrentar. Além disso, seria a palavra dela contra a palavra de um Wooton. Mesmo com todas as provas contra ele, Lenny tinha um sobrenome importante e uma grande fortuna a seu favor.

Qualquer pessoa imaginaria que aquele software era a perda mais dolorosa para Liberty, afinal era um trabalho brilhante que poderia garantir um contrato muito lucrativo para a menina num futuro próximo. Mas não era aquilo que mais doía em Bloomfield. Ser enganada pelo irmão, a ilusão de ter uma família evaporando, o programa roubado. Tudo aquilo era um grande pesadelo, mas o que deixava Libby mais arrasada era a certeza de que ela era a única culpada por arruinar o namoro com Dexter.

Libby simplesmente deixou que a felicidade escapasse por entre os seus dedos. Tudo o que ela precisava fazer era ouvir Dexter, era entender que o namorado só queria protegê-la. Mas, ao invés disso, Bloomfield foi arrogante, teimosa e rebaixou o namorado que a amava a um patamar inferior ao irmão que só queria se aproveitar dela. Quando teve que fazer uma escolha, Libby abriu mão do porto seguro que ela encontrava em Dexter para se jogar de cabeça no furacão Wooton. E agora ela estava no meio dos destroços e não podia fazer mais nada a não ser aceitar a derrota.

Até existia dentro de Liberty o desejo de ir atrás de Dexter para se desculpar e para implorar por uma segunda chance. E nem era apenas o orgulho que a impedia de fazer isso. Na verdade, era um misto de vergonha e desesperança que deixava a garota travada. Depois de tudo o que ela dissera para Dexter, depois da maneira terrível como Libby havia se afastado dele e decretado o fim da relação, parecia óbvio demais que Thompson não a aceitaria de volta. E provavelmente era o medo de ser desprezada por Dexter que fazia Liberty desistir de uma reconciliação antes mesmo de tentar seguir por aquele caminho.

O erro de Bloomfield foi grave, grotesco e infantil. Mas, em contrapartida, o destino havia cobrado dela um valor muito alto por aquele deslize. Porque agora Liberty continuava sem ter o irmão e a família que ela tanto desejava, e ela havia perdido também o amor de alguém que realmente a valorizava e a queria em sua vida.

- Eu sei que não é uma competição, mas rolaria uma disputa árdua entre nós duas pelo troféu de otária-iludida do ano...

Como as duas garotas estavam vivendo dramas bem semelhantes, Emily e Liberty tinham se unido ainda mais depois das decepções que assolaram as vidas das duas. Diferente da prima, Libby era orgulhosa demais para se encolher em posição fetal e chorar como um bebê, mas era notável que Bloomfield estava arrasada da sua própria maneira. Com a mente atormentada, Libby já não conseguia mais seguir à risca o seu rígido cronograma, vinha perdendo noites de sono e tendo um rendimento abaixo do esperado nas aulas.

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- No meu caso, eu vou tentar tirar disso uma lição. – na mesa do café da manhã, Libby desviou o olhar com um semblante derrotado e infeliz – E essa lição é: nunca mais confiar em ninguém. Especialmente num Wooton. Mas e quanto a você? Já teve tempo para pensar com mais calma em tudo o que rolou?

Alguns dias já tinham se passado desde o término do namoro de Emily e Hunter. E como Libby havia ficado ao lado da prima todo o tempo, ela era capaz de notar que Sinclair estava começando a reagir. É claro que Emily estava longe de se reerguer e superar aquela história, mas pelo menos ela tinha parado de chorar ou de se isolar sempre que se lembrava do ex-namorado.

Na última madrugada, Liberty havia impedido que Hunter Timmons invadisse o quarto da prima. Então a conversa com o rapaz ainda estava muito fresca na cabeça de Bloomfield. É óbvio que Libby jamais iria defender ou amenizar a gravidade dos erros cometidos por Hunter, mas ela não conseguia ignorar a sinceridade dos sentimentos dele.

- Você sabe que uma coisa não anula a outra, né? O fato do Tim ser um cretino, cruel, vingativo e filho da puta não significa que ele não te ama de verdade. Até porque, se fosse mesmo só um plano de vingança, ele não teria motivos para querer continuar com você, Emy. A escolha é sua e eu entendo que você esteja magoada e que queira distância dele. Mas eu acho que você deveria dar a ele pelo menos uma chance de se explicar...

***

Um dos motivos pelos quais Liberty não virou as costas para Hunter Timmons era a empatia. As atitudes de Hunter foram perversas e abomináveis, como amiga de Emily a vontade de Libby era esganar o rapaz e não mover um único dedo para ajudá-lo. Mas o detalhe que mudava completamente a postura de Liberty era o fato da menina compreender a dor que Timmons sentia agora e conseguir se colocar no lugar dele. Afinal, exatamente como Hunter, Bloomfield também havia cometido um erro grave que custou a ela o amor da sua vida.

As atitudes de Liberty não tinham sido tão desprezíveis como as de Timmons. Ela não mentiu, não enganou e nem manipulou os sentimentos do namorado. Mas, no fim das contas, Libby acabou sendo a responsável pelo fim do relacionamento e fez com que Dexter se sentisse decepcionado, traído e menosprezado. Assim como Emily, Thompson tinha se entregado por inteiro para alguém que não foi capaz de fazer o mesmo por ele.

O erro de Libby foi ter enxergado e tratado Dexter como um simples namoradinho, como uma paixãozinha adolescente que não deveria ser mais importante do que a família. Ao se ver no meio de uma batalha entre o namorado e o meio-irmão, Bloomfield realmente achou que a escolha mais sensata era ficar ao lado da “família”. O grande problema foi que Lenny nunca teve a intenção de ocupar aquele lugar na vida da menina. Ao invés de laços de sangue e de um irmão pra vida toda, Leonard na verdade era apenas um golpista manipulador que se aproveitou da vulnerabilidade de Liberty para roubá-la.

Assim como Hunter, Liberty agora precisava lidar com as consequências do seu próprio erro. Sem um irmão, sem o valioso trabalho com o qual ela pretendia mudar a própria vida, sem o namorado. Uma única aposta errada fez com que Libby perdesse tudo e nem a própria Liberty saberia explicar de onde estavam vindo as forças que a tiravam da cama todos os dias.

Até existia uma parte dela que queria ter uma reação semelhante a de Emily, derramar todo o seu estoque de lágrimas e se deixar dominar pela tristeza e pelo arrependimento. Mas, além daquilo não combinar em nada com a personalidade orgulhosa de Bloomfield, ela era objetiva demais para ser tão frágil e sentimental. Cruzar os braços e não fazer mais nada era o equivalente a continuar errando. Libby sabia que não podia voltar no tempo, se afastar de Lenny, evitar o roubo do software e recuperar o amor de Dexter. Mas ainda havia algo que ela podia fazer para amenizar pelo menos um pouco das terríveis consequências dos seus erros.

No lugar de Liberty, qualquer pessoa mais egocêntrica e materialista estaria totalmente concentrada na luta para recuperar o software. Mas num gesto muito mais nobre, Libby vinha gastando boa parte do seu tempo livre para tentar resolver um problema que já nem era mais dela. Naquela tarde, ao fim das aulas, mais uma vez era a situação delicada de Hunter com a polícia que motivou Libby a ir atrás do ex-namorado para pedir a ajuda de Dexter.

Não era uma tentativa de se reaproximar de Thompson e Liberty não estava usando aquela história como uma desculpa para ficar perto do ex-namorado. A questão era que Dexter tinha se tornado a ÚNICA pessoa que poderia ajudá-la na luta para provar a inocência de Timmons. Todo o restante da cidade já estava convencida da culpa de Hunter e agora era óbvio que Emily já não pretendia se esforçar tanto para ajudar o ex-namorado que despedaçara o seu coração. Dexter Thompson era a única pessoa que ainda podia querer estender a mão para Timmons em nome da velha amizade dos dois.

- Oi. Você está ocupado? Será que podemos conversar?

Com o celular na mão e parecendo distraído com as mensagens, Dexter caminhava sozinho rumo ao estacionamento quando Liberty bloqueou o caminho dele. As aulas já tinham chegado ao fim, os demais alunos se dissipavam e não havia mais ninguém perto o bastante para ouvir a conversa do ex-casal de namorados. Ainda assim, Thompson teve uma reação muito estranha.

