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Mensagem por Emily Sinclair Seg Abr 08, 2024 6:48 pm

Não era à toa que Hunter Timmons fazia parte do trio mais popular dos rapazes dentro da MMU. Dono de uma beleza acima da média, com um charme irresistível e com uma lábia impecável, ele não tinha muita dificuldade para ter a garota que desejasse. Tudo isso, somado ao fato de que Emily Sinclair estava perdidamente apaixonada causava um potente e perigoso efeito sobre ela. Bastava um olhar, um sorrisinho torto e as carícias de Timmons para que ela estivesse completamente derretida e entregue.

Na noite anterior, Chad tinha usado argumentos bem sólidos para que qualquer garota desconfiasse das atitudes de Hunter e daquele relacionamento. Mas quando Emy estava nos braços do namorado, era impossível dar ouvidos a qualquer teoria que dissesse que Timmons não a amava de volta. Era por momentos como aquele, onde ela encontrava o olhar doce ou que escutava as declarações do rapaz que Sinclair tinha certeza que o amor dos dois era real.

O biquinho insatisfeito continuava nos lábios de Emily, mas o arrepio que se espalhou pela sua pele já mostrava que Hunter estava atingindo seu objetivo. Foi apenas para não dar o braço a torcer que ela se esforçou para manter o semblante emburrado por não ter sido escolhida por Timmons, mas por dentro Emy já estava nas mãos dele.

- Hm. Então você é só burro e cego por não ter me notado antes, entendi.

Diferente da crise que tinha se instalado sobre Dexter e Liberty, Emily não soava tão magoada ou irritada. Era verdade que Hunter não tinha escolhido o nome dela naquela listinha besta, mas ela também tinha escolhido ficar com Chad primeiro, tinha se encantado e se derretido por outro rapaz quando Timmons nunca tinha parecido uma opção realista.

- Bom, isso não importa mais. Essa lista é passado. Tudo isso é passado... - Emy não citou o nome de Clifford, mas a intensidade do seu olhar deixava claro que ela estava se referindo ao seu antigo relacionamento. - Você agora é só meu.

Ainda sentada de costas para Hunter, Emily só precisou se esticar um pouco para conseguir alcançar os lábios dele. O toque carinhoso e gentil combinava com aquela conversa e com o momento mais frágil que Sinclair vivia desde os acontecimentos da última noite. Durante toda a madrugada, Hunter respeitou todos os limites que a namorada precisava, mas quando Emy não conseguiu disfarçar o seu corpo se aquecendo e a maneira mais insistente que sua língua procurou pela dele, o rapaz também correspondeu prontamente com a mesma intensidade.

As mãos de Hunter rodeavam a sua cintura e começaram a deslizar pelas laterais do seu corpo conforme o ritmo do beijo aumentava. Quando os dedos dele se encaixaram nos seios de Emily, a menina soltou um suspiro e ergueu o corpo até conseguir se virar para poder se sentar sobre o colo de Timmons, com suas pernas o rodeando. A única peça de roupa que ele usava não escondia o desejo que sentia, mas mesmo que Emily já estivesse quase pronta para sair, ela também sentia o sangue ferver.

O corpo de Hunter tombou para trás e ele levou Emily consigo sem que as bocas se separassem. Os cabelos ruivos caíram ao redor do rosto dela e Emy suspirou mais alto quando as mãos do rapaz se enfiaram sob a sua saia. De olhos fechados e sem nenhum sinal de resistência, Sinclair até tentou ter o mínimo de razão, mas até suas palavras soaram fracas e sem real intenção de encerrar aqueles toques.

- Nós vamos nos atrasar, Tim...

Contrariando seu próprio argumento, Emily se inclinou para depositar uma trilha de beijos sobre o peito de Hunter, subindo até o pescoço dele. Se na noite anterior, Sinclair ainda estava chateada e com muitos pensamentos confusos, as coisas já pareciam muito mais favoráveis para Timmons quando a menina se entregou por completo a ele naquela manhã.

***

Emily já tinha repetido inúmeras vezes que Hunter não precisaria assistir ao jogo daquele dia, que eles poderiam se encontrar depois e que ela não ficaria chateada. E ela estava sendo sincera, porque além de não querer obrigar Timmons a lidar com um trauma, Emy também se sentia um pouco agitada por imaginar ele e Clifford na mesma quadra outra vez.

Diferente da noite anterior, a quadra de basquete estava bem iluminada, as arquibancadas lotadas e havia ruídos de conversas e gritos animados por todos os lados. Mesmo assim, no instante em que pisou naquele lugar, Emily se viu invadida por uma nova onda de constrangimento. Se ela e Hunter nunca tivessem sido interrompidos, talvez existisse em Sinclair um sentimento travesso de quem tinha se divertido fazendo algo proibido. Mas agora, tudo o que ela sentia era a vergonha e o peso da briga entre Chad e Hunter.

Se Emily se sentia daquela maneira, era ainda mais provável que Clifford estivesse com pensamentos mais carregados. Em menos de vinte e quatro horas, Clifford tinha encontrado a garota que ele ainda amava transando com outro cara, com alguém que ele deveria confiar e que tinha lhe apunhalado pelas costas.

Com Hunter acomodado nas arquibancadas, Emily se juntou ao restante do time da torcida. Dessa vez, com o uniforme completo e com as fitinhas azuis prendendo algumas mechas dos cabelos ruivos, Emy estava devidamente caracterizada, balançando seus pompons. Assim como tinha acontecido na partida de futebol, as meninas fizeram uma apresentação antes que os rapazes entrassem na quadra, e elas se enfileiraram nas laterais para que os dois times pudessem se tornar o centro das atenções.

Com os pompons balançando sem a devida animação, o olhar de Emily imediatamente buscou pelo capitão do time da MMU. O semblante duro de Chad mostrava que ele ainda afetado com a briga da noite anterior. Como Emy o encarava fixamente, ela notou quando o olhar de Clifford se prendeu inicialmente no meio da quadra, no exato ponto onde ele tinha flagrado a ex-namorada com Timmons, e um instante depois o olhar dele deslizou pelas meninas da torcida até encontrar Sinclair.

Não tinha acontecido uma traição. Quando Emily e Hunter ficaram juntos, o namoro dela com Chad já tinha chegado ao fim. Mas o olhar magoado e decepcionado de Clifford acertavam Emy com muita força.

O primeiro jogo de futebol da temporada tinha sido um jogo difícil e emocionante, acirrado e que tinha sido desempatado no último lance. Emily cansou de repetir que as meninas da torcida tinham protagonizado um show muito mais favorável para a MMU. Mas nada se comparava ao que aconteceu com o primeiro jogo de basquete.

O time da MMU não era ruim. Sem Hunter Timmons, eles saíam do patamar de destaque, não tinham jogadas brilhantes ou uma vitória previsível, mas ainda tinham bons jogadores, talvez em uma expectativa mais alinhada com um simples torneio estudantil. De forma objetiva, o time da casa estava no mesmo nível da maioria das outras escolas. Então ninguém conseguiu entender o que estava acontecendo para que o desempenho estivesse tão ruim ao ponto de transformar o placar em um verdadeiro massacre.

Como capitão, Chad comandava muitas jogadas. Mas o rapaz não conseguia se concentrar. Muitas vezes, ao invés de prestar atenção nas jogadas, parecia que Chad sequer sabia onde a bola estava quando deixava seu olhar percorrer até as meninas da torcida, especificamente no ponto onde estava a ex-namorada, ou na direção das arquibancadas, depois de ter notado a presença de Timmons.

Irritado, impaciente, Clifford passou a fazer jogadas agressivas e já tinha recebido algumas advertências. O treinador estava prestes a fazer uma substituição do seu capitão quando chegou o intervalo. E como Emily estava próxima ao banco onde os rapazes procuravam água ou um isotônico para se recuperar, foi exatamente até aquele ponto que Chad foi.

- O que aquele filho da puta está fazendo aqui, Emily?

Chad parecia um cão raivoso rosnando entre os dentes quando parou diante da ex-namorada, usando a desculpa de se hidratar. O olhar de Emily deslizou discretamente até arquibancada e ela notou o olhar de Hunter preso na sua direção, e mais uma vez a sensação de estar entre os dois veio como um peso no seu peito.

- Se você continuar pensando nisso, vai perder o jogo. Eu sei que as coisas entre nós não terminaram bem, mas você precisa colocar a cabeça no lugar, Chad.

- Colocar a cabeça no lugar? Como exatamente? Quando a única coisa que eu vejo quando tento passar a bola é você sentada sobre o Timmons!

Mesmo que Chad estivesse falando baixo entre aqueles rosnados raivosos, eles ainda estavam em uma quadra lotada. Além das meninas da torcida que estava há poucos passos de distância, qualquer outro jogador poderia se aproximar para beber uma água e escutar aquela conversa.

- É sério que você acredita nas coisas que ele diz? Qual é, Emily, você é mais inteligente do que isso!

- Você quer discutir isso de novo? E aqui, agora? Olha a sua volta, Chad! Ou melhor, olha para o placar...

- Que se foda o placar! - Ao perceber que tinha aumentado o tom de voz, Clifford respirou fundo e tentou se conter. - Era exatamente isso que aquele traidor filho da puta estava planejando, me desestabilizar hoje!

- Claro, porque a única coisa que importa para vocês é o basquete!

- Não. - Chad deu mais um passo e prendeu as íris azuis no olhar de Emily. - Para mim, não. Mas você tem razão, esse não é o melhor momento para conversarmos. Nós podemos falar depois? Só nós dois, sem o Timmons para ficar enchendo a sua cabeça.

- Nós não temos mais nada para conversar. Por favor, Chad, não dá para esquecer logo esse assunto?

- Não. Enquanto eu não te mostrar quem ele realmente é e o erro gigantesco que você está cometendo, eu não vou esquecer nada. No final, você vai ver que eu tinha toda razão.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Seg Abr 08, 2024 9:22 pm

- O que está me chateando??? Você realmente quer saber o que está me chateando, Dexter???

Apesar da entonação meio exasperada, Liberty não ergueu a voz e nem transformou aquela briga num grande escândalo. E como praticamente todos os alunos já estavam indo para a quadra e poucas pessoas circulavam nos corredores que davam acesso à biblioteca, não havia testemunhas para presenciar o desentendimento do casalzinho.

Com um semblante derrotado e infeliz, Bloomfield ergueu as mãos apenas para deixar os braços caírem nas laterais do seu corpo num gesto desanimado. E a cabeça da menina se sacudia em negativa enquanto ela respondia ao questionamento do namorado.

- É a decepção! Porque essa tal lista é totalmente incompatível com o caráter que eu pensei que você tivesse! Ou talvez eu tenha errado em criar expectativas demais e te colocar num pedestal. Porque o cara que eu achei que você fosse, o cara por quem eu me apaixonei, esse cara NUNCA faria isso. E a pior parte de toda essa história é que você parece não enxergar o quanto tudo isso é desprezível e desrespeitoso! – Libby completou antes que o rapaz se defendesse – Você acabou de dizer que estava certo em usar essa listinha pra evitar que os seus amigos trogloditas se matassem por causa de uma garota, Dexter. Mas em algum momento você parou pra pensar no que a garota preferiria? Você tem noção de que, indiretamente, vocês manipularam os sentimentos de todas essas meninas? Será que a Emy teria mesmo ficado com o Chad se não fosse essa listinha idiota? Porque agora que ela finalmente teve escolha, ela escolheu o Hunter. E ela parece feliz demais com ele.

Na visão dos três rapazes, a lista de garotas parecia ser mesmo um acordo inocente que preservaria os laços de amizade entre eles. Mas Liberty não estava errada em dizer que Hunter, Chad e Dexter indiretamente manipularam a situação, brincaram com os sentimentos das garotas e tiraram delas um poder de escolha.

Aquele era um argumento maduro e racional, mas Libby não se prendeu apenas nele. Depois de ouvir a insinuação de Dexter sobre os motivos da irritação dela, Bloomfield não se esquivou e nem negou que ela também tinha a sua parcela de culpa naquela briga.

- Sim, talvez você tenha razão nesse ponto. É claro que eu estou magoada por saber que nenhum de vocês três quis colocar o meu nome nessa lista ridícula. Mas, ao contrário do que você pensa, eu não estou chateada porque o meu ego foi ferido ou porque eu queria ser uma garota popular, desejada e disputada pelos rapazes. O que realmente me deixa arrasada é que essa é a história da minha vida, Dexter! As pessoas me desprezam, me rejeitam e me descartam antes mesmo de me conhecerem!

Ali talvez estivesse a explicação para as reações tão diferentes que Emily e Liberty tiveram ao descobrirem a verdade sobre a listinha de garotas. Para Sinclair era muito mais fácil deixar aquele problema de lado porque, além de ter sido escolhida por um dos três rapazes, aquela situação não despertava nenhum trauma ou gatilho nela. Já Libby vivia novamente o mesmo pesadelo de ser rejeitada, de ver alguém optando por se afastar dela sem nem mesmo de conhecê-la. Assim como Jeff Wooton fizera, os três rapazes também tinham descartado Liberty com muita facilidade, sem o menor interesse em conhecer a menina, sem lhe dar nenhuma chance de mostrar as suas qualidades.

- Não vamos chegar a lugar algum com essa conversa, Dexter. Eu estou chateada e decepcionada demais, não vou conseguir lidar com isso agora. Então eu acho melhor você ir pra quadra e eu vou ficar estudando na biblioteca. Preciso de um tempo pra me acalmar e pra pensar melhor em tudo isso.

Alguns minutos atrás, Liberty havia usado a palavra “acabou” para se referir ao relacionamento dos dois. Então mesmo que ela não tivesse dito exatamente o que Dexter esperava ouvir, já era um bom sinal ver a garota modificando o discurso e transformando aquele “acabou” em “preciso de um tempo”. Era difícil prever qual seria a decisão dela ou se Libby conseguiria esquecer aquela história e voltar para os braços de Thompson. Mas isso agora não parecia mais depender da vontade do rapaz. Diferente da manipulação provocada pela lista de garotas, agora essa era uma escolha que só cabia à menina.

***

Em cidades pequenas como Conchester, era natural que todos os moradores se conhecessem. Portanto, qualquer forasteiro ou novo morador era facilmente reconhecido. Geralmente qualquer rosto diferente que circulava pelas ruas da cidade já despertava a curiosidade da população. E quando esse rosto desconhecido vinha acompanhado por traços jovens e bonitos, por uma postura despojada e por um carro ridiculamente caro e chamativo, o grau de interesse (e as fofocas) triplicavam.

A primeira coisa que chamou a atenção dos alunos que saíam da MMU no fim da tarde foi a Ferrari amarela estacionada em frente ao colégio. Muito provavelmente era a primeira vez que um carro esportivo tão caro e sofisticado circulava pelas ruas daquela cidadezinha pacata. Como moscas sendo atraídas para um pote de mel, os estudantes que iam saindo do colégio foram se acumulando ao redor da Ferrari. E já havia um grande aglomerado de jovens por perto quando o motorista apareceu, gerando ainda mais curiosidade. E interesse por parte das meninas.

- Este carro é seu??? - a primeira pergunta veio de Debby e a loirinha até se esqueceu de que Dexter estava por perto quando viu o rapaz que se aproximava do veículo - Uau! É muito lindo!

Pelo contexto da conversa, o elogio de Debby parecia estar se referindo à Ferrari. Mas o olhar indiscreto e nada inocente que ela deslizou pelo recém chegado passava a impressão de que Debby também estava englobando o motorista naquele mesmo elogio. Alguns poucos anos mais velho que os alunos da MMU, o rapaz abriu um sorrisinho presunçoso enquanto deslizava uma das mãos na lataria amarela, parecendo já estar acostumado a receber elogios pela escolha nada humilde ou discreta do carro.

- Aham. É com essa belezinha aqui que eu consigo voar sem sair do chão.

O rapaz não era tão alto, mas estava em ótima forma física. Os cabelos bem aparados tinham um tom de castanho claro e os olhos eram esverdeados. Além da Ferrari, o outro detalhe que despertou bastante interesse foi a jaqueta esportiva com o emblema do MIT bordado em uma das mangas.

- MIT??? - Jordan não conseguiu conter a piadinha - Desde quando nerds andam por aí de Ferrari???

- Pelo visto todos os nerds que você conhece são grandes perdedores, não é? Bom, definitivamente não é esse o meu caso.

- Quanto tempo de Massachusetts até aqui? - agora a pergunta veio de Hunter Timmons - Cara, bem que eu queria um carro potente assim, mas acho que ele quebraria na primeira pedra da estradinha até o meu haras. Talvez quando eu sair desse buraco de cidade eu troque a minha picape por algo mais interessante assim…

Era evidente que os rapazes que se aglomeravam ao redor do recém chegado estavam muito mais interessados no carro potente e chamativo do rapaz. Já as meninas pareciam bem mais focadas no motorista. É óbvio que um rapaz mais velho, universitário, atraente, rico e com uma postura segura e arrogante despertaria a atenção das garotas. Principalmente numa cidade como Colchester em que raramente surgia alguma novidade.

- Mas então… - Debby lançou um olharzinho mais insinuante para o rapaz e usou uma voz mais doce ao interromper a conversa chata dos meninos sobre o carro – Quem é você, afinal? Está só de passagem ou vai ficar alguns dias em Colchester? O que te trouxe até aqui?

- Uma garota.

A resposta vaga e misteriosa do rapaz provocou trocas de olhares ainda mais curiosos. Várias meninas pareceram um tanto decepcionadas em saber que já existia uma garota naquela história, mas Debby ainda não estava disposta a desistir tão facilmente daquela disputa. Com a típica arrogância de uma menina popular que se achava superior às demais, Debby quis saber se a sua “adversária” estava à altura dela.

- Hm, é mesmo? E quem é a grande felizarda? Alguém da MMU? Espero que ela seja boa o bastante para fazer valer a sua viagem até Colchester…

- Ah, pode apostar que ela é uma garota muuuuito especial pra mim… - por cima da pequena multidão formada ao redor dele, o rapaz dirigiu os olhos para a porta do colégio e alargou mais o sorriso ao reconhecer o rosto que ele esperar ver naquele dia - Ali está ela.

Literalmente todas as cabeças se viraram para trás no momento em que Emily Sinclair e Liberty Bloomfield saíam juntas do colégio. E é claro que a grande maioria das pessoas concluiu equivocadamente que o motorista da Ferrari estava se referindo a Emily. Capitã das líderes de torcida, linda e popular, Sinclair parecia ter todas as qualidades que um rapaz procurava. Até mesmo o atual namorado de Emily estava incomodado e um pouco enciumado quando as duas meninas se juntaram ao aglomerado de colegas.

- Dessa vez você se superou, hein, Sinclair!? - a alfinetada maldosa veio de Pamela - Um universitário de Massachusetts veio até Colchester por sua causa??? Os seus hormônios de vadia no cio estão fora de controle!

- Quem é esse cara, hein, Emily? - Hunter não ergueu a voz, mas a entonação insatisfeita do rapaz não escondia o quanto ele estava enciumado.

- Deus do céu, deixem a menina em paz! Ela não tem nada a ver com isso. - o recém chegado arqueou de leve as sobrancelhas antes de tombar a cabeça na direção da outra garota - Eu vim até aqui por causa da Liberty…

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Completamente alheia ao showzinho que acontecia ao seu redor, Liberty Bloomfield vinha saindo do colégio com um livro aberto nas mãos. Concentrada na leitura, a novata não parecia nem um pouco interessada na nova fofoca de Colchester, mas ela foi obrigada a aterrissar de volta na realidade quando o rapaz mencionou o nome dela e todas as cabeças se viraram na sua direção. Libby nunca tinha escutado aquela voz antes, mas o coração da menina falhou uma batida quando ela ergueu o olhar e encarou o rapaz ao lado da Ferrari amarela.

Mesmo sem dizer uma palavra, a reação tensa de Liberty denunciou que ela conhecia aquele rosto. O ar ficou preso dentro dos pulmões de Libby, os olhos naturalmente grandes se arregalaram ainda mais e ela alinhou melhor a coluna. Num gesto inconsciente e instintivo, Liberty chegou a recuar um passo para trás, num claro sinal de que ela se sentia intimidada e ameaçada na presença daquele rapaz. Ao lado da prima, Emily notou o desconforto da menina e agarrou a mãozinha dela em sinal de apoio, mesmo ainda não entendendo bem o que estava acontecendo ali.

- Libby? - Hunter também pareceu preocupado com a reação das duas meninas - Tá tudo bem? Você conhece esse cara?

- Mas é claro que ela me conhece… - o semblante do rapaz se tornou ainda mais debochado - Você sabe quem sou eu, não sabe, Liberty?

Ainda sentindo um nó potente apertando a sua garganta, Bloomfield apenas moveu a cabeça num gesto afirmativo. Num instinto inconsciente de proteção, Libby chegou a deslizar os olhos pelo grupinho de colegas até encontrar Dexter no meio da multidão. A relação entre os dois estava muito estremecida após a discussão envolvendo a lista de conquistas dos rapazes, mas o coração de Liberty ainda pertencia a Thompson e os laços entre os dois ainda eram tão fortes que bastou um simples olhar de Dex para que a menina se sentisse mais segura.

- Bom, acho que você vai concordar que o assunto que temos pra tratar é MUITO pessoal, não é, Liberty? Não vamos falar sobre isso na frente de uma plateia, né? Então que tal você entrar no meu carro? Podemos dar uma voltinha por aí…

A grande maioria das meninas ali presentes não pensaria duas vezes antes de aceitar o convite do rapaz. Liberty, por outro lado, pareceu ainda mais tensa com a ideia de ficar a sós com ele. Mas como seria muito constrangedor (e escandaloso) discutir um tema tão particular na frente de tantas pessoas, Bloomfield respirou fundo e decidiu encarar logo aquele problema.

- Está tudo bem… - Libby sussurrou para a prima enquanto se soltava da mãozinha de Emily - Eu não vou demorar, estarei em casa antes do jantar.

- Liberty.

Dexter chegou a dar um passo adiante e chamar pelo nome da garota, mas Libby parecia mais firme e segura ao verbalizar a sua decisão.

- Eu vou com ele. Está tudo bem. Está tudo sob controle, eu juro. - Libby completou antes que Dex ou Emy se oferecessem para acompanhá-la - Eu vou sozinha. É um assunto particular.

- Tá, beleza. Não parece uma boa ideia, mas você é inteligente e ninguém pode te impedir de entrar num carro com um estranho misterioso. - Hunter foi direto e nada sutil na escolha das palavras - Mas se você realmente conhece ele, talvez seja interessante você nos dar um nome, novata. Porque aí se o seu corpo aparecer boiando num dos lagos de Colchester, nós vamos ter alguma informação pra fornecer pro xerife…

Era bem improvável que Libby fosse atacada depois de tantas testemunhas assistirem a menina sumindo na companhia de um aluno do MIT. Mas por toda a fama negativa e pelo histórico de problemas e confusões já protagonizadas por aquele rapaz, Libby concluiu que seria mesmo mais seguro dar um pouco mais de informações aos amigos antes de entrar na Ferrari. Depois de uma breve troca de olhares com o rapaz, Libby anunciou o nome que os amigos queriam ouvir.

- Leonard Wooton.

Nem mesmo Emily sabia que existia um grau de parentesco muito próximo entre Liberty e os Wooton. Como as duas meninas tinham crescido em lados opostos do país e Libby evitava ao máximo falar sobre o pai, Sinclair não fazia ideia de que a prima era filha de um grande empresário do ramo da tecnologia. Consequentemente, seria impossível para Emily chegar sozinha à conclusão de que Leonard Wooton era um dos meio-irmãos de Liberty. A princípio era apenas um nome aleatório que não significaria nada para nenhum dos moradores de Colchester.

- Por motivos óbvios, eu odeio o meu nome nerd. Então, quando vocês forem depor na delegacia, podem me chamar de Lenny. - Wooton abriu um sorrisinho sarcástico - E sejam generosos na descrição do retrato falado. Se a minha cara vai aparecer no jornalzinho de Colchester, eu faço questão de estar bem bonitão!
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Mensagem por Hunter Timmons Ter Abr 09, 2024 11:03 am

Pela primeira vez, Hunter Timmons ocuparia apenas um lugar nas arquibancadas durante uma partida de basquete. Acostumado a estar dentro da quadra e a ouvir o seu nome sendo gritado pelos torcedores, agora Hunter experimentaria pela primeira vez a sensação de estar do outro lado daquela cena. E não foi uma experiência nada agradável.

Enquanto todos os colegas ao redor dele tagarelavam com animação e vestiam as cores da MMU, Hunter sentiu uma sombra se apoderando da alma dele. Como se um dementador estivesse por perto, toda a paz e a alegria que Timmons sentia foram sendo sugadas e deram lugar a pensamentos negativos. O mesmo monstro que o assombrava desde o acidente que o tirou das quadras começou a se fortalecer e Timmons sentiu que poderia explodir a qualquer momento. Era uma tortura estar naquele lugar, rodeado por tantas lembranças, atormentado pela dor de uma perda que ele ainda não tinha superado.

Era impossível. A angústia foi crescendo até chegar num ponto em que Hunter percebeu que não suportaria continuar naquele lugar e assistir a partida. Timmons sabia que a namorada entenderia a ausência dele nas arquibancadas e que Emily não ficaria chateada se ele recuasse e fugisse daquela tortura. Mas no exato instante em que Hunter decidiu que se levantaria e sairia das arquibancadas, um apito ecoou de dentro da quadra, chamando a atenção do público para as líderes de torcida que saíam do vestiário feminino para iniciarem a sua apresentação.

Se as lembranças daquela quadra e do basquete eram como um dementador sugando a alegria de dentro da alma dele, a imagem de Emily Sinclair funcionou como um enorme e poderoso patrono prateado. Bastou que a namorada entrasse no campo de visão de Timmons para que aquela angústia começasse a evaporar e para que o rapaz reencontrasse o caminho da felicidade. Um sorriso bobo e admirado brotou nos lábios de Hunter enquanto seu olhar se prendia apenas na ruivinha que liderava as garotas durante a coreografia.

Emily era uma grande vítima que caiu numa armadilha preparada por Hunter, que foi manipulada e se apaixonou perdidamente por um rapaz que inicialmente só queria usá-la num plano de vingança. Mas o destino cumpriu o seu papel e deixou aquela balança mais equilibrada ao fazer com que Timmons também caísse na cilada que ele próprio arquitetou. Porque agora não era apenas Emily que estava completamente rendida e entregue nas mãos do rapaz. A expressão embasbacada com a qual Hunter assistia à performance da namorada não escondia que ele também tinha sido totalmente nocauteado por ela.

Todas as garotas da torcida eram meninas lindas e que ficavam ainda mais chamativas com o uniforme curtinho, com a maquiagem mais forte e movendo os corpos no ritmo da música ou com piruetas perfeitas. Praticamente todos os rapazes que assistiam a apresentação das arquibancadas deslizavam os olhos pelas líderes de torcida com um interesse indisfarçável.

Na coreografia ensaiada pelas meninas, elas trocavam de posição na quadra a todo momento e se alternavam nas acrobacias de forma que cada hora uma delas ganhava um pouco mais de destaque na dança. Mas em nenhum momento o olhar de Timmons deixou de seguir a namorada. Mesmo quando Emily estava num cantinho e era outra garota que saltava ou dançava no centro da quadra, Hunter continuava vidrado na ruivinha, completamente derretido e orgulhoso em saber que Sinclair pertencia a ele.

Diferente de Emily, Hunter não tinha ficado tão constrangido ou traumatizado com o flagrante ocorrido na noite anterior. Dono de um espírito aventureiro, para Timmons era delicioso e excitante se lembrar dos dois juntos no meio daquela mesma quadra, do corpinho despido da namorada se mexendo sobre o dele, dos gemidos e das declarações de amor. Aquela ceninha também fazia parte do plano de vingança elaborado por Hunter, mas agora o rapaz se arrependia por ter deixado Chad interromper aquele momento e manchar uma lembrança que poderia ter sido tão especial.

Ao fim da apresentação, as meninas da torcida foram ovacionadas e aplaudidas de pé pelos colegas. Ofegante depois de todo aquele esforço, o rostinho de Emily estava corado e o peito dela subia e descia numa respiração mais acelerada enquanto a menina deslizava os olhos pela arquibancada, provavelmente querendo conferir se o namorado ainda estava presente.

Hunter não só estava presente, como também segurava nas mãos a câmera profissional que Emily havia lhe dado de presente. E o rapaz conseguiu capturar o exato momento em que os olhos de Sinclair finalmente o localizaram no meio da multidão e o sorriso da capitã se tornou imediatamente mais doce e apaixonado.

Emily Sinclair foi o único motivo para que Timmons continuasse nas arquibancadas naquela manhã. Mas, com o desenrolar da partida, Hunter ficou muito grato por não ter ido embora e por ter escolhido um lugar tão bom para assistir a aquele grande espetáculo de horrores. Timmons já imaginava que a qualidade do time iria despencar sem a presença dele na equipe, mas nem mesmo Hunter imaginou que seria um jogo tão ruim para a MMU.

E não precisava ser um grande especialista em basquete para enxergar que Chad Clifford era um dos principais responsáveis por aquele fiasco. O capitão da MMU estava num dia péssimo e não conseguia acertar nenhuma jogada. A bola escorregava para fora dos dedos de Chad, ele parecia distraído, falhava ridiculamente na marcação dos adversários e a pontaria de Clifford nunca estivera tão ruim quanto naquela manhã. Até os próprios colegas já estavam começando a ficar irritados com o desempenho vergonhoso do capitão e ninguém parecia entender os motivos para que Chad estivesse com um rendimento tão abaixo da média num jogo tão importante.

Podia ser apenas a pressão e a ansiedade por carregar a braçadeira de capitão pela primeira vez. Mas os olhares insistentes que Clifford alternava entre o meio da quadra e a capitã das líderes de torcida fizeram com que Hunter entendesse o que realmente incomodava o rapaz. Ao montar a ceninha do flagrante dentro da quadra, era exatamente isso que Timmons esperava. Então ele não conseguiu conter um sorrisinho debochado e satisfeito ao ver que a cena da noite anterior ainda assombrava Clifford.

Podia ser apenas o primeiro jogo do campeonato, mas era exatamente por isso que a vitória era tão importante para MMU. Seria uma maneira de mostrar aos adversários que o time continuava forte mesmo depois de perder o seu jogador mais brilhante. Só que, ao invés disso, o cartão de visitas que o time da MMU estava apresentando era o de uma equipe fraca, desorganizada e comandada por um capitão atrapalhado, que não tinha espírito de liderança. A MMU até tinha chance de se recuperar nos próximos jogos se o treinador intensificasse os treinos e corrigisse todos aqueles problemas, mas era óbvio que Clifford acabaria perdendo a vaga de capitão se continuasse agindo daquela forma lamentável.

Dos três amigos, Chad sempre foi o que tinha um temperamento mais dócil e tranquilo. Hunter era explosivo e inconsequente, Dexter era muito ansioso, então Chad costumava ser o ponto de equilíbrio daquele trio. Mas, naquela manhã, Timmons não reconheceu aquelas qualidades no velho amigo de infância. Pelo contrário, Clifford parecia irritado ao extremo, completamente fora de si, com um comportamento hostil com os colegas e até agressivo com os adversários.

No intervalo do jogo, o capitão recebeu uma bronca bem acalorada do treinador. E o professor deixou bem claro que colocaria Chad no banco se ele não se acalmasse e não se concentrasse no jogo. Quando o juiz autorizou o reinício da partida, Clifford ainda exibia um semblante duro, mas ele parecia mais determinado a não estragar tudo. Principalmente porque Chad não queria dar mais essa vitória a Hunter.

Por alguns minutos, Clifford até conseguiu se empenhar em algumas jogadas mais ofensivas e participou de vários pontos somados ao placar da MMU. A diferença no placar ainda era bem elástica e uma virada era praticamente impossível, mas agora o time da MMU parecia estar correndo atrás para que pelo menos a derrota não fosse tão vergonhosa.

O grande problema veio quando Chad foi desarmado por um adversário. Dessa vez foi uma jogada normal, Clifford estava melhor na partida e não falhou. Todo o mérito foi do jogador do outro time que conseguiu roubar a bola, correr pela quadra, se desvencilhar de vários oponentes e acertar a cesta numa jogada genial. O tipo de jogada que Hunter Timmons costumava fazer.

Numa situação normal, aquela jogada bonita mereceria aplausos até dos adversários. Mas a torcida da MMU já estava tão irritada com o desempenho vergonhoso do time que aquilo acabou sendo a gota d’água. Em defesa de Hunter, não foi ele que começou a puxar as vaias nas arquibancadas. Mas é claro que Timmons não conseguiu conter um risinho divertido e vitorioso ao assistir a multidão ao seu redor vaiando e gritando xingamentos, direcionados principalmente contra o capitão da MMU.

Se Chad já estava nervoso e irritado, o comportamento da torcida só serviu para deixar o capitão ainda mais possesso. E qualquer chance que Clifford tinha de deixar uma boa impressão como capitão desapareceu depois que Kendall passou perto de Chad, esbarrou propositalmente no ombro do colega e murmurou um “isso é sua culpa, seu merda!”. A reação de Clifford foi fechar o punho e arquear o braço num movimento perfeito até acertar um soco na boca do colega. A surpresa fez Kendall não reagir a tempo de evitar o golpe que o fez cambalear até cair sentado no chão da quadra.

Um dos deveres de um capitão era prezar pela união da equipe e era por isso que um jogador precisava ter espírito de liderança e ser respeitado pelos colegas para usar a braçadeira. Mas ficou bem claro que Chad não inspirava nenhum respeito dos colegas no instante em que Kendall se levantou do chão com um pulo e se atracou contra o próprio capitão, paralisando o jogo com uma pancadaria lamentável.

Foi nesse momento que a torcida se dividiu. Enquanto algumas pessoas pareciam horrorizadas com tanta violência, outros alunos mais irritados começaram a vibrar com a atitude de Kendall. O apito e as broncas do juiz não tiveram nenhum efeito sobre os dois rapazes do mesmo time que rolavam pela quadra em meio a socos e pontapés.

Quanto a Hunter Timmons, a reação dele não escondeu o quanto o rapaz estava se divertindo com aquela situação. Com uma frieza invejável e um sorrisinho satisfeito nos lábios, Hunter selecionou cuidadosamente a lente da câmera, ajustou o foco, deu um zoom e escolheu um ângulo perfeito para registrar uma foto de Kendall acertando mais um soco no nariz de Chad Clifford.
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Mensagem por Emily Sinclair Ter Abr 09, 2024 4:00 pm

Um verdadeiro caos. Ninguém esperava que o time da MMU fosse brilhante, mas todos torciam por uma vitória bem trabalhada e esforçada. O que ninguém imaginou era que, antes que a partida de basquete chegasse ao fim, não só um, mas dois jogadores do próprio time estivessem expulsos. Muito menos que um desses jogadores fosse logo o capitão estreante.