Como um rapaz pego em flagrante fazendo algo errado, Dexter se sobressaltou, arregalou os olhos e bloqueou a tela do celular num gesto afobado, como se ele estivesse com medo que a visão periférica da ex-namorada capturasse o teor das mensagens no aparelho dele. E como Liberty JAMAIS imaginaria que Dexter vinha conversando muito com JJ na esperança de solucionar o problema do roubo do software, a garota chegou à conclusão mais óbvia diante do comportamento suspeito dele.

O coração de Libby se partiu com a ideia de que Thompson já poderia estar com outra garota. Depois que Liberty terminou o relacionamento (e da maneira terrível como ela havia feito aquilo), Dexter não devia satisfações à ex-namorada e ele tinha todo o direito de querer reconstruir a sua vida ao lado de uma garota menos problemática, de uma menina que lhe desse mais valor. Mas nem esse pensamento justo e racional impedia que Liberty se sentisse completamente miserável com a certeza de que ela havia mesmo perdido o amor de Thompson.

Os olhos castanhos seguiram a mão de Dexter enquanto o rapaz enfiava o celular de volta na mochila, mas Liberty não se atreveu a fazer perguntas ou comentários. A mente sagaz dela começou a unir as pontas soltas e cada peça daquela história parecia reforçar a hipótese de que Dexter só tinha precisado de poucos dias para superá-la e para engatar um novo romance. Além do comportamento suspeito daquela tarde, também foi muito estranho saber que Thompson tinha sumido no fim de semana e perdido uma partida importante de futebol.

Era óbvio que existia outra pessoa e outra motivação na vida do rapaz. O que Libby não poderia imaginar era que a “outra pessoa” que Dex queria esconder era Jeffrey Wooton Junior e que a motivação dele era ajudar a ex-namorada a recuperar pelo menos um pouco de todo o prejuízo que Lenny causara a ela.

- É sobre o Tim... Eu acho que encontrei uma maneira de provar a inocência dele no lance das drogas... – apesar do coração comprimido dentro do peito, Liberty se obrigou a ser forte e objetiva naquela conversa com o ex-namorado – Mas se você estiver ocupado, podemos combinar outro dia.
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Mensagem por Hunter Timmons Sáb Abr 27, 2024 7:23 pm

Se o destino desse a Hunter o poder de escrever o roteiro daquela conversa, a reação de Emily certamente seria diferente. É claro que Timmons não escreveria uma história fraca e sem sentido na qual a garota simplesmente o perdoaria, esqueceria todo aquele drama e reagiria como uma boba apaixonada capaz de ignorar um erro tão grave. Mas Hunter certamente não colocaria Emily no papel de uma garota tão magoada e desiludida. Porque cada uma das palavras escolhidas por Sinclair naquela tarde deixava muito claro que ela já não confiava mais nele e nem acreditava no futuro daquele relacionamento.

Seria muito melhor se Emily reagisse de forma mais emocionada ou até mesmo furiosa. Hunter preferiria ouvir gritos, receber tapas e ser soterrado de xingamentos porque ao menos assim Sinclair mostraria que seus sentimentos por ele ainda eram intensos, que ainda existia alguma esperança no fim daquele longo túnel escuro. Mas o discurso amargurado e derrotado da menina parecia ser um decreto do fim daquele relacionamento. Era como se Emily já tivesse desistido de tudo.

Timmons vinha vivendo num verdadeiro inferno nos últimos dias. Completamente sozinho e isolado, sem o apoio dos amigos, expulso do colégio, sendo pressionado pelo pai e pelo xerife e correndo o risco de voltar para a cadeia por um crime que ele não havia cometido. Mas a pior parte de toda aquela tortura era não ter mais Emily ao seu lado.

A sensação de Hunter era que ele conseguiria vencer qualquer batalha com o apoio de Sinclair, mas sem ela era difícil se manter de pé e encontrar forças para superar todos aqueles desafios. A última esperança de Timmons era ter uma conversa franca com Emily e conseguir uma nova chance com a namorada. Mas a reação de Sinclair naquela tarde deixava bem claro que ela sequer cogitava a ideia distante de uma reconciliação.

A pequena e frágil chama de esperança que insistia em sobreviver dentro de Hunter finalmente se apagou. A chegada de Emily à vida dele tinha trazido mais luz e mais cor para o mundo de Timmons, mas agora ele se via sugado novamente para o mesmo lugar sombrio onde ele vivia antes de se apaixonar por ela. E Sinclair teria um vislumbre do antigo Hunter cruel e amargurado no instante em que o rapaz reagiu com um risinho ácido.

- É claro que eu menti quando você me questionou sobre o lance da quadra. E é claro que eu tive que sustentar essa mentira o tempo todo! O que mais eu poderia ter feito, Emily? Olha só como você reagiu ao saber a verdade! Eu te conheço o suficiente para saber que a verdade estragaria tudo, que você preferiria continuar vivendo no seu mundinho cor de rosa e acreditando que o nosso romance era um lindo conto de fadas da Disney!

Até alguns dias atrás, Emily realmente tinha uma visão muito romantizada sobre aquele relacionamento. Como num filme, o amor entre Emily e Hunter parecia ter nascido magicamente em meio a uma amizade. Também como num típico romance, os dois precisaram lutar contra as diferenças e contra todos que não acreditavam na intensidade daquele sentimento. Mas Sinclair certamente não enxergaria a situação de maneira tão iludida ou sonhadora se soubesse a verdade por trás da aproximação de Hunter. O fato do amor de Timmons ter brotado em meio a um terreno árido de raiva e vingança era algo que estragava completamente o enredo criado dentro da cabeça da menina.

- Mas quer ouvir mais uma verdade, Emily? Uma verdade que eu já sei há um bom tempo!? O mundo não é cor de rosa! Contos de fadas não existem! Sonhos não se realizam! Você não é uma “princesinha”... – Hunter fez uma alusão irônica ao apelido carinhoso com o qual Bob Sinclair costumava se referir à filha caçula – E você realmente tem que ser muito inocente pra acreditar que eu me encaixaria no papel de um príncipe encantado!

Timmons tinha defeitos graves totalmente incompatíveis com os mocinhos dos filmes ou com os príncipes dos contos de fadas. Egocêntrico, manipulador, atormentado por traumas do passado, com atitudes perversas e sem demonstrar arrependimento, Hunter tinha tudo para ganhar o papel de um grande vilão naquela história.

Antes de se apaixonar por Emily, Timmons não se importava nem um pouco em ser um anti-herói, uma decepção para a família ou a vergonha de Colchester. Hunter estava mergulhado em uma escuridão tão profunda que não parecia existir para ele outro papel diferente de um vilão. Contudo, depois que Sinclair entrou na vida do rapaz e mostrou a Hunter que poderia existir um futuro mais feliz no destino dele, Timmons também se iludiu com a possibilidade de interpretar um papel diferente no filme da sua própria vida.

Obviamente Hunter jamais seria o protagonista de uma comédia romântica ou de um conto de fadas. Mas Timmons realmente pensou que aquele poderia ser um filme de drama, uma história que transformava o vilão no protagonista e mostrava ao público que ele não era tão cruel como todos pensavam. Poderia ser um daqueles filmes onde todos os problemas se resolviam para que a trama terminasse num final feliz, numa redenção do anti-herói. Mas tudo levava a crer que não era na direção daquela conclusão feliz que Emily caminhava.

- Você tem o direito de não acreditar em mim, de apontar os meus erros e de me tirar da sua vida. Mas você não pode abrir a boca para falar dos meus sentimentos como se soubesse o que se passa dentro de mim, Emily! Eu posso não ser o principezinho perfeito que você idealizava pra sua vida, mas você não tem o direito de afirmar que eu não te amei o suficiente ou que você viveu essa história sozinha! Pode não ser o amor clássico e nobre de um conto de fadas, mas eu te amei demais do meu jeito! Eu te amei todos os dias, eu ainda te amo!

Apesar de não ter erguido a voz em nenhum momento, o tom mais inflamado e a velocidade com que as palavras de Hunter se atropelavam mostravam o quanto o rapaz estava emotivo. Uma camada de lágrimas cobria os olhos cor de avelã e aquela última declaração de amor já soou um tanto engasgada. Foi preciso que Timmons fizesse uma pausa para se recompor e para engolir o choro que estava entalado em sua garganta.