Chad Clifford era imaturo, ciumento e as brigas com a ex-namorada costumavam ser acaloradas, dramáticas e até mesmo com plateias. Mas Clifford não era um rapaz violento e explosivo daquela maneira, então foi uma surpresa para todos assistir a forma com que o capitão do time perdeu completamente o juízo ao atacar um colega. Até mesmo Emily estava horrorizada por ver quão longe as coisas tinham chegado, mas diferente da maioria, a garota sabia exatamente o que estava acontecendo com o ex-namorado.

Aquele relacionamento já tinha chegado ao fim, o que significava que Emy não tinha mais nenhum compromisso com Chad e estava livre para viver seu novo namoro sem se envolver em dramas. Mas Sinclair não podia ter aquele tipo de irresponsabilidade afetiva, de ignorar por completo um estrago que ela sabia que tinha ajudado a causar.

Desde o primeiro instante em que começou a notar os sentimentos que brotavam pro Hunter Timmons, Emily sabia que estava mexendo em um perigoso formigueiro. Ele e Chad estavam com a amizade estremecida, ela e Clifford já estavam separados, mas ainda existia uma bagagem impossível de ser ignorada. E agora, no meio daquele furacão, Emy não podia dizer que não imaginava e não esperava estar dividida.

Não havia dúvidas sobre seus sentimentos e com quem ela queria ficar. Mas uma parte de Emy não conseguia ser indiferente ao sofrimento de Clifford. Ao mesmo tempo em que ela não podia fazer nada, sem acabar despertando o temperamento explosivo de Timmons.

Mesmo depois que chegou em casa e com os pensamentos focados em Liberty, Emily não conseguia deixar de lembrar de Chad e de tudo o que o rapaz tinha vivido naquele dia, como ele estaria se sentindo com a sua desastrosa estreia como capitão, ou o placar vergonhoso da derrota da MMU naquele primeiro jogo. E saber que o basquete ainda era o menor dos problemas para Clifford só tornava tudo ainda mais difícil.

- Então, você não sabe quem é esse cara?

- Pela milésima vez, Deeeex! Não, eu não sei! A Libby nunca me falou sobre ele!

Com um suspiro, Emily empurrou para a mesinha de centro a bandeja com alguns sanduíches e a jarra de suco que tinha preparado. Ao invés da MMU inteira estar festejando uma vitória, não teria nenhuma comemoração já que todos sentiam o gosto amargo da derrota. A pequena reunião que acontecia na casa das Sinclair não tinha qualquer relação com o jogo de basquete, mas com as especulações e principalmente a preocupação com o destino de Liberty Bloomfield, depois que a garota tinha deixado o colégio acompanhado pelo misterioso rapaz do MIT.

- Mas você é prima dela!

- E você é o namorado dela. - Emy rolou os olhos e depois se acomodou no braço da poltrona onde Hunter Timmons estava sentado. - Sério, Dex... Relaxa um pouco, tá? A Libby já é bem grandinha, ela disse que estava tudo sob controle. Acho que precisamos confiar na palavra dela, né? E se o seu problema é ciúmes, o cara veio do MIT. Caso você não tenha notado, é um pouquiiiiinho distante de Seattle, então não acho que seja um ex-namorado ou coisa do tipo.

- Mas é um Wooton.

Em um momento raro, o argumento de Dexter soou cortante como se aquelas palavras fizessem todo sentido do mundo. Normalmente era Thompson quem ficava um pouco perdido nas conversas, então foi hilário assistir os papéis invertendo quando Emily e Hunter tombaram as cabeças com olhares confusos, o que obrigou o quarterback a se explicar melhor.

- Wooton? Do Jeff Wooton? Um dos principais sócios e acionistas da Microsoft? Qual é o problema de vocês, não leem as notícias não?

- Desde quando VOCÊ lê as notícias?

A provocação de Hunter fez com que aquela pose intelectual de Dexter vacilasse por um instante, e sabendo que era impossível sustentar aquela fachada diante de duas pessoas que o conheciam tão bem, o rapaz deu de ombros e se explicou.

- Eu passei a escutar Podcasts e seguir alguns canais de tecnologia por causa da Libby. Enfim, é um cara importante e beeeem inteligente. O que significa que aquele cara não é qualquer merdinha. Ele também deve ser importante e beeeem inteligente, para estar no MIT. E caso vocês não tenham notado, é exatamente o tipo de cara para a Libby.

- Não sei, não. - Emy abriu um sorrisinho torto antes de provocar o amigo. - Achei que o tipo dela fosse quarterbacks com notas medíocres e o tanquinho trincado.

- Eu não teria tanta certeza se fosse você.

Dex estava mais emburrado quando se inclinou na direção dos sanduíches e pegou um deles para si. Seu olhar deslizou por um instante pela mão que Timmons mantinha ao redor da cintura de Emily e na proximidade dos dois, em uma visão inédita e ainda difícil de processar. E como era muito transparente, Thompson não conseguiu disfarçar seu desconforto ao ver a ex-namorada de Clifford agora nos braços de Hunter.

- Por que? Vocês brigaram? - Emy soou sinceramente preocupada, ignorando o olhar de Dexter.

- Ahn... Um mal entendido. - Dex lançou um olhar na direção de Hunter, dessa vez tomando o cuidado para não repetir o erro de Chad ao mencionar a lista, sem desconfiar que aquele assunto já tinha sido discutido pelo casalzinho. - Ela descobriu uma besteira, algo que era para ser sem importância, mas ficou bem ofendida e nós dois ainda não tivemos a chance de conversar com calma.

A explicação de Dexter era vaga, mas o olhar insistente que ele lançava na direção de Hunter deu a dica que Emily precisava para entender o que estava acontecendo. E bem diferente de Bloomfield, foi com naturalidade que Sinclair tocou naquele assunto.

- Ela descobriu sobre a listinha de vocês? O que foi, vai dizer que você também não escolheu ela para a sua lista? Hunter Timmons, não vai me dizer que a minha prima estava na SUA lista!

- O queee? Você sabe sobre a lista???

Depois de enfrentar uma crise bastante sensível com a namorada por causa daquele assunto, era inacreditável para Dexter ver que Emily estava lidando com o mesmo problema de forma muito mais leve. Mas depois de se recuperar daquela surpresa, ele passou a mão livre pelos cabelos e negou com um movimento da cabeça.

- Ela estava na minha lista. - Dex fez uma pequena pausa antes de completar, emburrado. - Mas tecnicamente eu também não a escolhi.

- O queee??? A Libby “sobrou”? Qual é o problema de vocês??? Vocês são uns escrotos, sabiam disso?

- É, eu seeeei! Mas nunca foi a nossa intenção magoar ninguém, Emy! Pelo contrário, a ideia era só evitar problemas. - O olhar de Dex mais uma vez deslizou para o casalzinho, sem conseguir disfarçar seu incômodo. - Problemas como esse.

O namoro entre Hunter e Emily ainda era uma novidade por toda a MMU. Além do choque de ver Timmons assumindo um compromisso com uma garota, as pessoas também estavam surpresas por assistir Sinclair trocando Clifford por um dos seus melhores amigos. Claro que a fofoca já tinha se tornado a maior atração pelos corredores, mas era a primeira vez que Dexter tocava no assunto mais diretamente.

- Vocês sabem que o que rolou com o Cliff hoje foi por causa disso, não sabem?

Dexter ainda pretendia ter uma conversa particular com Hunter para entender o que estava acontecendo. Como se sentia responsável pelos dois rapazes, era como um pai que precisava conversar e aconselhar seu filho que Dex sentia que tinha que lidar com aquele problema.

- Será que podemos não falar sobre isso agora? - O semblante mais sério de Emy mostrava que, diferente de Timmons, ela não tinha se divertido ao assistir o ex-namorado vivendo aquele inferno astral. - Eu sei que ainda é algo novo para todo mundo, mas o Hunter e eu estamos juntos e felizes, Dex. E ninguém aqui teve a intenção de magoar o Chad de propósito.

- Não mesmo? - A pergunta de Dexter foi feita diretamente para Hunter, mas Emily estava decidida a não deixar aquele assunto continuar.

- Eu vou buscar um pouco de molho para o sanduíche. E não tente ligar para a Libby de novo, Dexter. Ela vai dar notícias.

A ideia de Emily era apenas fugir da conversa de Dexter, porque continuar escutando outras pessoas acusando Hunter de ter se aproximado dela apenas para atingir Clifford tornava mais difícil a tarefa de ignorar aquela teoria. Quando estava nos braços do namorado, quando o olhar de Timmons se derretia por ela ou quando ele parecia tão apaixonado, Emy não tinha nenhum motivo para se sentir insegura. Mas se as duas pessoas que mais conheciam Chad faziam aquele tipo de insinuação perigosa, uma vozinha no fundo da sua mente insistia em dizer “e se...?”.

Emy ainda estava revirando as prateleiras da geladeira quando escutou os passos de Hunter se aproximando. Ela puxou alguns frascos e os enfileirou sobre a bancada, mas quando tentou se esticar em um dos armários para pegar os potinhos, nem ficando na ponta dos pés foi possível que seus dedos tocassem a prateleira mais alta. Sem nenhuma dificuldade, Timmons parou atrás dela e puxou o conjunto de potinhos de porcelana.

- Obrigada! Acho que vou levar um pouco de pimenta, se o Dexter estiver com a língua queimando, pelo menos vai segurar um pouco da ansiedade! Acho que eu nunca vi Dexter Thompson assim com garota alguma!

Como era óbvio que Emily só estava tentando disfarçar seu próprio incômodo falando do amigo, Hunter fez o que fazia de melhor. Com um abraço, um carinho nos cabelos ruivos e um beijo carinhoso, Timmons já tinha conseguido desarmar a namorada, permitindo que ela relaxasse um pouco. Mas diferente das outras vezes, aquela insegurança tinha ganhado um pouco mais de força e não se desfez por completo. A presença de Hunter até conseguia abafar a preocupação e a dor que ela ainda sentia por causa de Chad, mas daquela vez Emy não conseguiu fugir de algo que vinha remoendo seus pensamentos desde a noite anterior.

- Todo mundo vai acabar se acostumando com a novidade. Esse é o problema de viver nesse fim de mundo, qualquer coisinha vira a fofoca do ano! - Emily rolou os olhos, mas acabou fixando sua atenção em Hunter e tentou ser cuidadosa nas suas palavras. - Eu posso fazer uma pergunta, Tim?

O abraço se desfez, mas Emily continuou parada há menos de um palmo de distância quando apoiou suas mãos na cintura do namorado. Ela não parecia brava, nem insegura ou carregada de acusações. Era óbvio que Sinclair não estava confortável em tocar naquele assunto com Timmons, mas aquilo precisava ser dito.

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- Eu só vou perguntar uma vez e nós dois não precisamos tocar nesse assunto nunca mais. E eu prometo que vou acreditar na sua palavra, seja ela qual for... Só preciso que seja sincero comigo, Tim... - Emy franziu a testa e fez uma pequena pausa antes de chegar no ponto. - O que aconteceu ontem... Na quadra... O lance com o Chad, foi mesmo uma coincidência, não foi?
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Mensagem por Dexter Thompson Ter Abr 09, 2024 4:03 pm

Bonito. Rico. Com um sobrenome importante. Charmoso. E obviamente inteligente, para conseguir ingressar em uma grande universidade como o MIT. Leonard Wooton, ou Lenny, parecia ser o modelo perfeito para uma garota como Liberty Bloomfield. Ele não era só um típico nerd obcecado por tecnologia. Lenny tinha confiança, dinheiro e principalmente (e aparentemente) o QI que combinava com uma garota como Libby.

Assim como Lenny, Libby não era a típica nerd gordinha, com óculos grossos ou que usava aqueles aparelhos metálicos. Com sua personalidade mais discreta, metódica e estudiosa, Liberty acabava não chamando tanto a atenção dos rapazes por onde passava, mas Dexter tinha enxergado o que para ele era algo muito óbvio. Bloomfield não precisava das toneladas de maquiagem das outras garotas, nem das roupas curtinhas das líderes de torcida para ser uma menina linda. Linda e inteligente, do tipo de mulher que seria muito bem sucedida e empoderada, intimidante e invejada.

Dexter tinha se apaixonado pela história, pela personalidade e pela aparência de Libby. Não havia nada nela que Thompson desagradasse. Mas o amor que ele nutria pela novata não era capaz de ofuscar o óbvio, algo que os dois tinham dito antes de declararem seus sentimentos um para o outro: eles eram muito diferentes.

E para um cara que não se encaixava tão bem no mundinho da namorada, era de se esperar que Dexter estivesse inseguro e enciumado com a chegada de Leonard Wooton. O carro chamativo e caro, a universidade, o sobrenome e até mesmo a conta bancária. Mesmo que Dex tentasse negar para si mesmo que Lenny não fosse tão atraente ou interessante assim, a reação dos alunos da MMU mostravam o contrário. Por alguns minutos, Thompson se viu em segundo plano dentro do seu próprio reinado enquanto Wooton se tornava o centro das atenções.

Mas não era o ego ferido, o ciúme ou a insegurança que corroíam Dexter por dentro. O que realmente estava despertando aquela ansiedade e lhe deixando inquieto era se lembrar do olharzinho assustado e intimidado de Liberty ao entrar na Ferrari amarela.

Um alerta vermelho berrava dentro da mente de Dexter. O raciocínio de Thompson poderia não ser o mais rápido, suas notas poderiam não ser as mais altas, mas seu instinto gritava naquele dia de que tinha alguma coisa muito errada. E enquanto Bloomfield não estivesse na sua frente, inteira e segura, ele seria incapaz de relaxar.

Dexter já tinha escutado sobre o pai biológico que nunca quisera conhecer sua filha, mas Liberty nunca tinha dado um nome para aquele homem. E a verdade era que era impossível para Thompson concluir sozinho que Bloomfield era uma Wooton e que Lenny era seu irmão. Principalmente considerando que Libby já tinha dito que não tinha nenhum tipo de contato com o pai ou com a família dele.

O medo de Dexter não era que Liberty fosse decidir se aproveitar daquela crise para encerrar o relacionamento dos dois e correr para os braços de Lenny. Mas Thompson não tinha descartado a teoria de que talvez existisse um passado entre os dois. O que quer que fosse, era algo que deixava Liberty extremamente desconfortável, e Dex se sentia de mãos atadas quando partia da própria menina a decisão de lidar com aquele problema sozinha.

“Está tudo bem? Onde você está?”

Algumas mensagens já tinham sido mandadas para o número de Liberty, na esperança de que a garota pudesse dar qualquer notícia que o tranquilizasse. Mas a falta de informações sobre Bloomfield estavam tornando aquela ansiedade de Dexter em um vulcão prestes a entrar em erupção.

Ir para a casa de Emily esperar por Liberty tinha sido uma decisão de Dexter, sem esperar qualquer convite da amiga. E talvez fosse a escolha mais segura, já que a segunda alternativa era Thompson rodar por toda cidade através daquele carro amarelo até ter certeza de que Libby estava bem. O que Dex não calculou foi que ficar na presença de Hunter e Emily seria igualmente incômodo e constrangedor.

Depois de tudo o que tinha acontecido naquele dia, Dexter deveria estar ao lado de Chad. O rapaz deveria estar se sentindo humilhado, irritado e envergonhado depois de ter perdido o jogo, sido expulso e protagonizado uma cena lamentável na sua estreia como capitão. Muito além do basquete, Thompson sabia que Clifford estava tendo uma imensa dificuldade em digerir o novo namoro da garota que ele amava. Como um bom amigo, era ao lado dele que Dex deveria estar, mas a preocupação com Liberty ainda era maior.

Em uma cidade pequena como Colchester e crescendo ao redor de todas aquelas pessoas, Dexter já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha presenciado ceninhas fofas e românticas entre Emily e Chad. Um braço ao redor dos ombros dela, um beijinho carinhoso, as mãos entrelaçadas, um toque discreto nos joelhos. Era comum e algo que Dex estava acostumado a presenciar depois que o namoro dos dois tinha durado tanto tempo. Então agora parecia errado e obsceno assistir cenas muito parecidas entre Sinclair e Timmons.

Dex sentia que estava traindo Chad só por estar na presença de Emily e Hunter. Mas como também nutria aquele sentimento de irmandade com Timmons, Thompson não comprou uma briga e nem fez nenhum escândalo. A única coisa que denunciava o quanto ele ainda não tinha engolido aquela novidade era seu olhar insistente, estudando cada pequeno movimento de Hunter, como se com isso fosse capaz de perceber alguma falha ou deslize do rapaz.

Depois que Hunter e Emily saíram para a cozinha, Dexter abandonou o sanduíche ainda inteiro sobre um guardanapo e puxou o celular para si. Em um gesto ansioso, ele voltou a buscar pela aba de conversas de Liberty, ainda sem qualquer novidade. Alguns grupos estavam movimentados falando sobre o jogo de basquete, mas Dex só precisou rolar um pouco pelos nomes até encontrar o “Cliff”.

“Você quer conversar? Eu só estou esperando a Libby chegar, mas posso ir aí mais tarde.”

O status de Chad mostrava que o rapaz não abria o aplicativo de mensagens há um bom tempo. Talvez ele ainda estivesse precisando de um tempo para se acalmar e se isolar era a melhor forma de não surtar outra vez. Com um suspiro ansioso, Dex bloqueou a tela do celular e o enfiou de volta no bolso ao mesmo tempo em que luzes de farol atravessavam as janelas e cortinas da casa das Sinclair.

Com um pulo, Dexter se aproximou da janela e mesmo que já tivesse anoitecido, ele reconheceu a lataria amarela do carro. Antes mesmo que Liberty pudesse saltar do veículo, Thompson se apressou até o lobby e abriu a porta, mas se manteve ainda no interior da casa enquanto assistia a menina e o motorista saindo até a soleira.

Não havia nenhum sinal óbvio de que Liberty estivesse em perigo, mas o olhar de Dex estava atento a qualquer mínima pista que pudesse encontrar enquanto a menina se aproximava. A luz automática da varanda clareou a área externa quando os dois alcançaram os degraus e Dexter estava sério enquanto olhava de Libby para Lenny.

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- Você demorou. Está tudo bem? - Apesar do olhar ter passado pelo rapaz, Dexter obviamente ignorou Leonard enquanto focava apenas em Liberty. - Vem, entra. Já está tarde. Imagino que o seu amigo também precise ir, Massachusetts é longe, né?
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Mensagem por Liberty Bloomfield Ter Abr 09, 2024 8:22 pm

A velocidade e a potência do motor de uma Ferrari eram totalmente incompatíveis com uma cidadezinha como Colchester. O carro de Leonard Wooton parecia um borrão amarelo enquanto cortava as ruas pacatas da cidade em alta velocidade, atraindo a atenção de literalmente todas as pessoas que estavam nas calçadas. Mesmo depois de notar que Liberty estava tensa e com as mãozinhas agarradas no assento de couro, Lenny continuou com um sorrisinho sacana nos lábios e com o pé afundado no acelerador.

- Tem medo de velocidade, Liberty?

- Não. Eu tenho medo de morrer.

A resposta da menina arrancou um risinho de Wooton e ele não foi capaz de segurar uma gargalhada ainda mais exagerada depois que viu Liberty fechando os olhos com força numa curva mais acentuada. A música alta que ecoava das caixas de som do carro era um rap que não combinava nem um pouco com o estilo de Libby. Na verdade, Liberty não fazia ideia de como alguém poderia gostar de uma música tão barulhenta, com uma letra vulgar e ofensiva.


- Não tem graça ter um carro como este e dirigir feito uma vovozinha. Quer tentar? Aposto que você também vai curtir a adrenalina e afundar o seu pezinho no acelerador.

- Eu não tenho licença de motorista. Não sei dirigir.

Bloomfield se agarrou com ainda mais força no banco e teve certeza de que morreria no instante em que o motorista se virou para encará-la e parou de prestar atenção nas ruas. O sorriso tinha sumido dos lábios de Lenny e agora ele encarava a meia-irmã como se Liberty fosse um extraterrestre que tinha acabado de aterrissar no planeta Terra.

- Como assim? Por que? Você já fez dezesseis anos!

Era o raciocínio deturpado de alguém que vivia num mundinho privilegiado. Na visão de Lenny, a idade era o único fator limitante para que um jovem saísse por aí dirigindo uma Ferrari ridiculamente valiosa. Então a resposta de Liberty provavelmente seria um choque de realidade para Wooton.

- Por que eu perderia tempo com isso se eu não tenho um carro?

Existia um abismo social e econômico tão gritante entre os dois que era ridículo pensar que Leonard e Liberty eram filhos do mesmo pai. Enquanto Lenny tinha uma vida luxuosa e esbanjava o dinheiro do pai, a menina não tinha nem os itens mais básicos para garantir o seu conforto. A realidade na qual Libby vivia era algo que um rapaz como Lenny nem podia imaginar. Uma bolsista, morando de favor na casa de uma tia e economizando até as moedas para que a mãe desempregada não passasse necessidade em Seattle. Chegava a ser revoltante pensar que Jeff Wooton deixava a própria filha viver naquelas condições enquanto o irmão da menina ganhava um carro importado. Somente um dos pneus daquela Ferrari já deveria custar dez vezes mais do que o valor irrisório que Libby recebia de pensão alimentícia.

A expressão mais séria de Leonard indicava que a mente do rapaz também estava chegando àquela mesma conclusão sobre a atitude repulsiva do próprio pai. E a postura de Lenny claramente mudou depois disso. O pé dele aliviou um pouco a pressão sobre o acelerador, Wooton desligou o centro de mídia e colocou um fim naquele ruído infernal que algumas pessoas chamavam de música. O silêncio reinou no interior do veículo por quase um minuto inteiro antes que Leonard articulasse a principal pergunta que ele gostaria de fazer à meia-irmã.

- Por que? Por que você simplesmente aceitou essa vida de merda? Se você procurasse um bom advogado, se fosse até a mídia e jogasse toda a merda no ventilador... Você tem noção de que estaria nadando na grana se fizesse isso?

Uma ruguinha de confusão surgiu entre os olhos de Liberty e agora foi a vez dela virar a cabeça para encarar o perfil do rapaz ao seu lado. Até alguns minutos atrás, Libby nem saberia dizer se a família de Jeff Wooton conhecia a verdade sobre a existência dela, então era muito difícil tentar imaginar as motivações que levaram Leonard até Colchester. Mas, se tivesse que fazer uma aposta, Liberty diria que o meio-irmão estava ali para pressioná-la, para ameaçá-la ou para fazer Libby desistir de qualquer participação na herança dos Wooton. Então era bizarro ouvir Lenny questionando e praticamente incentivando a menina a lutar pelo dinheiro de Jeff.

Aquele era mesmo o pensamento mais óbvio e a situação mais justa. Como filha de Jeff Wooton, Liberty tinha direito à vida mais confortável que o pai podia lhe proporcionar. Pela lei, qualquer pai deveria dar aos seus filhos o melhor sustento possível, o mesmo estilo de vida que ele próprio levava. Libby não estaria se aproveitando da situação e nem mendigando um ato de caridade do pai se corresse atrás dos seus direitos. E com certeza um bom advogado teria mesmo conseguido reverter a primeira decisão judicial e aumentar consideravelmente o valor de pensão para as Bloomfield. Mas Libby também tinha os seus motivos para não declarar aquela guerra.

- Eu não tenho dinheiro para pagar um bom advogado, e muito menos interesse em embarcar numa briga judicial contra alguém infinitamente mais poderoso do que eu. Tenho medo do que pode acontecer comigo ou com a minha mãe. Além disso, ele insinuou que somos golpistas e que só queremos dinheiro. Eu não quero que ele pense que está certo sobre isso. Eu não preciso do seu dinheiro. Então se você veio até aqui por causa disso, perdeu a viagem. Eu não sou uma ameaça, Leonard, você não tem que se preocupar. Nunca vou fazer um escândalo e nem exigir uma parte da herança.

- Lenny. – depois de todo o discurso tenso de Libby, era bizarro que aquilo fosse a única coisa que o rapaz tinha a dizer – É sério. Eu odeio o meu nome.

Em uma velocidade mais suave, Wooton dirigiu mais um pouco até se afastar das áreas mais movimentadas de Colchester. Os dois continuaram dentro do carro mesmo depois que Lenny estacionou perto da mesma ponte onde Dexter já tinha levado Liberty uma vez. E como o silêncio se alongou por mais alguns minutos, dessa vez foi Libby que fez a principal pergunta que atormentava a sua mente.

- “Ele” sabe que você está aqui?

Até aquele momento, o nome de Jeff Wooton não tinha sido mencionado dentro daquele carro. Mas era como se ele estivesse presente como um fantasma assombrando a conversa dos filhos. Liberty parecia um pouco tensa ao pensar na reação que o pai teria se soubesse que Leonard tinha procurado por ela, mas a postura de Lenny foi muito mais relaxada.

- Não. Ele não sabe. Na verdade ele não faz ideia que eu descobri o maior segredo da vida dele. – como Libby já imaginava, naquele momento Leonard confirmou as suas maiores suspeitas – Ele nunca contou pra minha mãe, pra mim ou pro JJ que você existia.

Apesar do sorrisinho amargo que surgiu no rostinho de Liberty, a menina não parecia sinceramente surpresa. Na verdade, era quase óbvio pensar que Jeff ia se esforçar ao máximo para abafar e esconder aquele grande erro que mancharia a sua vidinha e a sua família perfeita.

- Eu descobri por acaso. – com um ar mais leve e travesso, Lenny arqueou as sobrancelhas antes de fazer aquela confissão – Bom, não exatamente por acaso. Eu fiz umas merdas por aí, ele cortou a minha mesada pela metade e meio que me obrigou a arrombar um cofre do escritório. E foi lá que eu achei uns documentos e os comprovantes do pagamento da pensão. Confesso que a minha vontade inicial foi fazer um escândalo e expor logo todas as merdas que aquele hipócrita esconde da família. Mas aí eu pensei um pouco melhor, fiquei muito curioso e quis saber um pouco mais sobre você. Quanto mais eu te stalkeava, mais curioso e impressionado eu ficava. Então eu decidi que tinha que te conhecer, Liberty.

- Você me stalkeou?

- Não foi fácil. Você não é do tipo que expõe muito a sua vida nas redes sociais, não é? Mas eu descobri o nome do seu antigo colégio e consegui ter acesso às suas notas e aos trabalhos publicados. Depois eu soube da bolsa na MMU. Qual será o seu próximo passo? – Lenny apontou a própria jaqueta com um arzinho soberbo e orgulhoso – MIT?

- Ahn... – Liberty fez uma pausa para selecionar as palavras que soariam menos ofensivas – O MIT é interessante, mas é um instituto de ensino mais técnico. Não descarto a possibilidade de ir pra lá, mas no momento não está nem no meu top dez. O meu plano inicial é ser admitida em alguma universidade da Ivy League.

A risada que ecoou pelo carro deixou Libby confusa e obrigou a menina a recuperar todo o seu discurso em busca de qualquer coisa que pudesse ter soado como uma piada. Mas antes que Bloomfield concluísse que era um riso de deboche porque Leonard não acreditava que ela seria capaz daquele grande feito, o rapaz se explicou melhor.

- Desculpe. Eu só não consegui me segurar porque, por um momento, pareceu que eu estava falando com o meu pai. Você não tem ideia de como é parecida com ele, Liberty. Ele disse a mesma coisa quando eu recebi a carta de admissão do MIT: “é um instituto técnico, você deveria ir pra uma universidade de verdade”. – depois de engrossar a voz numa imitação grotesca do pai, Lenny reassumiu o próprio timbre novamente – A minha vaga no MIT e o diploma do JJ na Caltech não impressionaram nem um pouco o brilhante Sr. Wooton. Mas olha só a grande ironia do destino. A filhinha rejeitada vai ter o diploma que ele queria que os filhos legítimos tivessem. Parece que, no fim das contas, não é verdade aquela história de que a genialidade sempre pula uma geração. O babaca do meu pai só não quis conhecer a única filha capaz de seguir os passos dele.

Até alguns anos atrás, Liberty ainda fantasiava com a ideia de se aproximar do pai, de conhecer os irmãos e ter uma família de verdade. Mas depois de só receber desprezo do Sr. Wooton, aquela esperança foi morrendo dentro da garota. Pela internet e pelos noticiários, Libby ainda tinha o hábito de buscar informações sobre o pai e os irmãos, mas a menina já não acreditava mais que um dia iria quebrar aquelas barreiras. Por isso agora era difícil para Liberty entender as motivações para aquela aproximação de Leonard.

O mais óbvio era pensar que o filho rebelde e problemático de Jeff Wooton só estava fazendo aquilo para enfrentar o pai ou para ter alguma carta na manga para alguma chantagem. Mas, se fosse esse o caso, Liberty não pretendia se unir a Lenny ou deixar que o meio-irmão a usasse. E Bloomfield foi bastante direta e objetiva quando deixou de lado todos aqueles rodeios e foi direto ao ponto.

- Se você não está preocupado com a herança ou com um escândalo, por que veio atrás de mim? Eu já disse que não pretendo declarar uma guerra, pedir mais dinheiro ou procurar a mídia. E eu também não vou participar de nenhum joguinho de vingança e nem nenhuma chantagem contra o seu pai, Lenny.

- Deus do céu, garota! Herança, guerra, dinheiro, mídia, vingança, chantagem... Você realmente tem uma imagem bem negativa ao meu respeito, né? Já passou por essa sua cabecinha genial que talvez eu só estivesse curioso e interessado em conhecer a minha irmãzinha? Nós somos irmãos, Liberty! Irmãos! É sério que isso não te abala nem um pouquinho!?

É claro que aquela situação afetava Libby. Por muito tempo a menina sonhou em ter uma família, em participar da vida de Jeff Wooton, em conhecer Jeffrey Junior e Leonard. Durante boa parte da infância, Liberty esperou que o pai se arrependesse, que ele procurasse por ela, que a convidasse para jantar em sua casa ou para uma viagem de fim de semana com a família. Existia dentro de Bloomfield uma carência que nunca havia sido saciada, um lugar vazio deixado pelo pai e pelos irmãos. Só que era difícil para a menina acreditar que agora, depois de tanto tempo, Lenny estava disposto a ocupar aquele lugar na vida dela.

- É injusto pra cacete que a gente só tenha se conhecido agora, Liberty. Nós tínhamos que ter crescido juntos! Eu certamente ia puxar o seu cabelo, rabiscar a cara das suas bonecas e dar em cima das suas amiguinhas. Nós dois tínhamos que ter brigado pelo restinho do sorvete no pote ou porque eu te empurrei na piscina.

Como foi criada como filha única, Libby não viveu nenhuma daquelas típicas experiências com irmãos. Mas os cenários descritos por Lenny fizeram com que um sorriso mais leve brotasse nos lábios da menina.

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- Você parece ser um pééééssimo irmão, Lenny.

- É, você ia me odiar. E ia me amar também, porque é assim que funciona o lance entre irmãos. Mas tiraram isso da gente por muito tempo, Liberty. Nós nunca vamos conseguir recuperar a nossa infância ou o tempo que perdemos, mas podemos construir algo a partir de agora. É por isso que eu dirigi até Vermont. – o rapaz estava mais sério quando buscou pelo rostinho de Libby – Ele não tinha o direito de tirar isso da gente.

Com uma inteligência acima da média, Liberty não estava habituada a ser enganada ou manipulada. Até havia um sexto sentido tentando alertá-la contra Leonard, mas a carência da garota acabou falando mais alto e ela preferiu acreditar que as intenções de Wooton eram as melhores possíveis. Libby sonhou com aquele momento por tanto tempo que agora ela não conseguia recusar a oferta feita pelo rapaz. Ela queria um irmão, queria se sentir parte de uma família.

***

- Uuuuuh... – Libby só notou aquele pequeno detalhe quando a Ferrari de Lenny estacionou diante da casa das Sinclair – Nããão! Isso é um Apple Watch???

Os olhos esverdeados de Wooton deslizaram até o próprio punho antes de buscarem novamente pelo rostinho da menina. E foi mesmo com uma cumplicidade típica de dois irmãos que protagonizavam a mesma travessura que Lenny e Libby riram juntos.

- Aham. Fiz questão de usar pela primeira vez num jantarzinho de aniversário do papai. Com tooodos os amigos e sócios dele presentes. Eu achei que a veia na testa do tio Bill ia estourar quando ele notou o meu relógio novo.

- Tio Bill? – o queixo de Liberty caiu quando ela entendeu a quem Lenny estava se referindo – VOCÊ CHAMA O BILL GATES DE TIO BILL???

Com os semblantes leves e sorrisos divertidos nos lábios, Lenny e Liberty saíram do carro tagarelando. E foi por estar tão distraída que Libby só percebeu a presença de Dexter depois que já estava na varanda da casa. A conversa com Wooton tinha evoluído tão bem nas últimas horas que Liberty nem se lembrou de checar o celular. Por isso ela não fazia ideia de que Thompson estava tão preocupado e esperava por ela na casa das Sinclair.

- Ah, oi. Tudo bem. Eu não sabia que você estava aqui.

Depois da ceninha na porta do colégio, Liberty até entendia os motivos para que Dexter parecesse tão desconfortável e desconfiado diante de Leonard. E foi para desfazer logo aquele clima pesado que Libby tomou a iniciativa de fazer aquele convite para Wooton.

- Já está tarde. Não quer entrar e comer alguma coisa, Lenny? Se não quiser voltar pra estrada de noite, eu posso arrumar o quarto de hóspedes. Acho que a tia Hilary não vai se incomodar.

- Eu aceito comer alguma coisa. Quanto ao quarto, não se preocupe. Eu fiz reserva numa pousada daqui. Acho que é a ÚNICA pousada daqui. Vou ficar até o fim de semana.

Diante do olhar embasbacado de Dexter, Leonard Wooton entrou na casa sem nenhuma cerimônia, como se fosse um velho conhecido das Sinclair. Um enorme ponto de interrogação pairava acima da cabeça de Thompson e o olhar que ele lançou a Liberty claramente pedia por explicações da menina. Mas ao invés de ter aquela conversa delicada no lobby de entrada da casa, a mãozinha de Libby agarrou a camiseta de Dexter e ela o puxou para dentro.

Quando o casalzinho chegou à sala, Lenny já estava com um dos sanduíches na mão. Sem esperar por um convite, o rapaz se sentou no sofá da sala numa postura relaxada e fez uma piadinha ao ver Emily e Hunter vindo da cozinha.

- Heeey! Quanta gente! Tá rolando uma festa? Posso botar a minha playlist pra tocar?

- NÃO! Pelo amor de Deus, aquelas músicas de novo não! – apesar da bronca, Liberty soou bem humorada e havia até um brilho diferente nos olhos dela ao fazer aquelas apresentações – Lenny, esta é a minha prima Emily. E o namorado dela, Hunter. E este aqui é o Dexter... meu namorado.