- Eu ainda te amo demais, Emily. A minha vida perdeu completamente o rumo sem você, ruivinha.

Num gesto um pouco mais arriscado, Hunter deu um passo à frente e ousou encaixar suas mãos carinhosamente nas laterais do rostinho da menina. A pele fria e os dedos trêmulos do rapaz denunciavam o quanto Timmons se sentia afetado e ansioso com aquela conversa. E o olhar de súplica dele deixava bem claro o quanto ele estava aflito e desesperado.

- Eu sei que eu posso ser uma pessoa melhor e te fazer feliz. Eu já vinha me esforçando todos os dias para ser o cara que você merece. Então, por favor, me dê mais uma chance e não descarte o amor que eu sinto por você. Por favor, Emy, volta pra mim.
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Mensagem por Dexter Thompson Seg Abr 29, 2024 5:16 pm

Depois do que tinha acontecido com Leonard Wooton, Dexter sabia que não podia confiar em qualquer um. Diferente de Liberty, o rapaz não achava que o mundo era uma causa perdida e que qualquer um que se aproximasse estivesse munido de segundas e más intenções. Mas era preciso ser muito ingênuo para voltar a confiar em um Wooton apenas com base de palavras e promessas.

A postura de JJ era completamente diferente de Lenny. Ele não tinha aquele ar arrogante, presunçoso e espaçoso. JJ parecia ser um rapaz mais sério, profissional e, mais importante de tudo, que estava acostumado a lidar com as crises do caçula. Mas nada disso era suficiente para convencer Dexter. Afinal, JJ poderia demonstrar toda a confiança do mundo, e ainda estar permitindo a sua aproximação com Thompson apenas para proteger o caçula.

Os Wooton eram sujos, não se preocupavam com os estragos que causavam por onde passavam. Mas eles poderiam ser aquele tipo de família que protegiam uns aos outros, que varriam a poeira para baixo do tapete e continuavam posando como se fossem deuses inalcançáveis. Naquele momento, tentar convencer e trabalhar ao lado de JJ era a melhor alternativa de Dexter, mas não significava que ele estava pronto para beijar os pés de um Wooton e entregar todas as informações que tinha, de bandeja, só esperando por um novo golpe.

Para começar, nem na conversa durante um café ou em todas as outras que Dexter havia mantido com JJ por telefone, e-mails e mensagens, o rapaz jamais tinha cogitado mencionar quem realmente era Liberty Bloomfield. Thompson tinha contado sobre o programa desenvolvido pela ex-namorada, sobre como Lenny tinha dopado a menina durante uma festa e roubado o computador dela para copiar todos os arquivos.

A ausência de alguns detalhes propositais deixavam JJ confusos. Ele não entendia o que o irmão estaria fazendo em uma cidadezinha chamada Colchester, quilômetros de distância da Caltech, ou como tinha descoberto sobre o trabalho de Bloomfield. Dexter contou que a ex-namorada tinha feito contato com algumas empresas que pudessem se interessar pelo programa e que acreditava que Wooton tinha descoberto assim. Thompson ainda fingiu não conhecer a real conexão que existia entre Lenny e Libby, mas garantiu que o rapaz tinha estado na sua casa no dia da festa ao mostrar algumas fotos onde o Wooton aparecia de relance.

JJ deveria ser um excelente ator ou estava mesmo profundamente decepcionado e chocado com tudo o que tinha escutado sobre o irmão. Mas ao invés de confrontar Leonard e exigir respostas, ele sabia que precisava ser muito mais cauteloso. Primeiro de tudo, porque JJ não queria nenhum escândalo envolvendo o sobrenome Wooton ou que o pai surtasse com os dois por causa de um roubo de software. Porque era óbvio que Jeffrey esfolaria os filhos vivos por causa daquela vergonha que certamente mancharia a sua empresa e toda a sua reputação. Além do mais, JJ não queria decepcionar ou preocupar o pai, então estava assumindo a responsabilidade de resolver aquele grande problema.

Assim como Dexter tinha seus receios, JJ também não queria dar todas as suas cartas. Mas o rapaz prontamente alegou que envolveria os advogados para investigar a patente do software e como resolveriam aquela questão.

“A equipe técnica me retornou com o laudo. A compatibilidade com a assinatura do JJ foi de menos de 10%.”

Além de envolver advogados, JJ insistiu que o código apresentado por Leonard fosse analisado por uma equipe técnica. Robôs automatizados varriam toda a construção do programa e usavam a inteligência artificial para comparar com outros desenvolvimentos feitos por Lenny, para mostrar a compatibilidade da autoria. A análise não afirmava se o código era ou não desenvolvido por uma determinada pessoa, mas retornava estatisticamente a probabilidade da mesma pessoa ter feito aquele programa.

Como já sabia qual seria a resposta, Dexter nem hesitou em concordar com o pedido de JJ. E ele também não demonstrou nenhuma surpresa ao receber aquela mensagem com uma probabilidade tão baixa de que Leonard tivesse feito o programa de Libby. Thompson poderia não entender nada de tecnologia, mas JJ tinha garantido que a IA avaliaria a estrutura de dados, a linguagem de programação, os comentários ocultos e toda a forma em que o software tinha sido construído. Conhecendo a ex-namorada tão bem, Dex já sabia que a genialidade de Bloomfield não era algo que encontraria em qualquer esquina.

“Eu te disse, não é? E agora? Conseguiu descobrir sobre a patente?”

“Isso ainda não garante que algum juiz ateste um plágio, Thompson. E sinceramente, eu espero que a gente não precise chegar a tanto. Sobre a patente, o Lenny fez uma entrada, o que talvez dificulte as coisas. Mas ainda não é um caso perdido.”

JJ estava sendo muito paciente e cuidadoso em todo aquele processo, e Dexter precisava admitir que era algo delicado demais para ser feito de qualquer maneira. Mas era irritante demais pensar que, além de sair ileso depois de dopar Liberty, Leonard talvez tivesse que enfrentar apenas uma leve bronca como uma criança travessa depois de cometer um crime.

“Nós já falamos sobre isso, JJ. Se precisar de uma guerra judicial, que seja. Eu só não vou poupar a exposição na mídia. A única cosia que eu quero é que esse desgraçado desfaça minimamente o mal que ele fez para a Liberty.”

Não havia nada que Dexter pudesse fazer capaz de apagar o sofrimento de Bloomfield. Mais do que ter sido enganada, dopada e roubada, Libby tinha sido traída por alguém em quem ela tinha depositado todo amor, confiança e principalmente esperança. Esperança em uma família que ela agora tinha certeza que jamais teria. Mas isso não impedia Dexter de tentar diminuir o estrago e procurar por justiça.

Dexter e Liberty não estavam mais juntos. No fim daquele relacionamento, Bloomfield tinha deixado claro que não existiria nem mesmo amizade entre os dois. E mesmo depois de tudo o que tinha acontecido, Libby não tinha lhe procurado para conversar. Ao invés de tomar a iniciativa daquela conversa, Thompson respeitava o espaço que a garota precisava. Mais importante de tudo, ele também estava respeitando a própria dor, porque embora não tivesse sido vítima de um golpe, Dex também tinha saído bastante ferido daquela confusão.

Libby tinha sido a primeira garota por quem ele tinha se apaixonado, sua primeira namorada, alguém que tinha entrado na sua vida e criado raízes profundas no seu coração. Ser descartado com tanta facilidade, ser ignorado, desvalorizado e diminuído sem que Bloomfield nem hesitasse ainda era uma dor que ele carregaria por muito tempo. Dex não tinha sofrido as mesmas mentiras e manipulações de Emily, mas ele também sentia que já não conseguia confiar em Liberty ou nos sentimentos dela.

E a maior prova de que Libby não parecia se importar com o fim do namoro ou com o afastamento deles era como ela sequer cogitava uma conversa. Bloomfield já sabia que o ex-namorado estava certo em suas acusações contra Lenny, e mesmo assim não parecia estar interessada em voltar para ele, o que só reforçava a teoria de que o que ela sentia por ele não era tão forte e intenso.

“Você tem certeza que essa Liberty é só uma ex-namorada? Não me leve a mal, Dexter... Mas eu nunca fiz tanto nem pelas minhas namoradas, imagine pelas que já tinham terminado comigo.”

Não era a primeira vez que JJ fazia um comentário semelhante sobre o empenho de Thompson em ajudar uma ex-namorada. Os dois vinham conversando tanto nos últimos dias que já pareciam se conhecer há muito mais tempo. Mesmo que na maior parte do tempo estivessem conversando sobre assuntos mais sérios, algumas piadinhas e provocações já tinham sido trocadas.

“Deve ser por isso que você vai acabar como um solteirão, o tio nerd que compra presentes tecnológicos no natal.”

“De onde eu vim, presentes tecnológicos sempre foram os melhores. Você não ia gostar de ganhar um PS de última geração do tio nerd?”

“Não sei. Meu pai não tem irmãos e as irmãs da minha mãe sempre traziam suéteres. Mas eu sempre ganhava uma bola de futebol ou um equipamento novo.”

“Ás vezes eu até esqueço que você é um atleta. Você deveria ser mais malvadinho de vez em quando ou vão revogar a sua carteirinha de quarterback.”

Uma sombra cobriu o rosto de Dexter com aquele comentário. Depois de ter faltado o último jogo, uma verdadeira tempestade tinha se instalado na sua casa e o pai tinha praticamente declarado uma guerra. Justin garantiu que iria pessoalmente falar com o técnico para tentar garantir a permanência do filho no jogo, e foi apenas para evitar um atrito ainda maior que Dex guardou para si o comentário de que não tinha a menor intenção de voltar ao time.

Além de querer mostrar para o pai que ele era perfeitamente capaz de fazer as próprias escolhas, Dexter também sabia que não teria muito tempo para ajudar Liberty e Hunter se continuasse com os treinos e os jogos de futebol. E ele precisava daquele tempo para os problemas que realmente importavam.

Parecia tolice abandonar algo que poderia lhe ajudar com o próprio futuro para ajudar uma ex-namorada que sequer parecia interessada a voltar com ele, mas Dex não estava fazendo nada daquilo com segundas intenções ou para provar qualquer coisa para Libby. A prova disso era que Thompson estava fazendo tudo sem que Bloomfield desconfiasse que ele ainda estava correndo atrás da história dos Wooton. Mas Dexter era incapaz

Não importava como aquele namoro tinha chegado ao fim, ou a ausência de um futuro para os dois, como Libby se sentia em relação a ele ou se Dexter tinha se entregado mais do que ela. Thompson era o tipo de pessoa que não conseguia negar o que existia dentro de si, que não fugia da sua essência e não ignorava o que sentia. Mesmo que Liberty não quisesse mais ficar com ele, ela ainda tinha sido a garota mais importante a passar pela sua vida, e o amor que Dex sentia por ela era grande o bastante para que ele ainda quisesse fazer o melhor.

Dex já tinha voltado a se concentrar no caminho da saída da MMU quando seu celular voltou a vibrar. Ele puxou o aparelho e se concentrou nas novas mensagens de JJ enquanto caminhava de maneira automática pelo estacionamento.

“Eu estava pensando em ir até Colchester depois que falar com os advogados. Depois de tudo o que o Lenny fez, me sinto na obrigação de conhecer e falar pessoalmente com a sua ex. Além do mais, eu confesso que estou curioso para conhecer a responsável pelo software.”

Os pés de Dexter diminuíram o ritmo da caminhada ao ler a sugestão de JJ. A ideia de ter um novo Wooton em Colchester era preocupante, mas o rapaz não estava pedindo para conhecer a meia irmã que ele sequer sabia que existia. Era a primeira vez que alguém daquela família demonstrava interesse em conhecer Liberty, sem nenhum tipo de segundas intenções. E mesmo que ainda tivesse uma pequena pontada de desconfiança, Dex ficou tentando com a possibilidade daquele encontro.

Thompson ainda estava refletindo sobre os prós e contras quando uma sombra brotou no seu caminho. E quando o rostinho de Libby entrou em foco, o rapaz arregalou os olhos e rapidamente escondeu o celular como se estivesse cometendo um crime só por estar falando dela com um Wooton.

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- Ahn? O quem? Ocupado, eu? Nãão...

Dexter não tinha grandes habilidades para conseguir mentir, e ele ficava ainda mais atrapalhado quando tentava inventar alguma desculpa de última hora. Então o rapaz pigarreou, cruzou os braços e se esforçou (inutilmente) para fingir que estava tudo bem, embora os sinais de tensão fossem óbvios. Sem nem desconfiar que o que Libby pensava era que existia outra garota por trás das mensagens do celular, Dex deu de ombros ao tentar se explicar.

- Eu só estava marcando uma coisinha com uma pessoa. Nada demais. Você queria falar sobre o Tim?

O semblante de Dexter ficou mais sério e intrigado. Com todo o drama envolvendo Liberty e os Wooton, o rapaz não tinha conseguido se dividir entre Chad e Hunter com a mesma dedicação. A situação dos seus amigos tinha conseguido chegar a um extremo preocupante e Dex se sentiu culpado por não ter feito mais nada ao seu alcance. Depois de um longo suspiro, o rapaz ajeitou a mochila em um dos ombros e apontou com o queixo para seu carro estacionado há uma curta distância.

- Vem, você já comeu alguma coisa? Vamos no Pat's e podemos conversar.
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Mensagem por Emily Sinclair Seg Abr 29, 2024 5:20 pm

Tudo tinha sido um plano para se vingar de Chad Clifford. A história de amor que Emily jurava viver, tinha começado porque o seu ex-namorado tinha aceitado a posição de capitão do time de basquete, e Timmons, acreditando ter o direito de se ofender, se revoltar e se vingar, tinha arquitetado tudo para fazer o seu ex-amigo sofrer da mesma forma que ele tinha sofrido. Na visão de Hunter, ele tinha perdido o seu bem mais precioso, o basquete, e Chad merecia perder algo: a garota que ele amava.


Alguns meses atrás, Emily ainda poderia se sentir duvidosa sobre seus sentimentos ou os desejos em relação a Chad. Mas Hunter tinha sido muito meticuloso e bem-sucedido com o seu plano, então agora não havia mais espaço no coração de Emily para ninguém além de Timmons. Clifford tinha perdido a garota, tinha apanhado brutalmente e sua reputação como capitão estava seriamente manchada, talvez de maneira irremediável. Timmons tinha alcançado seu objetivo.


Toda aquela história era podre, vergonhosa, humilhante e cruel. Mas se Hunter já tinha alcançado seu objetivo, ele não tinha mais motivos para insistir em mentiras ou iludir Emily. Era preciso ser alguém muito cruel para ainda insistir em brincar com os sentimentos de uma garota já perdidamente apaixonada. Então, Emy só conseguia encarar as súplicas de Timmons de duas maneiras:


Opção número um: Ele era ainda pior do que todos pensavam, frio, calculista e manipulador, desprovido de qualquer bom sentimento e empatia, capaz de insistir em mentiras, de lhe torturar e lhe castigar apenas pelo próprio prazer e orgulho. Com tudo o que Tim já tinha demonstrado, não era uma opção tão irreal assim.


Opção número dois: Hunter tinha errado, ele ainda era egoísta, mentiroso e manipulador, ainda tinha um desvio de caráter sério e preocupante e não era uma pessoa de confiança. Mas ele estava sendo sincero ao dizer que tinha se apaixonado por ela, que ainda a queria na sua vida e que se esforçaria por um futuro daquele relacionamento.


A única falha da teoria número um era que os traços de um perfil beirando a psicopatia não combinava com a atitude de alguém que assumia um crime que não tinha cometido apenas para proteger uma amiga. Hunter não estava apenas enfrentando consequências como trabalhos extras ou um afastamento temporário da MMU. Um processo criminal envolvendo acusações de porte de drogas e uma menor de idade dopada. O verdadeiro culpado estava em liberdade e Hunter só tinha feito aquilo para que Liberty não enfrentasse consequências piores e até uma expulsão.


Se Hunter era capaz de se arriscar tanto, de se jogar no fogo por causa de uma amiga, não fazia sentido que ele continuasse mentindo e manipulando Emily só para se divertir ou só para não sair tão queimado em toda aquela história. E com isso, a teoria número dois ganhava muito mais força.