A hesitação de Liberty só durou dois segundos antes que ela intitulasse Dexter como seu namorado. A relação dos dois estava bastante estremecida após a discussão ocorrida naquela manhã e era evidente que o casalzinho precisava conversar e se entender. Mas já parecia ser um ótimo sinal que Libby apresentasse Thompson como namorado ao invés de dizer que eles eram apenas amigos.

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- Ow, ow, ow... não! De jeito nenhum! – ainda sentado no sofá, Lenny sacudiu a cabeça, passou os dedos pelo pescoço e se inclinou na direção de Dexter para encarar o rapaz mais de perto – Eu não sei quem é você, só sei que você não é o namorado da Liberty. Você só vai ser o namorado da Liberty se eu gostar de você e aprovar a relação. É uma questão de respeito e hierarquia, falou!? Como irmão mais velho dela, eu tenho que dar a minha bênção.

- Irmão??? – Hunter e Emily falaram juntos e com entonações igualmente chocadas.

- Ahn... – Libby fez uma caretinha antes de explicar aquela situação delicada – O Lenny é filho do meu pai. Então é, somos irmãos.
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Mensagem por Hunter Timmons Ter Abr 09, 2024 10:27 pm

O comportamento de Dexter já estava começando a irritar Hunter. Os olhares de repreensão e a maneira como o rosto de Thompson se contorcia numa caretinha desgostosa não escondiam que Dexter estava com dificuldades de digerir a imagem de Timmons e Emily juntos, como um casal de namorados. Como um bom amigo, Dexter não estava errado em ser fiel a Chad Clifford. Mas também era como um bom amigo que Hunter esperava que Thompson ficasse feliz por ele e o apoiasse.

A irritação de Hunter com o amigo chegou ao seu grau máximo no momento em que, indiretamente, Dexter questionou se ele realmente não tivera a intenção de magoar Chad com toda aquela história envolvendo Emily Sinclair. Clifford já tinha enfiado muitas ideias perigosas dentro da cabeça de Emily, então a última coisa que Timmons precisava era que outra pessoa repetisse as mesmas insinuações e gerasse ainda mais dúvidas dentro da cabecinha de Sinclair.

- Qual é o problema de vocês dois? Tá, eu sei muito bem qual é o problema daquele otário perdedor, mas e quanto a você, Dex???

Como Emily já tinha ido até a cozinha buscar os molhos, a voz sussurrada de Hunter chegou apenas até os ouvidos do melhor amigo. Dexter sabia muito bem que Timmons costumava explodir sempre que estreitava os olhos daquela maneira, mas era evidente que o rapaz estava se contendo e mantendo a voz mais baixa para que suas palavras não ecoassem até a cozinha e, consequentemente, até os ouvidos da namorada.

- Vocês acham que eu não tenho direito de me apaixonar? Ou que eu sou incapaz de amar alguém de verdade? Eu já estou ficando puto com essas insinuações maldosas, beleza!? Em nenhum momento eu te questionei ou duvidei dos seus sentimentos quando você começou a agir como um idiota apaixonado pela novata nerd! Por que você pode se apaixonar pela Liberty e é um absurdo pensar que eu me apaixonei pela Emy?

Havia uma grande diferença entre os casos de Dexter e de Hunter. Ao se apaixonar por Liberty Bloomfield, Thompson não havia traído a confiança de nenhum amigo de infância, não havia quebrado um pacto de amizade e nem desrespeitado a lista pela qual os três rapazes dividiram as garotas. E o mais importante: Dexter não se aproximou de Liberty por causa de um plano de vingança.

Mas antes que Thompson pudesse trazer novamente o nome de Chad Clifford como um argumento para aquela conversa, Timmons já o cortou com o mesmo semblante carregado de antes.

- Eu não me lembro de ter visto você fazendo caretas ou questionando o seu amiguinho quando ele me apunhalou pelas costas e ficou com a vaga de capitão no time. E antes que você diga que as situações são diferentes ou que o Clifford não tirou nada de mim porque eu já não estava no time, eu vou te responder que a situação é EXATAMENTE a mesma! Porque eu também não tirei nada dele agora, Dex. A Emily já tinha deixado bem claro que não existia nenhuma chance de reconciliação! O Clifford também já estava fora desse jogo quando eu ocupei o lugar vazio ao lado da Emily, ok?

Além de não querer fazer uma ceninha na frente da namorada, o outro detalhe que evitou uma discussão ainda mais acalorada entre os rapazes naquela noite foi o grau de ansiedade de Dexter. O rapaz já parecia muito preocupado e estressado com o sumiço de Liberty e com o forasteiro misterioso que acompanhava a garota naquela noite. E se até Timmons tinha se sentido intimidado e enciumado nos poucos segundos em que pensou que era por Emily que o outro rapaz procurava, agora ele entendia os motivos para que Thompson estivesse tão agitado.

- Eu entendo que o meu lance com a Emy seja muito recente e que você precise de tempo pra se acostumar com a ideia, Dexter. Mas eu não vou admitir essas insinuações maldosas. E eu realmente espero que você não vire as costas pra mim e não abra mão da nossa amizade por causa daquele babaca. Vai lá. Pergunte a ele se é legal me ter como um inimigo...

Era difícil saber se aquela última frase foi uma ameaça porque Hunter simplesmente deixou aquelas palavras pairando no ar e não deu mais nenhuma explicação antes de se levantar da poltrona e seguir os passos da namorada até a cozinha.

Não foi difícil para Hunter reconhecer os sinais de que Sinclair estava muito tensa. É claro que a garota podia estar apenas preocupada com o sumiço da prima, mas Timmons já a conhecia bem o bastante para enxergar que havia algo além disso.

Emily estava se sentindo culpada e atormentada depois de assistir o grande fiasco de Chad Clifford como capitão do time de basquete. E também era evidente que Chad e Dexter tinham conseguido injetar uma pontinha de dúvida dentro do coração da menina. Afinal, se os dois melhores amigos de Hunter que o conheciam tão bem estavam dizendo que Timmons teria coragem de manipular os sentimentos de uma garota para usá-la num plano de vingança, talvez Emily não pudesse descartar tão facilmente aquela possibilidade.

Por já imaginar que aqueles fantasmas estavam assombrando os pensamentos e o coração da namorada, Hunter não se surpreendeu com aquela pergunta. Na verdade, uma parte de Timmons estava aliviada em ver Emily verbalizando aquela insegurança ao invés de simplesmente guardar aquela dúvida dentro de si. O fato de Sinclair querer ouvir a resposta diretamente da boca do namorado era um sinal claro de que ela ainda confiava nele e Hunter precisava se aproveitar disso.

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- Eu sabia. – Timmons ficou mais sério e rolou os olhos numa postura impaciente e irritada – Eu sabia que aquele merdinha acabaria conseguindo te envenenar contra mim! Parece que não só você, mas agora o Dex também acha que eu sou o rei dos filhos da puta por causa das insinuações daquele perdedor mal amado!

O rei dos filhos da puta ou talvez o deus dos hipócritas. Hunter merecia mesmo receber um alto título pela audácia de olhar no fundo dos olhos de Emily e se fazer de vítima da situação. Não houve gritaria, explosão ou trocas de acusações, mas Timmons merecia um oscar pela sua interpretação de um namorado magoado e decepcionado com as dúvidas de Emily.

- Eu esperava isso dos dois, mas não de você, Emy. É sério que depois de tudo o que passamos juntos, dos sentimentos que só nós dois conhecemos, das promessas que eu te fiz... É sério que você ainda duvida dos meus sentimentos? Você realmente acha que eu estou te usando e que estou mentindo em todas as vezes que eu disse que te amo e que quero passar o resto da minha vida com você?

A jogada de Hunter foi sutil e inteligente. Ao fugir da pergunta feita por Sinclair, o rapaz evitou ter que mentir diretamente para a namorada. Porque era verdade que Timmons a amava e que ele queria um futuro com Emily. Então Hunter preferiu levar o seu discurso nessa direção do que responder à pergunta delicada sobre a “coincidência” que havia feito com que Clifford flagrasse a ex-namorada nos braços de outro rapaz.

- Eu sei que eu tenho uma coleção de defeitos e que o meu histórico com as garotas não é nada favorável. Mas eu já estou ficando cansado de ter que provar e repetir tantas vezes que com você é diferente, Emily, que eu me apaixonei de verdade, que o nosso lance é muito especial e é a melhor coisa que já me aconteceu. Então eu realmente espero que desta vez você acredite em mim e que nunca mais a gente precise voltar a este assunto.

Ainda com uma postura ofendida, Hunter soltou um suspiro e deu um passo para trás quando Emily tentou se reaproximar dele. As vozes na sala foram a desculpa perfeita para Timmons colocar um fim naquela conversa delicada e para fugir de qualquer outro questionamento da namorada.

- Acho que a sua prima finalmente chegou. Então se você realmente vai acreditar na minha palavra, acho melhor darmos esse assunto por encerrado e nos concentrarmos no drama do Dexter. Porque se a novata chegar aqui de mãos dadas com o tal do Wooton, o Dex vai fazer um drama digno das suas origens mexicanas.

***

- Tá. Se isso é alguma piada de nerd, eu não entendi. Vocês vão ter que me explicar... Quando vocês dizem “irmãos”, vocês não estão querendo dizer irmãos de verdade, né? É algum lance de RPG? Star Wars? Ou Harry Potter?

Com o indicador, Hunter apontou de Liberty para Leonard Wooton, ainda sem acreditar no que havia acabado de ouvir sobre os laços genéticos que uniam os dois. Além de não se parecerem muito fisicamente, Libby e Lenny pareciam vir de mundos completamente opostos e ninguém jamais diria que eles tinham um grau de parentesco tão próximo.

- Os seus amigos não são lá muito espertos, não é, Libby? Qual é a dificuldade em entender algo tão simples? A Liberty e eu temos o mesmo pai, então somos irmãos. Ou meio-irmãos, como preferirem. – Lenny completou antes que Hunter repetisse a pergunta sobre o RPG – Na vida real.

- Você não disse que ele era filho do tal chefão da Microsoft? – Hunter ainda exibia um olhar intrigado ao se dirigir a Dexter.

- “Chefão” é um termo bem vago no mundo empresarial. Porque se você estiver se referindo ao fundador da Microsoft, ele se chama Bill Gates e eu infelizmente não sou filho dele. Mas logo abaixo do tio Bill tem os acionistas que dirigem a empresa. E o principal deles é chamado de CEO, o diretor executivo. Esse sim é o meu pai, Jeff Wooton. Que “coincidentemente” é o pai da Liberty também.

- O seu pai é o CEO da Microsoft? – dessa vez a pergunta de Hunter foi dirigida a Libby num tom de deboche – E vocês querem mesmo que eu acredite nisso?

- É verdade, Tim. – Liberty deslizou os olhos pelos três moradores de Colchester – A situação é bem complicada e eu não gosto muito de falar sobre isso. Pra vocês terem uma ideia, eu só conheci o Lenny pessoalmente hoje.

- E eu nem sabia que ela existia até alguns dias atrás! Mas eu estou aqui agora, não é, irmãzinha?

- Vocês dois sabiam disso? – dessa vez a pergunta de Hunter foi dirigida à namorada e ao melhor amigo, mas só os olhares chocados de Emily e Dex já respondiam por eles – Tá. Mais alguém aí precisa de uma bebida pra digerir isso? E não me olha com essa cara, ruivinha, eu não bebo há dias! Pode ir me dizendo onde a minha sogra esconde o whisky!

- Uhuuul! Whisky? – Lenny ergueu os braços em comemoração – Agora sim é uma festa!
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Mensagem por Emily Sinclair Sáb Abr 13, 2024 9:50 pm

- O que? Mas não foi isso que eu disse!

Emily não era uma garota burra ou ingênua. Pelo contrário, Chad já tinha recebido inúmeras provas de que a ex-namorada tinha a personalidade forte e que não costumava baixar a cabeça ou aceitar as imposições de um rapaz. Mas tudo com Hunter Timmons parecia ser diferente. A paixão intensa turvava a mente de Emy, e a menina se sentiu sinceramente perdida e até constrangida por ter tocado no assunto do flagra de Clifford na noite anterior.

Uma garota inteligente, especialmente alguém como Liberty Bloomfield, não deixaria passar aquela conversa apenas com as justificativas de Hunter. Era fácil perceber que o rapaz estava se esquivando e principalmente que estava destorcendo a pergunta dela. Mas para Emy, que já se sentia receosa só em tocar naquele assunto, ela apenas tinha atingido um ponto sensível e ofendido Hunter.

Em nenhum momento Emily acusou o namorado de mentir sobre os sentimentos dele. Não era isso que estava deixando Sinclair insegura. Mesmo que as acusações de Clifford tivessem sido bem diretas ao afirmar que Timmons só tinha se aproximado, mentido e manipulado a ruivinha para atingi-lo, essa teoria era absurda demais para Emily acreditar. Afinal, ela tinha testemunhado o nascimento daquele amor e assistia nos olhos de Hunter a sinceridade das declarações dele.

A pergunta de Emily tinha sido clara e objetiva. A única coisa que estava atormentando seus pensamentos era a possibilidade de que Timmons tivesse se aproveitado do relacionamento dos dois para atingir Clifford. Um golpe final, mas que não afetava a base daquele namoro. A confiança de Sinclair em Timmons era tão grande que ela não desconfiava e sequer poderia imaginar que tudo o que os dois vinham construindo tinha como alicerce uma vingança cruel, fria e manipuladora.

Como um mestre daquele jogo, Hunter não só conseguiu fugir da pergunta como conseguiu fazer Emily se arrepender de ter tocado no assunto. Ela estava envergonhada e preocupada em ter ofendido o namorado. Um beicinho se formou nos seus lábios quando Hunter se esquivou dos seus toques e Emy cruzou os braços apenas para tentar ocupar as mãos.

- É claro que eu não duvido dos seus sentimentos, Tim. Eu sinto muito por ter perguntado, nós não precisamos mais tocar nesse assunto.

***

Se já estava difícil para Emily processar tudo o que tinha acontecido na quadra de basquete e o breve desentendimento com Hunter, a cabeça da menina terminou de dar um nó com a revelação do pai e do irmão de Liberty. Não era nenhum segredo para Emy que Libby tinha sido criada apenas pela mãe e que não havia tido contato com o seu pai biológico, mas Hilary nunca tinha compartilhado detalhes do drama da sua irmã com a filha.

Para Emily, o pai de Libby era um anônimo qualquer que tinha dado às costas para a responsabilidade de criar a filha por ser imaturo e inconsequente demais. Nem em um milhão de anos Sinclair iria fazer uma aposta de que o pai da prima era um homem tão importante influente e rico. E a parte financeira era ainda mais chocante, principalmente por saber como a vida de Libby era mais difícil. Diferente das outras garotas, ela sempre precisava se esforçar em dobro e tinha conquistado uma bolsa de estudos em um colégio que jamais poderia pagar. Um colégio que Jeff Wooton pagaria como se fosse uma compra qualquer.

A boca de Emily estava aberta e seu olhar estreito enquanto sua cabecinha tentava processar aquela novidade, com o olhar deslizando de Leonard para Liberty repetidas vezes. Nem mesmo o comentário de Hunter a respeito da bebida foi capaz de despertar nela qualquer tipo de repreensão.

- Ahn... Tá. Eu acho que talvez também precise de uma dose depois disso tudo.

Diferente do apartamento de Robert Sinclair, não havia um bar montado abarrotado com diferentes tipos de bebidas. A casa que Hilary dividia com a filha e a sobrinha tinha um ar típico do lar de uma cidade pequena. A decoração era delicada, com fotografias de Hilary com as filhas, almofadas claras e muitos arranjos de flores. Emy precisou voltar até a cozinha e revirar os armários até encontrar uma garrafa de whisky esquecida ao fundo.

- É melhor vocês beberem bem rapidinho, porque se a minha mãe chegar do trabalho e encontrar isso aqui, é capaz de assar o meu fígado e servir de comida para os peixes do lago.

Com os copos enfileirados na mesinha de centro, foi Hunter quem serviu as doses. Não foi nenhuma surpresa ver Dexter recusando a sua parte, sempre disciplinado e com o foco na temporada de futebol. Mas se Emily fosse um pouco mais observadora, ela notaria que Thompson tinha outros motivos para querer ficar sóbrio, com o olhar desconfiado e atento na direção de Leonard.

- Não vai querer??? - Lenny fez uma careta de reprovação para Dexter. - Começou com o pé esquerdo para tentar me impressionar, bonitão. Um cara de verdade nunca recusa uma bebida de verdade. E essa aqui até que é das boas. Vocês sabem, considerando que estamos no interior...

- Eu não estou tentando te impressionar. - Dexter corrigiu o rapaz, mantendo uma postura tensa e observadora.

- Todos vocês são tão receptivos assim? - Lenny apontou com o polegar na direção do namorado da irmã. - Porque se for, essa festa vai ser beeeem caída.

- Olha só, eu não me importo que você seja o irmão da Libby. Se você continuar insinuando que isso aqui é uma festa, eu vou chutar o seu traseiro até o MIT.

- Ela leva esse lance de festas muuuito a sério. - Hunter explicou o comportamento da namorada enquanto virava seu whisky.


- Festas foram feitas exatamente para não serem levadas a sério, gata.

- E você acha que uma boa festa surge do nada, sem nenhum esforço? As festas do MIT devem ser beeeem caídas, então. Porque as festas que EU organizo são as melhores. Ainda faltam alguns dias para o Halloween, mas eu já estou com quase tudo pronto.

- Que adorável, uma festinha do interior para vocês brincarem de “doces ou travessuras”!

Era óbvio que Lenny só estava provocando Emily com aquele tratamento como se ela fosse uma garotinha do interior. Largado no sofá das Sinclair, com um copo de whisky na mão e um dos braços ao redor dos ombros de Liberty, ele parecia ser o dono da casa. Ou talvez da cidade inteira.

- Com o foco em “travessuras”. - Emily rebateu, estreitando os olhos.

A risada que Leonard deu, jogando a cabeça para trás, parecia ser mais uma provocação, um atestado de incredulidade que uma garotinha como Sinclair, em uma cidadezinha como Colchester, pudesse mesmo proporcionar uma festa animada. Até mesmo Dexter percebeu aquela implicância, e foi com um olhar atento que o rapaz tentou uma jogada arriscada.

- Você disse que ficaria até o final de semana, não é, Leonard?

- Lenny.

- Por que você não mostra para o Leonard, Emy, o que é uma festa de verdade? Você organizou a festa de boas-vindas da Libby e foi um sucesso. Faz de novo!

Da mesma maneira que Leonard estava provocando Emily com aquela conversa de festinha infantil do interior, Dexter propositalmente escolheu ignorar o apelido que o rapaz insistia em repetir. E Emy percebeu a jogada do amigo, mas havia um pequeno detalhe daquele plano de Thompson.

- Eu nunca recuso um desafio, você sabe disso, Dex... Eu posso dar a festa do ano e organizar tudo em dois dias. Mas sem chance de fazer aqui de novo.

Emy não queria ter que admitir que o problema era que a mãe estaria em casa daquela vez. Seria um atestado para Leonard de que ela era mesmo uma menininha do interior e que precisava obedecer regras que um universitário do MIT desconhecia. Intimamente, era como se Sinclair e o filho de Jeff Wooton estivessem competindo sobre qual era o melhor estilo de vida, como se isso fizesse um deles ganhar pontos em uma corrida por Libby.

- Ótimo. A gente faz lá em casa. - Dex deu de ombros, soando confiante com aquele convite. - Vai ser ótimo para o Leonard ficar mais um pouquinho. A gente precisa mesmo se conhecer melhor, não é?

- Eu sabiiiia que você estava tentando me agradar, bonitão!
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Mensagem por Dexter Thompson Sáb Abr 13, 2024 10:55 pm

Foi uma pequena e quase imperceptível hesitação. A pausa foi curta, mas foi suficiente para que o coração de Dexter falhasse uma batida até que Liberty o apresentasse como namorado. Naquele minúsculo intervalo de tempo, Thompson prendeu a respiração e engoliu em seco enquanto esperava por uma resposta, como se ela pudesse mudar todo o seu futuro. E ele quase não conseguiu disfarçar o alívio ao ver que Libby não tinha decretado o fim definitivo daquele relacionamento.

Aquilo não significava que tudo estaria bem entre os dois, que as coisas tinham se resolvido e que Bloomfield tinha esquecido e perdoado o assunto das “listas”. Mas já era um imenso progresso que a menina estivesse disposta a manter o namoro. E no que dependesse de Dexter, ele faria todo o esforço do mundo e provaria para a namorada de que ela tinha feito a escolha certa em não deixar que aquele mal entendido destruísse o que os dois vinham construindo.

Quando Liberty saiu da MMU acompanhada por um rapaz misterioso, bonito, mais velho e que parecia combinar com ela, não houve ciúmes. Pelo contrário, Dexter estava muito mais preocupado por assistir a tensão e o desconforto de Bloomfield que era incapaz de criar teorias malucas sobre a identidade de Leonard ou que ligação ele tinha com Libby. Só que isso mudou um pouco quando a garota reapareceu diante da porta das Sinclair pareceu muito mais à vontade com o “Lenny”.

De braços cruzados e um olhar desconfiado, Dex assistiu aquele rapaz invasivo e um tanto sem noção se espalhando e tomando conta do ambiente. Mas a mente de Thompson não precisou se esforçar muito com teorias quando a explicação sobre “irmãos” foi entoada. O único problema era que aquela afirmação só trazia uma tonelada de dúvidas.

Com o jeitinho que Libby já conhecia muito bem, Dexter tombou a cabeça de lado e franziu as sobrancelhas como se perguntasse diretamente a ela o que estava acontecendo ali. Thompson já sabia que o pai biológico de Bloomfield tinha dado às costas e ale não demonstrou nenhum interesse na criação da filha. Mas o nome de Wooton jamais tinha sido citado. Era compreensível que aquilo fosse um assunto delicado e frágil para Libby, a menina já tinha mostrado muitas vezes que se sentia incomodada e magoada, mesmo que se fizesse de forte. Mas uma pequena parte de Dex não conseguiu evitar uma sementinha malvada do ciúme por não estar tão por dentro daquela parte da vida da namorada.

Mesmo enquanto os demais interagiam ou quando a bebida foi servida, o olhar de Dex continuou preso em Leonard, o estudando silenciosamente. Julgar o filho de Wooton por causa do carro de luxo ou do comportamento invasivo talvez fosse um pouco precoce, afinal Dexter não conhecia nada sobre o estilo de vida daquela família. E Thompson não conseguia se desfazer de uma sensação de raiva e injustiça. Leonard também era uma vítima daquela história, que tinha sido afastado da irmã sem nem saber que ela existia. Mas indiretamente Dex estava destinando ao rapaz o sentimento negativo que ele já nutria por Jeff e pela rejeição que o homem sempre tinha demonstrado com a filha.

Existia um pouquinho de ciúmes. Existia também uma boa dose de raiva que deveria ser destinada apenas a Jeff, respingando em Leonard. Mas o que realmente predominava dentro de Thompson era a desconfiança. Um belo dia, sem mais nem menos, o irmão biológico de Liberty decidia procurar por ela? E vinha com toda aquela atitude fraternal, do irmão mais velho protetor, agindo como se os dois fossem melhores amigos?

Dexter queria dizer que não precisava da aprovação de Leonard e que definitivamente não se esforçaria para agradar o novo cunhado, porque ele tinha chegado na vida de Liberty primeiro. Se alguém ali precisava mostrar o seu valor, era Lenny. Mas era pela maneira que Libby agia que Dex guardou para si aquele lado mais selvagem, porque era óbvio que a menina estava encantada por conhecer o meio irmão.

Ao sugerir uma festa onde Leonard pudesse comparecer, Dexter passava a impressão de que estava abrindo um espaço para que Liberty pudesse conhecê-lo melhor. E Dex nem queria dar muita atenção ao sentimento de que, por Lenny, Libby facilmente moveria todo o cronograma de estudos só para aproveitar o tempo que o rapaz passaria em Colchester. Mas os sentimentos de Thompson não eram não nobres assim.

Com uma festa, especialmente uma acontecendo dentro da sua casa, Dexter teria a chance de vigiar Leonard de perto. Era muito melhor criar aquele cenário do que deixar que Liberty sumisse o final de semana inteiro, como tinha acontecido naquela manhã, sem que ele pudesse tentar descobrir o que havia por trás da chegada do filho de Wooton até Colchester.

- Então, você não sabia da existência da Liberty? - Dexter retomou a conversa depois que Hunter serviu uma segunda rodada de whisky, mais uma vez ignorando a bebida alcoólica para que seus sentidos estivessem totalmente focados nas respostas e na reação de Leonard. - O que foi que rolou? O Wooton decidiu contar para todo mundo que ele foi um covarde filho da puta a vida inteira?

- Até parece! - Lenny respondeu depois de uma gargalhada alta e curta. - Não mesmo. O velho continua um covarde filho da puta. Mas eu descobri sobre a minha irmãzinha, já contei toda a história para ela e ela sabe muito bem porque estou aqui. Então se a sua ideia é vir com “quais são as suas intenções com a Liberty?”, vou precisar lembrá-lo que esse é MEU papel.

- E você decidiu simplesmente largar tudo para trás e vir do MIT até aqui por causa dela? - Dexter ignorou as provocações, e apesar da entonação casual, seu olhar estreito tornava aquela conversa quase como um interrogatório.

- Eu acho que é o que QUALQUER pessoa faria no meu lugar, não? Você não iria correndo atrás de uma irmã se descobrisse a existência dela, bonitão? Eu queria conhecer a minha irmãzinha, saber tudo o que nós dois perdemos esse tempo todo! - Com uma careta, Lenny se virou para Libby e usou o polegar para apontar na direção de Dexter como se o rapaz fosse incapaz de escutá-lo. - É sério que você achou graça no bonitão aqui? Ele é meio tenso, né? E o cara nem bebe. Ow bonitão, por que você não bebe uma com a gente? É uma festa, cara!

- Isso NÃO é uma festa! - Emily corrigiu rapidamente, mas os dois rapazes a ignoraram.

- Temporada de futebol. Eu não bebo. Pode afetar meu desempenho. - A resposta de Dexter soou seca e mecânica, e ele estava pronto para emendar uma nova pergunta quando Lenny explodiu em mais uma gargalhada.

- Temporada de futebol! É claaaaaro! Estava na cara! Deixa eu adivinhar... quarterback? Poooxa, irmãzinha, eu esperava um pouquinho mais de você! O quarterback bonitão é meio previsível. Ou vai me dizer que você também é líder de torcida? Hmm, porque isso não parece combinar com o seu estilo. Você está muito acima dessas baboseiras toda.

Leonard estava bem diante de uma líder de torcida e do capitão do time de futebol. Ao dizer que Liberty era melhor que tudo aquilo, ele entrava em perfeita sintonia com tudo que a menina acreditava quando se mudou para Colchester. Bloomfield era incrivelmente inteligente, do tipo que não podia e nem precisava perder tempo com futilidades como futebol e torcida. E mesmo que fosse um pouco arrogante, Libby achava mesmo que era melhor do que aquelas pessoas vazias e superficiais. Pelo menos era o seu pensamento até começar a andar com os populares da MMU.

- Libby... Eu posso falar com você um minutinho? - Dexter tombou a cabeça na direção da cozinha e acrescentou enfaticamente. - A sós.

Sem esperar pela resposta da menina, Dexter se levantou e deixou a sala. Quando Bloomfield chegou na cozinha, o rapaz já estava novamente com os braços cruzados e andava de um lado para o outro, em um gesto ansioso. E apesar de todas as suas desconfianças e daquela sensação incômoda de que alguma peça não estava se encaixando, ele tentou soar o mais neutro possível.

- Seu irmão, hein? Por essa eu não esperava... Quer dizer, acho que nem você. Bom, talvez pela parte que você já soubesse que era irmã do tal do Wooton...

Havia um rio de argumentos que Dexter queria usar naquele momento, conversar com Liberty e pedir que a garota tomasse cuidado. Mas o rapaz respirou fundo e tentou enxergar a situação pela ótica da namorada. E claro que a cabecinha de Libby deveria estar dando um nó com os últimos acontecimentos, então foi com um semblante mais carinhoso que Dex descruzou os braços e puxou a namorada pela mão até que ela pudesse se encaixar no seu peito. Só então, com Liberty acomodada ali, Dexter a rodeou com seus braços em um abraço protetor.

- Eu sei que nós dois não estávamos no nosso melhor momento, e também sei que ainda precisamos conversar sobre o que rolou mais cedo. Eu nunca quis te magoar com essa história de listas, Libby, e eu reconheço que foi uma atitude imatura e bastante burra, mas espero de verdade que isso não afete o que nós dois estamos construindo. - Dex subiu uma das suas mãos e encaixou seus dedos na nuca dela, sob os fios escuros. E quando Libby ergueu o rosto para encará-lo, ele exibia um olhar intenso e sinceramente preocupado. - Mas nós podemos lidar com tudo isso depois. Agora, eu só quero saber como você está se sentindo com essa novidade toda. Se você quiser que eu chute o MIT para fora daqui, nem precisa dizer, basta um sinal seu e eu prometo que resolvo isso.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Dom Abr 14, 2024 4:51 pm

Inteligente, observadora, dona de um raciocínio rápido e apurado, com uma postura arredia e desconfiada. Como se não bastassem todas essas características, a infância difícil de Liberty fez com que a garota se tornasse uma pessoa um tanto pessimista, alguém que sempre esperava o pior das outras pessoas e que julgava todos ao seu redor com severidade. Somando todas essas particularidades da personalidade de Libby, o resultado era uma pessoa que dificilmente se deixava iludir ou enganar. Mas a chegada de Leonard Wooton à vida de Liberty fez com que a garota traísse a sua própria natureza.

Não era preciso ser um detetive experiente ou uma pessoa muito maliciosa para enxergar as pontas soltas naquela história. O primeiro contato com Lenny já mostrava que o rapaz definitivamente não parecia ser nada sentimental, afetuoso, justo ou fraternal. O segundo filho de Jeff Wooton era ácido, sarcástico, prepotente e um tanto arrogante. Então aquele papo de um irmão que estava ansioso para conhecer uma filha gerada fora do casamento de Jeff simplesmente não se encaixava na realidade.

Era óbvio demais que existiam segundas intenções por trás da estranha benevolência de Lenny. E uma pessoa tão inteligente e perspicaz como Liberty não deveria ter dificuldades para enxergar isso. O problema é que toda a carência acumulada ao longo de muitos anos e o desejo da menina em ser aceita e ter uma família de verdade acabavam cegando os instintos dela. Mesmo sendo tão inteligente, Libby não parecia enxergar algo que Dexter já tinha notado logo de cara: Leonard Wooton não era confiável e existia algum interesse por trás daquela aproximação com a meia-irmã.

- Chutá-lo para fora daqui? – numa bizarra inversão de papéis, agora foi Libby que parecia completamente perdida e confusa quando encarou o namorado, sem conseguir acompanhar o raciocínio dele – Por que eu iria te pedir isso, Dexter? O Lenny é divertido, ele está sendo muito atencioso comigo. E ele não tem culpa de nada, ele só quer me conhecer! Como eu já imaginava, a família do meu pai nunca soube da minha existência...

As intenções de Leonard poderiam ser as piores possíveis. Existia a chance do rapaz só ter ido até Colchester para conhecer melhor o terreno e para decidir qual seria a melhor maneira de se livrar de uma irmã bastarda que teria direito à herança bilionária dos Wooton. E conhecendo a má fama do rapaz, também não era tão bizarro assim pensar que Lenny poderia querer usar Liberty em algum tipo de vingança ou chantagem contra Jeff. Não era difícil imaginar os piores motivos que justificavam o interesse de Lenny na meia-irmã, mas Libby estava tão iludida com aquelas migalhas de afeto e de atenção que a garota realmente não enxergava maldade na aproximação do rapaz. Com o seu discursinho sobre o quanto tudo aquilo era injusto e como os dois teriam sido felizes crescendo como irmãos, Lenny havia desarmado completamente o coração de Liberty.

Sem sair dos braços do namorado, Libby apenas recuou o tronco o suficiente para encarar Dexter. A ruguinha entre os olhos castanhos indicava que ela não entendia a postura do rapaz e nem concordava com a opinião tão negativa que Thompson vinha construindo sobre o cunhado.

- Tá, eu sei que o Lenny pode ter uma personalidade um tanto intimidadora e um histórico bem problemático. Mas que outro motivo ele teria para vir até aqui e para me oferecer esse lugar na vida dele, Dex? Eu já deixei bem claro que não sou uma ameaça, que não vou fazer um escândalo e nem lutar pela herança e nem nada do tipo. E mesmo depois que eu disse tudo isso, ele continuou interessado em me conhecer. Nós dois somos irmãos. Acho que é o tipo de ligação que não dá pra ignorar, não é?

Dexter Thompson conhecia muito bem a sensação de amar um irmão incondicionalmente. Apesar da diferença de idade e de personalidades, Dexter e Eric eram muito próximos e tinham uma ligação muito forte. Mas era justamente por conhecer tão bem o amor fraternal que Dexter desconfiava das intenções de Leonard Wooton. Lenny definitivamente não se parecia com um irmão nobre e amoroso que queria apenas corrigir as injustiças do pai e fazer parte da vida de Libby.

- Eu sinto muito por não ter te contado mais detalhes desta história. – o nariz de Libby se franziu numa breve caretinha – Mas é um assunto delicado pra mim e principalmente pra minha mãe. Nem mesmo a Emy sabia. E eu sinceramente nunca imaginei que algum dia essa barreira seria quebrada, que um Wooton procuraria por mim. Eu fiquei em choque quando vi o Lenny na porta do colégio. Pode acreditar que eu fiquei tão surpresa quanto vocês.

A primeira reação de Liberty perante a visita do irmão foi muito negativa. Logo que viu Leonard na porta da MMU, Libby recuou e demonstrou estar apreensiva e intimidada diante do meio-irmão. Mas Lenny só precisou de uma única conversa para desarmar completamente a garota. Agora, depois de cair na lábia do rapaz, Liberty parecia apenas feliz, leve e animada com a possibilidade de poder contar com o afeto e a companhia do irmão. Era evidente que agora Libby não daria ouvidos a ninguém que tentasse alertá-la ou que questionasse a inocência de Wooton.

Talvez o único lado positivo em toda aquela reviravolta na história era que agora Liberty estava tão focada no irmão que acabou deixando um pouco de lado a crise no namoro com Dexter. A história da tal lista de garotas ainda a incomodava e Libby continuava decepcionada com o comportamento do namorado, mas era fácil abafar aqueles sentimentos ruins com a alegria e o entusiasmo que a presença de Lenny trazia para a vida dela. Simplesmente não valia a pena estragar um momento tão especial com uma briguinha boba entre namorados.

- Eu ainda estou chateada e decepcionada com você. Mas acho que você tem razão em uma coisa, Dex... – Libby ergueu um ombro antes de completar o raciocínio – Não podemos perder tudo o que construímos até aqui por causa de uma crise. Eu prefiro acreditar que não errei tanto e que essa lista idiota foi só um deslize isolado do seu caráter. Então...

Depois de dar um passo para trás, Liberty esticou um dos braços e deixou a mãozinha estendida diante de Dexter. E os dois novamente assumiram os seus respectivos papéis naquela história quando o rapaz pareceu confuso e não entendeu o gesto da namorada. Ao invés de irritada com o jeitinho lento e perdido do rapaz, Libby abriu um sorriso carinhoso ao explicar.

- O meu anel com o diadema de Ravenclaw, Dex! Eu quero de volta.

Como Bloomfield já imaginava, o anelzinho estava guardado no bolso do namorado e foi num gesto afoito que Dexter puxou a joia e a encaixou novamente no dedinho da garota. Era óbvio que aquela mudança positiva e brusca no humor de Liberty só tinha acontecido após a chegada de Lenny, mas Thompson seria um grande tolo se não aproveitasse a oportunidade para se entender com a namorada e para colocar um fim naquela crise do relacionamento.

Depois de lançar um olhar mais suave na direção do anelzinho em seu dedo, Libby terminou de se derreter e murmurou antes de buscar pelos lábios de Thompson com um beijo.

- Eu te amo, cariño. Não vamos mais brigar por bobagens, está bem?

O clima mais leve da reconciliação e aquele último pedido de Liberty tirariam de Dexter toda a coragem de dizer à menina o que ele realmente pensava sobre Leonard Wooton. Além de Dexter não querer estragar a felicidade de Libby naquele momento, era óbvio que a menina não daria ouvidos a ele e ficaria irritada com críticas ou desconfianças contra o irmão. E Thompson certamente não iria querer mergulhar numa nova crise logo agora que os dois tinham se entendido.

***

Usando apenas o indicador e o dedo médio, Leonard Wooton deu duas batidinhas na porta entreaberta e esperou que a irmã erguesse os olhos na direção dele e autorizasse a entrada do rapaz no quarto. A casa das Sinclair estava vazia e silenciosa naquela tarde de sábado porque Hilary ainda estava na loja e Emily saiu nas primeiras horas da manhã para organizar todos os detalhes da festinha que aconteceria na casa dos Thompson, então Libby estava sozinha. E por estar tão focada no trabalho, Bloomfield só percebeu a chegada do irmão depois que Lenny já estava dentro da casa.

- Eu bati na porta da frente e ninguém atendeu. Então tive o palpite de que numa cidade como Colchester as pessoas não tem o costume de trancar as portas dos fundos. Espero que nenhum vizinho tenha me visto e resolva chamar a polícia.

- Desculpe, eu não ouvi. E não se preocupe, a cidade inteira já sabe que Hunter Timmons é o novo namorado da Emy e ele tem o terrível costume de pular muros e invadir o quarto das meninas. Então, se alguém ligar pra polícia, o xerife é amigo do Sr. Timmons e provavelmente vai ignorar a queixa.

- Bom saber. Vim pra te dar uma carona até a festa. Já está pronta? – Lenny contraiu o rosto num semblante de estranhamento ao notar as roupas usadas pela irmã naquela tarde – Não é roupa demais para uma pool party?

Não havia nada tão errado no vestidinho escolhido por Libby naquela tarde. Era um tecido leve, a saia era curta e a estampa floral combinava com o estilo da festa que aconteceria naquela tarde (e provavelmente se alongaria por boa parte da noite). Mas ainda assim parecia ter tecido demais para uma típica pool party onde a grande maioria das meninas certamente desfilaria pela área da piscina usando apenas trajes de banho. O próprio Lenny usava apenas uma bermuda e uma camiseta mais cavada que provavelmente seria retirada assim que ele chegasse à casa dos Thompson.

- Não pretendo entrar na piscina. Aliás, me faltam palavras para explicar o quanto eu odiei a ideia de uma pool party. Eu só vou nesta festa por sua causa. E vou levar o notebook porque não posso atrasar ainda mais o meu cronograma. Você consegue me esperar mais uns minutinhos? Eu só preciso terminar uma coisinha aqui e aí podemos ir...

Sentada diante da mesinha de estudos, Libby indicou o notebook aberto diante dela e logo depois voltou a atenção para a tela. Por estar tão focada no computador, Liberty não percebeu o olhar de desdém que Leonard lançou ao modelo antigo do laptop da irmã. Ainda se aproveitando que a menina estava totalmente concentrada naquela tarefa, Lenny deu alguns passos pelo quarto até se posicionar atrás de Libby para conseguir assistir ao que ela estava fazendo.

A tela preta estava inteiramente preenchida por códigos que não fariam o menor sentido para alguém que não compreendesse o universo da programação. Os dedinhos delicados de Liberty digitavam numa velocidade elevada e sem que ela precisasse olhar na direção do teclado. Embora ele fosse filho de um dos grandes nomes do mundo da tecnologia, Lenny pareceu completamente perdido e franziu o nariz numa caretinha enquanto olhava da tela para o rostinho concentrado da irmã.

- O que está fazendo?

A boca de Libby não se abriu e a menina não deu qualquer indício de que havia ouvido a pergunta do meio-irmão. Os grandes olhos castanhos continuaram focados inteiramente na tela enquanto os dedinhos apertavam as teclas freneticamente e construíam um código complexo demais até mesmo para um aluno do MIT. Ainda parecendo totalmente desconectada da realidade, Liberty manteve o olhar vidrado na tela do notebook enquanto usava uma das mãos para tatear a mesinha de estudo até encontrar o próprio celular. E também foi sem precisar olhar para o aparelho que Libby conseguiu fazer uma ligação. Enquanto esperava que alguém a atendesse do outro lado da linha, Bloomfield contraiu os lábios num biquinho enquanto deslizava o olhar uma última vez pela tela do notebook para se certificar de que de fato não havia cometido nenhum erro.

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- Oi, sou eu. Finalizei o código, consegui corrigir todos os bugs. Tudo pronto pra próxima fase do projeto! Que tal uma reunião na segunda depois da aula? – Libby esperou pela resposta vinda do outro lado do aparelho antes de finalizar – Ótimo, te vejo na segunda então!

Mesmo depois de finalizar a ligação e deixar o celular de lado, Liberty continuou com os olhos fixos na tela por um bom tempo. A garota só aterrissou de volta na realidade depois que Leonard se sentou de lado na pontinha da mesa e deslizou uma das mãos diante do rostinho concentrado da irmã.

- Planeta Terra chamando Liberty. Consegue me ouvir, irmãzinha? Câmbio!

- Desculpe! – um sorrisinho mais tímido surgiu no rosto de Libby enquanto ela se explicava – Eu tenho esse hábito de me desconectar da realidade quando estou concluindo um trabalho importante!

- É, eu sei como é. Lá em casa chamamos isso de “o fantástico mundinho paralelo do Sr. Wooton”. O papai também faz isso quando está trabalhando em algo promissor. Ele faz EXATAMENTE isso. Eu fiquei uns dois meses sem ouvir a voz dele na época em que ele estava concluindo a versão 23H2 do Windows. Acho que ele não notaria nada estranho nem se um furacão arrastasse a casa. É bizarro ver o quanto você se parece com ele, Liberty.

O comentário de Lenny deixou a garota visivelmente desconfortável, principalmente porque aquelas últimas palavras soaram como uma alfinetada ácida. Mas antes que Libby pudesse começar a desconfiar das intenções do irmão, Lenny mudou rapidamente a sua postura e abriu um sorriso mais relaxado.

- Quem era na ligação? O seu namoradinho está te ajudando nesse projeto?

- Ah, não. O Dex não leva muito jeito para esse lance de tecnologia. Era um colega da MMU, o Mike. Ele é a minha dupla no laboratório de robótica.

- Oooh, que surpresa ouvir que um quarterback não manja de tecnologia... – Lenny retomou o ar mais irônico ao se referir a Dexter – Você não acha que daria mais certo ficar com um cara como esse tal Mike? Você e o bonitão não tem muita coisa em comum, né? Sobre o que vocês conversam? Ou melhor, rola alguma conversa ou é mais um lance físico? Pode ser sincera, irmãzinha, não vou te julgar. Imagino que um cérebro tão brilhante como o seu precise mesmo extravasar a energia com algo mais “instintivo”.

- O meu namoro com o Dexter vai muito além de um lance físico, Lenny. – Liberty estava mais séria ao defender o namorado – O Dex e eu temos gostos e preferências diferentes, mas isso não interfere em nada no que sentimos um pelo outro. Eu sei o que parece, mas te garanto que não é só pegação ou uma paixonite adolescente. Nós nos amamos de verdade.

- Tá, já saquei... – num gesto debochado, Lenny ergueu as mãos num sinal de rendição – Vou guardar apenas para mim a opinião que tenho sobre caras como ele. Se você está feliz e se confia nele, é só o que me importa. Já está pronta pra festa? No caminho você pode me contar mais sobre esse projeto de robótica. Deve ser bem interessante pra te deixar tão entusiasmada assim.

- É um projeto legal... – enquanto se explicava, Libby fechou o notebook e o enfiou na bolsa que pretendia levar para a festinha – O Mike e eu vamos construir um robozinho humanoide. Ele vai cuidar da parte da engenharia e eu fiquei responsável pelo “cérebro” do Rob. E acho que finalmente acabei de escrever todo o código do programa que vai executar as ações dele.

- Caralho, hein!? Me parece algo muito avançado e elaborado para o nível de um trabalhinho de colégio. Você nunca pensou em usar essa sua cabecinha brilhante pra ganhar uma grana, irmãzinha? Sei lá... você pode tentar criar um novo programa ou aplicativo.

- Na verdade eu tenho um projeto nessa linha, e já está bem adiantado. – por estar tão distraída e por não ver nenhuma maldade naquela conversa, Libby não percebeu a mudança na postura de Lenny e o olhar ainda mais interessado que ele lançou na direção da menina – Ainda falta finalizar alguns detalhes e corrigir alguns bugs, mas o programa já está rodando muito bem. Inclusive eu mandei um e-mail para algumas empresas mostrando o protótipo do programa. A Qualcomm e a Broadcom responderam e pediram mais informações. Eles parecem bem interessados, mas ainda não recebi uma proposta formal. Provavelmente eles estão esperando que eu conclua o projeto e registre a patente.

- A Broadcom??? – Lenny não conseguiu disfarçar a surpresa – Porra, irmãzinha! A Broadcom tá no top cinco das maiores empresas nacionais no ramo da tecnologia! Deve ser mesmo um projeto MUITO bom!

A boca de Liberty chegou a se abrir para confessar que ela também havia encaminhado aquele mesmo e-mail para a Microsoft, mas no último segundo a menina se calou e preferiu não compartilhar aquela informação com Leonard. Além de não ter recebido nenhuma resposta da empresa comandada por Jeff Wooton, Libby não queria que Lenny interpretasse aquilo como um sinal de que ela estava tentando uma aproximação com o pai.

- Agora eu fiquei curioso demais! Você não vai me mostrar esse projeto???

- Que tal outro dia, Lenny? – Liberty fez uma caretinha ao pegar o celular sobre a mesinha de estudos – Já estamos atrasados pra festa! Não quero deixar o Dex ansioso, mas o que realmente me preocupa é a Emily. Ela já me ligou três vezes! Você não tem noção de como aquela garota leva as festas dela a sério! Eu não duvido que ela apareça aqui e me arraste pra lá pelos cabelos!
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Mensagem por Hunter Timmons Dom Abr 14, 2024 4:54 pm

- São duas horas da tarde e tudo o que eu quero é ir pra casa dormir. Eu tô morto. As minhas pernas doem, tem bolhas nas minhas mãos e eu levei uma bronca quando fiz uma pausa de dez minutos para ir ao banheiro!!! E não estou ganhando NADA em troca desse trabalho! Eu acho que agora eu entendo o que os meus antepassados sofreram na época da escravidão!

O comentário dramático de Jordan até poderia soar como uma piadinha, mas não foi assim que os dois amigos posicionados ao lado do rapaz interpretaram aquele discurso. Justamente por se sentirem tão exaustos quanto Jordan, Hunter e Dexter trocaram um olhar significativo. E foi Timmons que lançou um olharzinho tenso sobre os ombros antes de murmurar aquela repreensão, como se ele realmente estivesse com medo de ser castigado por uma patroa rigorosa.

- Shiiiu! Ela vai te ouvir, Jordan!

Como de costume, Emily Sinclair assumiu a responsabilidade de organizar uma festinha para os amigos naquele sábado. E também como já vinha se tornando um hábito, a garota havia pensado em todos os mínimos detalhes para que fosse uma festa perfeita. Diferente da maior parte dos adolescentes, Sinclair não ficava satisfeita apenas com um isopor lotado de bebidas e uma música alta. Para ela, todas as festas mereciam se tornar um grande evento e não seria diferente com a pool party que aconteceria na casa dos Thompson naquela tarde ensolarada de sábado.

O grande problema em deixar aquela responsabilidade nas mãos de Emily era que, em busca da perfeição, Sinclair se transformava em uma grande tirana. E a garota de fato tinha obrigado Jordan, Dexter e Hunter a gastarem todas as suas reservas de energia para que o cenário da festa estivesse exatamente como ela havia idealizado.

A grande piscina nos fundos da casa dos Thompson já estava limpa e pronta para ser usada, mas foram os outros detalhes da decoração que deram trabalho aos rapazes. Incontáveis balões coloridos boiavam sobre a água. Também não tinha sido nada fácil encontrar as bóias em formato de cisne e unicórnio. Além disso, Emily deu uma lista bem completa e específica de todas as bebidas que os rapazes deveriam comprar e eles também foram convocados a ajudar no preparo dos lanches.

Uma piscina menor de plástico foi adaptada como um freezer. Ao invés de água, a piscina foi preenchida com vários sacos de gelo e foi ali que os rapazes colocaram as bebidas. Ao lado da piscininha de bebidas, Emily havia colocado uma mesa onde Jordan enfileirou dezenas de copos de acrílico enfeitados com guarda-chuvinhas coloridos. E é claro que Sinclair fez questão que o amigo organizasse as fileiras por cores.

Balões coloridos e pequenas flores de papel formavam uma cortina que cobria uma das cercas que contornavam o quintal dos Thompson. E logo ao lado foi montado um balanço de madeira e colocada uma caixa com vários enfeites e acessórios com a temática havaiana. Hunter tinha ficado responsável por aquele pedacinho da festa que serviria basicamente para que os convidados tirassem fotos e postassem nas redes sociais.

Além de ter mais habilidade que os amigos na cozinha, Dexter ficou responsável pelo preparo dos lanches principalmente porque Emily sabia que o namorado não resistiria à tentação se tivesse que preparar as gelatinas coloridas “temperadas” com vodca. Além dos copinhos com gelatina, Thompson também havia preparado um espetinho com frutas tropicais e cupcakes com coberturas coloridas, além de salgadinhos, sanduíches e doces que foram servidos dentro de baldinhos de praia que se encaixavam perfeitamente com o restante da decoração.

A pool party começaria no meio da tarde, mas como era esperado que a festa se prolongasse até o período da noite, Sinclair também fez com que os rapazes pendurassem luzinhas coloridas por todo o quintal dos Thompson. Alguns pufes coloridos também foram espalhados pelo gramado, assim como pequenas caixas de som que garantiriam que a música se espalhasse de forma homogênea por todo o espaço.

- Eu acho que vou aproveitar que ela se distraiu com a playlist pra fugir. – Jordan lançou mais um olhar tenso na direção de Emily – Eu tô falando sério. Não sei se consigo voltar e participar da festa se não tiver um descanso! Nem a temporada de futebol me deixa tão esgotado! A sua garota é maluca, Tim!

Alguns dias já tinham se passado desde que o namoro entre Hunter e Emily se tornou oficial dentro da MMU, mas o rapaz ainda não havia se acostumado a ouvir que Sinclair era a “sua garota”. O comentário de Jordan fez um sorrisinho orgulhoso e satisfeito surgir nos lábios de Hunter e ele exibia uma expressão apaixonada no rosto quando se virou para olhar para Emily.

- Podem ir. – com um ar mais zombeteiro, Hunter roubou um dos copinhos de gelatina verde que Dexter havia acabado de organizar num suporte decorativo e o engoliu numa só golada – Só preciso de uma dose de vodca pra domar a minha fera.

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Já pronto para a festa, Timmons usava apenas uma bermuda e uma camiseta azul leve, além de óculos escuros. Emily estava distraída com as músicas que tocariam na festa quando Hunter a abraçou por trás e se inclinou para depositar um beijo no pescoço dela.

- Desta vez você se superou, ruivinha. Quer dizer, o Jordan está ameaçando entrar com um processo judicial exigindo direitos trabalhistas, mas tirando esse detalhe todo o resto está perfeito.

Antes que Emily pudesse inventar mais alguma tarefa para os rapazes, Hunter segurou o rostinho dela e conseguiu distrai-la para que Jordan e Dexter conseguissem fugir dali. E era impressionante a facilidade que Timmons tinha para tirar a menina do foco e para fazer com que Emily cedesse às vontades dele.

- Já está tudo perfeito, Emy. Quer dizer, quase tudo... – antes que Sinclair surtasse imaginando que havia algum problema na decoração da festa, Hunter deslizou os olhos pelo corpo dela – Só falta você se arrumar, colocar um biquíni e fazer todos os outros caras se roerem de inveja de mim.

Aquela era uma frase que Chad Clifford NUNCA diria na época do namoro. Ciumento e inseguro, Chad odiava ver Emily usando roupas mais provocantes ou se tornando o centro das atenções. Mas Hunter já tinha deixado muito claro para a namorada que Emily não teria que lidar com aquele drama ao lado dele. Timmons não só confiava nela, como também queria que a namorada se sentisse livre. E é claro que ele adorava a ideia de estar com uma das garotas mais cobiçadas de Colchester.

- Aliás, eu espero que seja um biquíni que deixe bem evidente a sua nova tatuagem. Eu estou adorando cada segundo dessa nova experiência de mostrar pra todo mundo que você é a minha garota.

Com o polegar e o indicador, Hunter acariciou o queixo de Emily antes de guiar os lábios dela até os dele. O beijo se prolongou por algum tempo, mas logo Sinclair se afastou alegando que precisava mesmo trocar de roupa antes que os convidados começassem a chegar. E com o quintal inteiro só para ele, Timmons roubou mais uma gelatina de vodca antes de se largar numa das espreguiçadeiras diante da piscina.

Sentindo-se realmente cansado depois de todo o trabalho feito ao longo daquele dia, Hunter fechou os olhos por um momento e acabou mergulhando num cochilo. Portanto o rapaz não tinha muita noção de quanto tempo havia se passado quando alguém se espremeu no cantinho da sua espreguiçadeira. Ainda sonolento e sem abrir os olhos, o rapaz apenas moveu os lábios num sorriso satisfeito ao sentir uma mãozinha delicada subindo por uma das suas pernas numa carícia íntima que terminou na coxa do rapaz.

- Por que parou aí? – a expressão de Hunter se tornou ainda mais sacana – Já que começou com isso, vá até o fim. Só falta subir mais um pouquinho pras coisas ficarem mais interessantes, hm?

- Eu só tenho uma dúvida. Você prefere que eu continue com as mãos ou com a boca?

Normalmente aquela pergunta faria Hunter alargar ainda mais o sorriso antes de dar uma resposta ousada e atrevida. Só que, ao invés disso, a reação do rapaz foi abrir os olhos bruscamente e sair da espreguiçadeira com um salto ao escutar uma voz que não era a de Emily Sinclair. Ainda sentada, Pamela arqueou as sobrancelhas e soltou um risinho afetado enquanto via Timmons virar a cabeça de um lado para o outro numa postura tensa.

- Relaxa, Tim. A sua namoradinha não está por perto. Mas se isso te deixar mais à vontade, podemos nos esconder em algum cantinho. E eu prometo que não vou contar nadinha pra minha capitã...

- Não, não vai rolar. A Emily é a minha namorada agora, então a nossa história chegou ao fim, Penny. Mas foi muito bom enquanto durou. Espero que não fique nenhum mágoa ou um clima estranho entre a gente.

Justamente por conhecer tão bem o comportamento irresponsável de Hunter e a aversão que o rapaz tinha por relacionamentos sérios, Pamela não estava dando muito crédito ao tal namoro de Timmons e Sinclair. E, assim como Chad e Dexter, a menina também tinha uma teoria para explicar o “milagre” que era ver Hunter disposto a ser fiel a uma namorada.

- Não precisa mentir pra mim, Tim. Eu te conheço muito bem, fofinho. Você precisou montar toda essa encenação de namoradinho apaixonado pra enganar a idiota da Sinclair, mas a mim você não engana. Tudo isso é só pra provocar o Clifford, não é? Tudo bem, eu não te julgo. Aquele filho da puta realmente te sacaneou muito.

Ironicamente, Emily era a maior vítima da situação e parecia ser a única pessoa que confiava cegamente nos sentimentos de Hunter. Todas as outras pessoas que conheciam bem o rapaz preferiam ficar com a teoria de que o namoro com Sinclair era apenas uma forma de Timmons se vingar de Chad Clifford. E talvez fosse uma hipocrisia de Hunter se irritar com aquela situação sendo que a relação entre ele e Emily de fato havia nascido de um plano de vingança. Mas Timmons já estava ficando furioso por ninguém mais ser capaz de levar a sério os sentimentos dele.

- Não que isso seja da sua conta, Pamela. – o rapaz estava mais sério quando arrancou os óculos escuros para encarar a menina coreana com mais firmeza – Mas o meu relacionamento com a Emily é sério.

- Pamela? Finalmente aprendeu o meu nome? – já usando um biquíni minúsculo, a garota terminou de deslizar por cima da espreguiçadeira e se deitou no espaço que Hunter havia acabado de ocupar – Tá bom, fofinho. Se você quer manter a farsa por mais um tempo, tudo bem. Mas se ficar entediado de brincar com a namoradinha sem graça, você conhece muito bem o caminho até a minha janela.

Pamela parecia ter sido a primeira a chegar à festa, mas logo depois dela vários rostos conhecidos da MMU começaram a surgir no quintal dos Thompson. Timmons cumprimentou alguns colegas, perdeu alguns minutos conversando com Kendall sobre o fiasco do último jogo de basquete e depois se afastou na direção da mesinha de bebidas com a intenção de buscar mais uma gelatina. Como nem mesmo a bebida refrescante foi capaz de aliviar o calor daquela tarde ensolarada, Hunter arregaçou as mangas da camiseta e exibia um semblante leve e sorridente enquanto deslizava os olhos pela festinha organizada por Emily.

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Entretanto, o sorriso do rapaz imediatamente morreu no instante em que ele se virou na direção da entrada do quintal e reconheceu o rosto do convidado que tinha acabado de entrar na festa. Com um olhar estreito, uma expressão fechada e passos decididos, Hunter marchou até bloquear o caminho de Chad Clifford. Foi com uma satisfação indisfarçável que Timmons notou que o rosto de Chad ainda exibia os hematomas e arranhões da briga que acontecera na quadra há alguns dias, mas nem esse detalhe fez com que o rapaz perdesse o foco ou mudasse o seu discurso.

- O que está fazendo aqui? É muita falta de noção e de amor-próprio, Clifford. Ninguém quer você aqui, cara! Os seus colegas do time te odeiam. O restante do colégio ainda não te perdoou pelo fiasco vergonhoso do jogo de estreia. Quanto ao Dexter e à Emily, o que eles sentem por você é pena. E, sinceramente, isso é ainda pior do que a raiva.
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Mensagem por Emily Sinclair Seg Abr 15, 2024 8:51 pm

Quando a maioria das pessoas pensava em festa, instintivamente estavam pensando em diversão, lazer, um momento de confraternização. Isso não era diferente com Emily. Festa significava uma oportunidade perfeita de criar memórias, de viver momentos incríveis, de rir, se emocionar, se entregar e se desligar da realidade. Com a festa certa, era possível se esquecer dos problemas, ou conhecer o grande amor, rever amigos, se reconectar com a família. Tudo dependia do evento certo.

Era exatamente por enxergar a flexibilidade e principalmente o potencial que uma festa devidamente arquitetada tinha sobre as pessoas que Sinclair levava aqueles eventos tão a sério. Para algumas pessoas, Emy era fútil por pensar e valorizar tanto aquele tipo de festinha. Outros achavam que a menina se aproveitava daquela chance para dar ordens ou puxar os holofotes para si. Mas Emy só queria que tudo fosse milimetricamente perfeito para que fosse a melhor experiência possível para todos.

A pool party no quintal dos Thompson não tinha sido diferente. Era para ser uma tarde divertida e animada que se estenderia pela noite, em um local cheio de jovens alegres. A música precisava ser perfeita, a decoração harmoniosa e cada canto precisava ter o ângulo ideal para fotografias, tudo isso devidamente conectado para que não fosse um ambiente puramente mecânico ou um simples check-list.

Quando se afastou até um dos quartos para conseguir se arrumar, Emily ainda espiou pela janela e avaliou o quintal de cima. As boias na piscina, a decoração colorida, os equipamentos para a música e os artefatos necessários para manter a bebida gelada e a comida bem servida. Tudo parecia estar nos conformes, então Emy só precisava esperar os convidados chegarem para avaliar o verdadeiro termômetro de toda aquela preparação. Era apenas assistindo as pessoas relaxadas e se divertindo que Sinclair teria certeza que tinha acertado nas escolhas daquele dia.

Só depois de se certificar de que não havia mais nenhum ajuste a ser feito, Emy passou a cuidar de si. A bolsinha com a roupa e o estojo de maquiagem foram puxados para perto e Sinclair levou um tempo um tanto longo demais para alguém que teoricamente só precisava trocar as peças de roupa pelos trajes de banho. Mas claro que uma menina vaidosa como ela não seria tão simplista.

Os cabelos ruivos tinham ficado um pouco amassados depois de terem passado tanto tempo presos em um coque durante a produção da festa, então Emily levou a maior parte do tempo cuidando dos fios e elaborando o penteado até que as ondas estivessem regulares e bonitas. Uma pequena mecha foi presa com um elástico no topo da cabeça e todo o restante das ondas produzidas caíam livremente pelos seus ombros e costas.

Por ser uma garota que conhecia muito bem as curvas que tinha e principalmente do efeito que causava nos rapazes, Emily não se sentia intimidade e nem constrangida por vestir um biquíni. As peças não eram minúsculas e incômodas, mas mesmo com a escolha mais confortável, as curvas de Emy estavam em destaque. A parte superior era um tomara-que-caia que deixava seus ombros completamente nus, cobertos apenas pelos cabelos vermelhos, e com um decote de coração que emoldurava muito bem os seios mais fartos. A calcinha do biquíni tinha a cintura alta, mas a parte de trás era um pouco mais cavada.

Como qualquer festa exigia, Emily não ignorou a maquiagem. Os produtos eram de qualidade e à prova d'água, e ela também não tinha exagerado nas cores, mas tinha sido o suficiente para destacar seus lábios e realçar seus traços naturalmente bonitos. Em uma escolha instintiva, talvez um reflexo da época do namoro com Chad, Emily vestiu por cima do biquíni um robe cor de rosa que escondia parte das suas curvas. E ao invés de um chinelinho ou uma rasteirinha, Emy mostrou que não tinha medo de chamar a atenção para si ao colocar um par de sandálias de salto alto, em uma escolha ousada que conseguia destacar ainda mais suas pernas, as curvas do quadril e a barriga reta.

Já era possível escutar a movimentação dos convidados que vinha do quintal quando Emily avaliou sua imagem no espelho. Como o biquíni não era de alcinhas ou tiras finas, a nova tatuagem de coração com um H estava quase inteiramente escondida e ficava ainda mais camuflada pelos cabelos vermelhos longos que caíam sobre seu ombro e desciam pela lateral do seio.

Satisfeita com o que via na imagem, Emy ainda borrifou um body splash suave e estava prestes a sair do quarto quando a voz de Hunter ecoou na sua mente, enfatizando o quanto estava ansioso por ver a namorada desfilando com o seu belo corpo. Um sorrisinho deliciado surgiu e ela recuou um passo para conseguir se colocar diante do espelho mais uma vez. Era um detalhe bobo, mas muitas vezes Sinclair se escondia nas roupas para evitar atritos com Chad, então saber que Hunter não se incomodava e até apoiava a ideia de exibir uma namorada linda e ousada era um sentimento novo e gostoso.

A terceira peça que escondia boa parte das suas curvas e do biquíni foi retirada e ficou largada sobre a cama quando Emily deixou o quarto em direção a festa. E a primeira impressão que a menina teve ao encontrar os convidados já espalhados em grupinhos, com seus shots de gelatina ou com os drinks com guarda-chuvas coloridos já mostrava que as coisas tinham tudo para dar certo.

Quando pisou na área externa, Emily apenas encaixou os óculos escuros sobre o rosto enquanto desfilava entre os convidados, acenando e sorrindo para os colegas. Era inevitável que alguns olhares acompanhassem a ruiva que se equilibrava perfeitamente sobre os saltos, mas ao invés de incomodada ou intimidada com aquela atenção, Emy agiu com a naturalidade de quem não só estava acostumada, como gostava de se sentir bonita daquela maneira.

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A área externa da casa dos Thompson era grande e muitos jovens já se agrupavam ao redor da piscina ou perto das bebidas, então Emily levou um pouco mais de tempo até localizar o namorado. E quando encontrou Hunter e Chad frente a frente, seus ombros imediatamente ficaram mais tensos e seu sorriso desapareceu.

Emy sabia que se meter entre dois amigos não seria algo fácil de lidar, mas ela esperava que, com o tempo, as coisas ficassem mais fáceis. Tudo ainda era muito recente, mas até então Emy não conseguia enxergar uma luz no final do túnel para a situação entre Timmons e Clifford.

- Quem foi que te elegeu o dono de Colchester, Timmons? Agora você acha que também pode mandar onde eu posso ou não posso ir?

Como Sinclair ainda estava do outro lado da festa, Chad e Hunter não tinham notado a presença dela, assim como era impossível para a garota escutar a conversa entre os dois. Mas bastava olhar na direção deles para notar os olhares estreitos, as posturas tensas e o risco de uma possível briga.

- Eu vim porque fui convidado, então cai fora porque eu não te devo satisfação de nada.

Chad chegou a dar um passo para o lado, mas seu caminho voltou a ser bloqueado por Hunter. Mesmo de longe, Emily assistiu quando o ex-namorado respirou fundo, mas sem parecer ter ainda muito mais autocontrole. Clifford ainda parecia carregar a irritação e impaciência do dia do jogo, mesmo com o esforço para tentar recuperar a sua personalidade mais leve.

- Qual é o seu problema, porra? Você ganhou, não ganhou? Não era esse o seu plano desde o início? Aaaah, já sei. - Chad abriu um sorriso gelado. - Você está com medo que eu consiga provar para a Emily o grande mentiroso, manipulador e filho da puta que você é, não é? Porque se eu fizer isso, eu acabo com o seu joguinho. A Emily vai ver a verdade, e quando ela ver quem você realmente é, vai voltar correndo para os meus braços. Puta merda, cara... Eu mal posso esperar para ver isso acontecer.

- O que está acontecendo aqui?

Mesmo usando saltos, ainda havia uma grande diferença nas estaturas da garota e os dois rapazes, mas Emy não parecia intimidada quando estreitou o olhar perigosamente na direção deles.

- Nada. - A resposta de Chad soou curta e seca enquanto ele encarava Hunter sem nem piscar. - O Timmons só estava me enxotando de uma festa que não é dele, em uma casa que não é dele. Mas eu estava dizendo que fui convidado. Não fui, Emy?

O olhar que Clifford lançou a Sinclair era praticamente um desafio, mas nem isso fez com que Emily vacilasse. A decisão de convidar Chad tinha partido de Dexter, mas o rapaz tinha perguntado a ela como a garota se sentiria por estar no mesmo ambiente do ex-namorado e o atual, enquanto os dois ainda viviam uma guerra declarada. E Emy foi enfática ao dizer que não queria excluir Chad do evento.

- É claro que foi. Então vocês dois podem parar com a briga de testosterona? Isso aqui é uma festa, e se um de vocês arruinar todo o meu esforço, é bom que estejam preparados para lidar com as consequências, porque eu faço picadinho e levo para servir aos jacarés. Estamos entendidos?
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Mensagem por Dexter Thompson Seg Abr 15, 2024 10:03 pm

- Holáááá!!!! Como estão, bebês??? O que é issooo? Estão trancados no quarto? Deve estar um dia lindo lá fora, por que não estão aproveitando?

Era impressionante que mesmo através de uma vídeo-chamada, Alma conseguia ter um timbre de voz tão agudo. Como Eric e Dexter já estavam acostumados, os dois foram capazes de conter uma careta e continuaram exibindo idênticos sorrisos angelicais para a imagem da mãe exibida na tela do celular.

- A gente preferiu tirar o dia de preguiça, mãe. Vamos fazer uma competição de FIFA, talvez assistir algum filme e comer uma pizza. E vocês, como estão? Chegaram bem no México?

Alma chegou a recolher o ar para começar a tagarelar sobre a viagem, sobre o reencontro com a família e as expectativas para o casamento de uma prima que aconteceria mais tarde naquele dia, mas antes que ela tivesse a chance, a imagem de Justin surgiu ao lado da esposa e ele estava com o olhar estreito e confuso.

- Pizza? Que pizza? Dexter, a temporada de futebol mal começou! Você não vai mesmo comer pizza, né? Você já está cansado de saber o quanto isso pode comprometer a sua performance! E aquele estoque de frango que você tinha deixado congelado?

Era ridículo e incômodo que um rapaz de dezessete anos precisasse levar um sermão ou ter o controle do que comia, mas Dexter conseguia disfarçar bem o quanto aquelas atitudes do pai soavam obcecadas e até abusivas. A prova de que Dex tinha aprendido a lidar com a situação era que a pizza que Justin julgava tão perigosa ainda seria uma melhor opção do que as gelatinas de vodca ou todos os aperitivos que seriam servidos na festinha.

- Relaxa, pai. É só um pedaço, e eu vou pedir a opção com a massa de couve-flor.

Daquela vez foi Justin quem estufou o peito, tomando o ar para começar a argumentar, mas foi interrompido pela esposa. Com um olhar severo e um pequeno empurrão, Alma se livrou do marido e virou a câmera apenas para si, abrindo um sorriso ao poder se concentrar apenas nos filhos.