Hunter tinha errado e distorcido todo o começo daquele relacionamento, mas ele a amava. E o coração de Emily estava completamente entregue, mesmo que despedaçado e sangrando. Não era uma aventura, uma paixonite por um bad boy ou uma fase divertida. Desde o começo, tudo o que Emy tinha sentido por Hunter tinha sido intenso e sincero. Ela o amava e não sabia como iria conseguir se reerguer e lidar com a própria vida sem tê-lo ao seu lado.


Quando as mãos de Hunter envolveram seu rosto em um toque familiar, foi como sentir novamente um pouco de calor depois de ter congelado em uma nevasca. Emily sentia que tinha mergulhado em um buraco escuro e solitário desde que tinha assistido a gravação feita por Chad, mas aquele toque conseguiu trazer uma fraca luminosidade. Seus ombros relaxaram e ela deixou que as pálpebras pesadas se fechassem para conseguir se deliciar mais com aquela sensação.


Emily estava sensível, fragilizada e confusa. E o mais irônico de tudo era que o responsável por fazê-la se sentir dessa maneira era também o único capaz de trazer conforto e felicidade. Então Sinclair não resistiu quando também ergueu as suas mãos e se agarrou na camisa de Hunter, soltando um suspiro que só mostrava a sua exaustão com aquela conversa e os últimos acontecimentos.


- O que aconteceu entre a gente... Eu nunca me senti assim por mais ninguém, Hunter. Acho que eu te amo tanto que isso me assusta. E é esse o problema.


Com um nó na garganta, Emily sentiu aquela fraca luz se apagar e o frio a envolveu outra vez. Naquela noite, ela e Hunter estavam devidamente vestidos e não protagonizavam a mesma cena íntima da quadra de basquete, mas Sinclair se sentiu igualmente exposta. E se lembrar que Timmons tinha se aproveitado daquela sua vulnerabilidade para atingir Chad, que enquanto ela se declarava e se entregava, eram outros pensamentos muito mais sujos que se apoderavam dele, foi o bastante para trazê-la de volta, com os pés devidamente fincados no chão daquele novo mundo real.


- Isso não me assustava antes. Se você quisesse fazer um mergulho radical de um penhasco, eu saltaria logo atrás de você, mesmo sem conseguir ver a água. Eu confiava em você. Mas agora, sentir tudo isso só me faz ficar com medo, porque eu não quero passar por toda essa merda outra vez.


Os dedinhos que se agarravam na camisa de Hunter com tanta força finalmente se afrouxaram e Emily abriu os olhos enquanto recuava um passo, interrompendo qualquer contato físico com o rapaz. Ela já não se segurava mais a ele, e com uma das mãos, Sinclair interrompeu também o toque das mãos de Timmons em seu rosto.


- Você tem razão, eu estava mesmo vivendo em um conto de fadas. Mas a maneira com que você me mostrou o mundo real... - Emy balançou a cabeça enquanto fazia uma pausa. Seu semblante estava contorcido em tristeza, mas dessa vez a menina conseguiu soar mais firme. - Eu não consigo mais confiar em você, Hunter. E da próxima vez que estivermos juntos? Como eu vou saber se você realmente está pensando em mim, que a sua mente, o seu coração e o seu corpo estão mesmo comigo, e não pensando em uma vingança ou o que quer que ocupe seus pensamentos da próxima vez?


Emily poderia até acreditar nas declarações de Hunter e nos sentimentos dele. Mas com a confiança partida, sempre haveria uma vozinha dentro da sua cabeça perguntando “e se?”.


- Até quando o seu amor por mim vai ser suficiente? Até a próxima vingança? Até o Chad fazer mais alguma coisa que te irrite? Você teve a sua chance, Hunter, mas foi você quem não conseguiu me escolher. Você preferiu a sua vingança, não foi? Pois você conseguiu o que você queria. E é só isso que vai ter de mim.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Seg Abr 29, 2024 9:19 pm

“Marcando uma coisinha com uma pessoa”.

Se Liberty ainda tivesse alguma dúvida sobre o conteúdo das mensagens no celular de Dexter, aquela explicação vaga do ex-namorado só serviria para aumentar ainda mais as suspeitas de que Thompson estava conversando (e marcando um encontro) com uma garota.

Ninguém poderia julgar Dexter por querer seguir adiante depois de um término, muito menos a garota que o tinha dispensado. Foi Libby quem decretou o fim do relacionamento e decidiu tirar Thompson de sua vida, foi a garota que fez a escolha de seguir adiante sem ele e deixou bem claro que não havia qualquer brecha para uma reconciliação. Mesmo levando em consideração que só tinham se passado poucos dias desde o término, Bloomfield ainda seria muito hipócrita se pedisse explicações ou condenasse Dexter por já estar com outra pessoa.

Liberty sabia que não tinha o direito de questionar ou se ofender com as atitudes do ex-namorado, mas era impossível para a garota ser indiferente àquela situação. Além de se sentir magoada com a rapidez com a qual Thompson tinha superado o término, Libby também não conseguia abafar a dor que vinha com a certeza de tê-lo perdido. Imaginar que Dexter já estava tão envolvido por outra pessoa fazia Liberty se questionar até se o relacionamento dos dois realmente tinha sido tão especial para o rapaz ou se ela só tinha sido mais um nome na extensa lista de conquistas do quarterback.

A garota não fez nenhuma pergunta ou comentário, mas a mudança na postura dela acabou denunciando que Bloomfield já não se sentia mais tão à vontade com aquela situação. A respiração mais pesada, o olhar magoado e a maneira mais tensa como Libby puxou uma mecha dos cabelos para trás da orelha eram sinais bem óbvios de que ela estava insatisfeita e enciumada. Mas, mesmo com o coração partido, Bloomfield se obrigou a engolir a decepção e os ciúmes para se concentrar nos motivos que a levaram a procurar por Dexter naquela tarde.

O convite para que aquela conversa acontecesse no Pat’s foi aceito depois de uma breve hesitação. Ao chegarem ao local, os dois ocuparam uma das mesinhas mais aos fundos do estabelecimento para que pudessem ter um pouco mais de privacidade durante aquela conversa importante. Ao invés de se sentarem lado a lado como antigamente, Dexter e Liberty ocuparam assentos opostos e ficaram de frente um para o outro, separados pela mesinha. O clima mais pesado, o distanciamento e aquela nova dinâmica tão diferente da postura que os dois tinham na época do namoro fez com que Bloomfield se sentisse ainda mais desconfortável e um pouco travada.

Era absurdamente estranho estar tão perto de Dexter e ter que agir de maneira tão distante e mecânica. Embora o namoro não tivesse se prolongado por muitos meses, Dex e Libby se conectaram de uma tal maneira que agora era difícil para a menina lidar com as barreiras criadas entre eles. O cérebro de Liberty até entendia que o relacionamento havia chegado ao fim, mas era difícil convencer o seu coração a parar de se acelerar por Thompson ou controlar o impulso que as mãozinhas dela sentiam de tocá-lo ou de mergulhar nos cachos dos cabelos dele.

- Eu tive acesso ao meu exame toxicológico. – numa clara postura defensiva, Libby decidiu começar aquela conversa de maneira objetiva e indo direto ao ponto – A substância encontrada no meu sangue se chama fenciclidina, mais conhecida como PCP. É vendida em forma de pó ou comprimidos, causa alucinações, confusão mental, agitação e torpor.

Mesmo com um cronograma tão rígido, Liberty perdeu várias horas com aquela pesquisa, o que mostrava que a garota estava mesmo empenhada a consertar os seus erros e inocentar Hunter Timmons. A boca de Bloomfield chegou a se abrir para que ela continuasse o discurso, mas a chegada da garçonete a obrigou a fazer uma pequena pausa. Só depois que a moça se afastou com os pedidos dos dois anotados num bloquinho, Libby retornou ao assunto mais delicado com o ex-namorado.

- É uma droga sintética, Dexter. Em outras palavras, não é uma substância de uso medicinal. Nem para humanos e muito menos pra cavalos. Eu também investiguei qual tipo de sedativo os veterinários do haras Timmons usam e descobri que é a cetamina. A cetamina é um composto usado por via endovenosa. Isso quer dizer que, para alguém me dopar com cetamina, teriam que enfiar uma agulha dentro de uma das minhas veias porque o medicamento é destruído pelo ácido estomacal e não faz nenhum efeito caso ingerido por via oral.

Toda a pesquisa feita por Libby ainda não provava que Leonard Wooton estava por trás da overdose da irmã. Mas ao menos era uma prova e um excelente argumento que os advogados de Hunter poderiam usar para mostrar que ele não era o responsável pela droga adicionada à bebida de Liberty Bloomfield. E se acusação de tentativa de homicídio fosse retirada do processo de Hunter, certamente ele teria mais chances de converter a sua pena em fiança ou trabalho voluntário.

Como poucas mesinhas estavam ocupadas nos fundos do estabelecimento, o silêncio ao redor dos dois permitiu que Libby ouvisse o som do celular de Dexter vibrando dentro da mochila. E o fato do rapaz nem se dar ao trabalho de checar o aparelho parecia ser mais uma grande prova de que ele não queria que Liberty soubesse quem era a pessoa insistente que estava enchendo o celular dele de mensagens naquela tarde. Num gesto inconsciente e ansioso, Liberty começou a tamborilar os dedinhos sobre a superfície da mesa, numa tentativa quase desesperada de ignorar o ciúme que já começava a corroer o coração dela.

- Só tem um pequeno buraco na minha argumentação. – Libby mais uma vez tentou ignorar os seus sentimentos e soar objetiva – Eu meio que invadi o sistema do haras pra ter acesso às notas de compra dos medicamentos. Então talvez você possa procurar o Hunter, marcar uma reunião com os advogados e sugerir que eles consigam esses dados de maneira legal.

Depois de ter tido tanto trabalho para reunir aquelas informações, Libby só tinha que conversar com Hunter e passar aquela tese diretamente para o maior interessado naquele processo. Simplesmente não era necessário compartilhar aquelas informações com Thompson ou pedir a ajuda ou a interferência dele naquela história. Mas antes que Dexter pudesse questionar porque ele estava sendo colocado como um intermediário naquela situação, Liberty explicou os seus objetivos.

- Eu pensei que você poderia aproveitar essa desculpa pra voltar a falar com o Tim. É, ele pisou feio na bola e parte de mim quer matá-lo por tudo o que ele fez com a Emy. Mas eu também estou com pena dele. O Tim ficou completamente isolado e desorientado, eu acho que ele precisa mais do que nunca de um bom amigo. Eu sei bem qual é a sensação de perder tudo depois de um único erro…

Naquele “tudo”, Liberty obviamente estava incluindo o software, o irmão e a tola ilusão de ter uma família. Mas o olhar infeliz e significativo com o qual a garota encarou a mochila de Thompson (onde o celular dele ainda vibrava) deixava bem claro que ela também estava se lamentando pelo fim do namoro dos dois.

Bloomfield era orgulhosa demais para pedir perdão e implorar por uma nova chance, especialmente agora que ela pensava que Dexter já estava com outra pessoa. Seria humilhante e doloroso demais ouvir da boca dele que já existia outra garota e que ele não tinha o menor interesse numa reconciliação. Mas Libby sabia que o rapaz merecia ao menos um reconhecimento de culpa por parte dela.

- Eu sinto muito por não ter ouvido ou acreditado em você, Dexter. Eu errei feio e estraguei tudo, quase num “nível Hunter”. Eu sei que não posso consertar todo o estrago que eu causei, mas eu quero ao menos tentar inocentar o Tim. É o mínimo que eu posso fazer agora.
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Mensagem por Hunter Timmons Seg Abr 29, 2024 10:34 pm

Em nenhum momento Hunter imaginou que seria uma conversa fácil, que ele só precisaria abrir um sorriso e fazer meia dúzia de promessas para que Emily se jogasse aos pés dele. Timmons tinha total consciência da gravidade do seu erro e do quanto a namorada saiu ferida e magoada daquela história. Entretanto, a motivação de Hunter para insistir tanto naquela conversa era a esperança que Emily acreditasse nos sentimentos dele e concordasse em dar uma nova chance para que os outros reconstruíssem juntos aquele relacionamento.

Era óbvio que boa parte da confiança já não existia mais e que os dois teriam que percorrer um longo caminho até que todas as feridas estivessem cicatrizadas. Mas, na visão de Hunter, os dois tinham aquilo que era mais importante: eles se amavam de verdade. O amor parecia ser a melhor maneira de recomeçar aquela relação e de não repetir os mesmos erros do passado. E Timmons estava sendo mortalmente sincero ao dizer o quanto estava se esforçando para ser uma pessoa melhor e para se tornar o cara que Sinclair merecia ter ao seu lado.

Hunter não esperava receber o perdão de Emily tão facilmente e muito menos ouvir declarações apaixonadas da menina naquele momento. Mas Timmons realmente achou que o seu discurso franco pudesse comover Sinclair ao ponto de fazer com que a garota quisesse lhe dar uma segunda chance ou, no mínimo, pedisse um tempo para pensar naquela possibilidade. O que Hunter não esperava era ouvir Emily descartando veementemente qualquer mísera chance de uma reconciliação entre os dois.

Não houve hesitação ou incerteza. Emily não pediu um tempo para pensar, não fez exigências e nem quis ouvir mais promessas do rapaz. Ao dizer que já não confiava mais nele e que Hunter não teria mais nada dela, Sinclair exterminou sem nenhuma piedade qualquer frágil chama de esperança que ainda teimasse em sobreviver dentro do ex-namorado. E Timmons parecia um cãozinho que tinha acabado de cair do caminhão da mudança quando se mostrou completamente perdido, desnorteado e sem reação diante da decisão da garota.

- Você não ouviu o que eu disse!? Eu disse que já nem pensava mais nessa vingança idiota, que eu estava totalmente focado em nós dois, que eu estava me esforçando pra ser uma pessoa melhor! As coisas podem não ter começado bem entre a gente, mas eu amo você, Emy! Não era só uma vingança! Você passou a ser mais importante do que qualquer outra coisa na minha vida!

A postura decidida e o semblante duro de Sinclair não mudaram, o que mostrava claramente que ela havia ouvido cada uma das palavras ditas pelo ex-namorado. O problema era que Emily já não acreditava em Hunter. E quem poderia julgá-la por duvidar da palavra e da promessa de alguém que a enganara de maneira tão cruel?

A respiração de Hunter se tornou mais ruidosa, os olhos cor de avelã refletiam um grande desespero e a sensação do rapaz era semelhante a estar caindo de um precipício, sem que ninguém pudesse evitar o impacto mortal que aguardava por ele. A dor de perder Emily era insuportável e Timmons não conseguiu evitar que uma camada de lágrima se formasse diante dos seus olhos, deixando sua visão ligeiramente embaçada.

A boca dele chegou a se abrir para que Hunter insistisse, para que ele se humilhasse. O coração de Timmons implorava loucamente para que o rapaz fizesse qualquer coisa que pudesse evitar que aquele sentimento morresse. Mas foi a postura distante, firme e defensiva de Emily que o desarmou. Ou talvez o mais correto seria dizer que, naquele momento, Hunter se armou.

Conhecendo tão bem o ex-namorado, Emily já sabia como Timmons costumava reagir quando se sentia pressionado, infeliz ou magoado. Hunter não era o tipo de pessoa que chorava, que se isolava, que guardava suas mágoas ou escondia as suas irritações. Muito pelo contrário, Timmons costumava reagir como um animal selvagem que, mesmo ferido e com dor, contra-atacava com violência.

Dessa vez não houve gritaria, objetos quebrados e muito menos uma agressão física. A “violência” de Hunter se refletiu através de palavras e da mudança na postura do rapaz. O sorriso amargo que brotou nos lábios dele era uma tentativa desesperada de esconder a infelicidade que o consumia por dentro e a resposta dele era claramente um ataque de um animal ferido, que se recusava a ser abatido sem lutar.

- Não, Emily. Quem teve uma última chance aqui foi você. Porque eu já disse tudo o que precisava dizer, não há mais nada que eu possa te falar. Eu não sou como o idiota do Clifford que vai passar semanas e meses te bajulando, te mimando ou implorando por uma reconciliação.

De fato aquela costumava ser a dinâmica do relacionamento entre Emily e Chad. Sempre que os dois brigavam – geralmente por alguma crise de ciúmes do rapaz – Clifford não media os seus esforços para reconquistar a menina. Súplicas, presentinhos, declarações apaixonadas. Emily estava acostumada a ser mimada e bajulada, a ouvir sucessivos pedidos de perdão a cada briga ou desentendimento. Mas definitivamente não era assim que Timmons pretendia agir.