- Cuidem um do outro, meninos! E se estiverem com muitas saudades, podem nos ligar a hora que for! Eu posso cantar a canção de ninar para você dormir, Eric!

- Mããããe, eu não tenho mais quatro anos! Não preciso de canção de ninar.

- Hmm. Sei. - Alma não disfarçou a insatisfação com a atitude do filho, mas logo reassumiu sua postura tagarela. - Dexie, nada de filmes violentos, você sabe que o Eric tem pesadelos! E não abusem dos refrigerantes!

- Refrigerantes??? Como assim??? - A voz de Justin soou ao fundo, mas Alma rolou os olhos e essa foi a última imagem travada na tela antes da ligação ser encerrada.

- Você sabe que o papai vai te matar se descobrir sobre essa festa, não sabe? - Eric se jogou para trás, se acomodando melhor no travesseiro enquanto encarava o irmão. - A mamãe também, mas ela vai ficar revoltada por não ter sido convidada.

- Relaxa, eles não vão saber. Estão ocupados demais com o casamento da prima Lourdes. - Dexter enfiou o celular no bolso da bermuda e se colocou de pé, sustentando um sorrisinho convencido. - Tem certeza que quer ficar aí? Se você me prometer ficar longe de confusão e principalmente da bebida, pode se juntar a nós.

Qualquer rapaz de dezessete anos que estivesse sendo o anfitrião de uma festinha animada e badalada para tantos outros adolescentes detestaria a ideia de ter o irmãozinho caçula invadindo seu espaço. Uma festa com bebidas e música alta não era o ambiente para uma criança, além do alto risco de Eric atrapalhar algum momento de intimidade dele com a namorada e até deixar os amigos um tanto inibidos. Mas o convite de Dexter era sincero. Não havia vergonha e nem irritação, porque ele não sentia que tinha motivos para esconder Eric.

- Passar as próximas horas com aquelas músicas horríveis e os seus amigos com o QI menor do que os mais burros dos primatas? Não, valeu. Eu vou me concentrar no que realmente importa. Estou preso de novo naquela fase em que o Harry e o Sirius tentam sair do Ministério da Magia e algo me diz que hoje estou com sorte.

- Você já não zerou o jogo da Ordem da Fênix? - Dex tombou a cabeça de lado ao assistir o irmão ligando o Playstation e selecionando o jogo mencionado.

- Três vezes. E nunca perde a emoção.

O arzinho nerd e encantado de Eric diante da tela arrancou um sorrisinho de Dexter. Era curioso como ele nunca tinha reparado as semelhanças entre o seu irmão mais novo e Liberty Bloomfield. Dex já tinha mencionado que tinha lido toda a série de Harry Potter a pedido do garotinho, mas Eric também tinha aquela atitude um pouco arrogante e superior, com a certeza de que era a pessoa mais inteligente do recinto na maior parte do tempo.

- Eu vou descer e socializar, mais tarde venho trazer alguma coisa para você comer. Mas se quiser descer e se juntar aos primatas, será muito bem-vindo. Eu tenho uma pessoa que gostaria de te apresentar.

- A Liberty? - Eric perguntou, ainda sem tirar os olhos da televisão.

- Como você sabe? - Dex tombou a cabeça, sem disfarçar a surpresa enquanto o garotinho dava de ombros com simplicidade.

- Eu escutei você no telefone outro dia. Você também anda sorrindo feito um demente. Além do mais, é meio difícil ignorar quando chega alguém novo em Colchester..

- Bom, seja lá como for, você vai gostar dela.

Só de pensar em Liberty, o sorriso de Dex já se tornava largo e derretido, com os olhos brilhando. E era com um grande orgulho que ele dizia aquilo para Eric. Afinal, se alguém tinha o poder de julgar as companhias dele e influenciar Thompson, esse alguém era o caçula.

A ideia daquela festa só tinha surgido como uma desculpa para que Dexter pudesse continuar de olho em Leonard e tentar descobrir as intenções do rapaz ao aparecer em Colchester atrás de Liberty. Mas Dex precisava admitir que a produção de Emily Sinclair trazia um clima tentador para que qualquer um se desligasse dos problemas e decidisse mergulhar na fantasia por algumas horas.

Se a situação fosse diferente, talvez Dex nem se esforçasse para continuar tão centrado. Mas a “missão” era muito maior e não era algo que ele pretendia deixar de lado. Afinal, era óbvio que Libby estava completamente entregue na versão contada por Lenny. Que Bloomfield era o verdadeiro gênio daquela relação, não havia dúvidas para ninguém. Então era um pouco assustador para Dexter assistir a namorada tão desligada da realidade e incapaz de raciocinar com clareza, o que o obrigava a assumir aquele papel mais responsável.

Apesar de assustador, cuidar de Liberty era a sua prioridade e Dexter não se deixaria enganar com tanta facilidade. Todos os seus alertas berravam na sua mente lhe dizendo claramente que a história narrada por Leonard estava cheia de pontas soltas. E se Libby já tinha sido magoada a vida inteira pela rejeição do pai, Dex não permitiria que mais um Wooton surgisse para feri-la.

Era apenas por saber o quão encantada e iludida Libby estava com toda aquela história que Dexter tinha decidido agir em silêncio. Bloomfield estava acostumada a estar sempre com a razão, a ser sempre ela quem tinha as respostas certas. A única maneira de convencê-la que estava errado era com dados e provas. E a verdade era que havia uma grande parte de Dexter que queria MUITO estar errado sobre Lenny.

Assim como uma pool party exigia, as roupas de Dexter eram leves e coloridas. O calção de banho era laranja e um pouco chamativo, mas curiosamente era a regata branca que acabava atraindo mais atenção. A peça era justa e marcava perfeitamente o abdome tão definido de Thompson, deixando seus braços musculosos em evidência. Depois que deixou a casa e passou pela mesa de bebidas, Dex apenas alcançou um dos guarda-chuvas coloridos e foi brincando com ele em seus dedos enquanto observava o quintal animado e movimentado.

Não era a primeira vez que a residência dos Thompson se tornava cenário de uma festa. Além dos churrascos tradicionais que o Sr. e a Sra. Thompson gostavam de organizar para chamar alguns amigos e vizinhos, ou dos aniversários dos meninos, não era nada raro que os colegas da MMU se reunissem ali em dias mais quentes.

Dexter, Chad e Hunter já tinham passado incontáveis tardes ali, com a desculpa de que se reuniriam para estudar, e no final não abriam um único livro enquanto gastavam todo o tempo na beira da piscina falando sobre garotas e esportes. Dex também já tinha trazido algumas garotas, mas era a primeira vez que Emily Sinclair assumia a produção de uma festinha mais elaborada.

Apesar de aprovar todo o trabalho feito pela amiga, Dex sabia que tudo ali não poderia ser maior do que o seu principal objetivo. E no instante em que Liberty e Leonard entraram no seu campo de visão, entrando lado a lado na festinha, o rapaz endireitou seus ombros e se obrigou a mergulhar de cabeça naquela missão.

Foi com um sorriso educado de um bom anfitrião que Dexter avançou na direção dos dois. Lenny foi ignorado por um instante para que ele desse toda atenção para Liberty. Já era esperado que Thompson focasse primeiro na namorada, mas um cara como Wooton talvez não estivesse acostumado a ser colocado em segundo plano. Especialmente por uma filha bastarda,

- Você demorou! Estava presa com o Mike de novo? Ás vezes parece que esse robô é o terceiro membro dessa relação.

O bom humor de Dexter mostrava que ele não estava verdadeiramente enciumado com o trabalho ou a atenção que Libby dava aos estudos ou ao trabalho de robótica. Embora aquele tema já tivesse sido sensível e gerado um atrito com os dois no passado, Dex agora mostrava o quão orgulhoso se sentia pelo desempenho acima do normal da namorada. E adivinhar exatamente o que Liberty estava fazendo antes de se atrasar para a festa mostrava o quanto os dois já vinham se conhecendo tão bem.

- Wow, wow, wow... Temos algum alarme de toxidade masculina por aqui? Está mesmo inseguro por causa de um robô, bonitão?

- Oi, Leonardo. - Dexter manteve o sorriso nos lábios enquanto passava um dos braços pelos ombros de Libby. - Pode ficar à vontade. A Emy lotou a piscina com bexigas e boias, mas a água está liberada para um mergulho.

- Nada mal sua casinha, bonitão. - Lenny deslizou o olhar ao redor. - É quase do tamanho da nossa casa de hóspedes que fica nos fundos. Bem bonitinha.

A intenção de Lenny era apenas provocar o estilo de vida de Colchester e principalmente Dexter, mas ao menosprezar uma das maiores residências da cidade, o rapaz não fazia ideia de que estava reforçando a gritante diferença que existia na maneira que ele tinha crescido para a simplicidade da vida da irmã.
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Mensagem por Hunter Timmons Ter Abr 16, 2024 12:33 pm

Para Hunter, a guerra contra Chad já tinha chegado ao fim. Clifford deu o primeiro golpe ao assumir a vaga de capitão do time de basquete e Timmons contra-atacou logo em seguida, tirando de Chad a garota por quem ele ainda era perdidamente apaixonado. Então agora, na percepção de Hunter, os dois estavam quites e não havia mais motivos para prolongar a guerra. E é claro que Timmons se sentia o grande vitorioso por ter saído do campo de batalha com Emily Sinclair em seus braços.

Contudo, ao contrário do ex-amigo, Chad não parecia satisfeito em finalizar assim a rivalidade dos dois. Além de ter perdido Emily, Clifford estava inconformado com as jogadas sujas do seu adversário. Para Chad, a guerra contra Hunter estava longe de terminar e só a presença dele naquela festinha já mostrava que o rapaz não pretendia simplesmente cruzar os braços, engolir a derrota e deixar que Timmons fosse feliz ao lado de Sinclair. Clifford estava determinado a ser uma pedra no sapato do casalzinho e, principalmente, agora era uma questão de honra para o rapaz provar que ele estava certo quanto ao caráter de Hunter Timmons.

E quando Emily confirmou que o ex-namorado tinha sido convidado para aquela festinha, ficou ainda mais claro que Chad ainda não havia sido nocauteado e estava pronto para mais um round. Um sorrisinho sarcástico e vitorioso surgiu nos lábios dele e havia um nítido ar de desafio na expressão com a qual ele encarou Hunter.

- Você ouviu bem ou ela vai precisar repetir? Eu fui convidado, Timmons. O dono da casa me quer aqui. A organizadora da festa me quer aqui. Então quem você pensa que é pra dizer que aqui não é o meu lugar?

Foi num gesto totalmente inconsciente que Hunter fechou um dos punhos com tanta força que prejudicou a circulação em seus dedos e fez com que suas articulações ficassem mais esbranquiçadas. O estreitar dos olhos cor de avelã era mais um indício de que Timmons estava bem perto de mais uma de suas explosões.

Chad ainda não tinha se recuperado por completo da última briga com Kendall, mas nem os hematomas doloridos foram o bastante para fazê-lo recuar. A maneira quase selvagem como os dois rapazes se encararam mostrava claramente que eles estavam prestes a se atracar no meio do quintal dos Thompson.

A interferência de Emily foi o que evitou que aquela festinha fosse marcada por mais uma lamentável sessão de pancadaria. Com um semblante alarmado, Sinclair ignorou o perigo e se enfiou entre os dois rapazes bem maiores do que ela, exigindo que os dois se afastassem e colocassem logo um fim naquela ceninha. Uma das mãozinhas dela empurrou o peito de Clifford na direção oposta enquanto a outra mão puxava Hunter pela camiseta.

Nos primeiros passos, Emily teve que praticamente arrastar o namorado para longe de Clifford. Mas no instante em que Chad sumiu do campo de visão de Hunter, a situação se inverteu. Com passos maiores e mais rápidos, Timmons obrigou Sinclair a literalmente correr sobre os saltos altos para conseguir acompanhar o ritmo dele. E por isso a menina já estava corada e ofegante quando os dois cruzaram a porta dos fundos da casa, que dava acesso à cozinha dos Thompson.

Mesmo que aquela não fosse a primeira vez que Emily assistia o namorado perdendo o controle em meio a uma crise de raiva, a garota ainda assim se sobressaltou quando viu um soco atingindo uma das bandejas sobre a pia. Além do barulho estridente da bandeja de metal quicando pelo chão, os mini-sanduíches que Dexter havia gastado horas para preparar se espalharam pelo piso da cozinha, arruinando totalmente o cardápio que Sinclair havia programado para aquela festinha. Mas antes que a organizadora do evento tivesse a chance de reclamar ou de dar uma bronca no namorado, Hunter voltou a sua fúria na direção dela.

- Você deve achar que eu sou um idiota! Porque um cara precisa ser mesmo muito otário pra aceitar isso, Emily! É assim que você me trata depois que eu passei o dia inteiro trabalhando pra montar essa maldita festa e fazendo TODAS as suas vontades? Você achou mesmo que eu ia simplesmente engolir essa humilhação calado???

Em nenhum momento Hunter ergueu a mão ou fez qualquer movimento mais ofensivo que sinalizasse que ele poderia machucar a namorada. Mas a desproporcionalidade no tamanho dos dois, o tom de voz mais agressivo e o brilho de fúria no olhar dele já bastariam para que qualquer pessoa se sentisse intimidada no lugar de Emily.

- A minha amizade com o Clifford acabou! Se você ainda não percebeu, nós dois somos INIMIGOS agora! E inimigos não dividem o mesmo espaço! Inimigos não ficam lado a lado numa festinha divertida! Não tem como contornar a situação, Emily! Não existe nenhuma maneira de equilibrar essa merda ou de deixar todo mundo feliz! A partir de agora você e o Dexter vão ter que fazer uma escolha: ou ele ou eu!

Não era nada justo obrigar Emily e Dexter a fazerem aquela escolha. No caso de Sinclair, ela não queria ser a ex-namorada ingrata e cruel que virava as costas para Chad e afastava o rapaz dos colegas. E para Thompson deveria ser ainda mais difícil fazer uma escolha entre os seus dois melhores amigos de infância. Mas se Hunter estava dizendo que ele e Chad não dividiriam mais o mesmo ambiente e nem se comportariam de forma civilizada, Dexter e Emily ficariam mesmo em uma situação muito delicada na qual seria necessário fazer uma escolha difícil.

- Você acha que ele está aqui porque quer se divertir ou interagir com a galera? – mesmo que Chad não estivesse mais em seu campo de visão, Hunter apontou na direção do quintal para se referir ao ex-namorado de Emily – O colégio inteiro está com raiva daquele merdinha pelo fiasco do jogo de estreia! Ninguém quer ver esse cara aqui, não tem clima nenhum pra ele nesta festa! A ÚNICA razão pro Clifford ter vindo até aqui foi pra me provocar, pra sacanear com a gente e abalar o nosso namoro! E você deu pra ele um passe livre pra fazer isso, Emily!

Clifford não tinha nenhuma evidência concreta para usar contra Hunter ou para provar que o namoro dele com Emily fazia parte de um plano de vingança. Mas ainda assim era perigoso demais manter Chad perto da ex-namorada, repetindo aquela teoria insistentemente e tentando envenenar a cabecinha de Sinclair contra o atual namorado. Emily já tinha deixado bem claro que confiava em Timmons e que acreditava nos sentimentos dele, mas era justamente o fato de Hunter não ser tão inocente naquela história que fazia com o rapaz se sentisse ameaçado e quisesse ver a namorada bem longe de Chad.

Sem se importar com a bagunça que ele próprio havia feito, Hunter estava irritado quando deu alguns passos pela cozinha, esmagando a comida espalhada pelo chão. Num gesto igualmente agitado, Timmons deslizou uma das mãos pelos cabelos, bagunçando os fios escuros. Embora não estivesse gritando, o tom de voz gelado e sombrio usado pelo rapaz não escondia o quanto Hunter estava furioso por ter perdido a batalha contra Clifford naquele dia.

- Como eu disse, a partir de agora vai ser ele ou eu. E parece que você já fez a sua escolha hoje, não é? Então divirta-se na sua festinha e aproveite a companhia do seu “convidado”. Eu vou dar o fora daqui. Pra mim essa festa já acabou!

No instante em que Hunter deslizou os olhos pelo corpo de Emily e finalmente notou como ela estava linda naquela tarde, por um breve segundo pareceu que o rapaz iria ceder e voltar atrás na decisão de ir embora da festa. Mas foi um pequeno detalhe na aparência de Sinclair que jogou mais um galão de gasolina sobre a chama da irritação prestes a se apagar dentro dele. Com um sorriso amargo e derrotado, Timmons apontou na direção da parte de cima do biquíni usado pela namorada antes de fazer aquele questionamento.

- Você também estava pensando nele quando escolheu esse modelo que esconde a sua tatuagem? Eu achei que você estivesse pronta pra assumir pro resto do mundo que nós dois estamos juntos agora, que nós nos amamos, que EU sou a sua prioridade. Mas pelo visto eu me enganei. Se você se importa mais com os sentimentos dele do que com os meus, é com ele que você deveria ficar, Emily. Quer uma boa notícia? Você só vai precisar estalar os dedos pra que aquele merdinha se jogue novamente aos seus pés!
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Mensagem por Liberty Bloomfield Ter Abr 16, 2024 12:35 pm

Não era nem um pouco difícil notar o quanto Dexter e Liberty eram diferentes. Vindo de uma família rica e bem estruturada, Dex era um rapaz popular no colégio, alguém que todos conheciam e veneravam, uma pessoa leve que gostava de festas, de ficar cercado por muitos amigos, de estar no centro das atenções. Já Liberty tinha uma personalidade mais arredia, vinha de origens muito mais simples, gastava boa parte do seu tempo com os estudos e não fazia muita questão de interagir com as pessoas ao seu redor.

Se Dexter e Liberty fossem vistos apenas como peças soltas de um quebra-cabeça, ninguém jamais tentaria encaixá-los lado a lado porque eles pareciam ser totalmente incompatíveis. Então era surpreendente ver como aquele relacionamento vinha dando certo. Ignorando todas as diferenças e o abismo social que existia entre os dois, Libby e Dex tinham encontrado uma sintonia única. O amor entre os dois brotou facilmente e com tanta força que nenhum dos dois foi capaz de resistir à força daquele sentimento.

A primeira impressão que todos tinham ao ver Liberty ao lado de um rapaz como Dexter era que a garota não estava levando o relacionamento a sério, que o interesse dela era puramente físico e que Bloomfield não via futuro naquela relação. Quando conheceram Thompson na Comic-Con, Ryan e Aimée fizeram insinuações maldosas sobre o namorado da amiga e agora Leonard Wooton tinha repetido basicamente a mesma teoria sobre os motivos que levaram a irmã a se relacionar com um quarterback. Só que, diferente dos amigos de Libby, Leonard logo enxergou o próprio erro e percebeu que os laços que uniam Liberty e Dexter eram muito mais fortes do que uma simples atração física ou uma mera aventura adolescente.

A maneira derretida como Liberty falava de Dexter, a postura carinhosa e protetora do rapaz, a forma como os olhos dos dois brilhavam quando eles estavam juntos. Todas aquelas pistas mostraram a Lenny que o casalzinho estava mesmo apaixonado, que Thompson era alguém importante na vida de Libby. Um bom irmão ficaria sinceramente feliz em ver que Liberty tinha encontrado um cara legal, alguém que a amava, que a respeitava e que cuidava dela. Mas definitivamente não foi isso que Wooton sentiu. Justamente por notar o quanto Dexter era importante para a garota e o quanto ele se preocupava com Bloomfield, Lenny passou a encará-lo como uma grande ameaça ao sucesso do seu plano.

O fato de Thompson não conseguir disfarçar a sua desconfiança e a antipatia que sentia pelo cunhado foi um motivo a mais para que Lenny decidisse que Dexter precisava sair logo da vida de Libby. Mas Wooton sabia que não podia simplesmente começar a encher a cabecinha da irmã que ele acabara de conhecer com críticas contra o namoradinho dela. E com a malícia de alguém que estava acostumado a agir de forma fria e manipuladora, Lenny decidiu que mexeria as peças daquele jogo com bastante cuidado. Só assim ele conseguiria afastar Dexter de Liberty sem que a menina notasse a interferência dele no fim daquele namoro.

Comentários aparentemente inocentes. Alfinetadas em forma de piadinhas. Desde que conhecera Thompson, Lenny vinha sendo bastante sutil ao demonstrar a sua reprovação ao relacionamento da meia-irmã. E aquela festinha era uma oportunidade perfeita para que Wooton coletasse mais informações sobre o cunhado antes de se arriscar em alguma jogada mais ousada. Afinal Lenny não só estaria dentro da casa dos Thompson, como também ficaria rodeado por amigos e colegas de Dexter.

- A Ferrari amarela já deu uma dica sobre a sua personalidade meio megalomaníaca, Lenny. Mas tente segurar a onda, ok? Se você continuar falando assim, eu não vou conseguir evitar que algumas líderes de torcida te ataquem. E não subestime essas garotas! – Libby usou os dedinhos enquanto enumerava as qualidades do meio-irmão – Um cara mais velho, universitário, bonitinho e podre de rico...? Elas vão te devorar inteirinho!

Ao invés de se sentir incomodada com o comentário sem noção de Leonard ou com as trocas de farpas entre os rapazes, Liberty reagiu com naturalidade e bom humor. E aquela parecia ser mais uma prova de que o dinheiro dos Wooton não era um problema ou uma ferida dolorosa na qual a menina não conseguia tocar.

- Por que você não dá uma volta por aí e conhece o pessoal? Eu vou procurar um lugar onde eu possa ligar o meu notebook. – Libby fez uma caretinha antes de explicar – A bateria dele já era, eu só consigo usá-lo ligado diretamente a uma fonte de energia.

- Isso é uma carroça velha, é um milagre que ainda esteja funcionando. – Lenny rolou os olhos, mas abriu um sorrisinho e deu uma piscadinha para a irmã – Mas pelo menos agora eu já sei qual é o presente que vou te dar. O seu aniversário está chegando, afinal...

Wooton se afastou antes que Liberty pudesse responder, então a menina apenas contraiu o rosto num semblante confuso enquanto assistia os passos do irmão indo na direção da piscina. Os dois tinham conversado bastante nos últimos dias, mas Libby não se lembrava de ter comentado nada sobre a sua data de nascimento. Provavelmente aquela era mais uma das informações que Leonard havia reunido enquanto stalkeava a vida da meia-irmã.

Ainda um pouco perdida, Libby demorou alguns segundos até voltar a sua atenção para o namorado. E ela se colocou na defensiva antes mesmo que Dexter tivesse a chance de abrir a boca para reclamar.

- Eu seeeei! É uma festa! Eu juro que vou dar uma circulada e conversar com as pessoas. Mas eu também preciso seguir o meu cronograma, Dex! Com a chegada do Lenny em Colchester a minha agenda virou uma bagunça e eu preciso colocar algumas coisinhas em dia. – sabendo que aquilo provavelmente desarmaria o namorado, Libby deslizou as mãozinhas pela nuca dele e aproximou mais os corpos – Só vou terminar o trabalho de História, revisar a redação para a aula de Literatura e corrigir um bugzinho de nada do meu projeto de Tecnologia Avançada. Uma horinha no máximo! E depois disso eu prometo que vou ser toda sua!

Uma pessoa normal certamente precisaria de um dia inteiro para concluir todas as tarefas que Libby estava se dispondo a fazer durante a festa. Mas, conhecendo bem a mente brilhante da namorada, Dexter não tinha motivos para duvidar que Bloomfield conseguiria cumprir o prazo e fazer tudo aquilo em uma hora.

E as poucas barreiras do rapaz terminaram de ser derrubadas quando o próximo “argumento” de Liberty foi uma prévia do que Dex teria em uma hora. Um beijo mais longo e apaixonado fez Thompson se derreter e ceder aos termos da menina. E, enquanto Dexter ia para a piscina com os amigos, Libby encontrou um cantinho na varanda próximo a uma fonte de energia onde ela conectou o cabo do notebook.

***

- Irado. Isso é MUITO irado!

Os olhinhos de Eric brilhavam e nem piscavam enquanto Liberty mostrava a ele o projeto que ela apresentaria no laboratório de tecnologia. E a garota já imaginava que o irmãozinho de Dexter ficaria encantado ao ver o programa que ela tinha criado. Ao clicar no ícone, uma página se abria na tela do computador e a interface tinha a aparência de um pergaminho antigo. Ao digitar no teclado, as letras que apareciam na tela também se pareciam com uma caligrafia de alguém escrevendo à tinta no pergaminho. Mas o mais impressionante era a inteligência artificial por trás daquele simples projeto escolar. Libby tinha criado todo um banco de dados para fazer com que aquele programa respondesse às perguntas e interagisse com o interlocutor como se fosse mesmo o diário de Tom Riddle.

- Faz uma cópia pra mim?

- Só se você prometer que não vai surtar, entrar em transe e abrir a Câmara Secreta!

- Não prometo nada! – Eric soltou uma risada gostosa e apontou para as respostas dadas pelo programa – Isso é muito bom! E o Tom é muito persuasivo! Quanto tempo você demorou pra fazer isso???

- Não sei. Umas duas horas, talvez. Eu queria ter feito algo mais complexo, um programa de verdade ao invés de um simples joguinho, mas o meu cronograma virou uma bagunça e eu não tive tanto tempo quanto queria. Mas acho que isso vai ser o bastante para ganhar um A, né?

- Aham!!! Isso se o seu professor não for convencido a abrir a Câmara Secreta e libertar o basilisco na MMU!

Liberty nem precisou se esforçar muito para conquistar o irmãozinho de Dexter. Como os dois tinham personalidades e preferências bem parecidas, a interação aconteceu naturalmente. E depois de ter visto o irmão sair tantas vezes com líderes de torcida, Eric parecia encantado e aliviado em saber que Dexter havia se apaixonado pela garota certa.

Sentados lado a lado em um sofazinho da varanda dos Thompson, Eric e Libby ainda estavam tagarelando sobre o joguinho feito pela menina quando Bloomfield sentiu o peso de um olhar insistente na direção deles. Bastou um breve deslizar de olhos pelo quintal para que Liberty localizasse o rapaz que assistia aquela cena de longe, com um sorriso doce nos lábios. Dentro da piscina, com os braços apoiados numa das bordas, Dexter acabou se distraindo com aquela cena e estava admirando a interação tão fácil entre Eric e Libby. Mas o sorriso de Thompson morreu quando uma terceira pessoa se enfiou na frente de Liberty e bloqueou a visão dele.

- Imaginei que você poderia estar com sede e trouxe um suco... – Lenny esticou um dos copos coloridos na direção da irmã – Suco de morango. Sem nada de álcool, eu juro. Aliás, não foi nada fácil encontrar uma bebida sem álcool aqui. Os seus amigos sabem mesmo dar uma festa, irmãzinha!

- Ele é seu irmão? – Eric lançou um olharzinho curioso para aquele rapaz que ele nunca tinha visto antes pelas ruas de Colchester.

- Hey. Quem é o pirralho?

- É o Eric, irmão caçula do Dex. E esse é o meu irmão Lenny, Eric.

- Ah, que maravilha. O bonitão te botou no papel de babá enquanto ele se diverte com os amigos na piscina?

- O que é isso? – ignorando a provocação de Lenny, Eric parecia muito mais curioso ao apontar para dentro do copo de Libby – Tem um pó branco boiando por cima do suco!

A reação de Leonard foi totalmente comprometedora. Ele lançou um olhar mortal para o garotinho antes de se inclinar na direção da irmã e agarrar o canudinho colorido, usando-o para remexer a bebida e misturar o tal pó branco no suco. E Lenny também não precisava ser tão ácido, irônico e grosseiro ao se dirigir a Eric.

- Já ouviu falar sobre uma coisinha chamada açúcar, gênio?

- Sim, claro. Sei o bastante sobre açúcar para saber que ele tem a densidade maior que a grande maioria dos líquidos. Por isso, quando a gente colocar açúcar no café, no chá ou em um suco, ele se acumula no fundo do copo. E não por cima da bebida...

- Mas uma mesma coisa pode boiar ou afundar em momentos distintos, não é? Se eu acertar a sua cabeça com uma paulada e jogar o seu corpo na piscina, inicialmente você vai afundar. Mas depois que o seu corpo estiver apodrecendo e se enchendo de gases, você vai boiar e é assim que os seus pais vão te encontrar pra iniciar os preparativos do enterro.

- LENNY!

A bronca de Libby foi porque a garota achou aquela piadinha pesada demais para uma criança, e não por ter interpretado aquilo como uma ameaça. Eric, por outro lado, ficou mais sério e lançou um olhar pouco amigável para Wooton, obviamente se sentindo ameaçado por aquela “brincadeira”.

- O seu cunhadinho é um porre, irmãzinha. Não tenho dúvidas de que ele e o bonitão são irmãos. Quando você terminar de bancar a babá, venha se juntar a nós! Não vai passar a festa inteira nessa varanda, né?

***

Poucos minutos tinham se passado desde que Lenny deixou Liberty e Eric para trás e voltou para perto de um grupinho de rapazes que faziam uma pequena competição de virar copos de bebida. Sem notar nada estranho no sabor do suco de morango, Libby já tinha tomado vários goles e o copo estava quase vazio quando ela o deixou numa mesinha diante do sofá.

Inicialmente, tudo o que Libby sentiu foi um formigamento nos braços e nas pernas e uma estranha onda de sonolência. Eric foi o primeiro a notar que havia algo errado com Bloomfield no instante em que a voz da garota começou a soar mais lenta e embolada. Mas antes que o menino pudesse entender o que estava havendo, os sintomas de Libby se tornaram um pouco mais graves.

Ainda tentando finalizar o trabalho com o notebook apoiado no colo, Liberty deu um pulo para fora do sofá, jogou o laptop sobre o assento e começou a acertar tapas nos próprios braços. Com os olhos arregalados, Eric também deu um salto e parecia assustado quando se dirigiu à menina.

- O que foi??? O que você está fazendo???

- As aranhas!!! – os braços de Libby já estavam vermelhos por causa dos tapas fortes que ela acertava em si mesma enquanto tentava acertar as enormes aranhas peludas que subiam por todo o corpo dela - Elas estão por toda parte!!!

- Mas que aranhas, Liberty??? – com os olhos arregalados, tudo o que Eric via era a menina completamente fora de si e nenhuma aranha no corpo dela.

A alucinação era tão real que Libby era capaz de sentir as patinhas peludas arranhando a pele dela, o cheiro forte e a visão nítida das aranhas se movendo com suas múltiplas pernas compridas. Mas Bloomfield ficou ainda mais desesperada quando ergueu a cabeça na direção de Eric e notou que também havia algo muito estranho com o rosto do garotinho. Como se as bochechas de Eric fossem feitas de cera derretida, a forma do rostinho do menino começou a se deformar diante dos olhos dela e a voz dele soou etérea, como se estivesse ecoando de muito longe. O susto fez Bloomfield recuar vários passos para trás e as pernas trêmulas da menina fizeram com que Libby acabasse caindo sentada no chão. Com os olhos arregalados, a pele pálida como a de um fantasma e as pupilas dilatadas, Liberty não fazia ideia do que estava acontecendo. Como a garota nunca tinha usado nenhum tipo de droga, era muito difícil para Libby reconhecer os efeitos alucinógenos de uma substância tóxica estando tão apavorada e fora de si como naquele momento.

Quando viu Liberty virar de lado para vomitar e iniciar uma respiração mais pesada e ruidosa, Eric finalmente conseguiu reagir. O garotinho empurrou algumas pessoas pelo caminho enquanto corria até a piscina. E como Dexter ainda estava perto da borda, Eric só precisou cair de joelhos ao lado do irmão para que Dexter o escutasse.

- Você tem que vir comigo, Dex! Tem algo errado com a Liberty! - Eric reduziu um pouco mais o tom de voz para que apenas o irmão ouvisse aquele último sussurro - Acho que aquele cara colocou alguma coisa estranha na bebida dela! Açúcar não flutua! Açúcar afunda!
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Mensagem por Emily Sinclair Qua Abr 17, 2024 4:11 pm

Não tinham sido poucas as brigas protagonizadas por Emily e Chad. Algumas dela, mais explosivas e escandalosas, chegaram a ocorrer publicamente. Quando estava enciumado, Clifford dizia as coisas erradas, provocava uma fera dentro de Sinclair que revidava. E Emy não o tipo de garota que abaixava a cabeça para um rapaz, que aceitava calada ofensas machistas ou tóxicas. Ao lado do ex-namorado, Emy assumia uma postura furiosa e revidava para não aceitar que ninguém a controlasse.

Por saber que aquela situação não era saudável, mesmo ainda nutrindo sentimentos por Clifford, Emy tinha decidido que aquele namoro não teria mais uma chance. Era difícil prever se Sinclair teria sido capaz de manter aquela promessa se Hunter Timmons não tivesse entrado no seu caminho e no seu coração. Mas no instante em que se apaixonou por Hunter, Chad caiu no esquecimento e não tinha mais espaço na vida dela.

Se Chad Clifford, que era um rapaz mais calmo, gentil e romântico, tinha sido um namorado difícil de lidar com sua imaturidade e ciúmes, Emy já deveria saber que um rapaz com a personalidade de Hunter não seria muito mais fácil. Mas a principal diferença naqueles dois relacionamentos era a intensidade dos sentimentos dentro de Emy.

Hunter tinha se enraizado de tal forma no seu coração que o mundo inteiro ao redor de Emily parecia diferente. Mesmo com todas as pessoas criando teorias ou apontando os erros de Timmons, Emy enxergava o que havia de melhor dentro dele, o rapaz que se escondia por trás da postura dura e ferida. E exatamente por conhecer o hábito que Timmons tinha de atacar quando estava ferido, foi o que se tornou o diferencial naquela primeira grande crise entre os dois.

O soco e o estardalhaço causados pela bandeja no chão fez com que Emy arfasse de susto e recuasse um passo enquanto se encolhia. Os olhos castanhos estavam arregalados e ela só conseguiu abrir a boca em choque enquanto Hunter esbravejava, completamente descontrolado. Assim como Sinclair tinha desafiado o rapaz a agredi-la no estacionamento da MMU, na noite da tempestade quando os dois ainda eram apenas dois colegas, convicta de que ele era incapaz de machucá-la, ela ainda tinha certeza de que o namorado não tocaria um dedo nela. Mesmo assim, era uma visão assustadora e difícil de ignorar.

- Você não está sendo justo.

“Injustiça” talvez fosse apenas um dos inúmeros defeitos apresentados por Hunter naquela tarde. Abusivo, explosivo, manipulador, agressivo. Sem considerar todos os outros aspectos que Emily ainda desconhecia daquele relacionamento. Mas ao invés de estreitar os olhos e embarcar naquela briga acalorada, Emily soou mais sensível quando seu rosto se contorceu em um semblante magoado.