- Eu já assumi os meus erros, confessei toda a verdade, perdi perdão e deixei bem claro que eu te amo e que estou disposto a corrigir as minhas falhas para ficarmos juntos. Se você não acredita em mim ou se tudo isso não é suficiente, eu não posso fazer mais nada. – Hunter soou numa ironia ainda mais amarga quando arqueou as sobrancelhas durante aquela conclusão – Se você quer um príncipe encantado que vai se humilhar pra você e fazer uma serenata na sua janela, talvez você deva voltar pros braços do otário do Clifford.

Por dentro, Hunter se sentia completamente despedaçado, infeliz e sem rumo. Mas ainda assim ele não conseguiu evitar que o ataque fosse o seu mecanismo de defesa. O estômago dele protestava só de imaginar a possibilidade de Emily e Chad juntos novamente, mas Timmons lutou bravamente para disfarçar o quanto o seu coração estava ferido e para agir com aquela postura sarcástica.

- Você me acusa de não ter priorizado ou escolhido você, mas você me escolheu? De verdade? Você realmente queria ficar comigo ou só queria me moldar para que eu me encaixasse nas suas expectativas, fizesse todas as suas vontades e fosse um bom coadjuvante da sua história? Eu não sou esse cara e nunca vou ser esse cara. Então volte pro Clifford e vá viver o seu conto de fadas. Acho que ele se encaixa muito melhor no papel do cara que você REALMENTE quer do seu lado, Emily.

***

As mãos de Hunter tremiam tanto que metade das peças que ele retirou de dentro da gaveta acabaram caindo pelo chão do quarto antes que o rapaz tivesse a chance de enfiar as roupas dentro da mochila. Agitado, com a respiração descompassada e o coração batendo acelerado e dolorido dentro do peito, o rapaz nem percebeu quando a porta do quarto se abriu. Foi só o vozeirão grave do Sr. Timmons ecoando pelo cômodo que mostrou a Hunter que ele já não estava mais sozinho.

- O que você PENSA que está fazendo?

- Eu estou dando o fora daqui.

Não era a primeira vez que Henry via o filho tomar uma decisão impulsiva, mas até mesmo para os padrões de Hunter aquela parecia ser uma ideia muito ruim. Além de não ter para onde ir ou como se sustentar, já tinha anoitecido e seria ainda mais difícil encontrar um refúgio seguro àquela hora da noite.

- Não seja estúpido, moleque. Pare com essa ceninha antes que a sua mãe perceba o que está fazendo. Você não vai a lugar nenhum! E se você pensa que vai usar o meu dinheiro para...

- ENFIE O SEU DINHEIRO NO MEIO DO RABO DOS SEUS AMADOS CAVALOS! EU NÃO QUERO NADA DE VOCÊ! SÓ ESTOU LEVANDO AS MINHAS ROUPAS! NÃO TEM UM CENTAVO SEU AQUI!

O único objeto de mais valor que Hunter levava na mochila era a câmera fotográfica profissional. Mas, como aquele tinha sido um presente de Emily, Henry de fato não tinha como alegar que o filho estava levando nada que pertencia a ele ou à casa dos Timmons. Mas o pai do rapaz ainda tentou uma última cartada para evitar que mais um escândalo caísse sobre aquela família.

- Só por curiosidade, como você vai pagar os advogados sem a minha ajuda?

Aquela mesma jogada foi usada para obrigar Hunter a aceitar um emprego no haras. Mas desta vez, ao invés de recuar com medo de retornar para a prisão, a reação do rapaz foi uma risada seca e sem emoção.

- Eu não vou pagá-los. Não tem o lance que o governo me disponibiliza um defensor público se eu não tiver condições de pagar por um advogado?

- Um defensor público é basicamente um advogado ruim que não vai ter NENHUM interesse em te inocentar, moleque! Você quer voltar para a cadeia???

- Quer ouvir uma graaaande novidade, pai? – Hunter fez uma pausa apenas para fechar a mochila e pendurá-la num dos ombros – Eu não me importo!

Diante do olhar embasbacado do Sr. Timmons, Hunter saiu marchando do quarto. E da mesma forma como ele não havia colocado nada de valor dentro da mochila, o rapaz também não fez nenhuma menção de ir até a garagem para buscar a picape. Já havia anoitecido e nuvens pesadas se acumulavam sobre o céu de Colchester, mas ainda assim Timmons não pensou duas vezes antes de enfrentar a pé a estradinha de terra que levava até o haras.

Não foram palavras ditas da boca para fora. Embora estivesse machucado, furioso e irritado, a decisão de sair de casa não tinha sido uma impulsividade da qual Hunter se arrependeria. Ele simplesmente não aguentava mais a pressão do pai, o trabalho com os cavalos e toda aquela chantagem emocional. Hunter só tinha cedido às imposições de Henry por medo de retornar para a cadeia, e principalmente porque ele tinha um grande motivo para ficar livre e para planejar o próprio futuro.

Mas agora que Hunter havia perdido o que ele mais queria para o seu futuro, a prisão nem era mais uma ideia tão inadmissível assim. Pouco importava se ele ficaria dentro ou fora da cadeia ao fim daquele processo. Independente de qualquer coisa, sem Emily ele não seria feliz, então todo aquele sacrifício simplesmente não fazia mais sentido.

Um riso irônico e sem humor escapou pela garganta de Hunter quando, ainda no meio do caminho, grossos pingos de chuva começaram a despencar do céu. Em uma estradinha de terra isolada, nem havia onde o rapaz pudesse se proteger da chuva. Sem outra escolha, Timmons apenas se encolheu dentro da jaqueta e continuou aquela caminhada sem rumo enquanto suas botas se afundavam cada vez mais no lamaçal que se formava no seu caminho.
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Mensagem por Dexter Thompson Ter Abr 30, 2024 6:43 pm

Com um olharzinho intrigado e muito concentrado, Dexter escutava tudo o que Liberty tinha a dizer sobre as drogas e suas teorias de inocentar Hunter. Aquela provavelmente era a melhor cartada que eles tinham para ajudar Timmons no processo, mas não livraria o rapaz por completo de todas as acusações, já que ele tinha assumido ter roubado drogas e levado para uma festa para uso próprio.

Dexter poderia não ser o aluno mais brilhante da MMU e era nítido que ele fazia um pequeno esforço para acompanhar todo o raciocínio de Libby, mas o que realmente intrigava o rapaz era a necessidade da menina ter procurado por ele para falar com algo que poderia ser dito diretamente a Hunter Timmons.

Até alguns dias atrás, Hunter, Emily, Dexter e Liberty estavam trabalhando juntos, reunidos com o mesmo objetivo. Mas os últimos acontecimentos mudaram por completo aquela dinâmica e era óbvio que Sinclair não queria se envolver em mais nada que tivesse o nome do ex-namorado. Thompson, por outro lado, não tinha virado as costas pro completo para o melhor amigo. Era óbvio que Dex não aprovava o que Tim tinha feito e que estava imensamente decepcionado, mas a verdade era só que ele estava ocupado demais indo até Caltech ou conversando com JJ para conseguir apoiar ou dar um sermão em Hunter.

No meio do fogo cruzado entre dois amigos, Dexter ainda se sentia completamente perdido sobre o que fazer. Mas ele já tinha decidido que não escolheria nenhum lado, que Hunter tinha errado, mas que isso não era motivo para que ele fosse crucificado até os últimos dias de sua vida.

Quando Libby explicou que ele deveria se aproveitar daquele assunto para se aproximar de Hunter, Dexter soltou um longo suspiro e ergueu uma das mãos para coçar os olhos. A lembrança da noite em que Chad e Hunter tinham brigado ainda estava gravada na sua memória e era dolorida demais, porque por mais que os dois não se falassem mais, ainda era como assistir dois irmãos tentando se matar.

- O Cliff não prestou queixas contra o Tim. Mas isso não significa que o Tim deveria sair ileso de toda a merda que aprontou. Aquele filho da puta ainda vai ter que me ouvir...

A entonação de Dexter mostrava que ele estava decepcionado e irritado, mas trazia muito mais o peso de um irmão mais velho que pretendia confrontar e fazer o que estivesse ao seu alcance para ajudar um irmão mais novo que tinha aprontado e agora estava perdido.