- Foi o Dexter que convidou ele, não eu. A casa é dele, a ideia dessa festa foi dele! Eu já entendi que a amizade entre vocês dois está arruinada, mas não é possível agir com o mínimo de maturidade? Se vocês não querem se falar, apenas se ignorem!

Quando sentiu um nó apertando sua garganta, Emily fez uma pausa e respirou fundo. Ela finalmente descruzou os braços e apoiou as mãos na cintura fina e exposta pelos trajes de banho. Seu olhar deslizou rapidamente pelo chão, onde estavam os sanduíches completamente arruinados. Para alguém que organizava, controlava e garantia que toda a festa estivesse perfeita, deveria ser terrível assistir um dos pontos da sua lista daquela maneira, mas Emy não estava preocupada com o evento. Ela só se sentia tão afetada e chateada por causa de toda aquela briga.

Além de conhecer a personalidade do namorado e saber que gritar e explodir de volta apenas pioraria tudo, também era por causa daquela velha culpa que Emy sentia seu coração tão dolorido. A briga entre Hunter e Chad poderia ter começado por causa do basquete, mas ela ainda sentia que era a responsável por causa daquela bola de neve que se formava.

- Eu não preciso escolher entre você e ele, eu já fiz a minha escolha. É você quem eu quero, Hunter, e eu achei que isso já estivesse claro. Eu nem falo mais com o Chad! Você não pode me acusar de não confiar em você e fazer exatamente a mesma coisa comigo.

Sentindo os pães afundando sob o seu salto, Emily se arriscou dar alguns passos na direção de Hunter. O rapaz ainda respirava como uma fera furiosa e Emy tinha mesma delicadeza que um especialista que tentava desarmar uma bomba. A música ainda chegava animada pela porta e janela, mas as vozes se concentravam na piscina e na área externa, então a briga entre os dois continuava particular.

- Eu não estava pensando em ninguém quando escolhi a minha roupa hoje. Ninguém, além de mim. Porque eu só queria me sentir linda e gostosa para ficar ao seu lado hoje. - Emy conseguiu parar diante de Hunter, mas ainda foi cuidadosa para não tocá-lo quando ergueu o rosto e o encarou sem piscar. - Eu fiz essa tatuagem para mim e para você. Não preciso ficar exibindo ela para mais ninguém, para provar o que eu sinto por você. Isso é nosso, Hunter. E isso não muda o fato de que eu estou, sim, preparada para mostrar para o resto do mundo que você é o cara que eu amo, que você é a minha prioridade e que eu sou toda sua. Quem está dando um passe livre para o Chad estragar o nosso dia é você. Porque, por mim, eu estaria nos seus braços agora mesmo, na frente de todos, deixando todo mundo morrendo de inveja com o que temos.

Para Hunter, Emily tinha lhe humilhado ao simplesmente admitir que Clifford tinha o direito de estar naquela festa. Mas no final, tudo o que Chad tinha feito para estragar o dia do casalzinho tinha sido pisar na casa dos Thompson. Todo o restante do trabalho tinha ficado nas mãos de Timmons ao causar aquela discussão exagerada. Assim como na briga com o melhor amigo, Hunter tinha a tendência de apontar o outro como o responsável dos seus problemas.

Com movimentos bem lentos e calculados, sem tirar os olhos de Hunter, Emily tocou os dedos dele e puxou de leve até conseguir conduzir a mão para que se encaixasse na sua cintura. Mesmo com o semblante ainda duro de Timmons, Emy deu mais um passo para frente até conseguir colar seu corpo ao dele, e finalmente ergueu a mão livre para tocá-lo diretamente na nuca.

- Se você faz tanta questão que todos vejam a minha tatuagem, eu posso subir e me trocar. E se você realmente quiser ir embora, eu só preciso de alguns minutos para me vestir e ir com você. Porque não importa o que aconteça, Tim... A minha prioridade sempre vai ser você. A minha escolha sempre será você.
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Mensagem por Dexter Thompson Qua Abr 17, 2024 5:32 pm

- Eu juro que estou fazendo um esforcinho aqui, Dex... Mas não estou entendendo.

Ao escutar aquela voz familiar, Dexter se virou para o lado enquanto a boia colorida de unicórnio se aproximava dele. Com o corpo completamente exposto e brilhando sob o sol, Debby mostrava que tinha mesmo muitos motivos para ser uma das líderes de torcida mais populares no círculo de amizade de Emily Sinclair. As curvas perfeitas, a discreta camada de pelos dourados quase imperceptíveis que brilhava sob o sol em uma pequena trilha na barriga reta dela. O biquíni minúsculo não escondia as curvas dos seios ou as pernas bem torneadas, e todo aquele conjunto somado a um rosto delicado e bonito.

Não tinha sido à toa que Debby tinha sido uma das garotas que tinha passado mais tempo nos braços de Thompson. Ela era linda, o estereótipo perfeito de uma Barbie e o sonho da maioria dos rapazes. Com uma voz suave, um sorriso sedutor e um olhar de quem sabia como levar um cara à loucura. Mesmo que nunca tivesse se apaixonado por ela, o corpo de Dex já tinha se saciado inúmeras vezes com todas aquelas qualidades.

Quando olhava para Debby agora, Dex ainda era capaz de reconhecer a garota linda que ela era. Mas isso não o afetava e nem tentava. Não existiam comparações entre a ex-ficante e a atual namorada, nem uma pontada de lamentação por ter “perdido” tudo aquilo. O coração de Thompson estava completamente entregue a Liberty e bastava que a imagem do sorriso da garota surgisse nos seus pensamentos para que ele se derretesse, em um efeito muito mais poderoso do que Debby.

- O que não está entendendo, Debs?

Em uma postura relaxada, Dexter tinha se acomodado na larga escada. Parte do seu corpo estava mergulhado na água aquecida, mas seu tronco estava exposto e ele segurava um copinho de acrílico com um guarda-chuva colorido sobre a borda.

Como o seu envolvimento com Debby sempre tinha sido algo casual e sem compromisso, não tinha acontecido nenhum drama ou cobranças quando Thompson surgiu namorando a novata. E Dex acreditava que a líder de torcida era apenas madura e entendia bem o que eles tinham, que não tinha se envolvido tão intensamente e que estava apenas querendo se divertir no passado, assim como ele. O que Thompson não conseguia ver era que Debby era apenas uma garota inteligente que não admitira uma derrota tão abertamente e que sabia que não ganharia nada fazendo exigências.

- A sua namorada agora anda para cima e para baixo com o bonitão do MIT e você está supertranquilo com isso? Será que as coisas entre vocês não eram tão sérias assim quanto imaginei?

Embora o objetivo daquela festa fosse poder ficar de olho e conhecer mais as intenções de Leonard, Dexter conhecia a namorada muito bem para saber que ela não cederia o precioso tempo dos estudos e nem largaria suas responsabilidades para ficar nadando na piscina ou falando bobagens com os colegas. Uma parte de Dex gostaria que Libby estivesse ao seu lado, que suas mãos estivessem tocando o corpo dela dentro da água aquecida e que os dois pudessem estar se beijando. Mas o rapaz estava respeitando o tempo necessário, e aproveitando para observar de longe o comportamento de Lenny pelo ambiente.

E era impressionante como Wooton se mostrava tão à vontade em um lugar completamente novo, rodeado por pessoas desconhecidas. Dex tinha um magnetismo natural, ele se encaixava nos ambientes, se divertia e não precisava forçar nenhuma situação. Mas Lenny conseguia ser arrogante e até um tanto invasivo enquanto transitava entre os grupinhos, bebia e se divertia.

- Eu amo a Libby e estou levando o nosso namoro muito a sério, Debs. - Dex não se ofendeu com a insinuação da garota, porque sabia como as cosas funcionavam em Colchester. Lenny era um novato que atraía olhares curiosos, e diferente de Libby, ele estava adorando ser o centro das atenções. - Além do mais, o Leonard é irmão dela, então podem parar de criar teorias absurdas.

Daquela vez Debby não conseguiu disfarçar o olhar completamente confuso diante da nova informação. A boquinha dela se abriu, e com as sobrancelhas loiras franzidas, a garota girou o pescoço para olhar na direção de Leonard, e depois para a varanda onde Liberty ainda estudava.

- Irmãos??? Você tem certeza??? Mas ele não é Wooton e ela Bloomfield? São pais diferentes?

Liberty nunca tinha compartilhado nem mesmo com a prima os detalhes sobre o seu pai biológico porque aquele era um assunto delicado e particular demais que ela tinha dificuldades de enfrentar. Mas era difícil continuar negando a relação entre ela e Lenny quando o próprio rapaz saía por aí agindo como se fosse o irmão do ano.

- É uma história complicada.

A resposta de Dexter foi limitada, e a maneira com que ele se virou para olhar a movimentação da festa e levou o drink até os lábios já davam a certeza de que ele não entraria em detalhes sobre a vida de Libby. Debby ainda sustentou aquele semblante perdido por alguns segundos até deixar uma gargalhada curta escapar.

- Bom, acho que agora as coisas fazem mais sentido. Eu sempre me perguntei o que você tinha visto na novata, mas se ela tiver toda essa grana do irmão, as coisas ficam mesmo mais interessantes.

Dessa vez Dexter foi incapaz de ignorar a malícia nas palavras de Debby. Por trás dos óculos escuros, ele estreitou o olhar e voltou a olhar na direção dela. Em nenhum momento o rapaz elevou a voz, mas a firmeza nas suas palavras não davam brechas para serem questionadas.

- Eu não sei se você notou, Debby, mas eu não sou o tipo de cara que precisa sair por aí mendigando dinheiro dos outros. Posso não ter uma Ferrari, mas não preciso me aproximar por uma garota com esse tipo de interesse. E não que seja da sua conta, mas já que você está gastando tanto esforço assim para entender, eu te explico o que vi na Liberty. Ela é a garota mais inteligente que eu já vi, o que significa que ela é linda por dentro tanto quanto é por fora. Eu sou completamente louco pelo beijo dela, pela voz dela, por cada mínimo detalhe do rostinho perfeito que ela tem, de cada fio de cabelo, do sorriso que ela dá quando está empolgada com as coisas nerds, da maneira com que ela chama o meu nome, seja para dar uma bronca ou quando está sendo manhosa. E você não faz ideia de como eu sou obcecado por cada curva da minha namorada, especialmente a do bumbum perfeito. O que eu amo na Libby está dentro e fora dela, e eu tenho tantos motivos que poderíamos passar o dia inteiro aqui falando disso, mas acho que você já entendeu, não é?

Ignorando a caretinha de nojo e insatisfação de Debby, Dexter deu a última golada no seu drink e abandonou o copo na beirada antes de dar um mergulho e se afastar da garota até a outra ponta da piscina.

***

Apesar de estar participando da conversa sobre a temporada de futebol com dois colegas de time, o olhar de Dexter insistia em deslizar vez ou outra por toda a extensão da festa. Mas ao invés de procurar pela namorada, ansioso para ver Libby terminar os estudos e se juntar a ele, era sempre por Leonard que o rapaz buscava.

A ideia do rapaz era deixar Wooton se sentindo à vontade, algo que ele já vinha fazendo muito bem, e depois de alguns drinks se aproximar para uma conversa. Mas daquela vez, quando olhou ao redor, Dex não encontrou nenhum sinal de Lenny por perto. O quarterback chegou a se inclinar um pouco, forçando a vista para os pontos mais afastados da festa, mas foi a chegada abrupta de Eric que mudou seu foco por completo.

A agitação do menininho já tinha sido suficiente para despertar a atenção de Dexter, mas a menção de Liberty e a acusação de um “pó branco” na bebida dela terminaram de alarmar. O corpo inteiro de Dex estava tenso, mas ele agiu prontamente quando flexionou os braços na borda da piscina e impulsionou o corpo para fora. A água inteira escorria pelo seu corpo e Dex vestia apenas o calção de banho quando arrancou os óculos de sol do rosto para encarar o irmão.

- Do que você está falando, Eric??? O que tem de errado com a Libby? Onde ela está?

- Ela não tá bem, está falando de aranhas e vomitando!

Enquanto falava, Eric assumiu a liderança do caminho, mas os passos largos de Dexter permitiram que ele logo avistasse a namorada ajoelhada em um canto da varanda, vomitando sobre as plantas que Alma cultivava com tanto carinho.

- LIBBY!!! LIBBY, O QUE HOUVE???

Quando Bloomfield ergueu o olhar na direção dele, ela não parecia ser capaz de enxergar o namorado. Sua visão estava desfocada, sua pele pálida, os lábios completamente descorados e um suor frio se acumulava nas suas têmporas.

- Foi depois do suco, Dex! Depois do suco que aquele cara deu para ela! Eu falei que não era açúcar!

- Que suco, Eric??? Que cara???

Apesar das perguntas afobadas, Dexter prontamente se ajoelhou ao lado da namorada enquanto o corpinho de Libby se contorcia para mais uma onda de vômitos. A maioria das pessoas da festa continuava focada nas conversas e bebidas, mas os grupinhos mais próximos começavam a notar aquela cena chocante.

- Um tal de Lenny!

Eric quase gritou e estava com os olhos arregalados, claramente assustado diante da imagem de Libby naquele estado. Uma parte de Dexter sabia que precisava cuidar do irmão e levá-lo para longe daquela cena, mas todo o seu instinto ainda estava focado em Liberty. Suas mãos grandes se encaixaram no rostinho gelado da garota depois que Liberty parou de vomitar e Dex deu alguns tampinhas na tentativa de fazê-la retomar a consciência.

- Libby!! Você está me ouvindo??? LIBBY!

- Que porra...? Caralho, Dexter! O que houve? - Jordan foi um dos colegas mais próximos a notar o que estava acontecendo e rapidamente largou seu copo de bebida para ajudar o amigo.

- Liga para a emergência, J. AGORA!

- O que está acontecendo? - Mesmo depois da conversa na piscina, Debby parecia sinceramente chocada e preocupada ao ver Libby desmaiando nos braços de Dexter. - Ela bebeu demais?

- Eu não sei. Você pode ficar de olho no Eric, Debby?

Com os olhos naturalmente grandes e ainda arregalados, a garota concordou rapidamente com a cabeça enquanto apoiava suas mãos nos ombros do garotinho. Quando Liberty terminou de desmaiar, Dexter rodeou o corpo dela com os braços e ergueu a namorada no colo. Com um porte atlético, não foi nada difícil sustentar o peso de Libby mesmo quando Dex avançou para o interior da casa e subiu rapidamente as escadas até o banheiro.

As roupas de Liberty já estavam sujas quando Dexter a colocou sentada no chão do grande box e foi sem qualquer aviso ou receio que o rapaz ligou a água fria sobre ela. Depois de ter saído da piscina aquecida e usando apenas um calção, a temperatura do chuveiro causou um choque térmico bastante desagradável, mas Thompson conseguiu ignorar tudo aquilo enquanto se abaixou para abraçar Libby por trás, com a cabeça dela apoiada em seu ombro e o corpinho encostado contra seu tronco.

- Como ela está???

Só depois da pergunta de Jordan que Dexter notou o colega ali. Alguns curiosos também tinham se acumulado no corredor e a julgar pela música que tinha cessado, a festa inteira já deveria saber o que estava acontecendo. Antes que Thompson pudesse responder, Bloomfield se contorceu mais uma vez, e mesmo de olhos fechados, um novo jato de vômito saiu, dessa vez sujando uma das pernas de Thompson.

- Ainda sem me responder! Você chamou a emergência?

A adrenalina estava assumindo o controle, mas isso não impedia o coração de Dexter de estar despedaçado diante da imagem tão frágil e de todos os riscos que Liberty estava passando. Mesmo com as explicações vagas de Eric, Thompson já tinha entendido que Leonard tinha dopado a própria irmã. Ele não sabia as motivações e ainda iria tirar sérias satisfações com Wooton, até mesmo medidas legais. Mas naquele momento, a única coisa que importava era Libby.

- Já estão a caminho. Mas Dex... Você sabe que estamos em uma casa lotada de menores de idade e bebida alcoólica. Isso vai dar ruim, cara.

Hunter Timmons poderia estar acostumado a se meter em encrenca e ter ajuda para se livrar delas. Mas Dexter era o garoto de ouro, o atleta perfeito que raramente bebia ou que andava fora da linha. Um escândalo daquela proporção atingiria Colchester inteiro, certamente chegaria até seus pais e seria impossível sair ileso. Mas nada daquilo importava se o preço fosse garantir a ajuda necessária que Liberty precisava.

- Avisa todo mundo que quem quiser ir embora, essa é a hora. Eu cuido do resto. - Ignorando Jordan Dex voltou a segurar o rostinho de Libby enquanto a garota se esforçava para abrir as pálpebras. - Eu estou aqui, Libby... Eu estou aqui. Por favor, fala comigo. Abre os olhos, fala comigo... Eu preciso de você bem, cariño.
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Mensagem por Liberty Bloomfield Qua Abr 17, 2024 9:10 pm

A cabeça de Liberty latejava e a menina não se lembrava de já ter sentido uma dor tão intensa antes. Sua garganta estava seca, a luz forte da sala de emergência fazia os olhos dela arderem. Mas nenhum daqueles sintomas era mais incômodo do que as náuseas. Não havia mais nada dentro do estômago de Libby e ainda assim ela continuava sentindo ânsias de vômito.

Como a garota já estava no hospital há mais de duas horas, boa parte do efeito da droga já tinha se dissipado, mas Libby ainda se sentia sonolenta e com o raciocínio muito mais lento que o normal. Era impossível conversar ou completar qualquer linha de pensamento, por isso Bloomfield estava quieta, calada e com os olhos fechados. Dexter só tinha certeza de que a namorada estava acordada porque a mãozinha dela segurava o braço dele com força, num pedido mudo para que Thompson não saísse do lado dela.

Com os olhos avermelhados depois de uma crise de choro, Hilary Sinclair reapareceu ao lado da cama da sobrinha. Como a mãe de Emily era a responsável por Liberty em Colchester, os médicos obviamente mandaram chamar por ela assim que a menina deu entrada na unidade com uma crise de overdose. Assim como Dexter, Hilary ocupou um lugar ao lado da cama da sobrinha e só se afastou para atender uma ligação no celular.

- Era a sua mãe. Eu tive que contar pra ela, Liberty, isso foi grave demais. Ela ficou desesperada, é claro. Mas eu acho que consegui acalmá-la um pouco. – com um olhar mais duro, Hilary voltou a sua atenção agora para Dexter – E eu liguei pro seu pai também, rapaz. Como eu já imaginava, ele não fazia ideia de que a casa dele estava sendo usada numa festinha regada a álcool e drogas! Mas nem fui eu que o atualizei! O xerife Coleman já tinha ligado pra ele, sabia? A polícia está no caso! Vocês tem noção do quanto isso é sério!?

- Tia... – a voz de Libby soou num sussurro fraco durante aquela súplica e a menina ainda estava tão fraca que mal conseguia abrir os olhos – Agora não, por favor.

- Eu realmente achei que não teria esse tipo de problema com você, Liberty! Você parecia ser tão responsável e estudiosa! O que foi que você usou, afinal???

- Eu não sei.

Ainda sem fôlego para maiores explicações, Bloomfield deu à tia uma resposta simples, mas verdadeira. Ela simplesmente não sabia o que tinha acontecido. Exceto por alguns salgadinhos e um copo de suco, Liberty não havia ingerido mais nada na festa. E era difícil demais raciocinar ou buscar por respostas com todo aquele mal estar.

A boca de Dexter chegou a se abrir para que ele defendesse a namorada, mas o discurso dele foi interrompido pela chegada do médico. Com uma prancheta em mãos, o homem olhou dos dois jovens para Hilary e estava se dirigindo diretamente à Sra. Sinclair quando tomou a palavra.

- Acabaram de chegar os resultados do teste toxicológico. É quase um milagre que ela não tenha entrado em coma ou tido uma parada cardiorrespiratória. Encontramos no sangue dela uma dose absurdamente grande de um sedativo potente. Não é uma droga comum e nem o tipo de coisa que se compra numa farmácia. É uma substância utilizada como anestésico em hospitais, um dos principais efeitos colaterais são alucinações vívidas. E o xerife provavelmente vai querer saber como um bando de adolescentes teve acesso a algo assim.

- Eles não querem falar comigo, é claro... – Hilary sacudiu a cabeça num gesto de repreensão – Mas o xerife está interrogando todos os que estavam na festa, talvez ele tenha mais sorte em arrancar alguma informação dessas crianças. E quanto a ela, doutor? A Liberty já está fora de perigo?

- Por precaução eu vou mantê-la internada e monitorizada nas próximas horas. Mas o pior já passou, o efeito da droga está se dissipando.

- Não. – ainda sonolenta, Libby se forçou a abrir os olhos para encarar o médico – Eu vou terminar de me recuperar em casa, não posso ficar aqui. Não tenho seguro-saúde e a minha mãe não tem condições de pagar pela internação.

É claro que Dexter e Hilary não deixariam a garota comprometer a própria saúde e qualquer um dos dois poderia assumir os gastos daquela internação. Mas antes que a tia ou o namorado de Libby se prontificassem a ajudá-la, a resposta do médico surpreendeu a todos.

- Não se preocupe com isso. Todas as pendências já foram acertadas no setor financeiro. O seu irmão assumiu os gastos.

A mente de Liberty ainda estava tão aérea e lentificada que a garota demorou a se lembrar que agora havia um irmão fazendo parte da vida dela. Bloomfield pareceu confusa por alguns segundos e só depois se lembrou de Leonard Wooton. E como o raciocínio dela continuava tão comprometido, é óbvio que Libby não associou o “açúcar” no suco servido por Lenny à droga que ela havia ingerido acidentalmente.

- Irmão... era só isso que me faltava! – Hilary pareceu ainda mais irritada e decepcionada quando aquele tema veio à tona – Essa parte da história eu tive que esconder da sua mãe, Liberty, senão ela venderia um rim e entraria no primeiro avião para Vermont! Um Wooton está na cidade há dias e ninguém me contou! O que mais vocês estão me escondendo, hein?

A Sra. Sinclair tinha os seus motivos para estar chateada com a filha e com a sobrinha depois dos últimos acontecimentos. Como qualquer adulto responsável, Hilary estava imensamente decepcionada em descobrir que as meninas tinham mentido e se enfiado numa festinha clandestina que terminou com Liberty quase morrendo de overdose. O problema é que Libby não estava em condições (e nem merecia) todas aquelas broncas.

Já que o médico pretendia atualizar o xerife sobre os resultados dos exames, Hilary o acompanhou para fora da sala de emergência. Como Colchester era uma cidade minúscula, apenas um velhinho estava internado no mesmo setor de Liberty. E com o outro paciente dormindo do outro lado da sala e uma enfermeira distraída com o celular atrás do balcão, Libby e Dexter tiveram privacidade para uma conversa mais pessoal.

- Eu sinto muito, Dex. Você vai ter sérios problemas com o seu pai...

Se Justin Thompson já ficava furioso quando o filho se atrasava para os treinos ou desobedecia à dieta, era óbvio que Dexter teria que lidar com uma fera sanguinária agora que o pai sabia que ele não só estava participando de uma festinha clandestina, como também havia emprestado a casa e colocado o nome dos Thompson bem no meio daquele escândalo.

- O Eric está bem? Nós dois estávamos dividindo o mesmo pratinho de salgadinhos. E se ele também...

O discurso angustiado de Liberty foi interrompido por passos se aproximando da cama dela. Como Libby imaginava que seria a tia ou o médico com mais uma sessão de censura, foi um grande alívio encontrar dois rostos muito mais amigáveis. Emily parecia fragilizada, então Hunter guiava a namorada com as duas mãos nos ombros dela. E, enquanto as duas meninas se abraçavam, Timmons se virou para Dexter e estava sério quando sacudiu a cabeça em negativa.

- Nada, cara. Eu pressionei todo mundo e todos garantiram que não levaram nada ilícito pra sua casa. Não foi ninguém do colégio, isso eu te garanto.

Dexter havia encarregado Hunter daquela “missão” porque Timmons era a melhor pessoa para investigar se algum colega da MMU estava por trás do incidente daquela tarde. Além de Hunter saber exatamente para quem ele deveria fazer aquelas perguntas, ninguém ousaria mentir para Timmons conhecendo a má fama e a personalidade explosiva do rapaz.

E se nenhum aluno da MMU estava por trás da droga que Liberty havia ingerido acidentalmente, só restava um suspeito. Depois de ouvir a versão de Eric, Dexter provavelmente estava convencido da culpa de Leonard Wooton. Mas seria a palavra de Lenny contra uma criança. Além de não ter provas concretas contra o meio-irmão de Libby, Dexter teria que declarar uma guerra contra um oponente poderoso (e perigoso).

Liberty ainda estava sonolenta e com o raciocínio lento. Emily estava muito preocupada e totalmente focada na prima. Mas a troca de olhares entre os dois rapazes foi bastante significativa. E o semblante sério de Hunter mostrou a Dexter que o melhor amigo havia compreendido (e concordado) com as suspeitas dele a respeito de Leonard Wooton.

- Ahn, talvez não seja um bom momento pra falar isso. Mas enfim, é melhor que vocês estejam preparados... – Hunter franziu o nariz uma caretinha antes de concluir – Os médicos chamaram o xerife, o xerife avisou o diretor do colégio e a essa hora todos os pais já devem ter sido avisados. Tá todo mundo ferrado.

Sem provas concretas contra a pessoa que havia levado a droga para dentro da festa, não havia muita coisa que o xerife pudesse fazer. Mas o fato do diretor e dos pais terem se envolvido poderia complicar bastante as coisas. A festa não havia acontecido nas dependências da escola, mas ainda assim os alunos de um colégio renomado estavam envolvidos agora num grande escândalo que poderia manchar a reputação da MMU.

E por estar bem no meio daquela confusão (e por saber que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco) foi que Liberty contraiu os lábios num biquinho antes de começar a chorar. Em meio aos soluços desesperados, Bloomfield compartilhou os seus temores com os amigos.

- Eu vou perder a bolsa! Vou ser expulsa! Vão colocar isso no meu histórico e eu vou perder a chance de ser aceita em Princeton!
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Mensagem por Hunter Timmons Qua Abr 17, 2024 9:12 pm

As pessoas costumavam ter reações parecidas sempre que se viam diante das explosões de Hunter. O Sr. Timmons, os professores, os colegas, todos costumavam responder de forma hostil ao comportamento agressivo do rapaz. Portanto, Hunter estava habituado a ouvir gritos, acusações, cobranças e ofensas sempre que perdia o controle e tinha uma das suas crises de raiva e irritação.

E Emily Sinclair tinha motivos de sobra para reproduzir aquele mesmo padrão de reação. Hunter estava sendo injusto demais com a namorada, isso sem mencionar o grau de manipulação e de hipocrisia que existia por trás das palavras dele. Além de não ter feito nada errado, Emily não merecia ser pressionada daquela maneira e ninguém a condenaria caso Sinclair também explodisse e apontasse todas as falhas no comportamento do namorado. Mas não foi esse o caminho que Sinclair resolveu trilhar naquela tarde.

Aquilo tinha tudo para ser uma briga acalorada que poderia até colocar um fim no relacionamento. Se Emily respondesse às acusações do rapaz de maneira agressiva ou irônica, ou se Hunter saísse daquela festa espumando de raiva e se sentindo menosprezado pela namorada, talvez aquela relação não sobrevivesse. Portanto foi Sinclair quem salvou aquele namoro tendo uma reação completamente diferente de tudo o que Hunter esperava.

A voz calma, os argumentos sendo pontuados de maneira ponderada e principalmente o olhar carinhoso de Emily foram os detalhes que desarmaram a bomba prestes a explodir nas mãos de Timmons. Um bom observador notaria até uma mudança sutil na postura do rapaz enquanto Sinclair sustentava aquele discurso. Como se estivesse sendo contaminado pela suavidade dela, Hunter murchou os ombros e passou a respirar numa velocidade mais ritmada.

Timmons podia até ter uma grande influência sobre a namorada, mas o contrário também era verdadeiro. Embora Emily não fosse tão fria e manipuladora quanto Hunter, ela também tinha a sua própria forma de controlar e administrar a situação. Justamente por conhecer tão bem o rapaz que existia por trás daquela máscara de bad boy, Sinclair sabia que tudo o que Hunter queria e precisava era se sentir amado, valorizado e acolhido. E foi fazendo apenas isso que Emily transformou completamente o humor e o comportamento do namorado naquele momento.

Alguns poucos segundos atrás, Hunter estava espumando de raiva e esbravejando xingamentos, exigências e acusações contra a namorada. Mas agora ele parecia muito mais calmo (e até um pouco envergonhado) quando tomou novamente a palavra.

- Não precisa trocar de roupa. É claro que você pode vestir o que quiser, Emily. Você tem toda razão. Você fez a tatuagem pra gente, é algo nosso. Você não precisa sair por aí exibindo pra todo mundo.

Qualquer um que já tivesse assistido a uma das explosões destrutivas de Hunter Timmons ficaria chocado em ver a facilidade e a rapidez com as quais Emily havia apagado todos os focos de incêndio. Ao invés de uma fera selvagem e ameaçadora, Hunter agora se parecia muito mais com um cãozinho domesticado. O rapaz aproveitou que a sua mão já estava na cintura da menina para dar um passo adiante e puxar a namorada para um abraço que colocaria um fim definitivo naquela discussão.

- E também não precisamos ir embora. Você teve muito trabalho e organizou a festa toda. – Timmons fez uma caretinha ao notar o estrago que ele havia feito com os mini-sanduíches – Me desculpe por isso. Eu posso limpar essa bagunça. E acho que vai dar pra aproveitar a maioria dos sanduíches, é só colocar de novo na bandeja e ninguém precisa saber. Aiêêê! – Hunter protestou quando a namorada beliscou de leve as costas dele e comentou que a sua reputação seria arruinada se os convidados saíssem da festa com gastroenterite – Você realmente leva as suas festas muito a sério, ruivinha!

Como os dois já estavam abraçados e ele tocava diretamente a cinturinha exposta da namorada, Timmons só precisou erguer um pouco a mão até alcançar a área onde ficava a tatuagem da menina. Se alguém visse aquela cena poderia ficar com a impressão de que Hunter estava apenas se aproveitando da situação para apalpar o seio da garota, mas Emily sabia que existia algo muito mais significativo e afetuoso na maneira como o namorado acariciava aquela região.

- Eu não vou deixar que ninguém estrague o nosso dia, Emy. Muito menos que estraguem o nosso namoro. Você é minha, eu sou seu e nada mais importa. Ninguém pode mudar isso, ruivinha.

***

A briga de Chad e Hunter não foi adiante e a explosão de Timmons também foi facilmente controlada pela namorada do rapaz. Mas, no fim das contas, a festinha na piscina dos Thompson acabou sendo arruinada precocemente por outro motivo. Boa parte dos alunos da MMU fugiram da cena depois da ligação para a emergência e a chegada da ambulância finalizou de vez qualquer clima de festa.

No passado, Timmons teria sido um dos jovens que correria para bem longe dali para não ser pego em flagrante em mais um deslize. Mas além de estar sinceramente preocupado com a situação de Bloomfield, Hunter jamais deixaria Dexter e Emily para trás em um momento delicado como aquele. Então, mesmo sabendo que teria que enfrentar as perguntas do xerife e a fúria do Sr. Timmons, Hunter não fugiu e estava junto com a namorada quando eles chegaram ao único hospital de Colchester.

Pelos sintomas de Liberty e pelo relato de Eric, Hunter já não tinha dúvidas de que a novata tinha sido drogada. E quando Dexter o encarregou de descobrir quem estava por trás daquele incidente, Timmons só precisou fazer algumas ligações e falar com as pessoas certas para ter certeza de que nenhum dos colegas estava por trás daquela emboscada contra Bloomfield. Mas agora um novo problema surgia: Leonard Wooton obviamente não admitiria a culpa e eles não tinham como provar que o filho de um homem extremamente rico e importante tinha sido o responsável por levar drogas para dentro da casa dos Thompson.

O choro de Liberty deixou Hunter sinceramente comovido porque era evidente que a menina estava desesperada com a possibilidade de ser expulsa do colégio ou de perder a bolsa. E, embora a festinha não tivesse acontecido nas dependências do colégio, o diretor da MMU podia mesmo alegar que aquele escândalo havia manchado a reputação da escola. Bloomfield era uma bolsista e estava bem no foco do problema, então não era tão absurdo assim pensar que o diretor deixaria a culpa cair sobre ela apenas para poder dizer aos pais dos outros alunos que ele havia tomado providências e se livrado daquele problema.

Enquanto Emily e Dexter tentavam apoiar e consolar Liberty, Timmons ficou estranhamente quieto e pensativo. Por dentro, Hunter trabalhava velozmente em uma solução que havia acabado de brotar dentro da mente dele. E o rapaz ainda estava sério, pensativo e um pouco cabisbaixo quando uma enfermeira se aproximou da cama ocupada por Libby, desta vez acompanhada pelo xerife Coleman.

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- O médico disse que você já tem condições de dar o seu depoimento, Srta. Bloomfield. Então eu gostaria de saber a sua versão dos fatos.

Liberty era uma vítima que não tinha muito o que dizer. Mas quando Dexter encheu os pulmões de ar para começar um discurso, Hunter soube que o nome de Leonard Wooton acabaria pulando para fora da garganta do amigo. E além de não querer que Thompson se complicasse fazendo uma acusação tão grave sem provas, Timmons também resolveu interferir pensando em Liberty. Era injusto demais que a melhor aluna da MMU perdesse a bolsa ou fosse expulsa do colégio com uma mancha como aquela no seu histórico. Hunter, por outro lado, tinha grandes chances de ser reprovado com suas notas lamentáveis e com todas as faltas que ele vinha acumulando nos últimos meses. Então, para Timmons, aquela não foi uma escolha tão difícil assim.

- Na verdade, xerife, antes de qualquer coisa eu gostaria de mudar o meu depoimento...

Logo que o xerife Coleman o abordou e revistou os bolsos dele, Hunter alegou que era inocente e que não tinha nada a ver com o incidente da overdose. Então agora tanto o xerife quanto os amigos do rapaz pareciam confusos e surpresos quando focaram seus olhos nele.

- Fui eu. Foi um acidente, não foi a minha intenção fazer isso com a Libby. Mas a droga era minha. Eu levei pra festa, coloquei no meu copo e acabei me descuidando dele. A Liberty deve ter pegado por engano.

Os três jovens ali presentes ficaram boquiabertos, principalmente porque os três sabiam que aquilo não era verdade. Emily tinha passado a festa inteira perto do namorado e obviamente não viu Hunter colocando nada diferente na própria bebida (ou na bebida de ninguém). Dexter conhecia Timmons desde a infância e sabia que Hunter eventualmente abusava do álcool, mas que nunca havia usado nenhuma outra substância ilícita. E Liberty também tinha certeza de que não havia pegado o copo de outra pessoa por engano.