Os pensamentos de Thompson ainda estavam voltados para Hunter, em tudo o que tinha acontecido e em como o amigo estaria se sentindo quando Libby focou o discurso na sua própria experiência. E ali estava, o pedido de desculpas que Dexter achou que não escutaria. Liberty já sabia que tinha errado no seu julgamento em relação a Lenny, mas era a primeira vez que ela assumia esse erro em voz alta. Mas não era sobre quem estava certo ou errado que Dexter focou. Era a forma com que Bloomfield dizia ter perdido tudo que o fazia se sentir tão inquieto.

O raciocínio de Dexter poderia ser meio lento em alguns momentos, mas ele teve a interpretação certa de que Liberty estava também incluindo o relacionamento dos dois naquele combo de perdas. O problema era que Bloomfield tinha afetado a autoestima do rapaz de tal maneira que agora Dex não conseguia mais se ver bom o bastante para que ela sentisse sua falta ou se arrependesse de tê-lo perdido. Foi ainda se sentindo pequeno e inferior demais a ela que Thompson logo afastou dos seus pensamentos aquela ideia de que ela poderia estar se referindo aos dois.

- Você tinha alguém que amava e não queria estar errada sobre ela, Libby. Eu não te julgo por isso.

Desde o começo, Dexter entendia o medo de Liberty em enxergar a verdade. E ele tinha se preocupado tanto com a reação de Bloomfield que até tinha desejado estar errado sobre Leonard. O que tanto tinha lhe magoado no fim daquele relacionamento era principalmente a forma com que Libby declarou com tanta facilidade que não o escolheria, como se ele fosse apenas um namoradinho qualquer e sem importância.

- Mas você não perdeu tudo, está bem? Não diga isso. Você se lembra do que eu te disse naquele dia...? - Dex fez uma pausa para que Libby vasculhasse a memória, mas acabou poupando a garota do esforço. - Você encontrou a sua família aqui, em Colchester. Você ainda tem a Emy, e sei que não é o maior prêmio de consolação do mundo, considerando o histórico de como trata os amigos, mas está na cara que o Tim também gosta e se preocupa com você.

Emily, Hunter, Dexter e Liberty tinham formado um grupinho um tanto peculiar, com uma amizade divertida e sincera. Como Dex sempre gostava de dizer, uma segunda família. Mas naquela tarde, ao dizer aquelas palavras para Bloomfield, o rapaz não tinha incluído o próprio nome na sua declaração.

- Eu vou falar com o Tim, não se preocupe.

Como ainda era estranho estar perto de Liberty sem a velha dinâmica de namorados, quando o assunto envolvendo Hunter Timmons acabou, um silêncio desconfortável se instalou sobre a mesa. Era como se Libby e Dexter não soubessem como estar no mesmo ambiente, lidando com seus próprios sentimentos e desejos. As mãos de Dex formigavam querendo tocá-la e ele se sentia um tolo pela forma que seu coração saltitava sempre que seu olhar encontrava as íris castanhas.

Apesar daquela tortura, Dexter ficou até o fim da conversa e, em um velho e educado hábito, ofereceu uma carona para Liberty. O casalzinho já tinha perdido tempo demais ocupando aqueles mesmos bancos do carro enquanto se beijavam, estacionados em uma rua mais escura próxima da casa das Sinclair, ou quando Libby pedia para que eles voltassem até a velha ponte onde gastavam as horas apenas abraçados e conversando. Mas o clima estava muito mais distante e formal quando Thompson estacionou na casa perto do lago onde Liberty morava com a tia e a prima.

- Liberty... - Dexter chamou antes que a garota saísse do carro. - Se lembre do que eu te disse, tá legal? Você não está sozinha. Eu sei que Colchester pode ser o fim do mundo para muitas pessoas, mas pode ser um lar de verdade, se você estiver disposta a aceitar.

Com o carro estacionado, Dexter tinha toda a liberdade do mundo para olhar nos olhos da ex-namorada. E o clima ficava ainda mais íntimo dentro daquele carro, o que obrigava os dois a ficarem mais próximos. E Dex já tinha se esquecido de tudo, apenas mergulhado nas íris castanhas quando o som do toque do celular arruinou por completo aquele clima.

O aparelho de Thompson ainda estava enfiado dentro da mochila, jogada no banco traseiro. Algumas mensagens ainda tinham sido recebidas durante aquele trajeto, mas como o celular estava conectado na central de mídia, a ligação também foi trazida para o painel do carro. Além do toque, o visor digital mostrava o nome de Debby piscando.

Dexter só tinha falado rapidamente com Debby naquela manhã, durante uma das aulas. Todas as outras mensagens tinham vindo de JJ, mas o painel digital só mostrava as ligações recebidas. Como não esperava que a garota fosse ligar naquele momento, Dex franziu o nariz em uma caretinha confusa, e foi apenas para se livrar daquele som irritante e se concentrar em Libby que ele prontamente apertou um botão na central de mídia e recusou a chamada.

***

Ainda era cedo, mas acordar antes do nascer do sol nunca tinha sido um problema para Dexter Thompson. Justin estava sozinho na cozinha quando viu o filho descendo as escadas, e ele não disfarçou o sorriso por trás da caneca de café ao ver que Dex parecia estar retornando para a sua rotina de exercícios. O que o Sr. Thompson não entendeu foi quando assistiu o filho buscando as chaves do carro.

- Onde você vai?

- Academia.

Dexter mentiu sem nem piscar, e como caía uma chuva forte, foi fácil para Justin acreditar naquela versão, já que era muito mais prático para o rapaz treinar em um ambiente fechado do que correr em meio a tanta lama. Mas Dex não tinha a menor pretensão de fazer um treino antes do início das aulas. Ele só precisava sair tão cedo de casa para ter tempo de conversar com Hunter Timmons e ainda voltar para a MMU a tempo da primeira aula.

O trajeto até o haras dos Timmons certamente estaria enlameado, mas a chuva daquela noite deixado até mesmo as ruas pavimentadas com mais obstáculos que o normal, além de várias poças e uma pista escorregaria. Para evitar qualquer acidente, Dexter já estava com a velocidade reduzida, e como seria novamente um dia nublado, nem mesmo o avançar das horas permitiu que o sol clareasse demais a pequena Colchester.

Thompson tinha passado algumas horas da madrugada acordado trocando mensagens com JJ, mas o rapaz estava bem desperto enquanto seguia praticamente sozinho pelas ruas. E como conhecia bem aquele lugar, Dexter sabia que Colchester não era o tipo de cidade conhecida pela violência, assaltos e roubos. Assim como também era raro que encontrassem algum morador de rua, então foi com estranhamento que Dex notou o que parecia ser alguém dormindo sob a marquise de uma loja de pescaria.

Qualquer adolescente dirigindo pela cidade que encontrasse um morador de rua, dificilmente paria para procurar entender o que estava acontecendo. Mas além de não estar habituado com aquele tipo de cena, Dex pareceu muito mais preocupado com a pessoa encolhida em uma manhã fria e úmida. Para Thompson, era um completo desconhecido que certamente precisava de ajuda, e foi por isso que ele reduziu a velocidade do carro até parar, e desceu para falar com o transeunte.

- Oi? Está tudo bem, cara? Você precisa de ajuda? Está perdido?

A pessoa se remexeu e puxou a jaqueta que cobria seu rosto, e Dexter definitivamente não estava preparado para reconhecer um dos seus melhores amigos dormindo na rua como um mendigo morto de fome.

- Tim??? O que você está fazendo aqui?

Com um rápido olhar, Dexter notou a mochila que o rapaz carregava. E conhecendo bem a família dos Timmons, não foi preciso que o rapaz explicasse que tinha acontecido uma briga e que ele tinha saído de casa. Mesmo sem entender a complexidade e a profundidade dos problemas, até acreditando que pudesse ser uma decisão provisória ou impulsiva, Dex não queria julgar Hunter.

- Você dormiu aqui? Na rua? - Dexter respirou fundo e cruzou os braços. - Por que não me ligou? Porra, Tim! Sério que você prefere dormir na frente da loja do Sr. Farrow do que me ligar, caralho? Entra no carro. Eu preciso de um café e acho que você também.
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