Até o xerife Coleman pareceu duvidar da declaração do rapaz e arqueou uma sobrancelha com uma expressão de incerteza.

- Não estamos falando de pílulas para dormir ou de erva, Timmons. A acusação é muito mais séria. Se foi mesmo você, onde você arrumou um sedativo tão forte?

- No haras. – a resposta imediata de Hunter fez com que a história do rapaz soasse um pouco mais convincente – Os veterinários usam isso pra sedar os cavalos. Eu vi na internet que dá um barato legal e resolvi experimentar.

- Não é verdade! Não foi ele! – Libby estava com os olhos arregalados quando tentou defender o amigo – Você ficou louco, Tim!? Por que está fazendo isso?

- Foi mal, novata, mas não posso deixar você ser expulsa. O erro foi meu. Mas relaxa, eu já estou acostumado com essas merdas. O xerife Coleman e eu somos velhos conhecidos, não é, xerife?

Embora estivesse falando com Liberty, o olhar que Hunter lançou a Emily e Dexter era quase uma súplica para que ninguém mais o desmentisse. Mais do que proteger uma amiga, Timmons também estava fazendo aquilo pela namorada e pelo melhor amigo. Emily ficaria arrasada se Libby saísse da MMU e voltasse para Seattle. E, além de continuar com a namorada por perto, Dexter teria muito menos problemas com o pai caso a maior parte da culpa caísse nos ombros de Timmons. Afinal a cidade de Colchester já tinha se acostumado a ver Hunter como um garoto problemático e uma grande decepção.

Ao assumir aquela culpa, Hunter sabia que estava correndo o risco de ser expulso da MMU e talvez até responder a um processo judicial. O que Timmons não calculou era o quanto o xerife estava levando aquela história a sério. Hunter já tinha sido pego em flagrante várias vezes praticando pequenos delitos em suas aventuras, mas desta vez havia acontecido algo muito mais sério do que pular um muro ou ser pego dirigindo bêbado.

Roubo de uma substância de venda restrita e uso de drogas. Como se não bastasse isso, a overdose acidental de Liberty poderia ser taxada como tentativa de homicídio por um juiz mais rigoroso. Diante de acusações tão sérias, nem a velha amizade do xerife Coleman com o Sr. Timmons foi capaz de fazer o policial ignorar a sua responsabilidade. E, para a surpresa de todos, Coleman respirou fundo e puxou as algemas penduradas no cós da sua calça.

- Mãos para trás, Timmons. Você está preso.
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Mensagem por Dexter Thompson Qui Abr 18, 2024 4:39 pm

Quando se enfiou na ambulância para acompanhar Liberty até o hospital, Dexter não se preocupou com nada além da urgência do atendimento da namorada. Mesmo que a consciência dela já estivesse voltando aos poucos, era óbvio que a situação ainda era frágil e delicada demais para relaxar ou ser plenamente otimista. E mesmo depois que Libby já estava devidamente cuidada e que os médicos garantiram que o pior havia passado, Thompson não conseguiu relaxar por completo.

Como tinha saído às pressas, Dex não tinha se preocupado em trocar de roupa. Ele só não vestia apenas o calção até aquela hora da noite porque Emily tinha conseguido voltar até a residência dos Thompson e buscado para ele um par de tênis e um conjunto de moletom seco, mas os cabelos do rapaz ainda estavam atrapalhados e seu semblante estava pesado, carregado de preocupações e angústias.

Com uma vida confortável e segura, Dexter não se lembrava de já ter sentido tanto medo na sua vida como naquele dia. Mesmo que tivesse acompanhado de perto o acidente e a recuperação de Hunter Timmons, Dex não tinha estado ao lado do amigo no exato momento em que tudo tinha acontecido. Diferente de tudo o que ele tinha testemunhado com Liberty Bloomfield.

A ideia de que o pior pudesse ter acontecido ou a imagem da garota completamente dopada estariam marcadas na sua mente por muito tempo e Dex não achava que conseguiria se desfazer daquele medo com tanta rapidez. Mas na mesma proporção do medo, Thompson agora também conseguia começar a raciocinar o outro lado daquela tragédia.

O acidente com Hunter tinha sido puramente isso: um acidente. Um descuido que tinha resultado em uma queda capaz de mudar toda a vida dele. Mas não tinha sido algo aleatório que tinha acontecido com Libby. Ela tinha sido propositalmente drogada, e dentro de Dex não restava nenhuma dúvida sobre o responsável.

Eric era apenas uma criança, mas ele era um garotinho dono de uma inteligência acima da média e se o seu irmão afirmava que Libby tinha recebido um copo com um pó branco que não era açúcar, vindo das mãos de Leonard, o restante da equação era tão simples quanto somar dois mais dois. Até mesmo alguém conhecido por ter o raciocínio mais lento como Dexter Thompson não tinha dificuldade para chegar naquela resposta.

O que estava trazendo aquela incômoda dor de cabeça era porque Dexter não entendia as motivações de Lenny. A chegada do rapaz em Colchester e aquela súbita aproximação com a meia irmã era muito suspeita, e os instintos de Dex já desconfiava que pudesse ter algo de errado por trás de toda aquela história. Mas nem mesmo com todas as desconfianças, Dex jamais imaginaria que Leonard pudesse ser tão baixo e cruel ao ponto de dopar alguém. Especialmente alguém do próprio sangue.

Com a cabeça fervilhando e os sentimentos à flor da pele, Dexter não conseguia relaxar. E ver o desespero de Libby diante da possibilidade de ser expulsa da MMU foi a última gota para desestabilizá-lo. Cada célula do seu corpo gritava em desejo de ir atrás de Lenny e fazer o rapaz pagar, de responsabilizá-lo por tudo e corrigir o estrago que tinha feito. Com os ombros tensos, Dex lutava contra aquele desespero e urgência de resolver tudo para que Libby ficasse bem.

Por mais que quisesse dizer que Liberty era apenas uma vítima e que seria injusto que ela fosse expulsa da MMU por ser dopada por outra pessoa, Dexter sabia muito bem como as coisas funcionavam. Para querer abafar aquele escândalo, era óbvio que a bomba explodiria nas mãos da bolsista.

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Ansioso e quase cedendo ao descontrole, Dexter ergueu uma das mãos e coçou a têmpora latejante. Diferente de Libby e Emily, os dois rapazes sabiam muito mais do que realmente tinha acontecido naquela tarde, mas como Dex estava muito mais ligado a bolsista e consequentemente ficava afetado e com as emoções no controle, foi um milagre que Timmons pudesse raciocinar com mais clareza e assumir a situação.

Quando Hunter disse que queria trocar seu depoimento, Dexter franziu a testa e encarou o amigo um pouco perdido. Por um instante Thompson achou que o amigo contaria alguma historinha mentirosa para incriminar Leonard. Mas quando Timmons surpreendeu a todos assumindo a culpa, Dex o encarou como se uma segunda cabeça tivesse surgido pelo seu ombro.

Diferente de Liberty e Emily, Dexter sabia exatamente o que Hunter estava fazendo. Ele entendeu o plano do melhor amigo de imediato. O choque de Thompson era apenas pelo risco que Timmons estava correndo ao assumir aquela culpa, pela atitude nobre e até bastante irresponsável. Por um lado, Dex queria sacudir Hunter pelos ombros e dizer que ele estava sendo burro, que seria expulso, que não podia somar uma acusação tão séria junto a tantos outros delitos do seu histórico. Mas o que realmente predominou em Dexter foi a admiração pela coragem e o alívio em ver Libby sendo poupada.

Não era justo. A atitude de Hunter só fazia com que Dexter se sentisse ainda mais furioso e prestes a explodir com Leonard. Por culpa de Wooton, Libby poderia ter morrido naquele dia e agora Hunter seria penalizado por um crime que não tinha cometido. Era um alívio momentâneo por Bloomfield, mas isso só aumentava a dívida de Lenny.

Com o olhar preso em Hunter, Dexter não precisou emitir nenhuma palavra. Ele estava grato pela atitude dele, mas também havia uma promessa silenciosa no seu olhar de que iria corrigir tudo e que faria Wooton se arrepender por ter se metido com as pessoas que ele amava.

O baque final veio quando o xerife avisou que Timmons seria preso. A gratidão, o desejo de vingança, a raiva, a preocupação, tudo foi colocado em segundo plano quando o queixo de Dexter despencou ao ver o brilho das algemas.

- O queeee??? Não! Como assim preso??? - Diferente de Dex, Emily não fazia ideia das motivações do namorado para tomar aquela atitude. - Você não fez nada, Hunter! Que absurdo é esse??? Não, ele não vai ser preso!

Emily era baixinha e magra, mas se mostrou bastante audaciosa ao se colocar entre o namorado e o xerife, como se aquela atitude pudesse impedir a prisão. Mas apesar dos protestos dela, foi a vez de Dexter intervir quando puxou a amiga pelo braço.

- Você só vai piorar as coisas, Emy.

- PIORAR??? Como isso pode piorar??? E por que você não está fazendo nada, Dexter??? Não foi o Hunter, todo mundo sabe disso!

Com Thompson segurando Emily, o xerife se aproximou de Hunter. E nem Dexter conseguiu sustentar o olhar enquanto as algemas eram colocadas nos pulsos do melhor amigo. Com a desculpa de precisar segurar Sinclair longe daquela cena, Dex olhou para baixo enquanto Timmons era levado.

- Me solta!!! ME SOLTA AGORA, DEXTER!

Mesmo com os tapas e os arranhões de Emily, Dex era mais forte que a garota e a manteve presa em seus braços até que Hunter fosse acompanhado para fora do quarto. E Emy parecia um felino selvagem rosnando quando finalmente foi libertada.

- Para, Emily!!! Você só está piorando tudo! Vão nos expulsar daqui se você continuar fazendo esse escândalo!

- Qual é o problema de vocês dois??? - Emy rosnou, se referindo aos dois rapazes. - Que ideia maluca é essa??? Não foi o Hunter! Todo mundo sabe disso, a Libby acabou de dizer!

- É, mas a gente não tem provas de quem foi, tem? - Sem o delegado por perto, Dexter lançou um olhar significativo para a amiga. - Eu vou resolver isso, Emily, eu prometo que vou cuidar disso e não vou deixar o Tim levar a pior pelo erro de outra pessoa! Nem o Tim, e nem a Libby.

O olhar de Dexter deslizou de uma menina para outra e se fixou na namorada ao fazer aquela promessa. Hunter tinha salvado o dia, mas com isso tinha se complicado demais. Agora, era a vez de Thompson garantir que a coisa certa fosse feita. O problema era que Dex tinha um temperamento mais impulsivo e não costumava agir com estratégia se seus sentimentos estivessem fervilhando.

- E de quem foi o erro, afinal??? Nem a Libby sabe como aconteceu essa merda, pode ter sido QUALQUER UM naquela maldita festa!

A aflição de Emily mostrava também uma dose de culpa, por ter organizado toda a festa que tinha terminado daquela forma trágica. Hunter já tinha dito que interrogara todos os colegas e que ninguém tinha assumido aquela responsabilidade, mas a forma com que Dexter olhava para as meninas mostrava que ele sabia quem era o culpado.

- Quem foi? - Emy ainda estava esbaforida quando estreitou o olhar ao notar a postura do quarterback. - QUEM FOI, DEXTER??? Por que esse mistério todo?

Assim como Dexter não tinha compartilhado com Liberty suas inseguranças sobre Leonard, o rapaz estava receoso em fazer aquela acusação. Libby estava completamente encantada com a proximidade do irmão, com a chance de finalmente ter uma família, de se sentir amada e protegida por aquelas pessoas que tinham lhe rejeitado a vida inteira. Então era óbvio que seria um baque escutar que ela estava sendo traída por alguém em quem tinha depositado toda sua confiança. Ao mesmo tempo, aquela situação era grave demais para que Dex ficasse calado.

Sua respiração estava pesada e ele cruzou os braços enquanto travava uma batalha interna. Foi se odiando por dentro que Dexter escolheu o caminho que precisava seguir. Ele sabia que aquilo partiria o coração de Liberty, e foi apenas por isso que a namorada seria poupada por algumas horas, pelo menos até se recuperar e sair do hospital.

- Eu não sei. - Foi com a desculpa de acompanhar Emily até a porta que Dexter se afastou de Liberty. E ele ainda lançou um olhar na direção da namorada antes de se virar para a ruiva, com um sussurro. - O que o Tim fez foi arriscado e eu ainda não sei como vamos sair dessa, Emy. Mas nós precisamos da sua ajuda. Para começar, o que eu vou te contar precisa ficar entre nós dois.

De braços cruzados e com um semblante cansado e confuso, Emily permaneceu em silêncio enquanto Dexter olhava ao redor. Libby estava de olhos fechados, há alguns metros de distância, e não havia mais ninguém por perto quando ele respirou fundo e fez aquela confissão.

- Não foi ninguém da MMU. Nós dois vivemos em Colchester a nossa vida inteira, Emy... Quando foi que você já ouviu qualquer coisa parecida? - Dex ergueu as sobrancelhas e esperou pelo raciocínio da garota. - Mas tinha alguém naquela festa que não era de Colchester.

- O Wooton??? - Emy não sabia se estava mais chocada ou confusa quando sacudiu a cabeça. - Mas ele é irmão da Libby! Por que faria isso???

- Isso eu ainda preciso descobrir. Mas o Eric viu o Leonard colocando um pó branco no suco da Liberty. E ela está aqui a horas, adivinha só quem não apareceu para uma visita?

- Porque ele estava cuidando das despesas médicas! Dexter! Isso é absurdo demais! Não pode ter sido ele!

- Eu sei que foi, Emy. E preciso que confie em mim. Se você está com dificuldades para acreditar, imagina a Libby? Eu preciso que ela se recupere primeiro, e quando sairmos daqui, vou conversar com ela. Mas até lá, preciso que você fique quieta. A melhor forma de atacar o Wooton é se ele não desconfiar do que a gente sabe. Eu já disse e repito. Eu vou cuidar de tudo.
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Mensagem por Emily Sinclair Qui Abr 18, 2024 5:47 pm

Os olhos de Emily ainda estavam vermelhos depois de tantas horas de choro. Mesmo depois de ter tomado um banho e trocado as roupas por um pijama confortável, a garota se sentia pequena e amedrontada quando se encolheu na cama. O rosto estava seco, mas os sinais de que muitas lágrimas já tinham sido derramadas estavam ali.

Quando mergulhou de cabeça no planejamento daquela festa, Emily só queria que seus amigos se divertissem e tivessem algumas horas agradáveis. Nunca se passou pela cabeça dela que, no final, estaria vivendo um pesadelo. E o pior de tudo era aquela sensação de estar com as mãos atadas.

Por mais que não tivesse assistido o primeiro momento em que Liberty começou a vomitar, alucinar ou desmaiar, Sinclair ainda tinha conseguido testemunhar a prima bastante fragilizada enquanto era conduzida pelos socorristas para a emergência. Mil coisas tinham se passado pela sua cabeça, e por alguns minutos Emy achou que o pior acabaria acontecendo.

O choque e a preocupação com a prima nem tinham começado a aliviar quando Sinclair recebeu um novo golpe. E não tinha adiantado seus gritos ou protestos, nada impediu que Hunter Timmons fosse conduzido pelo xerife para a delegacia, algemado como um criminoso.

Que Hunter não era um santo, o bom moço da cidade, todos sabiam. Com um histórico bastante conturbado, para os padrões de Colchester, Timmons era um rapaz problemático que vivia se metendo em confusões. Mas os pequenos delitos não chegavam nem perto das acusações que ele enfrentaria por causa do uso de drogas que nunca tinha estado em sua posse.

Para completar toda a movimentação daquela noite, Emy ainda pensava na revelação feita por Dexter sobre o envolvimento de Leonard Wooton. O desejo de Sinclair era ir até o meio irmão de Libby e arrastá-lo até obrigá-lo a corrigir todos aqueles erros. Mas a conversa com Thompson tinha feito Emily enxergar que aquela era uma briga que precisava ser cautelosa. Wooton era poderoso e já tinha se provado bastante perigoso para lidar com adolescentes impulsivos.

A vida de Libby já estaria de cabeça para baixo quando descobrisse sobre o meio irmão, mas agora que a prima estava fora de perigo, Emily sentia urgência em tentar provar a inocência de Hunter. A agonia de pensar que o namorado estava atrás das grades, sendo tratado como um criminoso, fazia seu estômago se contorcer.

Foi impossível fechar os olhos e descansar durante toda aquela noite. E os primeiros raios de sol já despontavam no horizonte quando Emily desceu as escadas devidamente vestida. Não havia roupas decotadas e nem a maquiagem chamativa, porque a aparência e a vaidade não eram preocupações dela naquela manhã. Com um olhar sério e abatido, Emy estava seguindo direto até a porta principal quando seu caminho foi bloqueado por um vulto ruivo.

- Onde você pensa que vai?

Hilary tinha sido uma mulher que tinha reaprendido a viver depois do divórcio. Acostumada a ser apenas esposa e mãe, ela tinha passado a ter seu próprio negócio com a boutique ao mesmo tempo em que dividia a atenção com a criação da filha caçula. Mas não era apenas por ser uma mulher criando sozinha uma adolescente e sustentando uma casa que a antiga Sra. Sinclair dava tanta liberdade para Emy. Mesmo com seu jeitinho avoado e fútil, Emily sempre tinha se mostrado uma garota de confiança, que não precisava de um controle tão próximo da mãe, então era inédito encontrar aquele semblante duro e sério na mulher.

- Vou sair. Preciso ter notícias do Hunter.

- Aahn, não vai sair, não. - Hilary cruzou os braços e continuou parada diante da filha. - Nós ainda precisamos conversar, Emily.

- A gente conversa depois. Eu preciso saber como ele está.

Emily chegou a dar um passo para o lado, mas Hilary a bloqueou ao mesmo tempo em que alcançava a porta principal e a trancava, sustentando um olhar duro. Quando o casal Sinclair ainda vivia junto, bastava que Robert abrisse um sorriso ou fizesse algum pedido desatento para que Emily obedecesse, mas a relação entre mãe e filha nunca tinha sido tão fácil. Naquela manhã, contudo, a mulher não estava disposta a ser desafiada ou contrariada.

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- Você acha mesmo que ainda vai falar comigo nesse tom depois de tudo o que aconteceu, mocinha? Sofá, Emily! Agora!

Com o indicador em riste, Hilary apontou para o sofá. E por alguns instantes, pareceu que Emily ainda a enfrentaria, mas a postura da mãe não dava brechas para que a garota revidasse. Com um rolar de olhos, Emy marchou emburrada até o sofá e foi a primeira a tomar a palavra.

- Eu já disse que sinto muito! Ninguém imaginou que aquilo pudesse acontecer com a Libby! E a culpa nem foi dela, mãe! Você não deveria estar tão brava, a Libby foi uma vítima, sabia?

- É claro que foi, uma vítima daquele delinquente! A sua prima vai sair do hospital em algumas horas, Emily, mas você tem ideia de que o pior poderia ter acontecido? Tem ideia do quanto vocês duas foram irresponsáveis? - De pé, Hilary andava de um lado ao outro enquanto argumentava, e ela não deixou que Emily respondesse mesmo quando viu a filha abrindo a boca. - Uma festa, Emily!!! Uma festa que nenhum adulto sabia, lotada de bebidas e drogas!

- Não seja exagerada! Ninguém lá estava se drogando!

- Você foi irresponsável, arrastou a sua prima para o meio desse caos e ainda acha que pode me responder? Eu estou tão decepcionada com você que nem sei por onde começar!

- Aaah, que novidade. - Emily rolou os olhos. - Até parece que eu não sou a decepção dessa família. Porque a Claire jamaaaais faria uma coisa dessas, né?

A competição que existia entre Emily e Claire era silenciosa e passava completamente despercebida diante de Robert. Mas Hilary era uma mulher muito mais observadora e que se atentava nas qualidades, defeitos e diferenças entre suas duas filhas. Não era nenhuma novidade para ela assistir Emy ou Claire apontar os problemas umas das outras, mas aquela falha na autoestima da filha foi ignorada diante de um problema maior.

- Não, ela nunca fez nada parecido! E eu sempre confiei que você também não faria! E se fosse você, Emy??? - Hilary soou mais angustiada diante daquela pergunta. - E se aquele delinquente tivesse dopado você? Se ninguém percebesse?

Como na cabeça de Emily a imagem de Leonard Wooton já estava muito bem estruturada no verdadeiro responsável pelas drogas, a menina não tinha interpretado de imediato a quem a mãe se referia ao dizer “delinquente”. Mas a dor e o medo de Hilary deram a pista de quem era o nome que ela acusava.

- Você acha que foi o Hunter??? Não foi ele!!!

- Eu não ACHO nada, Emily! Ele confessou tudo! O que você tinha na cabeça quando foi se envolver com um rapaz desses, minha filha? Eu sei que as coisas não estavam bem entre você e o Chad, mas se você está fazendo tudo isso para chamar atenção...

- Uuuuuuuuuurg! - Emily urrou e se colocou de pé enquanto jogava uma almofada no chão. - Qual é o problema dessa cidade??? O Hunter só pode se aproximar de mim se for por vingança, e eu só posso ter ficado com ele para chamar atenção??? Eu AMO o Hunter, nós dois estamos apaixonados! E NÃO, mãe! Não foi ele! O Hunter só assumiu a culpa para a Libby não ser expulsa da MMU!

- Eu até venho fazendo vista grossa e fingindo ignorar as vezes que esse garoto sobe pela janela do seu quarto, porque eu achei que você só estivesse tentando superar e esquecer os seus problemas com o Chad. Mas depois de tudo o que aconteceu...! Eu não vou mais admitir essa má influência!

- Má influência? Você só pode estar maluca! Escutou o que eu acabei de dizer??? NÃO FOI ELE!

- Isso não é mais da minha conta, agora é responsabilidade do delegado e da justiça! A minha obrigação é só com você, e você está proibida de chegar perto desse... desse marginalzinho!

- Você não pode dizer com quem eu posso ou não posso sair! E você está sendo injusta, mãe!

Por sorte, a casa das Sinclair era grande e havia um terreno espaçoso até as casas vizinhas, o que impedia que os gritos de mãe e filha chegassem até ouvidos curiosos. Mas dentro daquela sala, o clima estava o pior possível e nenhuma das duas parecia prestes a ceder.

- Eu não me importo, Emily! É minha obrigação cuidar e proteger você! Aliás, você e a Liberty! E eu não vou aceitar que vocês se arrisquem outra vez perto de um irresponsável, drogado como aquele Timmons!
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Mensagem por Liberty Bloomfield Qui Abr 18, 2024 9:14 pm

Antes mesmo de pisar em Vermont, Liberty construiu dentro da própria cabeça uma opinião deturpada e preconceituosa sobre as pessoas que ela iria conhecer na cidadezinha de Colchester. Num colégio renomado e com mensalidades tão caras quanto a MMU, o mais óbvio para Libby era imaginar que ela ficaria rodeada por colegas fúteis e arrogantes, por pessoas egocêntricas e que viam no dinheiro a solução para todos os seus problemas. Mas a novata só precisou de poucos dias para mudar radicalmente a sua opinião.

A primeira grande surpresa foi Emily Sinclair. Capitã das líderes de torcida, popular, vaidosa e extremamente preocupada com a própria aparência. Antes mesmo de começar a conviver com a prima, Liberty já tinha decidido que as duas jamais conseguiriam ser boas amigas porque eram diferentes demais. Mas, apesar de Emily realmente ter muitos defeitos, Bloomfield se surpreendeu com as qualidades da garota. Ao invés de ser uma típica líder de torcida arrogante e malvada que tinha vergonha da prima nerd, Emy acolheu Libby de braços abertos e vinha se esforçando para que a novata se adaptasse e para que uma sincera amizade nascesse entre as duas.

A segunda surpresa ficou por conta de Dexter Thompson. Liberty nunca imaginou que um rapaz como Dex algum dia se interessaria por uma garota como ela. Mas esse erro de julgamento só tinha acontecido porque Libby inicialmente também o encarou com uma visão preconceituosa e estereotipada. Thompson era muito mais do que um atleta burro e arrogante que gostava de se sentir superior humilhando todos ao seu redor. E bastou que Liberty o conhecesse melhor para que ela se apaixonasse perdidamente pela essência do rapaz.

Emily e Dexter agora ocupavam lugares de destaque dentro do coração de Libby, mas não foi apenas com os dois que a novata se surpreendeu. É claro que muitos alunos da MMU faziam jus à opinião preconceituosa que Bloomfield havia construído sobre eles e era evidente que várias meninas não gostavam nem um pouco da novata que havia chegado para roubar o coração do quarterback tão desejado por todas. Mas, em sua imensa maioria, os novos colegas de Libby estavam sendo gentis e atenciosos com ela.

Naquele dia, contudo, nem mesmo Bloomfield parecia esperar por mais uma surpresa e pelo gesto tão nobre de Hunter Timmons. Com a personalidade explosiva, o jeitinho manipulador e a fama de rapaz problemático, Hunter não passava a impressão de que era o tipo de pessoa que se sacrificaria para salvar alguém. Mas foi exatamente isso que Timmons fez quando assumiu uma culpa que não era dele.

Como filho do dono do maior haras de Vermont, Hunter de fato tinha acesso a medicamentos de uso restrito e poderia ter se aproveitado de uma distração dos veterinários para roubar um sedativo. E ele também parecia ser irresponsável o bastante para largar a droga num canto qualquer e acabar dopando um inocente acidentalmente. Aquela versão fazia tanto sentido que o xerife Coleman prendeu Timmons baseando-se apenas naquelas acusações. Mas em nenhum momento Liberty acreditou na história contada pelo rapaz. Além da certeza de que ela não havia trocado de copo com ninguém durante a festa, Libby foi capaz de ver no rosto de Hunter que ele estava mentindo.

Era uma loucura, uma atitude inconsequente e impulsiva. Mas, ao mesmo tempo, também era um grande gesto de nobreza e uma prova da amizade que vinha nascendo entre aqueles quatro jovens. Afinal não era apenas por Liberty que o rapaz estava se sacrificando. Emily e Dexter também sofreriam muito se Libby saísse da MMU e tivesse que retornar para Seattle. E, na cabeça de Hunter, aquela decisão irresponsável era a melhor saída para todos eles.

É claro que Liberty não pretendia ficar de braços cruzados e simplesmente permitir que uma pessoa inocente fosse penalizada por defendê-la. Agora, mais do que nunca, Libby enxergava em Hunter um bom amigo, alguém que já fazia parte da vida dela. Mas além de ainda estar fragilizada, a garota não tinha nenhuma prova concreta da inocência de Timmons. Então Bloomfield não pôde fazer muita coisa enquanto assistia Hunter ser algemado pelo xerife.

Mesmo no dia seguinte, depois que recebeu alta do hospital e foi levada de volta para a casa das Sinclair, Liberty ainda não sabia o que fazer para salvar o amigo e provar a inocência de Hunter. A única solução era encontrar o verdadeiro culpado. Só que, diferente de Dexter, Hunter e Emily, a novata não fazia a menor ideia de quem poderia estar por trás daquele incidente. E ficou provado que Libby não enxergava o meio-irmão como um suspeito quando Leonard Wooton entrou no quarto dela e foi recebido com um sorriso.

- Que bom que você teve alta. – Lenny deixou que a alça da mochila escorregasse pelo seu braço até o chão enquanto se sentava no cantinho da cama da irmã – Eu preciso voltar pra Massachusetts hoje, já perdi aulas demais. Mas eu não conseguiria ir sem ter certeza de que está tudo bem com você.

- Eu soube que você pagou a conta do hospital. Isso foi um empréstimo, ok? Eu vou te pagar, provavelmente em muitas prestações, mas eu vou.

- É sério que você está preocupada com isso? Era o mínimo que eu podia fazer, Libby. Acho que você ainda não entendeu, então eu vou repetir. Nós somos irmãos e eu quero recuperar tudo que perdemos. Então não vamos perder mais tempo falando sobre algo tão banal quanto grana. Ah, eu trouxe algo pra você...

De dentro da própria mochila, Wooton puxou o velho notebook da irmã e o devolveu à dona. Liberty imaginou que o seu computador tinha sido largado para trás no meio de todo o caos ocorrido na casa dos Thompson, então a menina ficou sinceramente surpresa em ver que Lenny havia pegado.

- Ué!? Estava com você?

- Sim, eu peguei pra te devolver. Tive medo que sumisse no meio da confusão e eu sabia o quanto isso aqui é valioso, hm?

O sorriso e o agradecimento entoado pela menina mostravam claramente que Liberty não desconfiava das intenções de Leonard. E ela nem imaginava que o irmão havia usado o tempo que o notebook ficou em posse dele para vasculhar a memória e para fazer cópia de todos os arquivos da menina.

- Eu não sei se alguém roubaria essa carroça velha. Mas os seus amigos não parecem ser muito confiáveis, né? Eu fiquei sabendo que o tal Tim foi preso.

- Ele é inocente. – a resposta de Libby foi tão imediata e categórica que Lenny pareceu um pouco alarmado, mas o rapaz logo relaxou com a conclusão do discurso da irmã – Eu não faço ideia de quem foi o responsável, mas eu sei que não foi o Tim. Ele só assumiu a culpa pra evitar que eu fosse expulsa ou perdesse a bolsa da MMU.

- Não sei não, irmãzinha... Eu estou realmente preocupado em te deixar aqui rodeada por essa gente. – a manipulação de Lenny foi sutil para que Liberty não notasse que ele estava tentando mudar a opinião dela – A história meio que se encaixa, né? Dizem que o tal Timmons tem acesso a sedativos e que já tem alguns registros na ficha policial. É esse bandidinho que o seu namorado chama de melhor amigo? Eu duvido muito que o bonitão não sabia que o amiguinho dele estava metido com essas sujeiras. Isso se ele também não está metido com essas coisas. Sei lá se ele não usa nada pra ficar tão bombadinho!

Não foi por acaso que Lenny trouxe Dexter para aquela conversa. Nem o próprio Wooton esperava por aquela reviravolta na história e pela confissão de um inocente, mas agora Leonard pretendia usar isso a seu favor. Se o tal Timmons era mesmo um delinquente e se toda a cidade acreditava que ele era culpado, Lenny poderia usá-lo como um bode expiatório e se safar. E, como brinde, Lenny ainda pretendia envenenar a irmã insinuando que Dexter Thompson não era uma boa influência.

- O Tim é inocente. Você não precisa se preocupar, Lenny. O Dexter não usa drogas, os amigos dele também não. – Libby repetiu com a mesma convicção – E nós vamos dar um jeito de salvar o Tim dessa enrascada.

- Bom, irmãzinha. ALGUÉM nessa história usa drogas, afinal o tal sedativo não brotou magicamente no meio da festa. Se não foram os dois, talvez tenha sido uma das meninas. Você não parece ser muito popular entre elas, né? Aposto que várias delas ficariam felizes se você fosse expulsa do colégio e se mudasse para bem longe de Colchester, deixando o bonitão disponível novamente...

Uma ruguinha brotou entre os olhos castanhos enquanto Liberty pensava naquela possibilidade. Era verdade que várias garotas (principalmente Debby) não gostavam dela e ficariam felizes se a novata sumisse da vida de Thompson. Mas Bloomfield até então não acreditava que elas teriam coragem de fazer uma jogada tão baixa. Por outro lado, de todas as hipóteses fracas que tinham surgido dentro da cabeça dela, aquela era a única que fazia algum sentido para Libby. Afinal Debby e as antigas ficantes de Dexter pareciam ser as únicas pessoas que teriam alguma vantagem com a expulsão da novata.

As engrenagens ainda estavam se movendo dentro da cabeça de Liberty quando a porta do quarto dela novamente se abriu. Dexter provavelmente ficaria feliz e aliviado em ver a namorada na cama, respeitando o repouso indicado pelos médicos mesmo estando mais corada e bem disposta. O que Thompson certamente não aprovaria era a imagem do rapaz sentado na pontinha do colchão. Com um sorrisinho debochado e malicioso, Lenny se virou para encarar o namorado da irmã com a mesma postura arrogante e despreocupada de sempre.

- Olha só, o bonitão chegou! Teve que fugir de casa ou o seu papaizinho te liberou do castigo? Seja como for, você não deveria estar no quarto da minha irmã. Eu ainda não sei se vou autorizar esse namoro, Libby. Esse pessoal de Colchester é bem barra pesada, irmãzinha.
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Mensagem por Hunter Timmons Qui Abr 18, 2024 9:15 pm

A importância do sobrenome Timmons ultrapassava os limites de Colchester para abranger todo o estado de Vermont. O maior haras da região carregava o nome daquela família e não havia uma só pessoa do ramo de equinos que não conhecesse a boa fama dos Timmons.

Cavalos de raças nobres, genéticas premiadas, leilões milionários. Antes mesmo que Henry Timmons assumisse os negócios da família, o pai, o avô e o bisavô dele já tinham batalhado bastante para construir todo aquele império. Consequentemente, faltavam palavras para Henry explicar o quanto ele estava profundamente decepcionado com o seu único herdeiro.

Crescendo naquele meio, era esperado que Hunter adorasse cavalos, que o rapaz se interessasse pelo haras e estivesse fazendo planos de assumir os negócios da família após a formatura. Mas, ao que tudo indicava, Hunter quebraria aquela sequência de sucesso. E se Henry já não gostava tanto assim da ideia de ver o filho deixar o haras de lado para se dedicar ao basquete, agora a preocupação dele era ainda maior porque Hunter parecia estar se tornando uma causa perdida.

Com as notas péssimas, um comportamento ainda pior e com uma total falta de interesse por tudo ao seu redor, Hunter não teria um futuro promissor em nenhuma carreira. Graças ao dinheiro da família, ao sobrenome importante e à velha amizade entre Henry e o xerife Coleman, Hunter vinha se safando da responsabilidade pelos pequenos delitos que ele cometia em Colchester. Mas desta vez o dinheiro e o sobrenome dos Timmons não bastaram para abafar o novo escândalo no qual Hunter se envolvia.

Em todas as outras vezes em que Hunter foi arrastado para a delegacia, o rapaz foi colocado em uma sala de interrogatório ou então ocupou uma cadeira no escritório do xerife enquanto esperava que o pai chegasse para resgatá-lo. Desta vez, contudo, as acusações eram tão graves que o rapaz chegou ao local algemado e as algemas só foram retiradas depois que Timmons foi empurrado para dentro de uma das celas.

A sorte de Hunter era que numa cidadezinha tão pacata como Colchester os índices criminais eram próximos de zero, então não havia mais ninguém detido naquele dia. A cela estava completamente vazia quando o rapaz soltou um suspiro pesado, se jogou sobre o colchonete velho e encarou o teto da delegacia com um semblante apático. Qualquer rapaz de dezessete anos que estivesse no lugar de Hunter certamente estaria assustado e amedrontado com o desenrolar dos acontecimentos, mas Timmons parecia calmo e conformado.

Hunter obviamente não imaginou que ele terminaria o dia atrás das grades, mas é claro que ele sabia que ficaria encrencado ao assumir a culpa pela overdose de Liberty Bloomfield. Podia até ter sido uma atitude impulsiva e inconsequente, mas Timmons estaria mentindo se dissesse que ele não havia cogitado a possibilidade de ser processado ou de ser expulso do colégio. Mas, mesmo ciente dessas consequências, Hunter ainda não se arrependia por ter tomado aquela decisão.

A formatura na MMU e um diploma universitário fariam toda a diferença na vida de Liberty Bloomfield. Era o maior sonho da vida dela e Hunter sabia melhor do que ninguém o quanto podia ser insuportável a dor de perder um grande sonho. Foi para poupar uma amiga daquela experiência que Timmons resolveu interferir naquela história. E também era verdade que um diploma não faria muita diferença na nova carreira pela qual o rapaz vinha se apaixonando.

Ao contratar um fotógrafo profissional, ninguém exigia saber em qual colégio ou qual universidade ele havia se formado. Além de cursos específicos voltados para a área, o que realmente importava era o dom artístico e um olhar apurado, e isso era algo que Timmons já parecia ter. Por isso, Hunter não estava tão preocupado assim com o seu futuro profissional. Mas o mesmo não poderia ser dito sobre o Sr. Timmons.

Antes mesmo de se virar na direção dos passos que se aproximavam da cela, Hunter já tinha reconhecido o som das esporas de metal que Henry usava nas suas botas de cavalgada. E exatamente como Hunter já imaginava, o pai não parecia angustiado ou preocupado ao ver o único filho atrás das grades, Ao invés disso, o Sr. Timmons parecia muito mais focado no quanto aquele novo escândalo poderia manchar o nome (e os negócios) da família.

- Você roubou um medicamento dos MEUS cavalos!?

- Oi, pai. – Hunter continuou deitado no colchonete e apenas virou a cabeça de lado para encarar Henry durante aquela alfinetada irônica – Eu estou bem, obrigado por se preocupar. Dessa vez o seu amigo Coleman pegou pesado comigo.

- Você está usando os medicamentos dos meus cavalos para se drogar, Hunter???

A história oficial dizia que Hunter Timmons havia roubado um sedativo usado em cavalos para se drogar e que uma garota inocente quase tinha morrido por causa disso. Mas o discurso de Henry passava a ligeira impressão de que ele estava muito mais preocupado com o quanto aquilo poderia abalar o bem estar dos seus cavalos.

Um filho que confiasse cegamente no pai contaria toda a verdade naquele momento e pediria a ajuda dos pais. Mas, além de saber que Henry não acreditaria nele, Hunter também tinha certeza de que não podia confiar no pai. Para limpar o sobrenome e se livrar daquele escândalo, Henry certamente jogaria a culpa novamente no colo de Libby. Então Hunter não via muita escolha senão continuar sustentando aquela mentira.

- Foi a primeira vez, pai. E eu nem cheguei a usar. O que aconteceu com a Liberty foi um acidente, ok? Então será que dá pra você falar com o Coleman e me tirar daqui? Já está tarde e eu estou exausto.

Aquele dia tinha sido mesmo muito intenso para Hunter. O rapaz estava exausto depois de passar horas ajudando a namorada a organizar os detalhes da festa. A discussão com Chad Clifford e a briga com Emily também esgotaram boa parte da energia de Hunter. E, como se já não bastasse tudo isso, agora ele estava com a coluna dolorida graças ao colchonete fino da cela.

Para Hunter, aquele problema seria resolvido com a mesma facilidade de todas as outras vezes em que Henry o retirou da delegacia. Mas o riso seco e sem humor do pai mostrou ao rapaz que desta vez seria diferente.

- Você está preso, Hunter. Dessa vez você foi longe demais, moleque. Um processo judicial foi oficialmente aberto. Não depende mais de mim ou do Coleman.

- O que...? – pela primeira vez Hunter soou mais preocupado e se colocou sentado num pulo – Como assim? Eu vou ter que dormir aqui???

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- É, agora você entendeu. – Henry tombou a cabeça de lado ainda com um ar sarcástico – Dormir, acordar, dormir de novo... Eu sei lá quantos dias você vai ficar aqui até que algum advogado convença um juiz a estipular uma fiança. Você tem noção de como a sua mãe está? Ela estava aos prantos e se entupindo de tranquilizantes quando eu saí de casa. Nunca o nome da nossa família foi envolvido em algo tão sério! O meu filho usando os sedativos dos meus cavalos! Eu não quero nem pensar no estrago que essa história vai causar nos negócios se a verdade se espalhar para fora de Colchester!

Qualquer pai estaria preocupado com o filho, com o impacto que aquilo teria na vida, no psicológico e no futuro do rapaz. Mas Henry novamente colocou os seus cavalos e os seus negócios como prioridade. E o Sr. Timmons mais uma vez mostrou que não conhecia Hunter e nem se importava com as preferências do rapaz ao concluir o seu discurso de forma autoritária.

- O diretor do colégio está me ligando insistentemente. Imagino que depois desse escândalo ele não vai querer que a reputação da MMU seja manchada por um ladrãozinho drogado. Se ele te expulsar, Hunter, acabou! A sua mãe e eu já fomos pacientes demais com a sua rebeldia infantil! Você não vai ter escolha senão assumir os negócios da família! Eu já domei muitos cavalos rebeldes na vida, não vou soltar as rédeas ou poupar as esporas até você estar domesticado! Essa foi a última vez que você manchou o nome da minha família, moleque!

***

Em dois dias atrás das grades, Hunter só havia recebido a visita do pai e de um advogado contratado pela família. Um pedido de fiança já tinha sido enviado para um juiz, mas até então não havia chegado nenhuma ordem de soltura. E como aquele não era o primeiro delito na ficha de Timmons, existia o risco do juiz decidir que ele deveria esperar pelo julgamento atrás das grades.

Ficar preso em uma cela apertada e desconfortável era terrível, mas nem era essa a maior angústia de Hunter. O que realmente o abalava era a solidão e o sentimento de que todos tinham seguido com suas próprias vidas e o deixado para trás. Racionalmente Hunter sabia que Libby ainda estava se recuperando do incidente, que Dexter deveria estar lidando com a fúria do Sr. Thompson e que Hilary Sinclair provavelmente tinha proibido a filha de ir até a delegacia para visitar o namorado. Mas nenhum daqueles pensamentos sensatos fazia com que Hunter se sentisse menos solitário e infeliz.

As horas simplesmente não passavam dentro daquele lugar. A comida era terrível e, mesmo estando exausto, Hunter não estava conseguindo dormir direito sobre o colchonete fino e estreito. Além da coluna, agora o joelho machucado dele também doía por ter ficado tanto tempo numa posição desconfortável.

Hunter era o tipo de pessoa que explodia e que resolvia os seus problemas com gritos e ameaças. Portanto era quase impossível reconhecê-lo naquele momento. Encolhido num canto da cela e usando a pontinha de uma colher para remexer a comida fria que um policial havia empurrado por entre as grades numa bandeja, Timmons demorou a erguer a cabeça mesmo depois de ouvir passos se aproximando da cela.

Timmons não estava no clima para mais uma conversa chata com o advogado e muito menos para ouvir mais broncas do pai. Mas naquele dia foi um visitante diferente que apareceu para vê-lo. E antes mesmo de erguer a cabeça para encarar o recém-chegado, Hunter reconheceu o perfume gostoso da namorada.

A boquinha de Emily chegou a se abrir para iniciar a conversa, mas a reação de Timmons foi mais rápida que a voz dela. A bandeja foi jogada de lado e Hunter só precisou de poucos passos para alcançar a menina. As grades da cela ainda separavam os dois, mas o rapaz conseguiu passar as mãos pelas aberturas e puxar a namorada para mais perto. Era terrível abraçar Sinclair com as grades de metal entre os dois, mas ainda assim aquele era o momento de maior felicidade que Hunter vivia há dois dias.

- Você veio!

Exceto por um casaco velho que provavelmente tinha sido dado ao rapaz pelo xerife, Hunter ainda usava as mesmas roupas da festinha na piscina. Era surreal e absurdo que o Sr. Timmons não tivesse se preocupado em levar roupas limpas e confortáveis para o rapaz. Além das roupas, era evidente que Hunter também estava precisando de remédios. Mesmo com os poucos passos que Hunter deu dentro da cela, Emily também já perceberia que ele estava mancando, provavelmente por causa do joelho dolorido.
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Mensagem por Emily Sinclair Sáb Abr 20, 2024 9:21 pm

Uma delegacia, mesmo uma pequena e praticamente vazia como a de Colchester, ainda não era ambiente para uma garota como Emily Sinclair. Mesmo que tivesse nascido e crescido naquela cidadezinha, aquela manhã chuvosa foi a primeira vez que Emy pisou no interior da delegacia.

Diferente de uma metrópole, o lugar não era tumultuado, nem barulhento e nem com policiais mal-humorados transitando para lá e para cá. O prédio era antigo, com equipamentos não tão modernos e os corredores um pouco mais escuros, mas tudo estava devidamente limpo. Mesmo assim, o contraste com a imagem da garota ruiva muito bem arrumada era grande.

Como tinha saído de casa naquela manhã com a desculpa de que iria para as aulas na MMU, Emily carregava uma mochilinha lilás que ficou detida antes que ela pudesse passar para a ala mais restrita onde Hunter Timmons estaria. A saia não era tão curta, mas os saltos cor de rosa e o casaquinho branco só faziam com que a aparência de Emy se destacasse ao redor daquele ambiente mais encardido. E essa diferença ficou ainda mais em evidência quando Hunter ficou diante dela.

Hilary não fazia ideia que sua filha caçula tinha desobedecido suas ordens, matado as aulas da manhã e ido sozinha até a delegacia para visitar o namoradinho detido. E se ela tivesse a oportunidade de assistir a cena do encontro entre Emily e Hunter, a antiga Sra. Sinclair teria ainda mais motivos para ser contra aquele relacionamento, porque ficava ainda mais óbvio que Timmons não era o tipo de cara que merecia ficar ao lado de Emily.

Hunter era inocente, mas naquela manhã ele era um rapaz detido por uso de droga. Que mãe aprovaria assistir o rapaz problemático da cidade, enfrentando uma acusação tão séria, preso atrás das grades, abatido e sujo, envolvendo sua filha mais nova, linda e delicada, com seus braços? Mas para Emily, a delegacia, as grades ou as roupas sujas de Timmons eram detalhes completamente insignificantes.

Uma namoradinha apaixonada e cega até seria capaz de ignorar o caminho torto do namorado bonitão para viver aquele romance. Mas Emily conhecia todas as camadas daquela história, e ao invés de um adolescente delinquente e problemático, ela sabia que Timmons tinha feito um sacrifício indescritível para proteger Liberty. Enquanto todos o enxergavam como um caso perdido, Emy sabia que Hunter tinha um coração enorme, bondoso e que havia tomado uma atitude nobre, por mais inconsequente fosse.

- É claro que eu vim! Você achou mesmo que eu te deixaria sozinho? Eu sinto muito por não ter conseguido vir antes, as coisas lá em casa estão um pouco... complicadas.

Era de se esperar que Hilary estivesse mais próxima de Emily e Liberty depois de tudo o que tinha acontecido. Além dos cuidados com a saúde da sobrinha, a mulher era responsável por duas adolescentes que tinham se envolvido em um escândalo que já percorria a cidade inteira. Mas Emily não entraria em detalhes sobre as brigas com a mãe enquanto Hunter já lidava com tantos problemas.

A visão do namorado naquela situação terminou de partir seu coração. Assistir Hunter sendo levado pelo xerife algemado já vinha assombrando seus pensamentos e tirando seu sono, mas poder testemunhar o rapaz tão abatido era algo que Emily não estava preparada para lidar. Só que era preciso engolir qualquer incômodo ou medo, porque era óbvio que naquele momento Timmons precisava que ela fosse forte.

- Por que você ainda está aqui? Por que o seu pai ainda não resolveu isso?

Com a grade separando os dois, Emily tentou encaixar seus braços para envolver o pescoço de Hunter. Sua testa foi apoiada contra a dele, mesmo com as barras de ferro pressionando seu rosto, e os dedinhos de Emy acariciaram os cabelos castanhos enquanto Hunter contava sobre o processo, as conversas com o advogado e a lentidão para que conseguissem uma fiança.

- No que você estava pensando, Tim? - Emily afastou um pouco o rosto para encarar melhor o namorado, e dessa vez não conseguiu disfarçar o quanto estava preocupada. - Tá, eu já saquei que o culpado é o Wooton, que você só estava tentando evitar que a Libby fosse expulsa. Mas é uma acusação de posse de drogas, Tim! Isso é grave!

A última coisa que Hunter precisava naquele momento era mais broncas. Mas diferente de Henry ou da advogada, Emily soava apenas angustiada e preocupada com a situação do namorado, tanto o que ele vivia naqueles últimos dias quanto o futuro daquele processo.

- A Libby já está melhor, está em casa, se recuperando. Mas nada disso e justo! Ela não deveria ter medo de ser expulsa por ter sido uma vítima, e você não deveria precisar passar por isso tudo!

Era um alívio que Liberty pudesse ser poupada, mas aquele sentimento não conseguia ganhar força dentro de Emily ao ver Hunter sendo culpado por um crime que não tinha cometido. A prima ainda estava se recuperando e Dexter tinha prometido que conversaria com a namorada e que contaria tudo sobre Leonard Wooton, mas enquanto Bloomfield estava sendo poupada e protegida pelos amigos, Timmons era o único que estava sofrendo. E Emy se sentia agitada por dentro, tomada pela urgência de resolver toda aquela situação e livrar Hunter daquele pesadelo.

- Como estão te tratando? Estão te dando comida direito? Água? Choveu a noite toda e está frio, não te deram nenhum cobertor?

Com mais atenção, o olhar de Emily percorreu o corpo de Hunter e havia uma ruguinha profunda entre as suas sobrancelhas quando ela ergueu o rosto de volta até se prender nas íris cor de avelã. Timmons era um rapaz orgulhoso que dificilmente admitia suas fraquezas, mas Sinclair não teve nenhuma hesitação em fazer aquela pergunta.

- Você está com dor? Eu não acredito que estão te deixando aqui nessas condições! - Um biquinho irritado e revoltado surgiu, mas a menina respirou fundo, engoliu em seco e assumiu uma postura mais firme. - Não importa. Eu estou aqui, você tem a mim e eu não vou te deixar passar por isso sozinho.

Roupas limpas e quentes, remédio, itens de higiene pessoal, talvez um sanduiche reforçado. A lista que Emily começou a fazer mentalmente só crescia. Ela já estava perdendo as aulas da manhã para poder visitar Hunter sem que a mãe suspeitasse, mas Emily precisaria de algumas horas passando por algumas lojas de Colchester e certamente passaria da hora do almoço para conseguir voltar e fornecer tudo o que o namorado precisava, mas Sinclair estava determinada a tentar ao menos diminuir o desconforto do namorado.

Quando saiu da delegacia, ainda havia uma chuva fraca caindo e o tempo cinzento predominava pela cidade. Emily buscou algumas roupas limpas emprestadas por Dexter, e também foi o rapaz quem preparou uma comida para que ela levasse para Timmons. E Sinclair ainda estava na fila da farmácia quando grudou o celular no ouvido.

Pela primeira vez em semanas, Emily ligou para o número do pai. Robert Sinclair costumava demorar a atender e muitas vezes se esquecia de retornar as ligações perdidas, mas desde a discussão que havia acontecido em Nova York, o homem sabia que precisava mudar algumas das suas atitudes. Ele ainda estava longe de se tornar o pai do ano, e continuava desatento e sem muito interesse na vida de Emy. Mas em uma tentativa de compensar sua ausência, Bob estava ainda mais “generoso” com os pedidos da filha.

No começo, o Sr. Sinclair estranhou a conversa envolvendo advogados, juízes e fianças. Mas Emily soube fazer uma chantagem emocional que fez Bob parar de questionar a situação e se apressar em atender os “desejos” da caçula, como se com isso pudesse resolver a relação dos dois. Se o Sr. Timmons não tinha pressa em tirar o filho da prisão, ao menos Emily usaria todas as suas armas e as conexões do pai para que Hunter tivesse sua liberdade de volta o quanto antes.
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Mensagem por Dexter Thompson Sáb Abr 20, 2024 10:43 pm

O silêncio de Alma Thompson era algo completamente inédito dentro daquela casa. Dexter não se lembrava se já tinha visto a mãe sem palavras alguma vez na sua vida. Sem histeria, sem risadas ou broncas escandalosas, sem sua peculiar tagarelice carregada no sotaque familiar. A mãe de Dexter e Eric estava irreconhecível, sentada em uma das poltronas, com o olhar preso no tapete e um semblante atormentado.

Se Alma não conseguia gritar ou brigar com o filho, aquele papel tinha sido facilmente assumido por Justin. Andando de um lado para o outro na sala, era impressionante o fôlego do Sr. Thompson durante todo aquele acalorado sermão. Uma veia parecia prestes a explodir na sua testa, era possível acompanhar a pulsação acelerada através do seu pescoço e gotículas de saliva saltavam para fora da sua boca em meio a sua explosão raivosa.

Dexter era o único que ocupava o grande sofá de três lugares. De braços cruzados, ele parecia pequeno e nem se atrevia a abrir a boca. Eric obviamente tinha sido poupado daquela conversa, mas o garotinho provavelmente conseguia escutar um pouco dos gritos do pai, mesmo com a porta do quarto fechada no segundo andar.

Depois de receberem uma ligação da delegacia de Colchester, Alma e Justin precisaram abandonar pela metade o casamento que tinham ido prestigiar, e claro que tinham deixado para trás um rastro de fofoca enquanto se preocupavam, aflitos, em se enfiar no primeiro avião de volta para Vermont.

Tinha sido um alívio ver que seus dois filhos estavam inteiros, sem um único arranhão, depois de terem escutado a palavra “overdose”. Hunter Timmons estava preso, Liberty Bloomfield tinha sido internada por abuso de substâncias ilegais e todo aquele espetáculo tivera como cenário a propriedade dos Thompson. Uma festinha, cheia de adolescentes, com bebidas e drogas, horas depois de Dexter e Eric terem falado no telefone com os pais, garantindo que apenas comeriam uma pizza e assistiriam um filme.

Chad Clifford tinha enfrentado maus momentos depois de humilhar o time de basquete na sua estreia como capitão. E algo semelhante estava acontecendo com Liberty Bloomfield. A garota tinha sido apenas uma vítima, a maior prejudicada daquela história depois de ter sido dopada e hospitalizada. Mas assim como Emily, Hunter e Dexter, muitos outros colegas estavam enfrentando problemas com seus pais por causa de todo aquele escândalo. E de maneira completamente injusta, eles culpavam Libby por ter trazido os holofotes para aquela festinha.

- Eu não tenho mais palavras para dizer a vergonha e a decepção que estamos sentindo, Dexter! Como você teve coragem??? Eu achei que você fosse melhor do que isso, que estivesse se tornando um homem, mas você foi um MOLEQUE! Você teve coragem de mentir para a sua mãe... - Com uma mão na cintura, Justin apontou para Alma, que continuou imóvel encarando o chão, e depois apontou para as escadas. - ...de expor o seu irmão a um ambiente lotado de álcool e drogas! No que você estava pensando, garoto??? Nós confiamos em você!

Não era a primeira vez que os estudantes da MMU se reuniam para uma festinha animada na casa de alguém. Há poucos meses, Emily tinha aberto as portas da sua casa para exatamente a mesma coisa. Se Leonard Wooton não tivesse surgido, se ele não tivesse cometido um crime contra a própria irmã, a festa na casa dos Thompson teria sido apenas mais uma entre muitas. Mas Dexter não tinha como argumentar contra as acusações do pai.

Ele tinha mesmo mentido para os dois. E tinha permitido que Eric estivesse em uma casa lotada de bebidas, com dezenas de adolescentes irresponsáveis. Mesmo que Dexter não imaginasse que as coisas fossem sair tanto de controle, não tinha sido uma atitude muito inteligente deixar que seu irmãozinho participasse daquela festa.

- Álcool e drogas, Dexter??? ÁLCOOL E DROGAS! Que merda de atleta você acha que vai conseguir ser se envolvendo com esse tipo de coisa??? Você sabia que poderia ser expulso do time??? Ia jogar todo o seu esforço no lixo por causa de algumas horinhas de diversão???

Tinha demorado um pouco. Justin já esbravejava há um longo tempo, falando sobre a vergonha e decepção que ele tinha causado, em como Alma estava arrasada com as mentiras do filho e com toda aquela situação, tinha comentado sobre o escândalo na cidade e no impacto que aquilo poderia ter no seu histórico escolar, falado sobre Eric. Mas claro que o Sr. Thompson não iria deixar passar batido algo que ele considerava crucial: o esporte.

Dexter era um adolescente saudável, raramente bebida e nunca exagerava no álcool. Sua alimentação era impecável e Dex controlava até os poucos momentos em que se permitia comer açúcar ou abusar um pouco dos fast-foods. Ele se exercitava todos os dias, controlava cada minuto de atividade física e avaliava sua performance de perto. Thompson era um atleta. E atletas que se importavam de verdade com suas carreiras eram inteligentes o bastante para ficarem longe das drogas.

Mesmo que tivesse aberto as portas da sua casa para aquela festa, Dexter tinha tomado um único drink. Mas considerando todo o contexto, Justin e Alma, assim como a maioria dos pais, tinham todos os motivos do mundo para acreditarem que os jovens estavam bebendo e se drogando.

- Eu não estou conseguindo entender... - A voz de Alma soou surpreendentemente fraca enquanto ela fechava os olhos, claramente se esforçando para conseguir falar. - Você nunca fez nada do tipo, Dexter. No que estava pensando, hijo? Não pensou no seu irmão? No que poderia ter acontecido com ele? O Eric é só uma criança, Dexter. E você... Você não é assim!

- Isso é por causa do Timmons? - Justin cruzou os braços e se colocou atrás da esposa. - Vocês estão fazendo algum tipo de desafio? Porque se for, o basquete já acabou para ele, Dexter! E você vai jogar o seu futuro no lixo também?

- O queee? - Até então, Dexter vinha escutando todo aquele sermão em silêncio e obediência, mas era impossível se calar diante de acusações contra Timmons enquanto seu melhor amigo estava detido por um crime que não tinha cometido. - Claro que não, pai! Qual é! Você conhece o Tim desde sempre!

- Eu não reconheço nem o meu próprio filho nesse momento, Dexter! E o Timmons assumiu que a droga era dele, não é? O que você quer que eu pense?

Dex queria implorar que os pais confiassem nele, queria defender Hunter da maneira que o rapaz merecia ser defendido. Mas além de toda a complicação envolvendo Leonard Wooton, Dexter sabia que não tinha muito crédito com o pai e a mãe naquele momento para pedir que confiassem na sua palavra. E só as suas promessas não garantiriam a inocência de Timmons.

- O Tim não é esse drogado que vocês estão pintando.

- Ah, não? Então o problema não é ele? E quem é, Dexter? Porque eu aposto que é aquela garota!

Com seu típico ar confuso e perdido, Dexter mostrou que não sabia sobre quem o pai estava falando quando franziu as sobrancelhas e tombou a cabeça de lado. Mas Justin não fez nenhum rodeio ao expressar sua opinião.

- Nunca tinha acontecido nada do tipo por aqui até essa garota chegar em Colchester.

- A Libby??? - O queixo de Dexter caiu e ele não disfarçou a sua incredulidade. - O que tem a Libby??? Ela foi a vítima aqui! E se você quer insinuar que ela é o problema, é porque nunca parou um segundo para conhecer a minha namorada. A Liberty é a garota mais careta e certinha que já pisou nessa cidade, ela NUNCA faria nada que afetasse propositalmente os sentidos dela ou que pudesse prejudicar a posição dela dentro da MMU! Tudo o que ela faz é para conseguir entrar na Princeton.

- Namorada. - Justin soltou um risinho debochado enquanto balançava a cabeça em repreensão. - E você ainda acha que ela não é o problema? Se a sua “namorada” faz tudo para entrar em uma universidade como a Princeton, então isso só me faz acreditar ainda mais que ela teria coragem de usar certas substâncias. Assim como atletas burros procuram soluções para melhorar suas performances, você não acha que esses nerds esquisitões tomam alguma coisa para melhorar a concentração? Eu não sei o tipo de merda que estava andando pela minha casa, Dexter, mas está claro para mim que você está cercado de problemas!

- Isso é ridículo! - Dexter se revoltou e se colocou de pé em um salto. - RIDÍCULO! A Liberty foi dopada, e ninguém na festa estava se drogando! Tá, eu admito que errei para cacete, que tinha bebida, mas foi só isso!

- O seu amigo está preso por posse de drogas, a sua “namorada” foi internada por overdose. Eu não acho que a sua palavra vai bastar para nos convencer do contrário, Dexter. Foi um milagre que não tenha acontecido nada com o seu irmão, mas até que você coloque a cabeça no lugar e volte para o caminho certo, você está de castigo. Você só sai de casa para ir para as aulas e aos treinos.

- Você está de brincadeira, né? - Dex estava com os olhos arregalados e a boca aberta enquanto olhava do pai para a mãe. - Eu tenho dezessete anos, não pode me colocar de castigo como se eu fosse uma criancinha!

- Então pare de agir como uma criancinha irresponsável e birrenta! Enquanto viver sob o meu teto, vai continuar seguindo as minhas regras! Eu não criei filho nenhum para virar um drogado, e eu não vou deixar que você jogue fora todo o nosso esforço por causa de algumas companhias ruins!

Mesmo que tivesse organizado aquela festinha e mentido para os pais, Dexter não era o tipo de filho rebelde que gritava, desobedecia ou se revoltava. Muitas vezes, por mais que não concordasse ou achasse exagero algumas atitudes de Justin, Dex respirava fundo e assumia o papel do filho obediente. Mas naquele dia, escutando as ofensas contra Hunter e Liberty, era impossível conter uma fera crescendo dentro de si.

***

Os dias chuvosos costumavam atrapalhar os treinos de futebol, mas o treinador sempre tinha um plano B para que os jogadores não ficassem preguiçosos ou perdessem o dia. Algumas horas na academia, alguma corrida na quadra, um treino funcional. E era na academia aos fundos da MMU que o time tinha se reunido naquela manhã.

Como tinha ficado de “castigo” e sob a vigilância constante do pai, além de ter sido privado do próprio celular, Dexter não tinha conseguido notícias de Liberty naquele primeiro dia. E ao invés de disparar correndo até a casa das Sinclair, Dex foi até a escola e parecia seguir obediente o cronograma do pai quando compareceu ao treino.

Alguns colegas já estavam divididos entre alguns aparelhos na academia, mas além daquele pequeno e quase insignificante atraso, Dexter ainda usava a calça jeans e uma jaqueta mais grossa, carregando a mochila nos ombros, quando parou diante do treinador.

- Ainda não está pronto, Thompson? Você pode começar com a flexão na barra quando terminar de se trocar.

- Eu não vou me trocar, senhor. - Dexter soou respeitoso mesmo diante do olhar perdido do homem. - Eu só vim avisar que estou desistindo da minha posição de capitão do time. E da vaga de quarterback.

- Como é que é??? - O homem enfiou a prancheta sob o braço e se virou para o seu capitão. - Se isso for algum tipo de atitude nobre por causa do que rolou, Thompson, saiba que eu estou mesmo decepcionado e que todos que estavam na tal festinha terão consequências. Mas eu não vou perder o meu melhor jogador por ser um adolescente normal festejando em um dia de folga. Desde que não tenha mais escândalos e que isso não comprometa a sua performance...

- Não, treinador. Eu não estou tomando nenhuma atitude nobre porque acho que errei. - Dexter estava sério, mas tranquilo quando reafirmou a sua decisão. - Eu só não acho que o futebol seja um sonho tão grande assim para mim, e acho que está na hora de me dedicar a outras coisas.

Dexter não era a estrela brilhante que pretendia seguir uma carreira profissional no futebol, como já tinha acontecido com Hunter e o basquete. Mas era inegável que Thompson era um atleta esforçado, dedicado, disciplinado e muito talentoso, certamente o melhor do time. Então, o técnico estava chocado e até um tanto assustado ao escutar que o seu melhor jogador pretendia sair de cena, sem mais nem menos.

- Escuta, rapaz... Você me parece mesmo decidido. Mas eu também não posso ignorar tudo o que aconteceu nos últimos dias. Se precisa de alguns dias de folga para esfriar a cabeça, tudo bem. Mas essa não é uma conversa definitiva. Nós podemos voltar a falar desse assunto em alguns dias, apenas se acalme e pense melhor, está bem?

As notas de Dexter não eram excepcionais, então o futebol certamente era seu melhor caminho para uma boa universidade. Se ele abrisse mão daquele grande trunfo, Thompson poderia dar adeus a possibilidade de ter um ensino superior de qualidade. Mas quando tomou aquela decisão, Dex queria apenas mostrar ao pai que o sonho do futebol não era “nosso”, e que o poder de escolher sobre a própria vida ainda estava nas suas mãos.

***

Depois de todo o sermão de Justin e da manhã tumultuada com o treinador, Dexter ainda se sentia agitado e com a cabeça fervilhando. Ele ainda queria encaixar um tempo no seu dia sem fim para visitar Timmons e conseguir conversar com o melhor amigo, mas Dex ainda precisava ver a namorada e ter certeza de que Liberty estava mesmo se recuperando. Além do mais, Thompson sabia que ainda precisava ter uma delicada conversa com a garota e contar tudo o que sabia sobre Leonard Wooton.

O que Thompson não previu era que o meio irmão de Bloomfield estaria presente quando surgiu na casa das Sinclair. O caminho dos dois rapazes ainda não tinha se cruzado desde a festa, nem mesmo no hospital durante a internação de Liberty. Mas bastou que Lenny entrasse no seu campo de visão para que o sangue de Dex fervesse e ele sentisse que iria explodir, de uma maneira que nunca tinha sentido antes.

Dexter era um rapaz divertido, o centro das atenções, o cara popular e querido por todos. Ele não estava acostumado a lidar com conflitos e brigas, e esse tinha sido um dos motivos para que ficasse tão afetado com a briga entre Hunter e Chad. Mas Thompson não era um cara agressivo e explosivo. Impulsivo, sim. Que se deixava levar pelas emoções, com certeza. Mas como ele não estava habituado a sentir tanta raiva, as emoções nunca tinham sido tão perigosas até aquele dia.

Quando Lenny entrou no seu campo de visão, Dexter voltou até o dia da festa, com Libby vomitando e desmaiando no meio de uma overdose. Todo o medo que ele tinha sentido, o pesadelo em ver a namorada sendo levada pela emergência, o melhor amigo algemado, as brigas com os pais. Tudo começava em Wooton. E como se fosse um anjo de candura completamente inocente naquele caos, Leonard sustentava sua mentira de maneira fria e absurda.

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- O que você está fazendo aqui?

Dexter e Leonard já tinham trocado algumas pequenas farpas desde que tinham se conhecido. Thompson se mostrava desconfortável com a presença de Wooton, enquanto o irmão de Libby dava pequenos sinais de desaprovar o relacionamento da garota. Mas nada se comparava com a postura dura, o ranger de dentes e o olhar gelado que Dexter lançou ao outro rapaz enquanto cruzava os braços.

- Ahn, como assim? - Lenny não enganou ninguém com o ar forçadamente confuso. - Eu já saquei que você é meio burrinho, bonitão, mas achei que fosse óbvio. Eu vim ver a minha irmãzinha. E como eu disse, você não deveria estar aqui. Aliás, cada vez mais eu acho que essa ideia desse namoro não é muito boa, sabia?


Dexter tinha feito Emily prometer que não contaria nada para a prima sobre as acusações contra Wooton, que eles precisavam ser cuidadosos e que Leonard era uma pessoa perigosa. Aquela era uma conversa que precisava acontecer apenas com Libby. Mas além da raiva fervilhando seu sangue, Dex também não conseguia controlar uma gigantesca onda de preocupação e medo em ver Leonard tão perto de Liberty depois de ter dopado a garota.

Thompson mal tinha chegado, sequer tinha conseguido se aproximar e dar um beijo na namorada, então foi completamente inesperado quando ele avançou alguns passos e agarrou Leonard pelo colarinho, o arrastando para fora da cama de Bloomfield.

- FIQUE LONGE DELA!

Mesmo ainda se recuperando, a reação de Liberty foi imediata. Com os olhos arregalados de susto, a menina saltou para fora da cama enquanto assistia Dexter arrastando Leonard até a parede próxima da porta, onde o rapaz foi pressionado com força. Lenny até poderia ser mais velho, mas o físico atlético de Thompson dava uma grande vantagem naquele duelo.

- Mas que porra é essa??? Ficou maluco, cara??? Tire suas mãos de mim!

Leonard tinha sido discreto e cuidadoso ao dopar a irmã, mas ele só precisava somar dois mais dois para entender que Dexter sabia a verdade, principalmente depois que o irmão do quarterback tinha testemunhado o suco com “açúcar”. Mas ao invés de assustado ou preocupado, Wooton soube como usar a situação em seu favor, agindo como uma vítima indefesa para que Dexter parecesse o problemático agressivo.

- É SÉRIO QUE QUER VIR ATÉ AQUI CHAMAR ELA DE IRMÃZINHA, AGIR COMO O IRMÃO MAIS VELHO PREOCUPADO E PROTETOR DEPOIS DE TER TENTADO DOPAR A LIBBY???

- Mas que merda você está falando??? - Lenny merecia um prêmio por parecer tão chocado diante daquela acusação. - Eu jamais faria isso com a Liberty!!! Qual é, Libby, você sabe que eu não faria um absurdo desses! Você só está tentando me acusar porque quer livrar a barra do seu amiguinho drogado! Me diz, Thompson, por que eu iria dopar a Liberty, hein???

Aquela era uma pergunta que Dexter ainda não tinha conseguido achar a resposta. Se era pura maldade, se Leonard tivesse tentado um homicídio para se livrar da meia irmã ou qualquer outra motivação não conseguia esclarecer as intenções de Wooton. E esse era o ponto mais falho no ataque de Thompson. Ele sabia que tinha sido Leonard, mas era difícil defender seus argumentos quando simplesmente não existiam.

- FOI ELE, LIBBY! - Ainda pressionando o peito e apertando um pouco da garganta de Leonard para mantê-lo preso na parede, Dex se virou para encarar a namorada. - Foi ele que colocou aquela merda na sua bebida! Eu ainda não sei o motivo, mas foi ele! Você sabe que não foi o Tim, você sabe que não pegou a bebida de mais ninguém naquele dia! A droga que te dopou veio do Wooton!
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